A famigerada "ditadura cultural da esquerda", segundo round... ou, como dizia o outro, "para acabar de vez com a cultura da treta".
Uma verdadezinha óbvia e prévia: a cultura, genuinamente, existe ou não existe e não é de esquerda nem de direita. Mais: o que alimenta, fomenta e consagra a partidarite, o facciozismo e a clubite mãe de todos os mentecaptos militantes, acólitos ou coristas é precisamente a ausência de cultura digna desse nome. E quando digo aqui "cultura" não quero apenas referir o seu sentido superior, nobre, mas o seu sentido geral, de própria "cultura de um povo". Querer converter a cultura à direita ou à esquerda é querer reduzir a estética ou a ética (e o próprio folclore) a uma política. Ou seja, é meter o Rossio na rua da betesga. Por natureza e dimensão, tanto a ética como a estética são mais vastas e elevadas que a política. Mas para quem troca os cascos pela cabeça, ninguém duvide que faz todo o sentido que a cabeça se submeta às patas, até porque para quem rasteja por devoção fica tudo ao mesmo nível. Se, ainda por cima, constatarmos como, por requinte do nosso tempo, a política se prostra em adoração aos pés da finança, poderemos aquilatar a que estrebaria erudita conduz uma tal romaria de almocreves. Ética, estética e política é tudo igual ao litro, que é como quem diz, ao dinheiro. Pelo que não é apenas a música que é pimba: é tudo o resto, por atacado.
Arrabalde rectangular, fatal e sórdido de tudo isto, Portugal, com ímpeto crescente, viu-se avassalado pelo postiço e pela contafacção. Passo a explicar: temos uma democracia postiça, elites postiças, cultura postiça, uma direita postiça e, concomitantemente, à falta de ideias próprias e vontade autónoma, dejectos políticos que o mais longe e elaborado que alcançam, sob a alçada dos gebos e grunhos que os patrocinam, é contraporem-se a alguma coisa - os grunhos aos gebos, os gebos aos grunhos, e todos eles a qualquer hipótese de futuro (ou sequer de presente) para o país. Do passado, então, nem falemos: congrega o ódio unânime de toda esta fauna. Assim, para uns, tudo se resolve a contento e ingressaremos no melhor dos países, se os eleitores correrem duma vez por todas com os outros; para os outros, a mesma coisa, só que em relação aos uns. Deste embrulho decorre a sempre viçosa peixeirada e contra-peixeirada alternadeira, em que a metade sinistra do cancro concorre com a parte destra do tumor maligno.
Remontemos ao 24 de Abril de 1974... Ou, melhor dizendo, a Agosto de 1968.
Havia um regime e havia uma cultura (ou, pelo menos, alguma tentativa disso...) que, como em qualquer tempo ou povo, apresentavam defeitos e virtudes. O que quer que se lhes substituísse faria sentido enquanto melhoramento - havia que reduzir os defeitos e ampliar as virtudes.Todavia, o que se assistiu foi à destruição das virtudes e à sofisticação dos defeitos. Em vez dum Portugal mais forte e capacitado, atamancou-se e experimentou-se uma série de alogenismos de pechisbeque - desde Caribenhices efervescentes a escandinávias ou alemanhices em drageia ou supositório. Como explicar esta vertigem esparvoada dum país sempre pronto a adoptar qualquer personalidade que não a sua?
Escuto amíude um diagnóstico comum (partilhado não apenas por comentadores ocasionais, mas também por alguns vultos relevantes da nossa cultura) : a culpa, em larga medida, é do estrangeiramento assolapado das elites, ora afrancesadas, ora anglicoisas, ora o diabo (de serviço ao atelier das modas) que as carregue e lhes inspire a veneta.
Bem, dito com franqueza, isso explica apenas uma parte da questão: grassa, de facto, com clamorosa evidência, uma estrangeirite desenfreada ao mais alto nível (que, por paradoxo, nunca foi tão baixo). Mas tal não prova a contaminação das elites: demonstra apenas, à saciedade, a ausência delas. Um bando de assimilados, quando muito, traduz a mixordização duma elite e constitui, para desgraça geral do povo que a atura, aquilo que eu denomino de elite postiça. Mesmo enquanto capilaridade ornamental, estilo de penteado a simular ideia, não excede a mera peruca de aluguer. O resultado está à vista: O país tem sido desgovernado por espantalhos que acumulam duas tarefas básicas: espanta-pardais e poleiro de corvos. Não obstante, e como é timbre dos medíocres e trambiqueiros, estas pseudo-elites rascas fazem-se pagar ao preço da excelência sublime. Aliás, cumpre ao país endividar-se para que suas excelências não experimentem angústias, misérias nem sobressaltos. E o mais grave é que não reflectem apenas um estado peculiar da nacinha: participam num estado geral do Ocidente (e do mundo por arrasto ou demodiálise). Corporizam, à proa, uma adesão fulgurante e acrítica dos portugueses à bandalheira absurda e circundante.
Além disso, a ausência de elites autênticas significa a inexistência de cultura genuína ao nível superior: não há sentimento do próprio povo a que se pertence, nem, tão pouco, da própria humanidade que cumpre representar. O que se verifica, ao longo de percursos escolares vagamente académicos, é a transformação monstruosa dum rústico num ego desmesurado, absolutista e frenético. Onde devia desenvolver e refinar a inteligência e o espírito, o grunho diplomado apenas desenvolve o umbigo e o aleive em forma de piercing, digo penduricalho. Todo ele é democrata da boca para fora, a escorrer correcção política, mas tiranete até à medula, por dentro, das vísceras inferiores às tripas entre-orellhas que nele cumprem as vezes de mioleira. Começa por ser déspota de si próprio, forçando-se à venalidade, ao oportunismo e à safadeza mais compenetradas. Mas logo alastra a todo e qualquer um que tenha o azar de lhe cair sob a patorra directora.
