Escrevia-o Franco Nogueira em 1 de Agosto de 1967:
«Somos grandes em África. E pequeninos são alguns espíritos na metrópole, que pensam e agem sempre de forma pequenina. São os intelectuais muito sofisticados, muito escrupulosos, muito sabedores, muito evoluídos, muito superiores, que têm profundas e doutrinas sábias e elevadas, e que para resolverem problemas se metem em complexas construções e manobras que sacrificariam os portugueses brancos e pretos - mas quem cuida dessas minúcias? - e que levariam à perda do Ultramar. No fundo, têm outra escala de valores, quando não são simplesmente cabotinos, pedantes intelectualmente, sob a influência dos estrangeiros. No fundo, não sentem a grandeza do Ultramar, têm horizontes bem limitados, e são incapazes de ver em grande e rasgado, e impotentes para terem convicções ou lutarem por uma causa. Para esses, tudo é Europa, e deslumbram-se com as galas da Europa, as reuniões da Europa, com punhos de renda e entreténs de salão. No fundo, repugna-lhes a África: tem muitos negros, e selva, e bicharia, e poeira encarnada, e rios de água barrenta e salobra, e ar quente e húmido. Decerto: a África não é só isso; mas, para esses, é isso. Aqueles tais são uns quadrilheiros da pequena política: e fazem passar os seus problemas e ambições pessoais, ou do seu grupo, adiante dos problemas nacionais.»
- Franco Nogueira, "Um político confessa-se (Diário: 1960-1968)"
O Post-Scriptum ao epitáfio:
«Conseguiram-se coisas hoje inconcebíveis, como a neutralidade na II Grande Guerra Mundial.
O Post-Scriptum ao epitáfio:
«Conseguiram-se coisas hoje inconcebíveis, como a neutralidade na II Grande Guerra Mundial.
Conseguiu-se também, pela primeira vez desde Pombal, pôr fim à tutela inglesa, que fora confirmada com sangue na I Guerra Mundial.
Hoje vemos, com uma dura clareza, como o período da nossa história a que cabe o nome de Salazarismo foi o último em que merecemos o nome de nação independente. Agora, em plena “democracia” e sendo o povo “soberano”, resta-nos ser uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica que tem o pseudónimo de CEE”.»
- António José Saraiva, in Expresso de 22 de Abril de 1989
O Franco Nogueira já conhecia o Ricciardi Rb? É que o FN faz um retrato dos RB de Portugal. Lol
ResponderEliminarHá um número que diz muito daquilo que nós fomos.
ResponderEliminarMais de 50% da população branca brasileira é descendente de portugueses.*
Salazar sabia que bastaria mais duas ou três gerações e que conseguiria então um resultado próximo à realidade brasileira. Já li um escrito dele em que a sua reflexão ia buscar o exemplo brasileiro (não me recordo foi onde).
*
Se considerar os brancos que se afirmaram de origem brasileira como descendentes remotos de portugueses, 60,03% da população branca do Brasil é de origem portuguesa. Em suma, vivem em Portugal 10 milhões de portugueses e no Brasil 26 milhões de pessoas que se consideram etnicamente portuguesas e outras 41 milhões que são, provavelmente, de remota origem lusitana.
Precisávamos de ter hoje mais portugueses como este grande Senhor e grande Patriota, A.J.S.. Mais portugueses com a sua inteligência, lucidez e verticalidade para nos fazerem ver a crua e triste realidade a que este regime nos submeteu, que é o exacto oposto daquele que os anti-fascistas e revolucionários, verdadeiros traidores à Pátria, querem-nos impingir à viva força.
ResponderEliminarA alegria de viver foi-se, a paz social foi-se, o bom ambiente laboral foi-se, a segurança no trabalho foi-se, a sensação indefinível de felicidade foi-se, a certeza da protecção total e absoluta contra qualquer investida inimiga vinda do exterior foi-se. Era este o quotidiano real e genuíno que os portugueses, do mais pobre ao mais rico, durante o Estado Novo. Quem disser o contrário mente. É perante este tremendo drama que este bom Povo vai sobrevivendo triste e amargurado e sem fim à vista. Sem fim à vista? Não! Até um dia. Que se espera e deseja bem próximo. Tudo tem um fim, até a maldade e a traição.
Franco Nogueira outro grande português e enorme patriota. As palavras que deixou, no pedaço de texto reproduzido, traduzem a mais pura das verdades quanto à mentalidade de certos portugueses. Mais escrevera e mais acertara.
ResponderEliminarParabéns pelas suas magníficas últimas crónicas, imperdoàvelmente ainda não lhos tinha dado. Aqui ficam para que conste:)
António José Saraiva : preventiva,cuidadosa e deliberadamente " arrumado e esquecido" , alguém que foi , e continua a ser, um referencial para a minha geração.
ResponderEliminarAquelas trinta e pouco páginas, "Personalidade Cultural Portuguesa",em "A Cultura em Portugal",deveriam ser "gratuitas e obrigatórias" para todo o frequentador ( não me atrevo a escrever estudante...) dos edificios escolares cá da paróquia...
Franco Nogueira tinha razão. Ele há gente dessa.
ResponderEliminarMas faltou dizer o fundamental. Os ingleses também foram um grande império. Sem ele e com democracia continuaram a ser um grande país.
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Rb
Hoje, ao ler isto, lembrei-me de si.
ResponderEliminarhttp://observador.pt/opiniao/offshores-ultima-conquista-abril/
Phi