Em 16 de Abril de 1961, três dias após a tentativa de golpe de Estado de Botelho Moniz, conhecido pela "Abrilada", Salazar faz o convite formal a Franco Nogueira para assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros...
«De toda a casa, numa paz de domingo, somente o silêncio parecia ter densidade e presença física. E Salazar estava sereno, quase jovial, sem preocupações, sem dramas, sem problemas, como se o regime e ele próprio não houvessem estado em jogo há três ou quatro dias. De rosto pálido, mas adio; aspecto escanhoado, meticuloso, apurado; e apenas os olhos em movimento constante verrumavam com avidez insaciável os ângulos da sala. E pareceu-me ao mesmo tempo o vulto da solidão: alheio ao mundo, para lá dos homens, acima dos caminhos de superfície e dos acontecimentos, em paz com os séculos e a terra antiga. De súbito, sem um gesto, entre duvidoso e afirmativo, numa voz afável e cativante:
-"Dizem-me que está então disposto a fazer o sacrifício de assumir a responsabilidade dos Negócios Estrangeiros?"
Atalhei: reconhecia que fora objecto de sondagens e insistências, em especial da parte de Marcello Mathias. Mas haviam sido negativas as minhas reacções. Tinha mil motivos: de saúde, de ordem pessoal, outros mais. Eu não podia compreender como chegara o presidente do Conselho a um juízo diverso. E Oliveira Salazar não mostra surpresa, nem traço de agastamento, ou de impaciência. E diz, com lentidão compreensiva:
-"Eu sei, eu sei que não é um salazarista nem é igual à minha a sua formação, e que tem outras ideias sobre o governo. Sei que se situa num campo político diferente."
Interrompo para dizer que efectivamente assim era, sem prejuízo do respeito e admiração pessoal pela figura do chefe do governo. Salazar continua:
-"Mas eu sei também que é um patriota, e eu não lhe peço compromisso político ou declaração em qualquer sentido. estamos num momento de crise, e esta é nacional, e por isso apelo para o seu patriotismo. E apenas lhe quero fazer três perguntas. Concorda com a política ultramarina definida desde há anos e reiterada nos últimos dias? Em sua opinião, julga que dispomos dos meios suficientes para executar essa política? E um último ponto: pensa que vale a pena fazer um esforço para defender os valores que estão em causa? É só isto que quero saber."
Salazar calou-se, observava-me com um olhar agudo e intenso, sem um gesto, sem alterar a expressão do rosto. Respondi às perguntas. Não tinha dúvidas no meu espírito de que a política ultramarina era correcta, e a que mais convinha aos interesses nacionais; se bem usados, com tenacidade, frieza, lucidez, os nossos meios deveriam ser bastantes para a vitória, ainda que a longo prazo; e também não tinha dúvidas de que, perante valores tão imensos e vitais, todo o esforço valia a pena. Não devíamos em nenhum caso render-nos sem luta. E Salazar logo cortou:
-"Sendo assim, não vejo como pode recusar a sua colaboração. Sim, eu compreendo a sua repugnância e a sua fadiga. Mas creia que também estou fazendo um sacrifício por vezes insuportável. E sabe? Estou sempre número um para tomar o rápido para Coimbra e Santa Comba. E também estou cansado. Mas logo que me sinto cansado, paro e descanso, e depois posso trabalhar melhor. Faça o mesmo, lembre-se do meu exemplo quando estiver exausto. E vamos ver, vamos tentar. Quanto tempo duraremos? Não sei. Três meses? Seis meses? Sobre a política não tenho dúvidas ou hesitações; mas até onde poderemos ir? Veremos. Mas isto é só para nós. Para a opinião pública, para o país, só temos certezas e confianças. Quando encontrar um obstáculo intransponível, então reconsideraremos. Mas temos de partir do princípio de que venceremos todos os obstáculos."
Houve uma pausa. Eu, em desespero, recorro a todos os argumentos, e deixo cair: "nem pertenço à União Nacional". Comenta Salazar com rápida vivacidade: "ah! nem pertença, nem pertença!" Salazar faz então um exame da situação internacional, uma avaliação das forças em presença, um resumo das críticas que a oposição lhe dirige. Depois:
- "E no fundo de que acusam? Alegam que o ambiente internacional nos é desfavorável. Pois é, isso é. Mas que culpa tem o governo? Vendo bem, estão a acusar-nos de ter perdido as eleições no Brasil e nos Estados Unidos. Mas então, porque nos é hostil num dado momento a atmosfera internacional, nós vamos mudar a nossa política? Então os interesses portugueses estão dependentes de quem manda no Rio ou em Washington? Não pode ser. Olhe: sentado nessa cadeira, aí onde o senhor está, o general Botelho Moniz dizia-me que tínhamos de ceder, ou ao menos fingir que cedíamos, em face das pressões americanas ou outras, e ao menos pintar a fachada das cores que eles quisessem. Como se os outros se deixassem convencer com fingimentos! Histórias! Não podemos ser ingénuos, nem julgar que os outros são. E quanto ao Ministério dos estrangeiros, nada lhe digo: o senhor conhece os serviços e o trabalho como ninguém.»
- Franco Nogueira, Um Político Confessa-se (Diário 1960-1968)
O Dr Oliveira Salazar não foi, nem pretendeu ser, um santo. Ou, tão pouco, eu pretendo canonizá-lo a título póstumo. Mas se na política interna vários pecados e pecadilhos lhe poderão se assacados, já na política externa, não me restam grandes dúvidas: o Homem esteve ao nível dos melhores da nossa história. Tendo em atenção aquilo que teve que enfrentar, a desproporção de forças, a falta de meios, etc, direi que alcançou o assombroso. Da parte que me toca, enquanto português, suscita-me dois sentimentos maiores: gratidão e respeito. Como aqueles que nutro pelo Fundador, pelo Infante, por D.João II, Albuquerque e tantos outros que nos dignificaram e ilustraram enquanto povo.
Quanto ao episódio em epígrafe, realço que Jânio Quadros abdicou ainda durante 1961 e Kennedy foi abatido a tiro dois anos depois (admira-me como nunca suspeitaram da PIDE). Para aqueles que acham que a nossa política externa se devia guiar pelas eleições dos outros países e subsequentes peripécias políticas (como, de resto, é uso actual) talvez o mais indicado fosse seleccionar os Ministros dos Negócios Estrangeiros entre os funâmbulos e artistas de circo, porque seriam, seguramente, sujeitos que passariam a vida entre o contorcionismo, o malabarismo e as cambalhotas (isto, embora os actuais só consigam habilidades ao nível do palhaço pobre).
Quanto ao episódio em epígrafe, realço que Jânio Quadros abdicou ainda durante 1961 e Kennedy foi abatido a tiro dois anos depois (admira-me como nunca suspeitaram da PIDE). Para aqueles que acham que a nossa política externa se devia guiar pelas eleições dos outros países e subsequentes peripécias políticas (como, de resto, é uso actual) talvez o mais indicado fosse seleccionar os Ministros dos Negócios Estrangeiros entre os funâmbulos e artistas de circo, porque seriam, seguramente, sujeitos que passariam a vida entre o contorcionismo, o malabarismo e as cambalhotas (isto, embora os actuais só consigam habilidades ao nível do palhaço pobre).
