quinta-feira, janeiro 29, 2004

O PORTUGUÊS E A MATEMÁTICA

Parece que, mais uma vez, os resultados da aferição da estudantada a Português e Matemática foram catastróficos. O Ministro da Educação, David Justino, de cabeça perdida, e após escapar ileso a mais uma emboscada dos seus Secretários de Estado, responsabiliza o governo anterior. Há nisto tudo, por um lado, um exagero; por outro, um acesso exacerbado de modéstia.
Comecemos pelo exagero... Os alunos não perceberem patavina de português não é minimamente grave, nos dias que correm: grave seria se não percebessem patavina de inglês. Ora, aí, quase que aposto que são todos uns barras. Aliás, quanto menos português souberem e perceberem, melhor para eles e para a sua carreira futura. Até porque, em Portugal, há muito que se deixou de falar o português: labia-se ou o "anedotês", um dialecto básico e essencial para entender políticos, jornalistas e humoristas (estou a ser redundante, pois bastava dizer "humoristas") ou o SMS, "anedotês" criptado e minimalista para uso via telemóvel. De resto, a própria conversação directa, boca/ouvido está a cair em desuso, substituída pela palração filtrada através do adorado telemóvel. Mesmo entre pais e filhos, dentro do mesmo domícilio, a interlocução telefónica digital é já predominante.
Quanto à matemática, menos sentido ainda faz o alarme do ministro. Toda a gente sabe que as leis matemáticas (sejam as da aritmética, álgebra ou trignometria), à semelhança de quaisquer outras leis, no nosso país não se aplicam. Existem como meros exercícios teóricos, masturbações académicas, mas não têm qualquer uso ou relevância em termos práticos. 2+2 é igual a 4, para um pobre ou assalariado; se for uma grande empresa, um administrador dum banco, ou equivalentes, 2+2 é igual a 1, no melhor dos casos, porque na maior parte das vezes dará mesmo um número negativo ou irracional.
Entretanto, o exagero de modéstia, como é óbvio, resulta na responsabilização histórica do governo anterior. O ministro está a usar de grande transigência e brandura... Na verdade, culpado mesmo foi o D.Afonso Henriques, mais a triste ideia que teve nas vésperas daquela batalha de S.Mamede. Ou então o péssimo entendimento que a descendência sempre manifestou a respeito desse tumulto fundador: em fez de S.Mamede perceberam sempre, e obstinadamente, S. Mamaide!...
Não é "mamaide", é Mamede, ó filhos da puta!... (Nunca é tarde demais para chamar a atenção....)

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