Este problema do posticismo das elites é antigo. Vem de longe. Ainda nos anos trinta do século passado, em entrevista a António Ferro, Salazar coloca a questão, em termos lúcidos, mas algo optimistas:
Compreende-se... Salazar está ainda no início da saga. Respira entusiasmo e fé na transformação - a que poderemos chamar, sem risco de desvirtuamento, cultural. O que se preconiza é, com efeito, uma cultura de excelência. De cima a baixo da sociedade. Uma aristiocracia transversal a todas as classes - aliás, o intuito é mesmo a superação das classes através uma supra-classe a que todos devem aspirar, emular e perfazer. O aperfeiçoamento deve constituir um culto generalizado. A elite não é apenas um privilégio dos doutores ou uma condição dos manda-chuvas: é uma possibilidade e um dever em todos os ofícios e profissões. As elites, para o Salazar dos anos trinta, significam os melhores (a todos os níveis) e significam, sobretudo, que os melhores sejam cada vez mais. E se constituam como fermento dos restantes.
Todavia, este projecto meritório tem que ser confrontado com os seus resultados por alturas dos anos sessenta. O optimismo do incício cede passo ao pessimismo crepuscular. É um facto que o mundo não ajudou; que a história desandou e levou com ela a Europa pelo ralo; mas se Salazar, com clarividência, empenho, dedicação e poder acima dos normais, não conseguisse, quem iria conseguir? As palavras do próprio, todavia, são eloquentes... Em 20 de Fevereiro de 1962, diz a Franco Nogueira:
Pelos vistos, a nova mentalidade germinava da ausência de carácter... E, naturalmente, a categoria "safados" englobava figurinhas tanto a nível externo como interno. O que de resto traduzia uma lei bastante arreigada entre nós: a de abundarem sempre emplastros prontos a mimar e papaguear os modelos estrangeiros. Sobretudo no que respeita a qualquer nova modalidade de sacanice, velhacura e safadeza.
Mais adiante, a 25 de Agosto de 1964, a confissão é ainda mais alarmante.
Em vão, portanto, se porfiara e tentara a regeneração nacional - a "renovação do indivíduo português, pela transformação que o poria de acordo com o seu próprio ambiente e com a sua própria terra". Em vez da multiplicação dos melhores, ocorrera a proliferação dos safados. Em vez da geração de elites genuínas, patinhara-se na perpetuação de elites postiças, alérgicas ao povo e à terra; imunes e hostis a qualquer tipo de cultura genuína e profunda, acima do mero adesivo oportunista. As mesmas que levam Franco Nogueira, após a visita à RFA, em Setembro de 1966, ao seguinte desabafo:
E as mesmíssimas (pseudo-elites), arrebicadas de liberais, tecnocratas e puggessistas de vária ordem, com que Marcello Caetano se rodeará, peregrinamente, no capítulo final, e que o transportarão, já no Brasil, à amarga mas tardia constatação:
Mesmo as "elites" que fizeram o 25 de Abril e depois ordenharam a pátria em conformidade, por delegação alhúrica e carta de corso, foram formados por quem? Militares, políticos, amanuenses, futuros deputados, ministros e presidentes tinham frequentado que escolas, universidades e academias?
Sendo verdade que a cultura não é hermética nem estanque, e bem pelo contrário ultrapassa fronteiras e sobrevoa vedações, não é menos certo que se algum sentido faz é o de abrir o espírito ao mundo e não de encerrá-lo à mera contemplação do umbigo e à veneração do amplo sístema egofórico que principia no orificio bocal e culmina no rectal. Não por acaso Fernando Pessoa dizia "Eu sou do tamanho daquilo que vejo". Está a falar da visão cultural - tanto mais se vislumbra e a vista alcança, quanto de mais elevado se observa. A limite, o símbolo e paradigma maior da cultura é o próprio Indivíduo por Excelência - Deus. Por isso, ou há uma elite, e há uma cultura, porque há uma ascese; ou há uma pseudo-elite, e uma aculturação, porque, pelo contrário, há uma descese. Se pensarmos que Salazar, enquanto governante, foi sobretudo um asceta, talvez começemos a pressentir um certo número de coisas. Uma, desde logo, desafia-nos a inteligência: a cultura é, essencialmente, uma questão individual ou colectiva? Se Deus é o paradigma maior da visão sábia, então a questão cultural é primeira e intrinsecamente ontológica e só depois gnoseológica. Quer dizer, é primeiro da ordem do ser (um carácter bom, elevado) e só depois de ter, estes ou aqueles conhecimentos. De que adianta alfaiatar conceitos e teorias, estudos e saberes, se não há homem onde os vestir? A cultura vista como mera aquisição resulta no possidonismo torpe e balofo a que assistimos e que em vez de melhorar o homem, apenas enfona, arma e torna mais perigoso o mentecapto e o patife.
Inferência imediata: nenhuma política vale alguma coisa digna se não assentar numa ética. Nenhum saber constitui genuína cultura se não assentar num carácter. Ora, quanto mais alto for o alicerce da ética (os princícios e os fins), maior a razão e o alcance da política.
