quinta-feira, abril 07, 2016

Consultório Oracular - O Fado da Emburkada




No  depoetério anexo ao postal "Núpcias no Inferno", fui, pela enésima vez, brindado com mais um chorrilho de inaninades roncantes. Do despejo só não digo que é um zurro completo porque, apesar de tudo, nele ressaltam duas invectivas que tomo como cumprimentos: quando me chama ignorante e quando me manda estudar. Chamar-me ignorante é, tout court, chamar-me humano; mandar-me estudar, embora desnecessário e redundante, é desejar-me algo que eu faço (e tenho feito ao longo da vida), com o maior dos deleites (superior a isso só mesmo cobrir senhoras ou tocar guitarra; de igual comprazimento apenas dar tiros ou andar à porrada). Acresce que, por via duma retorcida tendência para certos livros plenos de temas abstrusos tive o infuortúnio (mais que o privilégio) de tomar boa nota do paradoxo da sabedoria, a saber, que quanto mais sabemos, mais descobrimos a proporção cósmica da nossa ignorância.  De tal modo que eu, que na minha juventude sabia praticamente tudo (e o que não sabia era porque nem valia a pena saber), agora, perpassados livros e anos, estou cada vez mais ciente de que não sei praticamente nada. E piora a cada dia que passa. Com a agravante de teimar na frequência de ignorantes ainda maiores que eu. Ignorâncias,  por assim dizer, monumentais, perante as quais irrompo feito um perfeito sabichão. E das quais, a grande custo, saio, ocasionalmente, um bocadinho mais ignorante. Faço tenção mesmo (com alguma megalomania, reconheço), que uma vez diante do Juiz final, tenha a declarar o seguinte: sendo certo que não ignoro completa e absolutamente, tenho a dizer, sob penhor da minha alma, que ignoro profundamente uma quantidade apreciável de coisas. Nada disto tem que ver com a obra daquele sábio Nicolau (de Cusa), porque os sábios, como esse , pouca ignorância têm para transmitir. Se um tipo perde muito tempo com sábios, regride à adolescência e é uma chatice. Corre  mesmo o sério risco de ficar viciado na regressão e, em menos de nada, dá consigo em forma de girino fora da bolsa seminal em odisseia de nhanha palrante pelo mundo. Palrante e, cúmulo do horror, sentenciosa. 
Como parece ser, tornando agora à vaca  frígida, o caso da depoente (eu digo "da" porque hoje em dia é quase tudo gajas, com aparência de homem ou mulher por fora, mas gaja por dentro).
Relembremos a sentença inaugural com que proclama ao mundo todo um estado prenhe duma incomensurável sabichice:

«Confundir milenarismo com despotismo iluminado (baseado na glorificação da ciência) é grande calinada.»



Isto é dito de de trás dum arbustro e com a voz disfarçada por uma burka. Não vou dizer que é um Ihavé da loja dos trezentos, mas é, no minimo, uma iahvú ou iahvi emburkada. Quer dizer, que andou a emburkar. Nada no postal autoriza uma sentença desaustinada destas. Mas a sabichice sobreabundante, é universalmente consabido, tem destes efeitos indesejáveis: promove a incontinência. De tão cheio, o vaso transborda e salpica. No caso, devidamente escoltado por gafanhotos. Abreviando: detrás da moita ardente, e embaraçada na burka, a poedeira pôs um ovo e esse ovo de columbina é o seguinte, prestem atenção: o Exército Islamico é uma manifestação do milenarismo islamico. E eu, este vosso criado, sou uma manifestação de ignorância porque não sei isso. E é verdade: eu inão sei, o exército islamico não sabe, os americanos não sabem, os turcos não sabem, os sauditas não sabem, os iranianos e os sírios também não sabem, em bom rigor, quase ninguém sabe, porque isso só foi revelado aqui no depoetério do Dragoscópio, às 8.57 da tarde, no dia 03 de Abril de 2016. 

