quarta-feira, julho 15, 2015

O caminho da Servidão

Portugal. por muito que isso custe a certas pessoas adoradoras de patacas e cabedais, é um país pobre. O clima não favorece muito a agricultura (chove no inverno quando devia chover no verão), o solo também não é lá muito fértil (tirando o Ribatejo e os barros de Beja), a coisa é assim a atirar para a Grécia e as matérias primas valiosas da idade industrial não abundam (petróleo, diamantes, ouro, por aí fora). Mas é pobre sobretudo em inteligência, brio e espírito empreendedor. Terei que considerar o espírito copiador como o contrário do espírito empreendedor, salvaguardando, no entanto, que o copiar pode constituir um meio útil (ver exemplo japonês), desde que não se transforme em fim predominante. Ora, entre nós, o macaquear o êxito alheio (quer externa, quer mesmo internamente) tornou-se, pelos vistos, o fim único da existência dessa classe peregrina e inefável que se proclama como "empresários". Isso, adicionado a mentecaptice de que podemos e devemos ser competitivos, constitui o bolo cremoso em que todo este infantário se lambuza. Como é que um país de dez milhões de habitantes, com uma indústria reduzida a cacos, um Estado entregue ao gangsterismo extorsionista, custos energéticos dignos duma cleptocracia africana e uma corrupção endémica ao nível da américa latina, vai competir com quem quer que seja, tirando a Guiné-Bissau, Cabo Verde ou a Líbia Democrática? Como é que os mesmos que desmantelaram o país, vão agora torná-lo "competitivo"?
Agora note-se a clarividência catita e a coerência supimpa destes apologetas da competitividade...
O mesmo Portugal que deve sujeitar-se servilmente às superiores potências militares, pois, segundo estas mioleiras milupa, não lhe resta qualquer outra espécie de alternativa, devém, por artes mágicas e abracadabranadas, bestialmente competitivo no mercado económico caso cumpra não se sabe bem que requintes auto-flagelantes e masoquistas para FMI ver. Politicamente (militares, para que é que isso serve?...), nem por sombras deve a nação ousar qualquer espécie de defesa dos seus interesses, nem ontem, nem hoje, nem em tempo algum (somos poucos, somos fracos, somos desgraçadinhos); mas economicamente, ei-la que pode ser extrema e miraculosamente competitva. Assim, do pé para am mão ( e de ambos para os fundilhos da coluna). Ou seja, politicamente somos um zero à esquerda (a não ser que agarrados à sola do sapato dalguma grossa e roncante Potência); mas economicamente, daqui por trinta anos, ninguém nos segura!...
O Dr Salazar era um malandro, um alucinado, um destemperado porque tentou competir com os impérios. Utilizando para o efeito uma moeda sólida, uma economia em crescendo consolidado,  prudência, firmeza e o melhor cacete internacional de que podia dispôr. Porém, não era eterno e isso, no fundo, é que nunca lhe perdoarão. Agora estes, com o contrário disso tudo, vão por artes bufarinheiras de perlim-pim-pum, realizar o prodígio miraculejo. Políticos da banha-da-cobra, nem mais. Chusma de tarantas, futriqueiros e acéfalos em redor. Elitose que amoleceu a alcatra nos bancos das universidades e saiu de lá tão bruta, alvar e burgessa como para lá entrou. 
Ora, a economia e a política não são em modo ou tempo algum dissociáveis. Ao abdicarmos de política própria e autónoma não podemos estar à espera de ser recompensados com uma economia pujante, independente e proveitosa às nossas expectativas. Pelo contrário, a economia acaba a ir pelo mesmo ralo da política. Sujeitamo-nos, vilmente, a políticas e economias alheias; vivemos às ordens, empurrões e humores de outros. É assim com as pessoas, como é assim com os países. Hoje, como na véspera, o país continua na bancarrota - uma bancarrota por controlo remoto, cujo rastilho e detonador residem em valhacoutos tão prosaicos e ubescos como as Agências de Notação. A mesma classe de gente que no tempo do Pinóquio avestruzava a cornadura em troco da babuge ao chefe, e não via o óbvio ululante, agora faz o mesmo em relação ao Vígaro de Vasconcelos residente. E continua a exportar, junto com pessoas a esmo, dívida de empreitada, como se não houvesse amanhã (e toda a nação se tivesse que imolar aos gastos sumptuosos dum estado anafado e inútil -a não ser, bem entendido, para a funcionarite amesentada e os partidos que nele mamam). A nova descoberta rançosa e de importação é que não compete ao estado criar emprego. Pois não; mas compete-lhe criar desemprego e miséria. Porque despede os mil e um disfuncionários que por lá parasitam? Não porque destrói empresas a eito. Por amor, encomenda e garantia ao abastecimento externo de dose mensal para os teúdos e manteúdos do regime. O resto que se fornique!...
Mas este tipo de gentalha, infelizmene cada vez mais (que maior sonho da escumalha infra senão tornar-se escumalha supra) acha que a sua casota deve ser fortificada com todo o tipo de alarmes, barreiras e sistemas de vigilância; mas o país deve existir de fronteiras abertas, janelas esgargaladas e mesa posta à descrição do forasteiro. Pois, caso contrário não é competitivo, nem amigo dos mercados, e Bruxelas passa multa. E toma lá não sei quantos mil refugiados da treta, onde é indistinto o terrorista-à-boleia do aterrorizado de ocasião, que é para almoçarem, e compensar das emigrações dos naturais, do aborto induzido e gratificado, e da disfunção eréctil endémica. E colunar.
O que é excelente para eles é, pois, péssimo e inadmissível para o país. Muitos continuam a jactar empáfia e verborreia possidónia, enquanto a sua pátria jaz de rastos na latrina da História (foi um gás que lhe deu). Ninguém lhes exige que se compadeçam. Ou que se arruinem em arroubos de caridade. Pede-se apenas que não arrotem.


