«Tudo isto, no entanto, é a luta pela existência. O judeu é o mais forte, o judeu triunfa. O dever do alemão seria exercer o músculo, aguçar o intelecto, esforçar-se, puxar-se para a frente para ser, por seu turno, o mais forte. Não o faz: em lugar disso, volta-se miseravelmente, covardemente,para o Governo, e peticiona, em grandes rolos de papel, que seja expulso o judeu dos direitos civis, porque o judeu é rico, porque o judeu é forte.
O Governo, esse esfrega as mãos, radiante. Os jornais ingleses não compreendem a atitude do senhor Bismark, aprovando tacitamente o movimento anti-judaico. É fácil de perceber; é um rasgo de génio do chanceler. Ou pelo menos uma prova de que lê com proveitoa História da Alemanha. Na Meia Idade, todas as vezes que o excesso de males públicos, a peste ou a fome, desesperava as populações; todas as vezes que o homem escravizado, esmagado e explorado, mostrava sinais de revolta, a Igreja e o príncipeapressavam-se a dizer-lhe: "Bem vemos, tu sofres! Mas a culpa é tua. É que o judeu matou Nosso Senhor, e tu ainda não castigaste suficientemente o judeu". A população então atirava-se aos judeus: degolava, assava, esquartejava, fazia-se uma grande orgia de suplícios; depois, saciada, a turba reentrava na treva da sua miséria, a esperar a recompensa do Senhor.
Isto nunca falhava. Sempre que a Igreja, que a feudalidade, se sentia ameaçada por uma plebe desesperada da canga dolorosa - desviava o golpe de si e dirigia-o contra os judeus.
Quando a besta popular mostrava sede de sangue, - servia-se à canalha sangue israelita.
É justamente o que faz, em proporções civilizadas, o senhor de Bismarck. A Alemanha sofre e murmura: a prolongada crise comercial, as más colheitas, o excesso de impostos, o pesado serviço militar, a decadência industrial, tudo isto traz à classe média irritada. O povo, que sofre mais, tem ao menos a esperança socialista. Mas os conservadores começam a ver que os seus males vêm dos seus ídolos.
Para o acalmar, e ocupar, o que mais serviria ao chanceler seria uma querra, masnem sempre se pode inventar uma guerra, e começa a ser grave encontrar em campo a França preparada, mais forte que nunca,com os seus dois milhões de bons soldados, a sua fabuloza riqueza, eiqueza inconcebível que, como dizia há dias a Saturday Review, é inquietador e difícil de explicar. Portanto, à falta de uma guerra, o príncipe de Bismark distrai a atenção do alemão esfomeado - apontando-lhe o judeu enriquecido. Não alude naturalmente à morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas fala nos milhões do judeu e no poder da Sinagoga. E assim se explica a estranha e desastrosa declaração do Governo.»
- Eça de Queiroz, "Cartas de Inglaterra"
[Este texto jornalístico de Eça comenta uma declaração do Governo Bismarck, segunda a qual o Governo Alemão afirmava não estar nas suas perspectivas retirar quaisquer direitos à população judaica.]
Há nisto tudo qualquer coisa que soa esquisito... Sobre a primeira parte do texto (publicada no penúltimo postal aqui da casa), Eça conclui que tudo se resume a "luta pela existência". Depois recomenda que o alemão "use o músculo" e "aguce o intelecto". O problema é que o exercício muscular, muitas vezes, despreza ou obnubila a inteligência. O excesso duma coisa implica geralmente a escassez da outra. Pois bem, os alemães, não tardou muito, seguiram o conselho de Eça e, no cumprimento do seu "dever", trataram de exercitar o músculo. E de que maneira! Segundo Adolph Hitler, estavam também, e apenas, em tudo aquilo, a lutar pela existência.
São determinismos destes que tornam a Idade das Luzes tão superior à Idade das Trevas.
Intelectualmente o zé maria era um saramago com gramática (afrancesada, é certo).
ResponderEliminarConcordo plenamente.
ResponderEliminar__ Essa do Eça explicar tão desastrosamente o reverso da luta pela existência acanalha mais que o actual saramago da "cegueira" dos seus ensaios, balidos demoniacos de uma mentalidade retrógrada anti-semítica animalesca.-
Mas é o que está a dar...