Posto isto, permitam-me uma pergunta simples: se os pais não obrigassem os filhos a ir à escola, eles iam? Ultimamente, até deveria reformular a questão, para ser mais fiel à realidade: se o Estado, a polícia, os tribunais, os psicólogos e as assistentes sociais não obrigassem os pais a enviar os filhos à escola, eles, os filhos, levantavam-se de manhã, com as galinhas ou os autocarros, para lá irem?
Vamos acusar os pais de ditadura, tirania ou fascismo? Vamos acusar o Estado? Os pais fazem aquilo por autoritarismo e prepotência?
Mutatis mutantis, se Oliveira Salazar não obrigasse os militares a irem à guerra eles iam? Ponhamos de parte as objecções do estilo "ah, Dragão, mas mandar os militares à guerra não é a mesma coisa que mandar os filhos à escola... são duas dimensões totalmente inconciliáveis, bla-bla, por aí fora. Balelas! Até porque, nos Estados Unidos, ir à escola já é mais perigoso que ir à guerra, e dado que os objectores, geralmente, entendem os Estados Unidos como o paradigma do progresso, do paraíso e da ventoinha histórica, se ainda não é assim entre nós, já deveria ser ou lá chegaremos a breve trecho. Está pois mais do que legitimada a analogia. Portanto, repito: iam, os senhores militares, se não fossem obrigados? Bem, eles tentaram não ir. O golpe de Botelho Moniz era para tratar dessa isenção. Para quê arranjar chatices, só porque uns pretos ganzados trucidam à catanada meia dúzia de centenas de colonos avulsos?
Todavia, deixem que pergunte, se os militares não servem para ir à guerra, então servem para quê? Para consumir uma fatia avultada do orçamento de estado e andar a desfilar nas paradas ou a posar em cerimónias oficiais? Anda o país a gastar um ror de dinheiros em armas, a escutar os permanentes lamentos dos generais que a panóplia está obsoleta, minguante e tal, e depois, na hora do serviço, do trabalhinho a sério, metem baixa? Ah, que estão com a menstruação mental, uma dismenorreia do caraças... Vou discutir o quê? Com meninas, senhoras e sopeiras incomodadas não sei com que mosquitos, não disponho nem de bagagem técnica nem de vocação para esse tipo de lavores. Foi Salazar que inventou, ocupou ou peregrinou unilateralmente o Ultramar? Foi ele o primeiro a pegar em armas para o defender? Quebrou uma tradição santa e ancestral de pacifismo cosmopolita? Não era o dever dele, como representação máxima da nação, defendê-la e zelar pelos seus interesses? A nação é apenas o seu presente, ou é o seu passado, o seu presente e os seu futuro? A nação deve render-se às prioridades mentais de palradores iluminados, pseudo-elites da treta ou possidónios da verdade do cuspo? . Descubro que a cultura gay S&M, aos poucos vai contaminando a própria historiolalia: temos agora os apologetas da passividade, da submissão e do masoquismo geopolítico. A questão não é se nos entregamos ao calmeirão do planeta (doravante convertido a penitenciária): a discussinha é sobre que qualidade de vaselina, com a devida autorização do bruto, devemos usar.
Pois, as meninas desculpem-me, mas esse tipo de colóquio hão-de tê-lo, umas com as outras, lá no vosso gineceu, mas não certamente comigo.
E no que refere aos militares, ainda é mais rigoroso: qual é o dever, a missão e a razão de ser do militar em tempo de paz? Preparar-se para a guerra. nem mais. Com todas as suas energias e forças. Portanto, a primeira questão legítima que deve colocar-se é: estavam os militares portugueses preparados para a guerra ultramarina?
Não. Toda a sua projecção bélica apontava para o teatro de operações na Europa, num ambiente de guerra convencional (sem mosquitos e boas infraestruturas turísticas, enfim). O que era, no mínimo, um tanto ou quanto bizarro, para não dizer autista. Havia já escaramuças com a União Indiana, e em África era mais que evidente que, mais dia menos dia, irromperiam problemas. Culpa de quem - do Salazar do costume, ou das altas chefias das Forças Armadas, cuja missão é precisamente analisar, avaliar e providenciar às esferas políticas informação permanente e atempada do estado e evolução da situação estratégica (em termos militares, no mínimo)?
Há uma reunião do Conselho Superior de Defesa, realizada em 1959, de que o então Secretário de Estado da Administração Ultramarina, Álvaro da Silva Tavares, dá nota e que é bastante elucidativa:
Pela directiva do EME de 12/10/1959 são criadas as Companhias de Caçadores Especiais, as primeira a expressarem uma conversão do ensino de Guerra Convencial para o terino de Contra-Guerrilha. No ano seguinte é criado o CIOE ( Centro de Instrução de Operações Especiais) em Lamego. Mas em matéria de dispositivo, reforço e prevenção no terreno, pouco ou nada é feito. Quando o terrorismo da UPA eclode no Norte de Angola, os portugueses são apanhados com as calças na mão, o que amplia a dimensão dos massacres, no terreno e no tempo. E, em teoria, devia ter bastado para provocar a descolonização apressada.
O facto é que os altos responsáveis militares, onde já pontificava Costa Gomes (Subsecretário do Exército) e Viena de Lemos (futuro Subsecretário de Marcello, aquando do 25 de Abril), andaram, literalmente, a descurar as vulnerabilidades, como que a preparar , em primeiro lugar, o terreno para o pânico generalizado, à moda belga, no enfiamento da erupção terrorista.
Mas se os militares pouco fizeram, ou fizeram ao contrário do que deveriam (inclusivamente desguarnecendo o dispositivo), já as autoridades civis tomaram medidas visíveis e importantes no sentido de retirar pretextos à subversão. Chegado a Luanda, o novo Governador-geral de Angola, enceta medidas urgentes
Entretanto, a acção concertada a vários níveis e vários palcos visando a liquidação do espaço ultramarino português está mais do que balizada e é pacificamente reconhecida, da esquerda à direita: operação intrinsecamente americana, prepara e movimenta os seus peões, de acordo a uma lógica pré-estabelecida. A ignição do conjunto tem a forma duma espécie de "ultimatum", transmitido pelo Embaixador americano, da parte de Kennedy, a Salazar. Um ex-secretário deste, descreve a visita:
De seguida, a 15 de Maço irrompem as chacinas da UPA (movimento previamente confeccionado por um cluster de missionários evangélicos, delegados da CIA e negociantes avulsos, passe a redundância). Pouco tempo antes, no Zaire, Lumumba, dirigente congolês pró-soviético é deposto por Mobutu. Nos dias que precederam o levantamento da UPA, a CIA trata da eliminação física de Lumumba de modo a que o empreendimento pró-americano não corra o risco dos soviéticos se aproveitarem do circo. Convém recordar que o primeiro sinal de rebelião terrorista, sob delegação externa, fora dado em Luanda, um mês antes, a 11 de Fevereiro, por parte do MPLA (pró-soviético). A prova que da parte dos soviéticos também havia estratégia concertada é que várias emissoras internacionais noticiam o caso mesmo antes dele ter acontecido. Em parte, o desencadear do terrorismo pró-americano é uma resposta e um esforço de não permitir a ultrapassagem táctica pelos rivais.
Contudo, embora atarantados e desesperados no momento inicial, os portugueses, ao contrário dos belgas, não debandam. Resistem, em muitos casos com verdadeiro heroísmo, e retaliam. Em Lisboa, a segunda fase do plano americano, que consistia no derrube de Salazar pelos conjurados de Botelho Moniz, malogra-se. Também Salazar resiste e, afastados os conspiradores, ordena a resposta militar soberana. Inicia-se a Guerra do Ultramar, ou mais especificamente, a guerra de Angola.