Objectar-me-ão que Deus não existe. Trata-se duma objecção meramente resultante dum absolutismo muito na moda: o da estupidez. Na verdade, Deus existe seguramente enquanto ideia - tal qual a Justiça, a Razão, a Igualdade, a Liberdade, a Democracia e até o próprio "Povo"- e isso, para o efeito de norte ético, basta. Se admitimos a existência da "Justiça" (embora ela não se aviste em lado nenhum), ou da Liberdade, da Igualdade, etc (igualmente inefáveis), não admitir Deus é algo que flana algures entre o puro aleive discricionário e a simples birra alarvajante. Por essa ordem de ideias, do "Deus não existe", desmonta-se e desintegra-se todo o restante aparato das "ideias" (comem todas pela mesma medida) e o resultado é aquele que, cada vez mais, se presencia: nihilismo feroz maquilhado a mercantalheira de choque.
Por outro lado, será então possível um projecto colectivo de cultura? Qualquer projecto colectivo, sem indivíduos genuínos (a criação artística, por exemplo, emula em parte a criação divina, e nessa medida a arte "faz mundo"), está condenado à esterilidade. Poderá então a massificação ser considerada cultura? Pelo contrário, a massificação significa a não-cultura, ou dito com rigor: a aculturação. Os processos de massificação traduzem uma redução despótica da diversidade à unicidade: a política única, a economia única e a cultura toda igual em toda a parte. Trata-se dum amorfismo - da redução de todos os povos a uma massa anónima e amorfa, supervisionado por uma pseudo-elite única e universal. Que isto se processe sob os ouropéis garridos do cavalo de Troia da "democracia", afinal de contas, até faz imenso sentido: "Demo", em grego, significa "povo"; mas também, a partir de "daimon", resultou mais tarde naquela figura emblemática da nossa "cultura" -emblemática, diga-se, pelas piores razões . Pelo que, no fim do dia, redunda sempre tudo na velha questão de servir ao Alto ou ao baixo. Conduzir para cima ou para debaixo.
Nova questão decorrente: será possível um projecto de cultura nacional (ou seja, de individualidade duma nação, ainda por cima pequena) contra um projecto global de massificação? Bem, esse é o estado actual da arte. Mas no 24 de Abril de 1974 não era bem assim. Por uma razão muito simples: havia dois projectos globais de massificação em despique e concorrência. Sendo difícil, era substancialmente menos difícil naquela época do que é hoje (Salazar apostava precisamente nesse espaço em que os dois colossos se neutralizavam mutuamente). E dependia muito do tal programa de criação de elites genuínas, ou seja, de boas vontades individuais e de carácteres sólidos que conduzissem à individuação e elevação colectiva. As oposições, já sabemos estavam entregues e serviam de pasto à aculturação (marxista ou euro-americanóide, ia tudo dar à Via cloaca), portanto, nem faz sentido falar em "ditadura cultural da esquerda" ou "ditamole cultural do centro" - em ambos o que resfolega é a "tirania aculturante do Além-fronteiras". Mas...e as próprias pessoas do regime, algumas no próprio governo, que carácter, que vontade, que cultura apresentavam?
Nas palavras sombrias do então ministro dos Negócios Estrangeiros:
Escuto amíude um diagnóstico comum (partilhado não apenas por comentadores ocasionais, mas também por alguns vultos relevantes da nossa cultura) : a culpa, em larga medida, é do estrangeiramento assolapado das elites, ora afrancesadas, ora anglicoisas, ora o diabo (de serviço ao atelier das modas) que as carregue e lhes inspire a veneta.
Bem, dito com franqueza, isso explica apenas uma parte da questão: grassa, de facto, com clamorosa evidência, uma estrangeirite desenfreada ao mais alto nível (que, por paradoxo, nunca foi tão baixo). Mas tal não prova a contaminação das elites: demonstra apenas, à saciedade, a ausência delas. Um bando de assimilados, quando muito, traduz a mixordização duma elite e constitui, para desgraça geral do povo que a atura, aquilo que eu denomino de elite postiça. Mesmo enquanto capilaridade ornamental, estilo de penteado a simular ideia, não excede a mera peruca de aluguer. O resultado está à vista: O país tem sido desgovernado por espantalhos que acumulam duas tarefas básicas: espanta-pardais e poleiro de corvos. Não obstante, e como é timbre dos medíocres e trambiqueiros, estas pseudo-elites rascas fazem-se pagar ao preço da excelência sublime. Aliás, cumpre ao país endividar-se para que suas excelências não experimentem angústias, misérias nem sobressaltos. E o mais grave é que não reflectem apenas um estado peculiar da nacinha: participam num estado geral do Ocidente (e do mundo por arrasto ou demodiálise). Corporizam, à proa, uma adesão fulgurante e acrítica dos portugueses à bandalheira absurda e circundante.
Além disso, a ausência de elites autênticas significa a inexistência de cultura genuína ao nível superior: não há sentimento do próprio povo a que se pertence, nem, tão pouco, da própria humanidade que cumpre representar. O que se verifica, ao longo de percursos escolares vagamente académicos, é a transformação monstruosa dum rústico num ego desmesurado, absolutista e frenético. Onde devia desenvolver e refinar a inteligência e o espírito, o grunho diplomado apenas desenvolve o umbigo e o aleive em forma de piercing, digo penduricalho. Todo ele é democrata da boca para fora, a escorrer correcção política, mas tiranete até à medula, por dentro, das vísceras inferiores às tripas entre-orellhas que nele cumprem as vezes de mioleira. Começa por ser déspota de si próprio, forçando-se à venalidade, ao oportunismo e à safadeza mais compenetradas. Mas logo alastra a todo e qualquer um que tenha o azar de lhe cair sob a patorra directora.