Do que se sabe (ou melhor, se sabia), oficialmente (e fora as teorias da conspiração) do tal Exército Islamico - até porque ele o proclama aos quatro ventos e exibe com alacridade e atrocidade imarcescíveis -, era que o distinto grupo de cavalheiros e meninas se tratava dum empreendimento sunita, constituido por sunitas especialmente rigorosos, exterminador implacável de xiitas, cristãos e, em suma, tudo o que cheirasse a heresia, infidelidade ou blasfémia (fora os judeus, mas esses é só para se roerem de inveja do protagonismo momentâneo destas vítimas fresquinhas). Todavia, tudo isto era falso: imaginação dos jornais, das agências de informação e alucinação colectiva dos milhares de refugiados que, a duras provas, lá conseguiram escapar ao matadouro. Porque, sabemos agora,, o Exército Islamico tal qual se tem manifestado na realidade não existe. E não existe enquanto não souber e tomar conhecimento que, afinal, por conveniência da iahvu (ou iahvi) é um combinado esquizofrénico de milenarismo cristão com madhismo xiita. Mais grave ainda: não existe enquanto não se compenetrar de uma coisa que também não existe: milenarismo islamico. Bem, mas temos que dar desconto do abuso dos termos à conta dos excessos naturais do magma sapiente ao passar da caldeira à chaminé. O aperto súbito perante a imensa pressão sabonífera, por alturas da erupção, acarreta, não raramente, a soltura de gases e projecções extrombólicas. Queria referir escatologia, a sumidade luminosa. O exército Islamico é, pois, uma manifestação escatológica. Portanto, não precisa de ser cristão: basta que seja apenas xiita.
Os bons dogmas não se discutem. E este parece-me dos excelentes. A iahvu (ou iahvi), todavia, não deveria perder tempo a tentar converter um escatofóbico encartado como eu. Recomendo-lhe vivamente que, uma vez descoberta a verdade, proceda agora ao passo seguinte da religião: que vá pregá-la ao rebanho do ISIS. Seguramente, estão anelosos de conhecê-la e de tratá-la em conformidade. Porém, nada disto invalida, (nem por sombras!) a minha plena concordância com a verdade descoberta e revelada: o ISIS é um caso evidente de escatologia. E a iahvu (ou iahvi) também. Mas escatologia no sentido menos arrebitado do termo, ou seja, "estudo dos excrementos". Pois é, a língua grega tem destas coisas: eschatos tanto significa o que "está na extremidade suprema e última, como o que está na mais baixa". 

Entretanto, como consultório oracular, temos deveres para com quem nos consulta. Uma questão urge responder já de seguida, a saber, como raio entrou a iahvu (ou iahvi) na posse desta tonitruante verdade? O próprio sábio Descartes elucubra acerca deste hirsuto problema. Segundo ele, "como é que o profeta (aquele que pensa) pode certificar-se que se trata de deus e não dum génio maligo a desinformá-lo"? Isto é, como é que o "Cogito, ergo sum", traduzindo "eu penso, logo eu existo" (cuja aplicação prática redundará no "eu sou um demiurgo e se penso isto é porque isto existe e é necessariamente assim") pode ser indubitávelmente certo? A idade moderna e os tempos seguintes certificá-lo-ão de sumptuosas maneiras e, em síntese, pode ser descrito como o Ego-Deus - ou Ego-sol, para os menos dados à metafísica); mas no caso peculiar da iahvu (ou iahvi), por via do avanço tecnológico nas sabionetes, há já toda uma sofisticação gnoseológica que importa não subestimar. A cognição destes canivetes suissos da erudição em regime ambulatório processa-se de formas não raramente assombrosas. Sobretudo a grande velocidade. O segredo, ao que revelam os especialistas, reside em passar o mais superficialmente possível pelo maior número de assuntos, comentários, ruídos, rumores, notícias, etc , panta-absorvendo tudo isso, numa espécie da fralda mental XXXXXL (um upgrade para incontinentes plurinários da tábua rasa de Looke), e segregando, após um metabolismo sumário de fast-jiboiação com gravidez histérica, sentenças e dogmas irrefutáveis. No que oscilam entre o aforismo acrodouto e o chorrilho desatado, conforme os humores da vesícula anoética.
Por conseguinte, a iahvu (ou iahvi) ingurgitou a porcaria numa esquina ou roulote online qualquer, de pé e a correr, e emitiu em conformidade. A escatofagia precedeu e anteparou a escatografia. Eis explicada a génese do prodígio.
Exposta a verdade, ressaltava todavia um certo aroma. Cumpria agora à turbopitonisa sair à cata de provas para a mesma. Urgia cobrir a coisa de linque-linques e notas de rodapum. Esquece-se que os apocalipses são mesmo assim: a revelação dos profetas. E a iahvu (ou iahvi), devidamente estimulada, vai-se revelando. Às tantas já proclama, desnorteada:
«A ignorância é que é muito atrevida. Devia estudar em vez de cuspir para o ar ou inventar comparações descabidas entre destruições de monumentos pelos jacobinos (esqueceu-se das comunistas) com destruições que têm finalidades de ortodoxia religiosa e escatologia milenarista.»