Ia ser uma guerra de longa duração e paulatino desgaste. Económico, político e moral/psicológico. Possuía Portugal meios para fazer face a esta tripla contingência?
Ora, não sendo Portugal um país rico nem detentor dum nível de desenvolvimento industrial e tecnológico de ponta, dir-se-ia que o maior problema seria sempre ao nível económico. Como financiar uma guerra prolongada (com tendência para alastramento); como não deixar que o financiamento da guerra afectasse o desenvolvimento do país; como não permitir que um eventual arrastamento pusesse em causa a própria autonomia financeira e, consequentemente, econo-política, do país.
A fórmula encontrada não apenas resolveu e acautelou todos estas incógnitas, como o país conseguiu desenvolver-se, na metrópole e no Ultramar (sobretudo em Angola), apesar da Guerra. Salazar chamou-lhe o "baratear da guerra". Consistiu na aposta numa campanha de baixa intensidade, sem grandes dispêndios de meios e recursos, e contingentes humanos, no global, o menos oneroso possível. Daí o grosso das tropas ser do Serviço Militar Obrigatório, donde posteriormente saíam os quadros milicianos, enquadrados a montante por oficiais do quadro Permanente (e sargentos, evidentemente).
O problema é que o barato tem limites e, a partir dum certo ponto, começa a gerar riscos que ameaçam os benefícios. A partir desse ponto, os ganhos económicos desatam a ter um preço crescente em danos moralo-psicológicos. Quando aqui se refere moral, não é a moral de sacristia: é a moral de combate, essência fundamental aos combatentes e cimento fulcral dos exércitos em guerra E, na verdade, foi o que veio a acontecer. E que aliás era previsível que acontecesse, e não se percebe como é que não se atalhou a tempo, permitindo que ele enquistasse até ao rebentamento final.
A questão dos quadros serem mal pagos é secundária: comparados aos soldados e ao contingente geral dos milicianos, os militares do quadro permanente, uma minoria (que, em termos de oficiais, fora as tropas de elite, foi desaparecendo das acções de combate), soava até a obsceno que se queixassem. Outras eram as raízes do problema: a infiltração das faculdades pelos comunistas e quejandos, um certo ambiente de balda à tropa por certas franjas da própria situação (os liberais, por exemplo, faziam disso uma arte); as consequentes deteriorações dos quadros milicianos e da instrução militar das tropas. Nos últimos anos, as tropas regulares seguiam para África cada vez mais mal treinadas, pró fim rondava o mau mesmo e, consequentemente, menos confiantes, mentalizadas e mais facilmente desmoralizáveis. Até porque o IN, apercebendo-se disso, escolhia os recém-chegados como alvos preferenciais. O problema era de certa forma atenuado pelo facto de o exército regular tratar da ocupação do terreno, num dispositivo de quadrícula, cumprindo-lhe, grosso modo, a detecção/contenção do In e o Apoio Social às populações - as acções de choque e intervenção era desempenhadas pelas tropas especiais. Mas, não obstante, foi-se acumulando e entranhado.
Sem me querer alongar em detalhes técnicos, gostaria apenas de apontar três erros que, a meu ver, sempre sobressaíram:
1. No fim da comissão, quando os combatentes estavam devidamente habilitados e adestrados para a guerra, eram desmobilizados e rendidos, em bloco, por outros completamente inexperientes. Ou seja, todo aquele saber acumulado, ia borda fora. Teria sido preferível, a fazer rendições nessa modalidade, morigerá-las pelo menos em parcelas (misturar 50% de novatos com 50% de veteranos, ou seja render apenas metade do efectivo de cada vez); e dar preferência à reintegração de voluntários, entre os melhores, oferecendo-lhes melhores condições profissionais (estou a falar da classe de praças). Equilibrar-se-ia o acréscimo de custos com a diminuição do efectivo: menos numeroso mas mais capacitado e moralizado para o combate (acredito que se reduziria também o tempo de guerra, na medida em que se pacificariam de facto zonas mais inflamadas, opondo-lhes tropas mais competentes e motivadas).
2.O treino prévio na Metrópole devia ser objecto duma filtragem mais cuidada, sobretudo a nível de instrutores e instruendos sem moral combativa. Quer dizer, o exército devia ter preservado, sobremaneira, a qualidade dos instrutores e a propriedade dos instruendos. Há pessoas que não vão fazer nada à guerra (mais que física, é uma questão mental). Pura e simplesmente, são incapazes e incompatíveis, nada a fazer (obrigá-los a lá ir é mau para todos, para eles é péssimo e para o os outros não acrescentam nada de bom); outros há que se habituam e cumprem o seu dever; outros há que se afeiçoam e acabam perfeitamente aclimatizados; e uns últimos nasceram para aquilo . A obrigatoriedade do serviço militar, sem os devidos filtros e critérios, resulta na "democratização" do exército - o que, como é bom de ver, traduziu um perfeito contra-senso com o próprio regime - um regime que visava em teoria a aristocracia geral e que acabava cultivando no seu principal sustentáculo a democracia. Dá para vislumbrar, neste peculiar absurdo, parte do chão minado que um dia detonou debaixo dos pé, assaz desprevenidos e imprudentes, de Marcello. Além do mais, o invólucro da coisa, muitas vezes, é tão importante como a coisa: servir a pátria nunca poderia ter sido "imposto como uma obrigação", mas "concedido como um privilégio". Nós até fomos bons na acção psicológica, mas, como diz o ditado, em casa de ferreiro, espeto de pau.
3. A operacionalidade das Forças Armadas deveria ter prevalecido sobre a burocracia das mesmas, nomeadamente no dispositivo de segurança (ao próprio governo) na Metrópole. Esta devia, desde o princípio, ter sido tratada como frente de combate, empregando-se nela, no mínimo, um número de meios de acção psico-social idêntico ao de Angola. À semelhança, de resto, com as democracias ocidentais em tempo de guerra, a contenção, tratamento e repressão das quintas colunas infiltradas (comunistas, sobretudo) devia ter sido mais firme, metódica e isoladora. Não se trata de imitar os alemães do III Reich, mas apenas os americanos na Segunda Guerra, em relação a imigrantes ou equivalentes japoneses e alemães. Nada de fascismos: tudo segundo os mais conceituados modelos democráticos!...
Agora, será que estes três lapsos foram causa suficiente e incontornável para o descalabro que presidiu à debandada?
Não.
Se por um lado, estas vulnerabilidades existiam e minavam, paulatinamente, por outro, havia uma medida fulcral que as contrabalançava e, enquanto progredisse, neutralizava em larga medida os seus efeitos deletérios: a africanização do efectivo militar ultramarino. ( E esta africanização, entenda-se, não era exclusivamente negra, mas, desde o início, branca e mestiça, embora em proporção menor.) Com efeito, de cerca de 30.000 elementos no início do conflito, ascendeu-se a 54.400 no fim da guerra.