Este problema do posticismo das elites é antigo. Vem de longe. Ainda nos anos trinta do século passado, em entrevista a António Ferro, Salazar coloca a questão, em termos lúcidos, mas algo optimistas:
«O nosso grande problema é o da formação das elites, que eduquem e dirijam a Nação. A sua fraqueza ou deficiência é a mais grave crise nacional. Só as gerações em marcha, se devidamente aproveitadas, nos fornecerão os dirigentes - governantes, técnicos, professores, sacerdotes, chefes de trabalho, operários especializados - indispensáveis à nossa completa renovação, Considero até mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar toda a gente a ler. É que os grandes problemas nacionais têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as massas.»
Compreende-se... Salazar está ainda no início da saga. Respira entusiasmo e fé na transformação - a que poderemos chamar, sem risco de desvirtuamento, cultural. O que se preconiza é, com efeito, uma cultura de excelência. De cima a baixo da sociedade. Uma aristiocracia transversal a todas as classes - aliás, o intuito é mesmo a superação das classes através uma supra-classe a que todos devem aspirar, emular e perfazer. O aperfeiçoamento deve constituir um culto generalizado. A elite não é apenas um privilégio dos doutores ou uma condição dos manda-chuvas: é uma possibilidade e um dever em todos os ofícios e profissões. As elites, para o Salazar dos anos trinta, significam os melhores (a todos os níveis) e significam, sobretudo, que os melhores sejam cada vez mais. E se constituam como fermento dos restantes.
Todavia, este projecto meritório tem que ser confrontado com os seus resultados por alturas dos anos sessenta. O optimismo do incício cede passo ao pessimismo crepuscular. É um facto que o mundo não ajudou; que a história desandou e levou com ela a Europa pelo ralo; mas se Salazar, com clarividência, empenho, dedicação e poder acima dos normais, não conseguisse, quem iria conseguir? As palavras do próprio, todavia, são eloquentes... Em 20 de Fevereiro de 1962, diz a Franco Nogueira:
«Não há dúvida de que estamos perante uma viragem, e eu estou preso às ideias do passado (...) É por isso que eu estou com pressa de me ir embora porque não me dou com a nova mentalidade. Isto é só para safados»
Pelos vistos, a nova mentalidade germinava da ausência de carácter... E, naturalmente, a categoria "safados" englobava figurinhas tanto a nível externo como interno. O que de resto traduzia uma lei bastante arreigada entre nós: a de abundarem sempre emplastros prontos a mimar e papaguear os modelos estrangeiros. Sobretudo no que respeita a qualquer nova modalidade de sacanice, velhacura e safadeza.
Mais adiante, a 25 de Agosto de 1964, a confissão é ainda mais alarmante.
«Faltam-nos homens, o nosso sistema de educação é mau, sempre o foi.»E a 24 de Outubro, tudo parece ter voltado ao ponto de partida:
«Acredite: este país está a dar o mais que pode, e é o que se vê. E isto só se consegue puxando muito, tanto que está a estalar pelas costuras. Somos assim: temos grandes rasgos, somos capazes de grande coragem, e isto dura enquanto se puxa. Mas depois cai, e volta tudo atrás. Acredite.»Sendo que o ponto de partida ficara bem especificado trinta anos antes, na tal entrevista a António Ferro:
«De quando em quando, aparece na História de Portugal um rei, um estadista, um chefe, que levanta a Nação, que faz um pedaço de História, e que a deixa cair quando desaparece ou morre.»
Em vão, portanto, se porfiara e tentara a regeneração nacional - a "renovação do indivíduo português, pela transformação que o poria de acordo com o seu próprio ambiente e com a sua própria terra". Em vez da multiplicação dos melhores, ocorrera a proliferação dos safados. Em vez da geração de elites genuínas, patinhara-se na perpetuação de elites postiças, alérgicas ao povo e à terra; imunes e hostis a qualquer tipo de cultura genuína e profunda, acima do mero adesivo oportunista. As mesmas que levam Franco Nogueira, após a visita à RFA, em Setembro de 1966, ao seguinte desabafo:
«Quando se compara o que se faz fora das fronteiras [metropolitanas] com o que se passa dentro das nossas paredes, não pode deixar de se sentir margura perante as tricas e nicas do interior. A elite, o chamado escol, os intelectuais, os sujeitos que sabem coisas e têm teorias, mas que ignoram o que é Portugal e não o sentem, ainda hão-de levar este país á ruína, deitando tudo a perder, se o povo não fizer ouvir a sua voz.»
E as mesmíssimas (pseudo-elites), arrebicadas de liberais, tecnocratas e puggessistas de vária ordem, com que Marcello Caetano se rodeará, peregrinamente, no capítulo final, e que o transportarão, já no Brasil, à amarga mas tardia constatação:
{acerca dos liberais]:«Alguns não me perdoaram que em 1973 não os tivesse chamado a sobraçar Ministérios ou, à falta de melhor, secretarias de Estado...acabaram quase todos por se identificar com as correntes dos sectores oposicionistas que até punham em causa a nossa permanência no Ultramar. Não me admira que, por vaidade ou ambição, tenham largamente colaborado na aventura do 25 de Abril.» (in Marcello Caetano, Confidências do Exílio, de Joaquim Veríssimo Serrão)E acerca dos tecnocratas:
«Não nego que acreditei na lufada de ar novo desse grupo de tecnocratas para a modernização do País. Mas não tardei em ver que punham as ambições ou os interesses de grupo acima de uma sã política nacional. Quase todos me causaram as maiores desilusões.» (idem)Ressalta desde logo uma perplexidade incómoda: Mas, afinal, quem formou estas pseudo-elites - O Estado-Novo ou os Estados alienígenas? Quer dizer, foram formadas cá dentro ou deformadas lá fora cá dentro?
