Mas alguma vez os partidos, em Portugal, se guiaram coisa que se visse por ideologia, doutrina, receita (culinária, que fosse), programa de partido ou sequer de governo? Mal se apanham no poleiro, passam por isso tudo com o maior desembaraço, velocidade e amnésia súbita. Mesmo os comunistas (dos vários credos e alambiques) quando, no pós-25 de Abril, se entretiveram a desmantelar a nação à boleia da peregrinice zoina dos moderados (como já tinha sido em Outubro de 1917, na Rússia), mesmo esses, nunca deixaram, no essencial, de acautelar a vidinha e o futuro sem sobressaltos na "democracia burguesa" pós-Novembro. Nos restantes quarenta anos, os partidos têm sido nada mais que agências de emprego, feiras de contactos e influências, trampolins sociais e trambicódromos para safardanas, sicofantas e arranjistas das mais diversas estirpes, cores e proveniências. E quanto mais instalados ou com acesso ao Poder, pior. A não ser no folclore da treta, não há socialistas nem não socialistas, sociais-democratas ou populares, esquerdistas ou direitistas, conservadores ou liberais: é tudo devoristas, trepadoristas e empalmadores. A máquina partidária encarrega-se de produzir, em regra, enchidos desses. Mesmo indivíduos honestos e genuinamente bem intencionados que, por algum milagre da santa, escapassem à filtragem interna, acabariam rapidamente submersos e varridos pela marabunta infestante.
Fora tudo isso, as úinicas agendas que cumprem vêm de fora e fazem parte do kit/alvará comercial. Ou do estojo de emergência, por dictatum ainda e sempre externo. Resume-se o fenómeno inteiro num aforismo simples: sacrifica-se o pagode para salvação dos eleitos.
Fora tudo isso, as úinicas agendas que cumprem vêm de fora e fazem parte do kit/alvará comercial. Ou do estojo de emergência, por dictatum ainda e sempre externo. Resume-se o fenómeno inteiro num aforismo simples: sacrifica-se o pagode para salvação dos eleitos.
Os partidos são o cancro. Está provado e servido, à náusea e à exaustão, desde a cegada de 1820. E também já vimos a cura, pelo que não requer descobertas da pólvora ou da roda dentada. Não há metásteses boas nem metásteses más: há metásteses que se tornam particularmente nefastas e malfazejas logo que abocanham o Poder. A diferença no malefício é directamente proporcional à quantidade de poder nas unhas da quadrilha e à duração da mamada. A dinâmica da mediocridade, da chicana, da safadeza e da filha-da-putice que reina no interior das cloacas partidárias (dos quais o modelo universal e perpétuo é o do próprio Partido Comunista - cada Secretário-geral converte-se num tótem tribal a prazo, e, uma vez no Poder, degenera num Kim-Kong-ill à solta, a arder em frémitos de eternidade) alastra ao país e instaura a dispersão, o oportunismo, a velhacagem e a zaragata permanente. Acangotada na Administração Pública, naum cascata de alvéolos, casulos e bolsas marsupiais, esmera-se, afana-se e desunha-se, a um ritmo cada vez mais frenético, em extorquir e brutalizar, sem dó nem piedade (e toda a burrocracia de que é capaz), o contribuinte e o desamparado em geral. Desamparado, entenda-se como todo aquele que não pertence ou é patrocinado por qualquer uma das camarilhas em exercício: dos partidos à maçonaria, das Ordens às Opus, dos Clubes às seitas (excepto naquele caso emblemático em que o clube e a seita se confundem), passando por todas as mancebias e manjedouras a jusante, cujo elenco me dispenso de explicitar por economia de espaço e nojo. O certo é que é toda uma escumalha - que não vale a ponta dum corno nem serve para nada de útil à nação - a armar ao importante, ao fino e, sobretudo, ao caro. Mainates que se fazem pagar como arquiduques.