Naturalmente, ninguém no seu perfeito juízo entendia a guerra prolongada como guerra eterna. Combater "habitualmente" não implicava "combater perpetuamente". Nem, tão pouco, que o Portugal Ultramarino iria cristalizar numa espécie de conto de fadas terreal, imune ao tempo e à própria evolução das coisas humanas. Nisso, Salazar não concordava comigo (eu sempre achei que não deveríamos apenas manter o Império como dilatá-lo incessantemente, a raides e anexações vigorosos - enfim, deitar a unha ao resto de África antes de russos, americanos e chineses; afinal, tínhamos direitos de preferência e antiguidade). Pois, mas Salazar era mais comedido. Entendia duas coisas: que importava criar condições para uma futura autonomia, progressiva e autêntica; e que se impunha adquirir uma posição de força e estabilidade a partir da qual negociar. A velha raposa sabia bem que um tipo em posição de fraqueza não negoceia coisa nenhuma: submete-se. A guerra servia esses dois fins superiores.
Uma última nota, em jeito de conclusão: aquela mania de transpor para o passado taras avassaladoras do presente, sai muito maltratada do nosso caso guerreiro ultramarino. Segundo estes eruditos obsessivos do momento, tudo se resume e submete à economia, pelo que também, segundo esta portentosa lógica, devia ter sido económica a nossa ruína e desventura. Ora, foi precisamente o inverso: na economia, na matéria, correu tudo sem grandes problemas. No espírito, na moral, na tal vontade é que a coisa deu para o torto. Foram palavras, ideias, mentiras, mitos (no mau e perverso sentido do termo), que uma vez propalados e aspergidos, persistente e insidiosamente, por quintas colunas e idiotas úteis, criaram ambientes, incubaram predisposições, arruinaram vontades e instalaram a confusão espiritual, moral e anímica que procederam, anteciparam e anunciaram a balbúrdia e o descalabro material. Para combater e contrariar este tipo de ameaça, a economia, sendo importante, não basta. Longe disso, sucumbe. Mais que uma tolerância suicida, blindada num certo alheamento sobranceiro, o regime não soube contrapor e cultivar uma mitologia eficaz porque sediada no concreto da cultura, da história colectiva e da verdade dos factos. "Nem só de pão vive o homem", disse um certo Sábio. Pois, e aqueles que trocam o espírito pelo bandulho descobrem um belo dia que o espírito desabitado foi ocupado por outros. Geralmente ciganos. Foi assim no crepúsculo do Estado-Novo. E assim é, para bem pior, nos dias de hoje.
Todavia, deixem que pergunte, se os militares não servem para ir à guerra, então servem para quê? Para consumir uma fatia avultada do orçamento de estado e andar a desfilar nas paradas ou a posar em cerimónias oficiais? Anda o país a gastar um ror de dinheiros em armas, a escutar os permanentes lamentos dos generais que a panóplia está obsoleta, minguante e tal, e depois, na hora do serviço, do trabalhinho a sério, metem baixa? Ah, que estão com a menstruação mental, uma dismenorreia do caraças... Vou discutir o quê? Com meninas, senhoras e sopeiras incomodadas não sei com que mosquitos, não disponho nem de bagagem técnica nem de vocação para esse tipo de lavores. Foi Salazar que inventou, ocupou ou peregrinou unilateralmente o Ultramar? Foi ele o primeiro a pegar em armas para o defender? Quebrou uma tradição santa e ancestral de pacifismo cosmopolita? Não era o dever dele, como representação máxima da nação, defendê-la e zelar pelos seus interesses? A nação é apenas o seu presente, ou é o seu passado, o seu presente e os seu futuro? A nação deve render-se às prioridades mentais de palradores iluminados, pseudo-elites da treta ou possidónios da verdade do cuspo? . Descubro que a cultura gay S&M, aos poucos vai contaminando a própria historiolalia: temos agora os apologetas da passividade, da submissão e do masoquismo geopolítico. A questão não é se nos entregamos ao calmeirão do planeta (doravante convertido a penitenciária): a discussinha é sobre que qualidade de vaselina, com a devida autorização do bruto, devemos usar.
Pois, as meninas desculpem-me, mas esse tipo de colóquio hão-de tê-lo, umas com as outras, lá no vosso gineceu, mas não certamente comigo.
E no que refere aos militares, ainda é mais rigoroso: qual é o dever, a missão e a razão de ser do militar em tempo de paz? Preparar-se para a guerra. nem mais. Com todas as suas energias e forças. Portanto, a primeira questão legítima que deve colocar-se é: estavam os militares portugueses preparados para a guerra ultramarina?
Não. Toda a sua projecção bélica apontava para o teatro de operações na Europa, num ambiente de guerra convencional (sem mosquitos e boas infraestruturas turísticas, enfim). O que era, no mínimo, um tanto ou quanto bizarro, para não dizer autista. Havia já escaramuças com a União Indiana, e em África era mais que evidente que, mais dia menos dia, irromperiam problemas. Culpa de quem - do Salazar do costume, ou das altas chefias das Forças Armadas, cuja missão é precisamente analisar, avaliar e providenciar às esferas políticas informação permanente e atempada do estado e evolução da situação estratégica (em termos militares, no mínimo)?
Há uma reunião do Conselho Superior de Defesa, realizada em 1959, de que o então Secretário de Estado da Administração Ultramarina, Álvaro da Silva Tavares, dá nota e que é bastante elucidativa:
«Nessa reunião, o Ministro da Defesa nacional, general Botelho Moniz, defendeu a tese de que as guerras se ganham no teatro principal das operações e que esse era na Europa, visto a luta ser entre o Ocidente e o Oriente. O ministro da Marinha, Almirante Quintanilha Dias, defendeu a necessidade de mais navios e o Subsecretário de Estado da Aeronáutica, general Kaúlza de Arriaga, a necessidade de mais aviões. No final o Presidente do Conselho que nada dissera até aí, afirmou, pode dizer-se textualmente: "Tudo será como os senhores dizem, mas se houver uma guerra na Europa e o esforço do inimigo incidir sobre o sector guarnecido pela tropa portuguesa, toda a nossa juventude será aniquilada. Por outro lado, o certo é que vamos ter uma guerra do Ultramar e que ela será de guerrilha. Para isso temos de estar preparados." Era a directriz firme e clara. Para o que temos de nos preparar não é para a guerra na Europa, mas para a guerrilha do Ultramar.» (in Salazar visto pelos seus próximos, pp.203)Tendo Salazar expressado o óbvio ululante, que fizeram os militares - prepararam-se?
Pela directiva do EME de 12/10/1959 são criadas as Companhias de Caçadores Especiais, as primeira a expressarem uma conversão do ensino de Guerra Convencial para o terino de Contra-Guerrilha. No ano seguinte é criado o CIOE ( Centro de Instrução de Operações Especiais) em Lamego. Mas em matéria de dispositivo, reforço e prevenção no terreno, pouco ou nada é feito. Quando o terrorismo da UPA eclode no Norte de Angola, os portugueses são apanhados com as calças na mão, o que amplia a dimensão dos massacres, no terreno e no tempo. E, em teoria, devia ter bastado para provocar a descolonização apressada.
O facto é que os altos responsáveis militares, onde já pontificava Costa Gomes (Subsecretário do Exército) e Viena de Lemos (futuro Subsecretário de Marcello, aquando do 25 de Abril), andaram, literalmente, a descurar as vulnerabilidades, como que a preparar , em primeiro lugar, o terreno para o pânico generalizado, à moda belga, no enfiamento da erupção terrorista.