Mesmo as "elites" que fizeram o 25 de Abril e depois ordenharam a pátria em conformidade, por delegação alhúrica e carta de corso, foram formados por quem? Militares, políticos, amanuenses, futuros deputados, ministros e presidentes tinham frequentado que escolas, universidades e academias?
Sendo verdade que a cultura não é hermética nem estanque, e bem pelo contrário ultrapassa fronteiras e sobrevoa vedações, não é menos certo que se algum sentido faz é o de abrir o espírito ao mundo e não de encerrá-lo à mera contemplação do umbigo e à veneração do amplo sístema egofórico que principia no orificio bocal e culmina no rectal. Não por acaso Fernando Pessoa dizia "Eu sou do tamanho daquilo que vejo". Está a falar da visão cultural - tanto mais se vislumbra e a vista alcança, quanto de mais elevado se observa. A limite, o símbolo e paradigma maior da cultura é o próprio Indivíduo por Excelência - Deus. Por isso, ou há uma elite, e há uma cultura, porque há uma ascese; ou há uma pseudo-elite, e uma aculturação, porque, pelo contrário, há uma descese. Se pensarmos que Salazar, enquanto governante, foi sobretudo um asceta, talvez começemos a pressentir um certo número de coisas. Uma, desde logo, desafia-nos a inteligência: a cultura é, essencialmente, uma questão individual ou colectiva? Se Deus é o paradigma maior da visão sábia, então a questão cultural é primeira e intrinsecamente ontológica e só depois gnoseológica. Quer dizer, é primeiro da ordem do ser (um carácter bom, elevado) e só depois de ter, estes ou aqueles conhecimentos. De que adianta alfaiatar conceitos e teorias, estudos e saberes, se não há homem onde os vestir? A cultura vista como mera aquisição resulta no possidonismo torpe e balofo a que assistimos e que em vez de melhorar o homem, apenas enfona, arma e torna mais perigoso o mentecapto e o patife.
Inferência imediata: nenhuma política vale alguma coisa digna se não assentar numa ética. Nenhum saber constitui genuína cultura se não assentar num carácter. Ora, quanto mais alto for o alicerce da ética (os princícios e os fins), maior a razão e o alcance da política.
Objectar-me-ão que Deus não existe. Trata-se duma objecção meramente resultante dum absolutismo muito na moda: o da estupidez. Na verdade, Deus existe seguramente enquanto ideia - tal qual a Justiça, a Razão, a Igualdade, a Liberdade, a Democracia e até o próprio "Povo"- e isso, para o efeito de norte ético, basta. Se admitimos a existência da "Justiça" (embora ela não se aviste em lado nenhum), ou da Liberdade, da Igualdade, etc (igualmente inefáveis), não admitir Deus é algo que flana algures entre o puro aleive discricionário e a simples birra alarvajante. Por essa ordem de ideias, do "Deus não existe", desmonta-se e desintegra-se todo o restante aparato das "ideias" (comem todas pela mesma medida) e o resultado é aquele que, cada vez mais, se presencia: nihilismo feroz maquilhado a mercantalheira de choque.
Por outro lado, será então possível um projecto colectivo de cultura? Qualquer projecto colectivo, sem indivíduos genuínos (a criação artística, por exemplo, emula em parte a criação divina, e nessa medida a arte "faz mundo"), está condenado à esterilidade. Poderá então a massificação ser considerada cultura? Pelo contrário, a massificação significa a não-cultura, ou dito com rigor: a aculturação. Os processos de massificação traduzem uma redução despótica da diversidade à unicidade: a política única, a economia única e a cultura toda igual em toda a parte. Trata-se dum amorfismo - da redução de todos os povos a uma massa anónima e amorfa, supervisionado por uma pseudo-elite única e universal. Que isto se processe sob os ouropéis garridos do cavalo de Troia da "democracia", afinal de contas, até faz imenso sentido: "Demo", em grego, significa "povo"; mas também, a partir de "daimon", resultou mais tarde naquela figura emblemática da nossa "cultura" -emblemática, diga-se, pelas piores razões . Pelo que, no fim do dia, redunda sempre tudo na velha questão de servir ao Alto ou ao baixo. Conduzir para cima ou para debaixo.
Nova questão decorrente: será possível um projecto de cultura nacional (ou seja, de individualidade duma nação, ainda por cima pequena) contra um projecto global de massificação? Bem, esse é o estado actual da arte. Mas no 24 de Abril de 1974 não era bem assim. Por uma razão muito simples: havia dois projectos globais de massificação em despique e concorrência. Sendo difícil, era substancialmente menos difícil naquela época do que é hoje (Salazar apostava precisamente nesse espaço em que os dois colossos se neutralizavam mutuamente). E dependia muito do tal programa de criação de elites genuínas, ou seja, de boas vontades individuais e de carácteres sólidos que conduzissem à individuação e elevação colectiva. As oposições, já sabemos estavam entregues e serviam de pasto à aculturação (marxista ou euro-americanóide, ia tudo dar à Via cloaca), portanto, nem faz sentido falar em "ditadura cultural da esquerda" ou "ditamole cultural do centro" - em ambos o que resfolega é a "tirania aculturante do Além-fronteiras". Mas...e as próprias pessoas do regime, algumas no próprio governo, que carácter, que vontade, que cultura apresentavam?
