...Conforme inquirição dum leitor, a pretexto já nem me lembra bem de quê...
Para que serve, então?
Anotem, sff:
Para enriquecer. Para conhecer mulheres deslumbrantes (mesmo no sentido bíblico do verbo). Para viajar a mundos e locais fascinantes, na companhia de seres inteligentes e imortais. Para desprezar o trabalho e toda a forma de escravatura, encapsule-se ela em que supositório for. Para experimentar a verdadeira independência. Para esmerar a arte de transformar falsos amigos em fiéis inimigos. Para andar na guerra sem medo e na paz sem arrogância. Para saber que o mais importante é também o mais simples: que o fim e o princípio coincidem. Para compreender, com clareza, para que serve a honestidade - a intelectual sobretodas. Para não perder tempo com ninharias e ninhacastas. Para, enfim, entre mil e muitas outras coisas maravilhosas (que ficaria aqui um ano a enumerar), ser um homem digno da sua ociosidade essencial, no que apenas honra o padroeiro-mor de todos os ociosos genuínos deste mundo: Deus.
Chega?
PS: É claro que Filosofia e curso de Filosofia são duas coisas substancialmente diferentes (até porque a Filosofia não é uma coisa). O curso de filosofia, em qualquer universidade, é, de facto, um curso de história da filosofia (bem, mal ou pessimamente dado). Tive essa experiência já lá vão muitos anos. Lembro-me que logo no primeiro ano, um belo dia, escrevi no quadro antes da aula: "a filosofia começa onde o professor acaba". Estava a ser provocador, claro, com o sangue na guelra próprio da idade. Mas não estava a faltar à verdade. Exorbitava claramente a minha autoridade na matéria, naqueles dias deambulares, mas hoje, passados muitos anos, devo reconhecer que o aforismo não falseia a realidade. Até porque nem fui eu que o escrevi: no fundo era o Nietzsche a escrevê-lo através de mim. E nos primórdios eu era, sem rodeios, um nietzscheano feroz. Fui-o, de resto, até ao dia em que me tornei um aristotélico sereno. Não há contradição: apenas o sabor mais cristalino da água quando bebida nas nascentes da própria serra.
Neste contexto, e voltando à questão, dum ponto de vista académico, a dita questão, convém registá-lo, não honra quem a coloca, ainda menos nos termos um bocado boçais (o riso das sérvias Trácias, como escreveu Platão) em que geralmente é feita. Por uma razão muito simples: a Filosofia não serve. É a senhora da casa. Para servir tem umas criaditas, entre a carochinha e a cripto-cinderela, que tratam dos serviços domésticos. Chamam-se "ciências" (exactas, sociais, em suma, ocultas e semi-ocultas, todas elas). Essas é que servem, que operam no domínio da utilidade doméstica e decorativa. A Filosofia apenas vela para que não partam nem estraguem demasiado. O que, convenhamos, em cada diz que passa, se torna cada vez mais difícil. É que Deus já nem se aproxima disto (tal o fedor), e a Filosofia, por natureza, segue-lhe sensatamente os passos.
Já anotei!
ResponderEliminarJá anotei porque, concordando com a formulação, confesso a minha de talento para uma resposta assim. Por isso anotei e agradeço.
Se chega? Lá chegar, chega, mas se houvesse mais, mais se agradecia.
Vale a pena passar por aqui!
João Brandão
ResponderEliminarCaro Dragão:
Não respondeu cabalmente ao perguntador desse tipo de perguntas, que deve estar a perguntar-se sobre quem serão essas "mulheres deslumbrantes"...
V. é uma avis rara. Ainda nos há-de aqui contar como é que passou dos comandos à Filosofia. Ou foi o inverso?
"É que Deus já nem se aproxima disto (tal o fedor), e a Filosofia, por natureza, segue-lhe sensatamente os passos."
Isto cheira mais a fogosidades duma alma platónica do que à "serenidade" aristotélica. O naturalista macedónio consideraria toda esta có(s)mica teratologia em que vamos um interessante case study.
Mas confesso que o veria melhor si em linha com o velho Diógenes de Sinope. Como o meu caro sabe, também os desta casta não deixavam de prezar a apatheia.
Chega! a Filosofia liberta , tal como Deus.
ResponderEliminarliberta-nos , sobretudo , de espíritos mesquinhos e soberbos.
ResponderEliminare não há qualquer conflito entre "serenidade aristotélica " e a luta fogosa do Dragão. luta por nós , não por ele.
Já anotei! É sempre único e prazeroso ler o que o caro Dragão escreve, independentemente do assunto. Obrigada por partilhar! Ficamos todos mais ricos e espertos.
ResponderEliminare Aristóteles consideraria os escritos do Dragão sobre as teratologias do tempo presente , um tempo que baniu a alma, um mimo , anónimo.
ResponderEliminarnunca o acharia uma ave rara , que o é , mas noutro sentido. rara de extraordinária.
O grande problema do Ocidente, a falta de uma filosofia cultural.
ResponderEliminarOu seja, nenhuma filosofia entranha mais nas elites rascas e na populaça decadente do Ocidente.
Tipo Kardashians da filosofia: https://existentialcomics.com/
ResponderEliminarSuponho que com mais piada.
oh dragão, fiquei esclarecido, caramba. E interessa-me muito aquela parte das "deslumbrantes", sem dúvida. Onde é que me alisto?
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