Mas se os militares pouco fizeram, ou fizeram ao contrário do que deveriam (inclusivamente desguarnecendo o dispositivo), já as autoridades civis tomaram medidas visíveis e importantes no sentido de retirar pretextos à subversão. Chegado a Luanda, o novo Governador-geral de Angola, enceta medidas urgentes
1) Imposição à Diamang de aumentos salariais aos trabalhadores das minas de diamantes;:
2) retirada à SOFRIO da concessão do exclusivo do negócio da carne de bovino do Sul de Angola, ou seja, a revogação do monopólio da sua comercialização, exploração e industrialização;
3) a defesa dos produtores africanos e das pequenas empresas de café, contra os grandes exportadores metropolitanos;
4) Aumento do preço do algodão aos agricultores e a imposição à COTONANG e outras empresas comerciais e industriais do combate gratuito às pragas das plantações em apoio dos agricultores;
5) proibição absoluta de trabalho compelido, mesmo que por meios indirectos; com o decorrente aumento progressivo dos salários;
6) defesa do preço quanto aos produtores de milho, feijão e arroz, na quase totalidade africanos;
7) igualdade quanto a salários, subsídios e mais direitos de todos os serventuários do Estado, de forma a abranger os Africanos;
8) africanização, na medida do possível, dos quadros.
Entretanto, a acção concertada a vários níveis e vários palcos visando a liquidação do espaço ultramarino português está mais do que balizada e é pacificamente reconhecida, da esquerda à direita: operação intrinsecamente americana, prepara e movimenta os seus peões, de acordo a uma lógica pré-estabelecida. A ignição do conjunto tem a forma duma espécie de "ultimatum", transmitido pelo Embaixador americano, da parte de Kennedy, a Salazar. Um ex-secretário deste, descreve a visita:
«Certa manhã, o Presidente [Salazar], antes do "despacho", anunciou que iria receber o Embaixador dos Estados Unidos da América do Norte. Este trazia uma carta-mensagem do Presidente John Kennedy. O Embaixador chegou. Vinha acompanhado do Ministro, da Embaixada, em Portugal. Era, nem mais nem menos, que o nosso amigo Xantaky: Um helénico-americano. Vinham, tanto o Embaixador como o seu Ministro, com semblante de muita circunstância e, até, de tristeza. esta mais se evidenciava na expressão, não contida, de Teodoro Xantaky. Deu-se a entrevista que correu fora da nossas audição, como era natural.A resposta de Salazar ao Ultimato americano foi muito simples: ignorou-o.
Nós estávamos em pulgas e, quando digo "nós", refiro-me ao meu colega José Luciano Sollari Allegro. Finda a entrevista, os diplomatas retiraram-se e notámos lágrimas nos olhos de Teodoro Xantaky... Salazar voltou ao seu gabinete de trabalho, à cadeira habitual e instalou-se. Vinha com um ar de profunda meditação... Nós calculávamos do que se tratava. Perguntámos o que queria o Presidente Kennedy. Salazar respondeu logo: que entregássemos imediatamente as nossas províncias Ultramarinas a troco da amizade e todo o auxílio dos Estados Unidos da América do Norte.» ( Franz Paul de Almeida Langhans, in Salazar visto pelos seus Próximos, pp96)
De seguida, a 15 de Maço irrompem as chacinas da UPA (movimento previamente confeccionado por um cluster de missionários evangélicos, delegados da CIA e negociantes avulsos, passe a redundância). Pouco tempo antes, no Zaire, Lumumba, dirigente congolês pró-soviético é deposto por Mobutu. Nos dias que precederam o levantamento da UPA, a CIA trata da eliminação física de Lumumba de modo a que o empreendimento pró-americano não corra o risco dos soviéticos se aproveitarem do circo. Convém recordar que o primeiro sinal de rebelião terrorista, sob delegação externa, fora dado em Luanda, um mês antes, a 11 de Fevereiro, por parte do MPLA (pró-soviético). A prova que da parte dos soviéticos também havia estratégia concertada é que várias emissoras internacionais noticiam o caso mesmo antes dele ter acontecido. Em parte, o desencadear do terrorismo pró-americano é uma resposta e um esforço de não permitir a ultrapassagem táctica pelos rivais.
Contudo, embora atarantados e desesperados no momento inicial, os portugueses, ao contrário dos belgas, não debandam. Resistem, em muitos casos com verdadeiro heroísmo, e retaliam. Em Lisboa, a segunda fase do plano americano, que consistia no derrube de Salazar pelos conjurados de Botelho Moniz, malogra-se. Também Salazar resiste e, afastados os conspiradores, ordena a resposta militar soberana. Inicia-se a Guerra do Ultramar, ou mais especificamente, a guerra de Angola.
Ia ser uma guerra de longa duração e paulatino desgaste. Económico, político e moral/psicológico. Possuía Portugal meios para fazer face a esta tripla contingência?
Ora, não sendo Portugal um país rico nem detentor dum nível de desenvolvimento industrial e tecnológico de ponta, dir-se-ia que o maior problema seria sempre ao nível económico. Como financiar uma guerra prolongada (com tendência para alastramento); como não deixar que o financiamento da guerra afectasse o desenvolvimento do país; como não permitir que um eventual arrastamento pusesse em causa a própria autonomia financeira e, consequentemente, econo-política, do país.
A fórmula encontrada não apenas resolveu e acautelou todos estas incógnitas, como o país conseguiu desenvolver-se, na metrópole e no Ultramar (sobretudo em Angola), apesar da Guerra. Salazar chamou-lhe o "baratear da guerra". Consistiu na aposta numa campanha de baixa intensidade, sem grandes dispêndios de meios e recursos, e contingentes humanos, no global, o menos oneroso possível. Daí o grosso das tropas ser do Serviço Militar Obrigatório, donde posteriormente saíam os quadros milicianos, enquadrados a montante por oficiais do quadro Permanente (e sargentos, evidentemente).
O problema é que o barato tem limites e, a partir dum certo ponto, começa a gerar riscos que ameaçam os benefícios. A partir desse ponto, os ganhos económicos desatam a ter um preço crescente em danos moralo-psicológicos. Quando aqui se refere moral, não é a moral de sacristia: é a moral de combate, essência fundamental aos combatentes e cimento fulcral dos exércitos em guerra E, na verdade, foi o que veio a acontecer. E que aliás era previsível que acontecesse, e não se percebe como é que não se atalhou a tempo, permitindo que ele enquistasse até ao rebentamento final.
A questão dos quadros serem mal pagos é secundária: comparados aos soldados e ao contingente geral dos milicianos, os militares do quadro permanente, uma minoria (que, em termos de oficiais, fora as tropas de elite, foi desaparecendo das acções de combate), soava até a obsceno que se queixassem. Outras eram as raízes do problema: a infiltração das faculdades pelos comunistas e quejandos, um certo ambiente de balda à tropa por certas franjas da própria situação (os liberais, por exemplo, faziam disso uma arte); as consequentes deteriorações dos quadros milicianos e da instrução militar das tropas. Nos últimos anos, as tropas regulares seguiam para África cada vez mais mal treinadas, pró fim rondava o mau mesmo e, consequentemente, menos confiantes, mentalizadas e mais facilmente desmoralizáveis. Até porque o IN, apercebendo-se disso, escolhia os recém-chegados como alvos preferenciais. O problema era de certa forma atenuado pelo facto de o exército regular tratar da ocupação do terreno, num dispositivo de quadrícula, cumprindo-lhe, grosso modo, a detecção/contenção do In e o Apoio Social às populações - as acções de choque e intervenção era desempenhadas pelas tropas especiais. Mas, não obstante, foi-se acumulando e entranhado.