PS: Ah, e descobriram o mar... Depois de terem afundado a frota pesqueira. A troco de patacos. 

7 comentários:

  1. Que povo desgraçado, espoliado por uns imbecis, que se acham politicos, convencidos que o dinheiro, cai do céu, meros aprendizes de feiticeiro.
    É o karma português.
    " Honrai a Pátria, que a Pátria vos contempla", escrevia Camões.
    Inocente.

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  2. Mais um texto à Dragão.

    "O Dr Salazar era um malandro, um alucinado, um destemperado porque tentou competir com os impérios. Utilizando para o efeito uma moeda sólida, uma economia em crescendo consolidado, prudência, firmeza e o melhor cacete internacional de que podia dispôr."

    "e o melhor cacete internacional de que podia dispôr.

    Que cacete refere-se?



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  3. O Camões pode ser culpado de muita coisa, mas não de proferir a afirmação aqui evocada. A maior culpa dele foi acreditar nessa coisa do génio lusitano. Mas aí nada a fazer. Poetas.

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  4. «Que cacete refere-se?»

    O cacete que, em falhando, falha tudo o resto. Vossência tem uma pistola para se defender. Um país tem Forças Armadas (e de Segurança). Eram elas que asseguravam o regime e o Ultramar. Foi lá que a subversão e a traição minaram sobremaneira. Desleixo e falta de tacto (eu diria falta de espartanismo sobretudo)?... Pois. E muito dólar e rublo, em sonante ou promissória, também.

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  5. Mas eu pr'aqui a falar em traição nestes dias. Sujeito-me a graçolas e mofa das massas. É como falar em castidade numa casa de putas.

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  6. Grande texto ( reapassando a matéria dada...).
    Mas eu repito-me, evidentemente....

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  7. "repassando", claro.
    Mea culpa.

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