Nas palavras sombrias do então ministro dos Negócios Estrangeiros:
«Em todo o Conselho de Ministros, e além do Presidente do Conselho, haverá neste momento quatro ou seis ministros que sentem e acreditam no Ultramar. Desejariam os outros ver-se livres de África, para se devotarem às delícias de uma política europeia. No fundo, o que adoram é o Conselho da Europa, sem entenderem que este é um nicho para instalar políticos aposentados e na terceira idade, e a OCDE, e as Conferências de Ministros europeus do Trabalho, e da Saúde, e dos Transportes, e da Cultura, e assim; e anseiam pelas idas a Paris a Viena, a genebra e a Londres, e demais centros europeus de prazer ou turismo. Entregar o país nas mãos dos imperialismos e das multinacionais, e deixá-lo colonizar por uns e outros; perder a independência de decisão, mesmo no que respeita à metrópole; vender o país aos bocados; diluir e perder a identidade nacional - tudo isso é indiferente a esses tais desde que, na nova ordem de coisas, mantenham os lugares, o prestígio, os benefícios materiais, a sensação de autoridade, os sinais exteriores de poder.» (13 de Novembro de 1966)Infelizmente, a descrição de Franco Nogueira, pior que a denúncia dum preocupante presente, anuncia profeticamente o naufrágio de todo um futuro. Quer, numa primeira instância, em redor de Marcello Caetano (ainda mais sitiado que Salazar), quer, sobretudo, no pós-golpada dos cravos, quando a safadeza triunfa em plenitude e a maré negra submerge e aniquila todo e qualquer resquício de vértebra. Desertor da cultura portuguesa, o país, capitaneado pelas elites mais rascas e rasteiras de que há memória (verdadeira nelites), degrada-se a palco de zaragatas entre fórmulas rivais de aculturação. O povo serve à manjedoura e ao bispote das pseudo-elites, que servem aos seus baixos instintos absolutos e, todos juntos, servem aos interesses e caprichos do estrangeiro roncante da hora a ferver.
Está a por os dedos todos nas chagas todas, mas os assessores contentinhos que por aí pululam não têm o menor interesse em questões cruciais, pagam-lhes para não entenderem ...
ResponderEliminarE eu, pobre de mim, só tenho a oferecer repetir uma laracha que me ocorreu há quinze dias, quando o Vivendi ilustrou o horror dos coches:
É a estética "Pois, pois, J. Pimenta" no seu desabrochar final. A Reboleira produziu o 25 de Abril, e o 25 de Abril produziu a Reboleira. (Duas, três, muitas Reboleiras, como diria o camarada Che se estivesse cá para conduzir umas execuções sumárias.)
«Pugguessistas» leva dois gg, o segundo a valeg de eggue gutugal das élites afectadas em má imitação do baixo povo setuvalense. Os ss são ciciados.
ResponderEliminarRectal, não retal.
A análise é acutilaste. O texto é sublime!
Cumpts.
Acutilante, digo (maldita maquineta que nem conhece o vocábulo, irra!)
ResponderEliminarUau!
ResponderEliminarAqui temos a escrita de elite a anunciar que está oficialmente aberta a época da caça às zelites... É preciso é homens que queiram ir à caça.
tudo o que o senhor escreve me faz lembrar tanto:
ResponderEliminar"(...) We are experiencing now what happened then: the old states were dissolved without even asking their peoples' opinion. Not in one single case was the nation asked if it agreed with the measures that others would put into place in them. Old, almost historical bodies were dissolved - not just states, but also economic bodies. One could not imagine something better in their stead, since what is created over a period of several centuries is probably better than anything else; it was definitely impossible for those people that view all of European history with the greatest arrogance to create something better. So it passed that, without taking into account a nation's right to self-determination, Europe was hacked up, Europe was torn open, large states were dissolved, nations had their rights taken away. This was done by first making them helpless, then categorizing them in a manner that predetermined who the winners and the losers would be. (...)"
É preciso passar por aqui para ter ar como deve ser, o resto está mal cheiroso, o texto é fabuloso.
ResponderEliminarGostari de ver uns textos que aqui estão, lidos ali para os lados do califado de são bento.
As "elites", são uns pindéricos, invejosos e saloios. Como dizia o poeta " o horizonte deles, é o que vêm da torre da igreja ", demasiado miseráveis, para serem alguém na vida.
Pelas áfricas, falou-se alguma coisa do quinto império?????
Caro Bic laranja,
ResponderEliminardigo-lhe isto com gratidão e amizade: está oficialmente nomeado meu revisor ortográfico.
caro José Domingos,
falou-se do Império, daquele que não padece as agruras e flutuacinhas do tempo e das histórias.
Dragão, Vexa. continua o melhor.
ResponderEliminarAbraço
Ia para escrever "Brilhante", e com pontos de exclamação, mas contive-me a tempo - ainda me apodavam de mesureiro...
ResponderEliminarUm truísmo que é um lamento : estes textos deviam gozar da divulgação máxima, numa dupla acção de higiene e de pedagogia - e também de verdade histórica.
Mas faz-se o (pouco) que se pode,da boca a orelha...
Cpmts.
Como eram as "elites" antes das Invasões Napoleónicas ?
ResponderEliminarAntes da Invasões?... Quanto antes?
ResponderEliminarJá D.João II tinha tratado das "elites" com uma certa rudeza. E parece que terminou os seus dias envenenado por elas...
Também há quem diga que depois de Alcácer-quibir a qualidade das elites nunca mais foi a mesma... Embora já em 1383/85 sobreviessem exemplos pouco edificantes. E mesmo o Rei Fundador, não foi contra certas "elites" que inaugurou a Pátria?
portanto, ó caro Josand, qual é o seu ponto?
Entre as elites, tudo resumido, sempre houve bom e mau. Excepto agora que já só restam medíocres, maus e péssimos.