Sem me querer alongar em detalhes técnicos, gostaria apenas de apontar três erros que, a meu ver, sempre sobressaíram:
1. No fim da comissão, quando os combatentes estavam devidamente habilitados e adestrados para a guerra, eram desmobilizados e rendidos, em bloco, por outros completamente inexperientes. Ou seja, todo aquele saber acumulado, ia borda fora. Teria sido preferível, a fazer rendições nessa modalidade, morigerá-las pelo menos em parcelas (misturar 50% de novatos com 50% de veteranos, ou seja render apenas metade do efectivo de cada vez); e dar preferência à reintegração de voluntários, entre os melhores, oferecendo-lhes melhores condições profissionais (estou a falar da classe de praças). Equilibrar-se-ia o acréscimo de custos com a diminuição do efectivo: menos numeroso mas mais capacitado e moralizado para o combate (acredito que se reduziria também o tempo de guerra, na medida em que se pacificariam de facto zonas mais inflamadas, opondo-lhes tropas mais competentes e motivadas).
2.O treino prévio na Metrópole devia ser objecto duma filtragem mais cuidada, sobretudo a nível de instrutores e instruendos sem moral combativa. Quer dizer, o exército devia ter preservado, sobremaneira, a qualidade dos instrutores e a propriedade dos instruendos. Há pessoas que não vão fazer nada à guerra (mais que física, é uma questão mental). Pura e simplesmente, são incapazes e incompatíveis, nada a fazer (obrigá-los a lá ir é mau para todos, para eles é péssimo e para o os outros não acrescentam nada de bom); outros há que se habituam e cumprem o seu dever; outros há que se afeiçoam e acabam perfeitamente aclimatizados; e uns últimos nasceram para aquilo . A obrigatoriedade do serviço militar, sem os devidos filtros e critérios, resulta na "democratização" do exército - o que, como é bom de ver, traduziu um perfeito contra-senso com o próprio regime - um regime que visava em teoria a aristocracia geral e que acabava cultivando no seu principal sustentáculo a democracia. Dá para vislumbrar, neste peculiar absurdo, parte do chão minado que um dia detonou debaixo dos pé, assaz desprevenidos e imprudentes, de Marcello. Além do mais, o invólucro da coisa, muitas vezes, é tão importante como a coisa: servir a pátria nunca poderia ter sido "imposto como uma obrigação", mas "concedido como um privilégio". Nós até fomos bons na acção psicológica, mas, como diz o ditado, em casa de ferreiro, espeto de pau.
3. A operacionalidade das Forças Armadas deveria ter prevalecido sobre a burocracia das mesmas, nomeadamente no dispositivo de segurança (ao próprio governo) na Metrópole. Esta devia, desde o princípio, ter sido tratada como frente de combate, empregando-se nela, no mínimo, um número de meios de acção psico-social idêntico ao de Angola. À semelhança, de resto, com as democracias ocidentais em tempo de guerra, a contenção, tratamento e repressão das quintas colunas infiltradas (comunistas, sobretudo) devia ter sido mais firme, metódica e isoladora. Não se trata de imitar os alemães do III Reich, mas apenas os americanos na Segunda Guerra, em relação a imigrantes ou equivalentes japoneses e alemães. Nada de fascismos: tudo segundo os mais conceituados modelos democráticos!...
Agora, será que estes três lapsos foram causa suficiente e incontornável para o descalabro que presidiu à debandada?
Não.
Se por um lado, estas vulnerabilidades existiam e minavam, paulatinamente, por outro, havia uma medida fulcral que as contrabalançava e, enquanto progredisse, neutralizava em larga medida os seus efeitos deletérios: a africanização do efectivo militar ultramarino. ( E esta africanização, entenda-se, não era exclusivamente negra, mas, desde o início, branca e mestiça, embora em proporção menor.) Com efeito, de cerca de 30.000 elementos no início do conflito, ascendeu-se a 54.400 no fim da guerra.
Naturalmente, ninguém no seu perfeito juízo entendia a guerra prolongada como guerra eterna. Combater "habitualmente" não implicava "combater perpetuamente". Nem, tão pouco, que o Portugal Ultramarino iria cristalizar numa espécie de conto de fadas terreal, imune ao tempo e à própria evolução das coisas humanas. Nisso, Salazar não concordava comigo (eu sempre achei que não deveríamos apenas manter o Império como dilatá-lo incessantemente, a raides e anexações vigorosos - enfim, deitar a unha ao resto de África antes de russos, americanos e chineses; afinal, tínhamos direitos de preferência e antiguidade). Pois, mas Salazar era mais comedido. Entendia duas coisas: que importava criar condições para uma futura autonomia, progressiva e autêntica; e que se impunha adquirir uma posição de força e estabilidade a partir da qual negociar. A velha raposa sabia bem que um tipo em posição de fraqueza não negoceia coisa nenhuma: submete-se. A guerra servia esses dois fins superiores.
«Salazar referiu, então, que era necessário "aguentar", mas sabendo adaptar-nos às circunstâncias, admitindo os compromissos e entendimentos possíveis e uma progressiva autonomia, e, logo em 4 de Maio de 1962, em entrevista à Life havia de reconhecer que o "facto de um território se proclamar independente é fenómeno natural e, por isso, representa uma hipótese sempre admissível, mas em boa verdade não se pode nem deve marcar prazo.» (Álvaro da Silva Tavares, in Salazar visto pelos seus próximos)
Uma última nota, em jeito de conclusão: aquela mania de transpor para o passado taras avassaladoras do presente, sai muito maltratada do nosso caso guerreiro ultramarino. Segundo estes eruditos obsessivos do momento, tudo se resume e submete à economia, pelo que também, segundo esta portentosa lógica, devia ter sido económica a nossa ruína e desventura. Ora, foi precisamente o inverso: na economia, na matéria, correu tudo sem grandes problemas. No espírito, na moral, na tal vontade é que a coisa deu para o torto. Foram palavras, ideias, mentiras, mitos (no mau e perverso sentido do termo), que uma vez propalados e aspergidos, persistente e insidiosamente, por quintas colunas e idiotas úteis, criaram ambientes, incubaram predisposições, arruinaram vontades e instalaram a confusão espiritual, moral e anímica que procederam, anteciparam e anunciaram a balbúrdia e o descalabro material. Para combater e contrariar este tipo de ameaça, a economia, sendo importante, não basta. Longe disso, sucumbe. Mais que uma tolerância suicida, blindada num certo alheamento sobranceiro, o regime não soube contrapor e cultivar uma mitologia eficaz porque sediada no concreto da cultura, da história colectiva e da verdade dos factos. "Nem só de pão vive o homem", disse um certo Sábio. Pois, e aqueles que trocam o espírito pelo bandulho descobrem um belo dia que o espírito desabitado foi ocupado por outros. Geralmente ciganos. Foi assim no crepúsculo do Estado-Novo. E assim é, para bem pior, nos dias de hoje.
"Os pais fazem aquilo por autoritarismo e prepotência?"
ResponderEliminarSim.