Como é que se tem por finalidade uma coisa e o seu contrário? Insiste, a depoedeira no unicórnio da "escatologia milenarista" referindo-se a muçulmanos, agravado agora com a concordância entre duas coisas que sempre se antagonizaram por natureza ao longo da história: as ortodoxias religiosas (geralmente cooperantes de poderes constituidos) e os "milenarismos" escatológicos (há algum milenarismo que não se integre na escatologia?; só esta expressão é todo um programa de sapiência na brasa), veículos de palpitações revolucionárias. Ora, é exactamente por telecomando e alimentação da "ortodoxia religiosa" (os sunitas da Turquia e Arábia) que o Exército Islamico, uma empresa sunita, se entrega à chacina de quantos heterodoxos, vulgo xiitas, deite a unha. Extirpando, de caminho, grandes espaços anteriormente infestados deles. Na medida em que visa enfraquecer e combater a influência iraniana, este empreendimento decorreu e decorre sob o beneplácito, e até um certo apoio ou vista grossa, de americanos e israelitas, passe a redundância. Aliás, é baseada precisamente na escatologia dos xiitas, que a propaganda anglo/israelita tem procurado estabelecer/forjar uma propensão genética e atávica daquela gente, sobretudo os que acreditam no Imã Oculto (em rigor, a maioria) para o terrorismo e para o perigo da obsessão apocalíptica (querem bombas atómicas para convocar, a toque de caixa, o Madhi). Aliás, como foco especial para esse enquadramento, e paradigma vivo dessa herança maligna (que remonta, entre outros, aos Assassinos do Velho da Montanha) surge, sobremaneira, o Hezzbolah (que é colocado invariavelmente, como padrão terrorista, lado a lado com o ISIS). As destruições do ISIS inserem-se num plano de limpeza etno-cultural que nada têm de escatológico, mas tudo têm de geopolítico. E isso é público e notório, estando mais que escancarado e comprovado. Atribuir-lhe a identidade daquilo que combate e procura exterminar, só tem duas explicações: estupidez voluntária (vulgo propaganda acéfala); ou estupidez involuntária, vulgo toinice. Como não há regra sem excepção, quero acreditar que a iahvu (ou iahvi) protagoniza-a miraculosamente, à excepção, na plenitude da sua incomensurável sabichice, sempre a derramar-se e sempre a refazer-se. Uma verdadeira sempre-em-pé (e respectivo chinelo) da sagácia! Até porque não duvido, ninguém duvida, da constelação de bibliotecas que bochecha e asperge de seguida, em repucho, sobre a patuleia ignara várias vezes ao dia e onde quer que calhe. Para quem pilota o goog..., digo, o firmamento, e coça o universo no fundo do umbigo, cristãos, xiitas, sunitas, esquimós, kimbundos, aztecas, que é isso? Minudências... Bagatelas...Pentelhices! Há lá distinção, diferença digna de nota entre ninharias!... Concordo em absoluto. E reforço: milénios, decénios, semanas santas, dias feriados, madhis, messias, Platão, Aristóteles, Mancha negra, professor Pardal, Santa Teresa (guilherme, porque não?) , são frescuras, picuinhices de gente mesquinha e invejosa!... Ainda assim, e por tudo isto, causa-me algum desconforto e um certo sentimento de culpa presenciar, com tal proximidade, um tão aparatoso fenómeno destes. É que, não só não amplio em nada a minha ignorância, como até experimento o indesejável sentimento de que, afinal, ora bolas!, sempre sei qualquer coisa. De bom grado, dispenso, pois, ulteriores espectáculos metereológicos de tão contraproducente efeito. Recaídas dispenso.

Para encerramento da consulta, não posso retribuir a amabilidade de mandar estudar quem, tão ufana e impermeavelmente, já sabe tudo, mas mesmo tudo tem sempre uma ínfima coisinha que falta. No seu caso, permita-me que lha aponte... Uma frioleira de nada, enfim, mas que às vezes dá jeito: saber ler. 











9 comentários:

  1. Já se estatelou ao comprido e só demonstra mau perder e luxo na ignorância.
    Continue e não te esqueça de publicar em livro.
    Se tiver dificuldade na edição, mostre as passagens dos efeitos do iluminismo no ISIS ao Olavo que ele vai gostar e publica.

