Aqui, no Santuário de Nossa Senhora das Mordomias, os milagres, prodígios sumptuosos da preferência divina pelas nossas gentes, sucedem-se, num ritmo avassalador e quase ininterrupto. Qualquer dia, de tão empaturrados na misericórdia divina, já nem lhe damos valor.
Agora foi a Celeste, essa santa mulher com nome a condizer, que -à saída do palácio, com o regaço carregado de laranjas pró pobrezinhos-, surpreendida no desfalque, respondeu ao régio olhar inquisidor:
-"É palha e ferraduras, senhor!..."
E abrindo o manto, oh inefável alquimia!, eis que as laranjas se tinham transformado em palha e ferraduras, de facto!...
Rosas, há que reconhecê-lo, não seria de bom tom; e palha e ferraduras sempre dão mais jeito que as flores. Mais: são prova inequívoca duma caridade transcendente e benevolência sublime... já que toda a corte nos toma por cavalgaduras, ao menos ela, apiedada, sempre verteu alimento e calçado pró nosso espírito.
Além disso, a serem flores, certamente que seriam cardos. Não é por acaso que a Celeste, em detalhe de santa, é cognominada "a Cardona".
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