Tiago
Só para dizer que falo com um certo (mas pequeno) conhecimento de causa. Trabalhei com pequenas comunidades urbanas que funcionavam sem ensino compulsivo. Alemanha e Estados Unidos. Os miúdos, que começavam desde os três anos, tinham toda a liberdade para fazerem o que queriam. Toda. Alguns aprendiam a ler aos 4 outros outros aos 8 anos de idade. Entre o programa, para além do programa mais ou menos normal havia latim e grego, pintura, dança e fotografia. Embora o programa tivesse uma ideologia política com a qual não me identificava, razão pela qual saí, pude observar que as crianças aprendem e têm interesse pela educação de forma não compulsiva e com resultados bons, outros não tão bons, mas em que pelo menos o tecto das suas potencialidades n\ao é limitado pela mediania.
ResponderEliminarA policia e os serviços sociais andavam sempre muito preocupados com o ensino das criancinhas. Coitadinhas, que seriam delas se não aprendessem a mesma coisa que todas as outras aprendem, com exactamente a mesma idade, se não aprendessem a odiar os professores, a educação, os livros, a não ter responsabilidade sobre as suas decisões?
Mutatis mutantis
Tiago
O Kennedy quando viu com quem se meteu já foi tarde. (E não, não foi serviço da PIDE).
ResponderEliminarOs EUA há muito que se deixaram capturar por crápulas da pior espécie.
Washington, cidade desenhada a compasso, neste tempo de domínio imperial, criou um mundo de fantasia e de miséria.
Muita gente está corrompida pela ideologia e pelo faz de conta destes 41 anos de corruptocracia. Nunca vão perceber do que fala neste belo post.
ResponderEliminarTiago,
ResponderEliminara questão da educação é de facto uma questão "cabeluda". E não vou deslustrar esse seu exemplo, só porque vivemos numa sociedade onde o absurdo se vai instituindo como normalidade.
Mas sempre lhe digo que a autoridade do estado devia respeitar a autoridade da família, por uma razão muito simples e que os tipos do direito até têm um palavrão para definir: a família é anterior ao Estado. E uma das coisas que a autoridade da família pressupõe garantir é a liberdade da família.
Só que como os modernentos puseram o mundo às avessas, o mais recente, o último grito, a última moda - a limite, o Estado - sobrepõe-se a tudo, tudo abarca e dissolve. O fascismo mascarado de democracia lava mais branco. E ninguém pia. É o que eu chamo o método da aranha-lobo.
Mas note que de libertário não tenho nada.
Mais um post para guardar.
ResponderEliminarVou desenvolvendo a minha interpretação sobre a nossa história com estes episódios. Para além da figura de Salazar e das suas qualidades, creio haver também um conjunto de relações de força que explica muita coisa.
Ou seja, Durante uns tempos, o Estado Português pode defender os seus interesses e olhar os outros países nos olhos porque era forte. Salazar pôde conduzir aquela política externa porque, para além de tudo o mais, tinha uma posição interna forte.
O que vemos em muitos momentos da nossa história, principalmente no pós-1820 (mas não só), é que a fraqueza interna procura contrabalançar as debilidades com apoios externos. E esses apoios pagam-se com o interesse nacional.
E chegamos a um ponto caricato: quanto maior a debilidade interna, mais interesse nacional estamos dispostos a alienar. E mais apoio externo recebem aqueles que são supostos defender a nossa comunidade. O Pedrismo de 1828/1834 teve muito disto.
Miguel D
O ensino compulsivo não se destina, creio, a obrigar as crianças, mas sim os pais que se obstinam a não ver as vantagens da instrução.
ResponderEliminarClaro que isto tem sentido para a instrução primária e pouco mais. A partir daí, tem de haver vontade de quem quer aprender, e não há compulsão que faça aprender sem isso.
Quem não tem vontade de aprender aquilo, pode-se-lhe ensinar outras coisas que lhe interessem mais; quem não tem vontade de aprender nada, podia e devia começar a trabalhar.
De resto, penso que é mais uma exposição clara de que a questão subjacente nisto era o interesse nacional e não ideias de impérios transcendentes e místicos.
ResponderEliminarE essa linha de acção subscrevo-a integralmente.
Quanto mais nos agachamos mais nos pisam. A nós e a toda a gente, note-se.
Há pessoas que parece terem dificuldade em perceber isto. Creio que é ilusão, pura e simplesmente. Não consigo precisá-la, mas parece que não se entende a realidade como uma continuidade; é como se, a determinada altura, o mundo se tivesse tornado uma coisa nova e se lhe não aplicasse o que sempre se aplicou.
Ora, o que eu vejo é precisamente o contrário: cada vez mais se aplica o que sempre se aplicou. São as inovações que vão sendo atiradas borda fora: o direito internacional, as convenções de guerra, os tratados, etc.
O argumento do "interesse nacional" ou nacionalismo de alguém não colhe. Porque o interesse nacional é apreendido de maneiras diferentes por cada pessoa. Por exemplo, para mim, o interesse nacional seria um entendimento. Não era fazer continuar a guerra. Adicionalmente, o interesse nacional e a justiça ou moral podem não andar de mãos juntas. O interesse nacional pode ser amoral. E se assim for que se lixe o interesse. Não faltam razoes de interesse nacional para os gringos terem intervindo no iraque e, no entanto, a intervenção nem foi justa, nem moral.
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As colónias eram territórios descontinuados e as gentes nativas nada tinha a ver com Portugal. Ainda assim, se fosse vontade deles serem portugueses a coisa ia bem. Mas não. Não lhes perguntaram o q queriam. Forcaram-nos a querer.
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Rb
Há até quem apreenda o interesse nacional de outras nacionalidades e o tenha por próprio e de moral a toda a prova. Existe um nome para isso.
ResponderEliminarMas esses deviam era pôr os pés onde põem a boca.
Agora, aqui refere-se o interesse nacional de Portugal. E esse, é o mesmo para todos os portugueses que o são. De outra forma não seria nacional, somente partidário ou individual.
É difícil de perceber para os acima citados... mas também não interessam, porque para esses o debate está encerrado mesmo antes de se abrir.
Para os portugueses, quando se faz a guerra a Portugal o interesse nacional dos portugueses é ganhá-la.
E quando a guerra é defensiva e imposta, é justa; e imoral só é quem na impõe.
E é aqui que entram os ventos da mudança ( continuo sem perceber o q são ventos da história). Os conceitos de liberdade, autodeterminação ousaram impor-se. São conceitos sadios. Bons. Não há como obstaculizar este tipo de evolução humana. Nem a força o consegue. São ventos imparáveis. Um príncipe digno e inteligente, acolhe-os. Não luta contra eles. E faz deles proveito.
ResponderEliminar.
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Rb
Quando se toma alguém por profecta (já não sei se leva o "c" ou nao, o corrector insiste q nao-mas eu quero q ele se foda), dizia, toma-se o interesse nacional pela opinião do profecta. Eu penso por mim próprio. E se isso significar contrariar um homem q admiro (Salazar) pois, que seja.
ResponderEliminar.
Rb
Quem "pensa" que a questão é concordar ou deixar de concordar com Salazar, ainda não pensou nada.
ResponderEliminarProfundo.
EliminarProfundo.
EliminarMas, se queres q te diga, moço, acho estéreis estas conversas. Não interessa muito concordar ou nao com o profeta. Nem os fiéis se juntam para concordar.
ResponderEliminar.
Ora bem, eu tenho o defeito imenso de ser demasiado pragmático. Na volta é feitio. Quando um vendedor argumenta q fez tudo bem feito, sem mácula e q não podia ser de outra forma, os resultados sobrepoe-se aos argumentos. Então, oh pá, se achas q fizeste tudo bem feito, porque raios não funcionou o método?