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  2. As Norman Cohn showed in his path-breaking study The Pursuit of the Millennium, first published in 1957, medieval Christendom abounded in millenarian movements, some of them violent, aiming to cleanse the church and society of corruption and usher in a new world. One example is the theocratic regime briefly established by the radical Anabaptist and self-proclaimed messiah John of Leiden in the German city of Münster in the early 16th century. Imposing mass baptism on adults, expelling or executing any who would not convert, burning all books aside from the Bible and coercing women into polygamy, Leiden’s Kingdom of God practised a type of repression with few precedents in the medieval world. It’s not hard to see similarities with the caliphate that Abu Bakr al-Baghdadi proclaimed in Mosul in June.
    At the same time there are clear parallels between Isis and modern revolutionary movements. For one thing, Isis’s violence is carefully orchestrated. Using terror in a strategic and pedagogic fashion to instil fear in its enemies and obedience in the communities it conquers, Isis is following precedents that go back to the mass executions of the Jacobin Terror, the early Soviet period and the systematic slaughter practised by the Khmer Rouge In addition, Isis is engaged in state-building. More ambitious than other jihadist groups such as al-Qaida (from which it began as a spin-off nearly 10 years ago), Isis has captured territory covering about a third of Syria and a quarter of Iraq, where it is constructing a state using methods similar to those that founded the totalitarian regimes of the last century


    Mais outra bruxa maya- o histérico e ignorante do John Gray a dizer uma tamanha idioteira. Deve ser outra dragonette. Perdão: Olavette.

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  3. È uma salganhada de tudo ao molho e fé em deus.

    Então foi ai que foi buscar a inspiração para a atoarda de papagaio...
    Bonito.

    Outro chorrilho. Mas, já é um progresso: confessa a e assume a natureza da sua pergrinação copista, o repetir sem procurar entender e ponderar... Mero pretextar fútil para disputa histriónica e pueril de recreio para adolescentes retardados.

    Agora esfregue a penca na pérola com que inaugurou todo este relambório:
    «Confundir milenarismo com despotismo iluminado (baseado na glorificação da ciência) é grande calinada.»

    Então, agora que o Gray faz precisamente isso (que note-se, eu não fiz, apenas sustentei que o ISIS não era um produto de anti-iluminismo, mas duma hibridação entre ideologia e religião, tão iluminista quanto as monstruosidades modernas), e mais, que o Gray declara que o ISIS é uma hibridação vasta ((onde enfia tudo e um par de botas, mas também jacobinos e o seu sucedâneo comunista), eis que a emburkada me vem apresentar isso como prova de quê?

    DE que não lê ou não entende aquilo que lê? Já não é novidade para ninguém.
    Então agora que o Gray faz aquilo que me inventou a mim como calinada já não é calinada das grandes?


    Mas isso do milenarismo é uma completa anedota. E já expus claramente porquê.
    Quando a ortodoxia cristã tratou dos Cátaros vai-me dizer o quê - que eram milenaristas?

    Mas alguma vez a violência e a barbária chacinante foi património exclusivo de seitas? Quer limpar a indústria ao artesanato?
    Acordou agora dum sono mágico? Esqeceu-se do que os americanos fizeram no Iraque, e de como entregaram os sunitas do exército do Saddam às garras dos xiitas e á tortura dos presídios? O fulcro originário do ISIS são esses sunitas do Iraque. E isto é oficial, não é teoria astrológica.

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  4. Pois é. É parecida com aquela redacção da drago-neta em que as tropas napoleónicas se fazem explodir revolucionariamente para imporem a religião ateia e depois os neo-muftis lêem Voltaire e Rousseau aos cagots semi-islâmico de Molenbeeck. Entre uma versão e outra, tenho de reconhecer que a da neta do dragão é bem mais original e inteligente.

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  5. «Quando a ortodoxia cristã tratou dos Cátaros vai-me dizer o quê - que eram milenaristas?» - que eram milenaristas, os chacinantes ortodoxos, bem entendido.

    E quando os ingleses andaram séculos a tentar exterminar os irlandeses, também eram milenaristas?

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  6. Cuidado, usar como burka a fralda (ou vice-versa) não é prudente: ainda apanha um resfriado nas partes. OU acaba com o buço a arder.

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  7. Ficou careca assim, ao trocar o cueiro pelo turbante, numa tentativa de sentir a iluminação na moleirinha? Tss... tss, está mesmo cegueta.
    Deixe essas brincadeiras para a drago neta que ela vai dando conta das redacções. Qualquer dia já nem se nota a diferença.

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  8. Antes careca assim (embora não seja o caso), que ca roupa assada!...

    A propósito, a moita ardeu, a burka tanto cobre como destapa... Continua escondida para quê, se já nada a esconde.

    A volúpia do ridículo? Constituiram seita, está visto.

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