Os partidos, entretanto, foram todos socialistas no pós-25 de Abril; foram todos democráticos no pós-25 de Novembro; e serão todos o que for preciso para garantir o estipêndio dos seus comensais (devidamente hierarquizados à boa moda feudal, pois claro, que isto da democracia é só mesmo para inglês ver e otário aplaudir). Acreditar na reforma deste esquema, ou, ainda pior, na sua cura milagrosa, é o mesmo que acreditar na redistribuição da riqueza. Os mesmos que não impedem os ladrões de roubar e, ainda por cima, os ajudam a sacar a seu bel-prazer, apregoam depois projectar persuadi-los a devolver o que quer que seja? Os mesmos que facilitam são depois os mesmos que moralizam? No menos mau dos casos, é o mesmo que pretender educar um filho na idade adulta, depois de deixá-lo adquirir todos os vícios, taras e más tendências. Uma nódoa, parafraseando o Eça, não se reforma: remove-se.
Mas pior ainda é tentar camuflar o surro duns debaixo do tapete do lixo dos outros. Quem o faz não o realiza por amor genuíno à higiene, mas por frete escuso ou interesse escaninho numa das imundícies. Repito: Não é devoção à limpeza: é propaganda eleitoral. E das rascas.
Ou então não, dir-me-ão as almas mais caridosas; que é mero fruto da ingenuidade, de boa fé, com boa intenção. Pois, contra bem intencionados desses já fiquei eu vacinado (e pena não ter também ficado o país) no 25 de Abril. Já sei qual vai ser o resultado da "boa intenção"... Que, diz o provérbio, povoa os infernos.
PS: consta que as "câmaras corporativas" rosas e laranjas que infestam a blogosfera (quem a viu e quem a vê!...) são, em larga percentagem, tripuladas por funcionários públicos. Faz todo o sentido. Em pleno mundo às avessas, numa sociedade em putrefacção acelerada, o parasita ascende a guardião da moral pública. .
Muito bom!
ResponderEliminarEste é o mais recente :)
ResponderEliminarhttp://noscidadaos.pt/site/
De facto. Apregoam uma moralidade que não praticam.
ResponderEliminarVendem-se por dez réis.
Existem povos e pessoas, que nasceram para serem tapetes.
Mas que é isto, temos inimigos da liberdade a sugerir que o bem comum se sobrepõe aos direitos do devotos da santa?
ResponderEliminarInconcebivel!
"Os partidos são o cancro."
ResponderEliminarAs pessoas são o cancro.
Em grupo ainda mais.
Marramos contra os partidos, contra o sistema democrático, contra as eleições, contra o caralho que os fodam a todos e não conseguimos entender que a questão, a grande Questão, está dentro e das criaturas, na natureza do funcionamento da máquina humana, sempre em crise, sempre em conflito, sempre em egoísmo, mas também capaz de gestos solidários, sobretudo quando a pança está bem e a vida corre melhor.
ResponderEliminarPorque é que será que lá para o Norte, para as Escandinávias, não há tanta turbulência, enquanto cá para baixo é um mar de problemas ?
Ainda assim o bicho Homem não arranjou melhor que uma merda boa a que chama democracia, preferível, sempre preferível, apesar das contra indicações, muitas, ao poder absoluto de uma casta, de um partido, de uma máquina, chame-se ele Salazar, Cunhal, ou outro ditador de igual quilate.
epá, só cá vim para botar um pouco de cloro nesta merda. Então há quem compare o Drº António ao Nelito Sobrancelhas Tiago?! Vamos lá com calma nestes obtusos paralelismos. Santa Comba não merece tamanha desconsideração, muito menos um dos seus filhos.
ResponderEliminarAté ao meu regresso,
Maria
«As pessoas são o cancro.»
ResponderEliminarNão são as pessoas todas. São só as mães de alguns.
«Ainda assim o bicho Homem não arranjou melhor que uma merda boa a que chama democracia»
Pois, de bichos e bichas não percebo grande coisa. Caso contrário, abria um consultório veterinário e ainda ganhava umas coroas. Mas se não arranjam melhor que a tal "democracia", não admira: são irracionais. E pelo menos os herbívoros ungulados, como parece ser a classe predominante na fauna actual, contentam-se com uma boa palha. Na cama, no estômago e no cérebro. Ou seja, para repousar, para ruminar e para preencher a alma (eu ainda estou com os antigos, pré-cartesianos que concediam alma vegetativa aos animais)...