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Pensa, meu caro, se voltasses atrás o que terias feito de diferente perante as consequências q conheces?
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Ah, uh, ah
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Pois. Eu tenho a certeza que Salazar, se pudesse ser ressuscitado e pudesse corrigir algumas decisões q tomou, fa-li-ia sem hesitar. Só um burro é q se mantém na mesma linha sabendo das consequências..
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Então, se Salazar pudesse corrigir algumas decisões, teria ou não feito as coisas de modo diferente?
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Claro q sim.
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Ora, se nós conhecemos os resultados das acções, e se aqueles não foram os melhores, então parece-me pacifico perceber que o caminho certo teria de ser outro.
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Rb
E é aqui que entram os ventos da mudança ( continuo sem perceber o q são ventos da história). Os conceitos de liberdade, autodeterminação ousaram impor-se. São conceitos sadios. Bons. Não há como obstaculizar este tipo de evolução humana. Nem a força o consegue. São ventos imparáveis. Um príncipe digno e inteligente, acolhe-os. Não luta contra eles. E faz deles proveito.
ResponderEliminar.
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Rb
Eu tenho a certeza que Salazar, se pudesse ser ressuscitado e pudesse corrigir algumas decisões q tomou, fa-li-ia sem hesitar.
ResponderEliminarTambém eu. Acho que não se tinha sentado naquela cadeira.
É comum entre as elites portuguesas expurgar os interesses nacionais - não é de hoje!
ResponderEliminarAdoram estar com o que é tido por moderno e actual; p..e na intelectualidade predominante, e em permanência, se detecta a ânsia de estar 'bem acompanhados' - detestam estar com eles mesmos e a resultante mental é a permanente indigência do deslumbre do Latão que sempre confundem com o Ouro.
[Na 1ª Guerra adoravam dividir-se entre Anglófilos e Germanófilos; na 2ª Guerra entre Aliadófilos e Eixófilos - aconteceu nesta, aparecer alguém na liderança nacional, que entendia que deveria ser - tão só - Português...]
Facilmente conhecedores desta predisposição congénita deste escol impante, os interessados nos interesses nacionais esbracejam sempre umas cenouras... ávidamente devoradas pelos ansiosos anseios dos sempre modernos escóis portugueses. E estão sempre predispostos a pensar em cenouras...
O curioso é que na 1ª GG, mesmo divididos entre anglófilos e germanófilos, quando o país entrou na guerra, ninguém questionou que o interesse nacional fosse ganhá-la.
ResponderEliminarIsso é coisa mais recente...
Gostei dessa de ninguém lhes ter perguntado se queriam ser Portugueses.Aqueles fassistas do caraças.E os fassistas de agora que não perguntam aos Portugueses se querem continuar a distribuir a Nacionalidade por quem a já rejeitou...
ResponderEliminarEntão essa de entregar as ilhas encontradas desabitadas...pelo mesmo princípio a Linha de Sintra já pode pedir a independência...
ResponderEliminarE Caro Muja,
ResponderEliminarNão esqueça qual era o interesse nacional em causa na Primeira Guerra: a defesa do Ultramar. Como na altura era o Afonso Costa, não era fascismo.
Miguel D
A carta a Garcia que traziam todos os democratas que regressaram a 25 era só uma:entreguem tudo...
ResponderEliminarAqui a tropa quase nada podia fazer...
E fizeram as entregas da forma mais vergonhosa que poderia ter havido:com expulsões em massa e confisco de bens
Bem agora é só dar casa social e RSI`s aos desiludidos e arrependidos...
Traidores uma vez traidores sempre...
ResponderEliminarDragão,
ResponderEliminarnão entendi se entendeu o exemplo que descrevi como um absurdo. (Parece-me que sim) Espero que um dia possa perder tempo, nem que seja para "deslustrar" a coisa. Acredito que de momento seja um desvio nos temas que tem abordado. Temas que tenho seguido com prazer, embora não concordando com uma sistematização que parece surgir timidamente.
Tiago
Só me dá razão oh Muja. A conversa é estéril. VC acha q o interesse nacional é uma coisa, e eu, acho outra. A opinião, porém, não vale nada. Nem a minha nem a sua. O q vale são os princípios. Morais.
ResponderEliminar.
Fazer a guerra para defender os nossos dos estrangeiros é uma coisa, faze-la contra os nossos é coisa distinta.
.
VC nunca vai saber se o povo angolano queria a independência ou não. Como nós a quisemos em tempos. Eles também teriam esse direito, ou será aspiração exclusiva nossa?
.
Ora, se é legitimo aspirar à independência, se os ventos sopravam nesse sentido, a solucao mais inteligente seria submeter o assunto aos interessados. E, note bem, se Salazar tem feito isso, na volta ainda teríamos as colonias. De outro modo, à Rambo, não se vai a lugar algum. Pode-se submeter um povo por uns tempos, nunca para sempre.
.
Rb
Só me dá razão oh Muja. A conversa é estéril. VC acha q o interesse nacional é uma coisa, e eu, acho outra. A opinião, porém, não vale nada. Nem a minha nem a sua. O q vale são os princípios. Morais.
ResponderEliminar.
Fazer a guerra para defender os nossos dos estrangeiros é uma coisa, faze-la contra os nossos é coisa distinta.
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VC nunca vai saber se o povo angolano queria a independência ou não. Como nós a quisemos em tempos. Eles também teriam esse direito, ou será aspiração exclusiva nossa?
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Ora, se é legitimo aspirar à independência, se os ventos sopravam nesse sentido, a solucao mais inteligente seria submeter o assunto aos interessados. E, note bem, se Salazar tem feito isso, na volta ainda teríamos as colonias. De outro modo, à Rambo, não se vai a lugar algum. Pode-se submeter um povo por uns tempos, nunca para sempre.
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Rb
Que eu saiba, Portugal não está em guerra com os "nossos" desde 1834.
ResponderEliminarPor isso disse que esta conversa é para portugueses. Os outros não a querem - talvez nem possam - entender.
Miguel,
ResponderEliminareu não esqueço. Mas pelos vistos também havia muito na altura quem se esquecesse.
A Inglaterra fartou-se de admoestar os governos (e é mesmo esse o termo, paternalista) para cuidarem do que era nosso. Os partidários da guerra quiseram a toda a força enviar homens para a Flandres em vez de prover adequadamente a defesa do Ultramar.
Mas o que importa ao caso é que uma vez na guerra, na Flandres ou no Ultramar, toda a gente queria a vitória porque é evidente que a vitória é o primeiro interesse numa guerra. Seja ela imposta (como no caso do Ultramar) ou não (na 1ªGG).
"Se Portugal assume hoje lugar de destaque no calendário diplomático das nações, não o deve só à sua posição geográfica e marítima. A razão é outra, não menos digna: o exemplo honesto do seu viver; a clareza da sua administração; a seriedade dos seus princípios de franca e leal colaboração e cooperação pela paz e pelo progresso da civilização", Sir Winston Churchill, 'Salazar, rebuilder of Portugal' (1943)
ResponderEliminar> Os EUA há muito que se deixaram capturar por crápulas da pior espécie.
ResponderEliminarHmm ... 1776 ?
("Haha, only serious." Uma república de proprietários nunca foi boa de assoar.)
Tiago,
ResponderEliminaro que escrevi aplica-se per si, independentemente de ter entendido ou não.
Dragão prevenido vale por dois.
:O))