Mas será que só restam medíocres, maus e péssimos? Ou estarão os outros abafados por esses?
ResponderEliminarE dizer que nas "elites" só restam medíocres, maus e péssimos - ou dizer que temos uma "elite" medíocre - não é um oxímoro?
Se são só medíocres, maus e péssimos então não são "elites", nem escol: é apenas canalha...
Quando digo abafados, digo escondidos...
ResponderEliminarQuer dizer, é primeiro da ordem do ser (um carácter bom, elevado) e só depois de ter, estes ou aqueles conhecimentos. De que adianta alfaiatar conceitos e teorias, estudos e saberes, se não há homem onde os vestir? A cultura vista como mera aquisição resulta no possidonismo torpe e balofo a que assistimos e que em vez de melhorar o homem, apenas enfona, arma e torna mais perigoso o mentecapto e o patife.
ResponderEliminarInferência imediata: nenhuma política vale alguma coisa digna se não assentar numa ética. Nenhum saber constitui genuína cultura se não assentar num carácter. Ora, quanto mais alto for o alicerce da ética (os princícios e os fins), maior a razão e o alcance da política.
A chave está aqui, parece-me.
Muja,
ResponderEliminarAo longo da história aparecem, de vez em quando, e algo misteriosamente, os tais homens "extra-ordinários". São extra-ordinários porque escapam e distinguem-se da ordem normal ou usual das pessoas. Esta oscila, por regra, entre o medíocre e o suficiente mais, com alguns singularmente maus ou bons, no caso dos estratos mais ilustrados da população (porque o conhecimento refina, tanto o vício como a virtude). A ordem ao longo dos séculos tem sido essa. Um homem extra-ordinário, ainda assim, era geralmente conotado com um "homem de excelência".
Agora, repare bem: nós, actualmente, somos capatazeados (perdoe-me o termo áspero) por homens "extra-ordinários" (os nossos governantes - europeus, sobremaneira - são extra-ordinários). Não porque ultrapassem o topo da escala, lamento, mas porque nem sequer a alcançam . Estão abaixo de zero. São inclassificáveis.
É evidente que não são elite coisa nenhuma. Só que o mais grave não é isto. É que isto traduz, no nosso peculiar e português caso, um problema bem mais atroz: a dissolução do próprio povo português. Um povo completamente entregue a uma pseudo elite é um povo
acéfalo, desorientado, amnésico, desalmado e votado à desagregação acelerada. Porque a elite genuína faz parte do povo, como a cabeça faz parte do corpo. "Mente sã em corpo são" é um ideal antigo, mas plenamente válido e recomendável, a homens e povos.
Estou a ser muito pessimista? Espero bem que sim. Afinal, resta sempre a dimensão da Providência e do milagre.
Mas numa coisa, pelo menos, exagerei seguramente: em chamar acéfalo a um povo entregue ás elites postiças. Na verdade, tem cabeça: para ostentar a peruca, ainda por cima piolhosa.
Compreendo. A questão da dissolução é grave, porque se é preciso escol para evitar a dissolução, quanto mais dissolução menos possibilidade de escol.
ResponderEliminarPor outro lado, nós que o constatamos e que a isso (suponho) nos opomos em princípio e por princípio, não seremos, então, o tal escol? E, como tal, não estaremos a descrevermo-nos? A medíocridade deles não provirá, em última análise, da nossa própria?
É a velha história de Ítaca.
ResponderEliminarEstá tudo entregue à delapidação dos pretendentes (os falsos senhores) enquanto o legítimo proprietário não chega. Acreditam que está morto. Entretanto, a teia vai-se tecendo e destecendo. "Pene", em grego, significa "trama" (e "lepw", descascar) Penélope, que aguarda Ulisses e resiste aos pretendentes, é a que "descasca a trama". Descascar a trama é não trocar a verdade pela mentira.
Mas a sua questão é muito pertinente.
O meu ponto é simplesmente a pergunta que fiz. As elites antes da debandada para o Brasil eram melhores ou piores do que as das gerações seguintes?
ResponderEliminarOutro Ponto: como disse o Muja, se reconhecem estes problemas, não seria um imperativo que os que reconhecem o Mal se disponham a enfrentá-lo, isto é, que se constituam num grupo que se chegue à frente e proponha um novo rumo para o País?
Supera-se aqui Fialho d`Almeida em Os Gatos!
ResponderEliminar«como disse o Muja, se reconhecem estes problemas, não seria um imperativo que os que reconhecem o Mal se disponham a enfrentá-lo, isto é, que se constituam num grupo que se chegue à frente e proponha um novo rumo para o País?»
ResponderEliminarTipo quê, um partido? E propõem a quem? Isso não se propõe: ou se faz ou não se faz. E seguramente não é com partidos, seitas ou grupos excursionistas.
Em todo o caso, parece-me que o Muja e o caro Josand estarão a colocar a questão ao verdadeiro escol. O que automáticamente me exclui. Não me considero, nem por sombras, do escol. Mas existem por aí pessoas com genuínas características, sem dúvida. Descubram-nas e coloquem-lhes a questão a elas.
Não confundam é João Baptista com Jesus Cristo.
PS: Há, todavia, uma parte que podem ir fazendo vocês próprios: desenvolvam um escol em vós mesmos, no vosso espírito. Sêde exigentes com vós próprios. Exigir aos outros é fácil. Porém, a facilidade é o contrário da genuína elevação de espírito. Não fiquem à espera do escol encoberto: comecem a transformação na vossa própria alma. A receita é milenar, mas permanece actualíssima. Da minha parte, é o que vou tentando fazer. Sem preseunções, vaidades, nem pretenções de hospício (e menos ainda anseios de vedetismo). Não tenho o culto da vitória fácil e do êxito a qualquer custo, como é moda actual: tenho o dever da batalha. O perecer está garantido.
