A propósito de obras sobre a nossa última Guerra Ultramarina, chamou-me a atenção no livro de Simon Innes-Robbins, "Dirty Wars: A Century of Counterinsurgery", um capítulo sobre os portugueses (na verdade, o 2. The last to leave: The portuguese experience, 1961-74). Dei uma leitura rápida, mais a sondar de eventuais e recorrentes minas do que propriamente em digressão colectora e não é que, a páginas tantas, tropeço nesta pequena pérola (relativa à Guiné):
«Following the breakdown of talks and the departure in 1973 of Spinola, who left morale at an all-time high, the counterinsurgency campaign was continued under General Bettencourt Rodrigues. However, the situation on Guinea begun to deteriorat during 1973, and it was clear that Spínola's inspiring leadership had served only to paper over serious cracks in the portuguese war effort. After his departure attitudes hardened on both sides, especially following Cabral's assassination by PAIGC dissidents in January 1973.»
Ora bem, a literatura anglo-saxónica é de um modo geral benevolente para os militares, em contraposição com um certo desdém pela inabilidade dos políticos (leia-se, do regime). Todavia, e mesmo assim, já não embarca nos mitos negros sobre a DGS como autora ubíqua de assassinatos a esmo.
Em suma, a lenda negra do assassínio de Cabral pela DGS e pelos portugueses já só resiste enquanto pinoqueira inveterada dos papagaios ideológicos do costume (como estes; ou estoutros, passe a redundância, e por desplante conveniente, recorrente e óbvio).
Qualquer historiografia minimamente séria, juntamente com multíplos testemunhos de dentro do próprio PAIGC da época, há muito que clarificaram o embuste propagandalheiro. Cito apenas alguns desses testemunhos:
«O ex-comandante de navio da força marinha do PAIGC, Álvaro Dantes Tavares, afirma que Amílcar Cabral foi assassinado por Inocêncio Kani, um dos principais elementos da força da marinha. Numa entrevista ao Ocean Press Álvaro Dantes Tavares considera que este facto foi desprestigiante para a marinha, a principal base do PAICV.»
O ódio dos guineenses aos cabo-verdianos é antigo. Mesmo o Marcelino da Mata, que é guineense retinto (etnia Papel), se lhe perguntarem o que é um Cabo Verdiano (ou mestiço de qualquer zona de África) ele responde, sardonicamente, com um termo pejorativo: "Fotocópia". E depois há outro conceito entranhado no PAIGC (e nas estruturas reinantes da Guiné-Bissau) que diz tudo: a promoção aos altos cargos processa-se por extinção sumária e expedita do superior. A lista é vasta, metódica e conhecida. Principiou no próprio fundador.
Caro Dragão.
ResponderEliminarO confrade Muja ofereceu-me generosamente o livro electrónico dos Flechas. Passei-o no crivo dum corrector ortográfico Lince subversivamente esbandalhado também com fundamental préstimo do confrade Muja e finalmente consegui lê-lo. Compreendo o seu entusiasmo agora que acabei o capítulo 3. Mas devo confessar que a palha que ha para trás é, por vezes, detestável. O A. Quando envereda por encher chouriços espelha bem toda a lavagem ao cérebro levada a cabo nas fileiras desde 74. Redime-se, vejo depois, neste capítulo 3 porque se cinge aos factos.
Uma ideia que formei disto até agora foi que o grande acidente nacional pode bem ter sido precipitado em Abril de 74 porque uma vitória portuguesa em Angola, a principal província, estava à vista. Mais, o método decompores africanos com africanos certo estava achado e, devidamente adaptado a Moçambique, haveria de frutificar. Seria uma questão de (pouco) tempo. Mas o enquadramento disto tudo sob mando português era uma chatice internacional. O grande acidente nacional teria de dar-se antes que fosse tarde.
Ainda me faltam uns capítulos desta história que foi e que poderia continuar a ter sido... Mas acabou. Finou-se como Portugal.
Cumpts.
Caro Dragão,
ResponderEliminarDê sinal de vida. Diga coisas. Por exemplo sobre a Síria ou sobre o Pato Donald.