"...balidos demoniacos de uma mentalidade retrógrada anti-semítica animalesca."
ResponderEliminarVá dizer isso aos da palestina, aos milhões de russos vítimas do bolchevismo, aos desgraçados que ficaram sem cabeça após a revolução francesa,... ou talvez a meio milhão de iraquianos que desapareceram nos últimos anos...
Está a falar de estranhos que vão a sua casa e têm a pretensão de tomar conta de tudo! São o povo protegido por deus e portanto estão acima dos outros.
O Eça fez grandes análises da sociedade, mas aqui usa uma pretensa superioridade que é um disparate completo. Não são os jornais (que passam o tempo a despejar mentiras) ou os bancos que representam a superioridade de um povo, mas a sua organização,produção e cultura (entre outros). Os alemães estão na sua "casa", os judeus não e querem vencer a todo o custo, olhando o naturais com desprezo. São as suas leis "religiosas" que lhes dizem que são superiores. Não têm a menor intenção de fazer parte integrante do outro povo, caso contrário dissolviam-se no outro povo largamente maioritário fazendo desaparecer o problema do dito "anti-semitismo". Mais, se fossem assim tão superiores até faziam o dito povo evoluir, o que quase nunca foi o caso.
Se esse "anti-semitismo" tivesse ocorrido uma única vez na história, mas não, foi recorrente.
E está o dragão errado, o músculo é usado por uns e o intelecto por outros até mesmo dentro do mesmo povo. E os alemães (especialmente estes) são uma prova disso.
Se os judeus quisessem, tinha capacidade e poder para tornar a palestina um local de paz e prosperidade e rapidamente acabavam com a hostilidade palestiniana. Mas não estão interessados, israel serve só para alguns. Os judeus que estão no ocidente não estão interssados em para lá ir pois perdiam o poder que têm. Eles não querem paz, querem o domínio.
Eles inventaram o fantoche do "anti-semitismo" para serem odiados e para odiarem os outros, porque assim se mantêm mais coesos.
Se algum dia fizerem um verdadeiro esforço para transformarem realmente israel na sua pátria abandonando as vantagegens que têm no ocidente em troca da paz com os seus vizinhos árabes eu serei o primeiro a mudar de opinião a seu respeito.
Até lá continuarei a ser um "anti-semita" e dos "animalescos" claro!
Muuuu!!!
"Muuuu!!!"
ResponderEliminarOlé
Eheheheh!
ResponderEliminarNão conhecia este texto do Eça.
Muito bem, mas...
A acrescentar:
O Eça como bom francófono tinha um certo ódio aos germanos, enfim deve ser o seu maior defeito. Pena que esse ódio o leve á calúnia.
A conversa de que mataram jesus cristo não pega, é demasiado estúpida para ser levada a sério.
Mas pronto, apesar de tudo o Eça foi um grande escritor português.
Zezinho:
ResponderEliminar"Se os judeus quisessem, tinha capacidade e poder para tornar a palestina um local de paz e prosperidade e rapidamente acabavam com a hostilidade palestiniana."
Mas não querem, Zezinho. Aliás, nem querem ouvir falar em semelhante disparate!
Israel, actualmente, tem três grandes objectivos: 1) Consolidar os alargamentos territoriais sucessivamente conquistados desde 1949 e o controlo dos recursos aquíferos edificando passo a passo o Grande Israel. 2) Substituir os Acordos de Oslo. 3) Manter o estatuto de única potência nuclear no Médio Oriente.
Para concretizar estes objectivos (e para evitar qualquer sistema do tipo " apartheid", devido ao crescimento demográfico árabe), terá de continuar a promover o aumento do êxodo palestiniano. O desemprego, as restrições de água, as destruições das estruturas físicas e sociais, a repressão violenta, tudo deve ser interpretado à luz desta preocupação.
Por conseguinte, digam lá o que disserem, mas são ou não são umas " mentes brilhantes"?
Relativamente ao Eça, apenas reflecte a alma do português: inveja!
Ga(n)za.