E merda para mim, se é merda, então não é boa nem má: é merda. O coprófago, como qualquer junkie ou viciado, arranja sempre motivos de força maior para o seu vício.
Braga
ResponderEliminarNa Suecia nao se pode adquirir Ouro. Sabia?
Na Noruega o estado social... treme ... (o petroleo)
Na Finlandia austeridade na contas publicas impoe-se :)
«Porque é que será que lá para o Norte, para as Escandinávias, não há tanta turbulência, enquanto cá para baixo é um mar de problemas ?»
ResponderEliminarEles têm que trabalhar muito e portar-se muito bem para arranharem uns dinheiritos que lhes permita virem usufruir do nosso sol e das nossas praias. Nós já temos o sol e as praias, quase à borla, pelo que temos que nos entreter com qualquer outra coisa mais animada. A não ser aqueles patos bravos, bestialmente estúpidos e tonhos, que acham que têm que gardanhar muito para irem armar ao escandinabo para as Caraíbas, o Brasil, ou até, imagine-se, Cabo verde.
Também dou explicações de Filosofia, história, Geografia, Matemática e Contra-Guerrilha. Entre outras. E aulas particulares de Defesa Pessoal. Faço preços aprazíveis por causa da crise.
O Tenente Adamastor :
ResponderEliminarhttps://drive.google.com/file/d/0B7igymbYeq5wWUxYOFp6MnZ0bXM/view
O problema da democracia, quanto a mim, é que quem a ela se refere, normalmente para dizer que não há nada melhor, raramente define o que entende por tal...
ResponderEliminarE mais tenho para mim que, pela maior parte, em no fazendo, ainda era o Dr. António Oliveira que saía o mais democrata de todos.
«Porque é que será que lá para o Norte, para as Escandinávias, não há tanta turbulência, enquanto cá para baixo é um mar de problemas ?»
ResponderEliminar"(...) não há TANTA turbulência(...)"
Parece que explicador é preciso...
"Não são as pessoas todas. São só as mães de alguns."
ResponderEliminarPuro engano.
Ninguém escapa.
"Também dou explicações de Filosofia, história, Geografia, Matemática e Contra-Guerrilha. Entre outras. E aulas particulares de Defesa Pessoal. Faço preços aprazíveis por causa da crise."
ResponderEliminarQuem tem galões não tem colhões
«Quem tem galões não tem colhões»
ResponderEliminarModernices democráticas, bem vê. No meu tempo as gajas ainda não iam à tropa. Portanto, sem colhões não se chegava a soldado, quanto mais a oficial!...
Calculo que alguma destas oficialas de agora o põs a encher ou lhe chamou amélia e o Braga ficou ressabiado. Então, já viu se fosse no tempo do Salazar, era muito pior. No mínimo, uma cachaçada pelos cornos abaixo e uma parada inteira a pontapé e à cambalhota.
Além de que a crença na democracia não abona muito pela virilidade de ninguém. pelo contrário, situa algures entre a impotência e a passividade ufana.
A única democracia que existiu foi a Helénica (não digo grega, para que não haja confusões com o tempo em que lá vivia um povo forte, i.é. antes de semitizado (ou judeo-cristianizado, ... como queiram)) só votavam gregos verdadeiros (maioria guerreiros e nobres por ascenção guerreira) porque esses definitivamente defendiam a grécia.
ResponderEliminarIsto a que chamam agora democracia é a farsa mais pestilenta que pode existir. Um esgoto onde todas as bostas vêm ao de cima. Quanto maior a bosta, maior a ascenção.
Uma merda é que os homens são todos iguais:
"Não são as pessoas todas. São só as mães de alguns." - Nem mais.
Infelizmente são cada vez mais, sintoma óbvio de doênça.
E o que acabará a natureza por fazer a algo tão doente? Extermínio!
Na rússia existem mais de 2000 nukes prontos a ser usados e a canalha "progressista" do oacidente está a fazer os possíveis para que não demore muito até levarem com essa carga toda em cima.
A merda tanto cresce que um dia acaba incenerada.
ascensão, ascensão!!
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