"Em todo o caso, parece-me que o Muja e o caro Josand estarão a colocar a questão ao verdadeiro escol. O que automáticamente me exclui. Não me considero, nem por sombras, do escol."
ResponderEliminarNada disso, Dragão, está completamente errado, mas já lá vamos.
O que venho lendo neste debate d'ideias magnífico, traduz a elevação de espírito que só alguém possuidor de uma ética superior e transportando um portuguesismo profundo pode conceber e revelar-se na sua verdadeira essência. Os mesmos que o seu autor (sem esquecer os seus ilustres comentadores que o secundam na perfeição) colocou em cada palavra do texto supra, palavras que vão d'encontro ao espírito do leitor que as compreende, absorve e digere tal como elas foram clara e inteligentemente expressas. Por outras palavras, para mim, que sofro tremendamente com o estado degradante a que a democracia transformou um Portugal que já foi grande, neste infamante em que nos encontramos, ler escritos impregnados de bom senso e carregados de razão, além de dignificantes recomfortam-nos a alma.
O Dragão diz que não pertence ao verdadeiro escol. Mas então se não pertence, inversamente ao que por aqui vai deixando eloquententemente explicitado através dos seus brilhantes escritos a não merecerem qualquer dúvida, a quem acha que ele é passível de ser atribuído? Claro que neste particular não se encontra sózinho. Há por aí, no País inteiro e naturalmente na própria Blogosfera, milhares de portugueses que merecem o mesmo reconhecimento com sobras. Mas este facto não o exclui, pelo contrário.
Olhe, o segundo ponto que Josand coloca e que o Dragão classifica de pertinente e é-o indubitàvelmente, pede uma resposta à altura d'alguém que é possuidor de uma cultura muito acima da média e detentor de uma inteligência superior. Aguarda-se da sua parte uma argumentação convincente, compatível com ambas.
Vamos ao que interessa. O Dragão e o Muja são duas pessoas decididamente sobre-dotadas.
Sem excluir outras mais, que as há na Blogosfera, agora, porque estou neste espaço, permitam-me centrar-me nestes dois seres humanos excepcionais e portugueses Maiores.
- Ambos são superiormente inteligentes;
- Ambos possuem uma argúcia apuradíssima;
- Ambos são rápidos na interpretação e na pronta dissecação dos problemas políticos que nos afectam, bem como nos defeitos de que padecem os seus protagonistas e igualmente lestos na correcta análise dos mesmos e no apontar dos erros clamorosos que empenam a linha orientadora que deveria presidir à boa governação e por extensão ao desenvolvimento do País cuja culpa cabe inteirinha àqueles que assumiram o poder em Portugal sem terem a mínima noção (nem quererem , òbviamente) de como o desempenhar patriòticamente e menos ainda a capacidade técnico-política e as necessárias honestidade e integridade absolutamente indispensáveis (o tal escol) para o exercer condignamente;
(cont.)
(conclusão)
ResponderEliminar- A objectividade que ambos colocam no que escrevem é proporcional ao mérito que os anima e está patente na observação avisada que fazem dos factos políticos (nacionais e mundiais) e na lógica discursiva neles inculcada;
- Ambos possuem uma capacidade argumentativa invejável, neles é um atributo e na maioria das pessoas uma carência, mesmo nas claramente inteligentes;
Se todas estas extraordinárias qualidades pessoais não são suficientes para caracterizar quem é ou não escol, então não sei que outras mais terão que possuir.
Perguntar-me-ão porque e como sou capaz de descortinar tão fàcilmente estas qualidades, na realidade intrínsecas aos sobre-dotados - no caso, Dragão e Muja - e raramente encontradas na maior parte dos portugueses? Ora, porque tenho um desses aqui em casa. Feliz ou infelizmente não liga peva à política..., mas sabe de cor e salteado tudo o que, polìticamente falando, se passa em Portugal e no mundo e consegue descrever ponto por ponto os defeitos deste regime, dos nossos pseudo-governantes e da politicagem no geral. E o mesmo relativamente aos diferentes regimes espalhados pelos cinco Continentes bem como as políticas levadas a efeito em pràticamente todos e cada um deles.
Sem falsa modéstia, este meu filho é um dos que poderia perfeitamente pertencer ao tal escol, mas para ele política nem vê-la nem de perto nem de longe. E se querem a minha opinião sincera, talvez seja melhor assim e digo-o como Mãe. Pelo menos enquanto este regime durar.
Maria
Mais uma musa residente.
ResponderEliminarEstimada Maria,
ResponderEliminarconcordo consigo em relação ao Muja. É um tipo inteligente. Só lhe falta agora o purgatório da experiência para alcançar a sabedoria. Vai ter que penar muito, e amargar muitas desilusões (especialmente com os "portugueses")...
Quanto ao outro, o tal Dragão, não poderíamos estar mais em desacordo. Esse, toda a vida, só me tem acarretado desgostos, sarilhos e desconfortos. Ora, se a mim só me conduz por falésias, abismos e escarpas íngremes, contra ventos, astros e marés, fará agora aos outros!...
«Mais uma musa residente.»
ResponderEliminarPois, ó anónimo/a, os domicílios são mesmo assim, diversos. Nesta há musas, noutras há mulas. Assim, cada qual pode escolher o que lhe está mais afim ao espírito (ou falta dele): o Quixote ou o sancho.
"... reconfortam-nos...", com um N (e não com um M) antes do F, evidentemente.
ResponderEliminarMaria