«Marcelo Caetano é um belo espírito, tem grandes faculdades de trabalho, é muito culto e sabedor; mas não é flexível, não suporta a contradição mesmo em privado, não aguenta uma ideia oposta, e perde facilmente a moral, apossando-se de pânico e tendo então a tendência para seguir a corrente geral.»
Marcelo Caetano era um excelente académico, um emérito professor e um distinto chefe de família. Mas uma péssima escolha para suceder a Salazar. A situação não requeria brilhantismo intelectual, exigia, sobretudo, firmeza de carácter e tenacidade de espírito. Caso contrário, em vez dum fortalecimento do empreendimento nacional, ocorreria fatalmente uma transição. Como, de facto, aconteceu. Num certo sentido irónico da história, o monge cedeu passo ao pontífice - a primavera Marcelista fez a ponte - e o prelúdio - para a primavera abrileira. De algum modo, a sua substituição do Estado Novo pelo Estado social antecipou o Estado Socialista E em vez de evitá-lo, como em tese pretenderia, apenas o apressou e lhe pavimentou o caminho. Já que ao pretender, muito hegelianamente, antecipar-se-lhe na síntese, afinal, apenas, lhe anteparou o desenlace marxista.
Para alguns requintes dessa transição, socorro-me do relatório de um homem insuspeito de simpatias esquerdistas - Jaime Nogueira Pinto, no seu "O Fim do Estado Novo e as origens do 25 de Abril" (obra que ainda para aqui tenho, oferecida e autografada pelo próprio):
«Um dos primeiros personagens a dar sinal das novas disposições foi o ministro do interior. Gonçalves Rapazote, o qual, menos de um mês após a subida de Marcello ao poder declarava, na posse do novo governador civil de Beja, que "a árvore que cresceu e enraizou nestes 40 anos" iria "receber uma poda cautelosa e prudente", anunciando em florido estilo, a "Primavera política" que estendia as suas delícias sobre o país.
(...)
Manuel Maria Múrias era um jornalista nato. Autodidacta, como gostava de se gabar, possuía um estilo rico, virulento, desassombrado, que o tornava temível na polémica. Suspeito de salazarismo e nacionalismo, foi eliminado da direcção do telejornal.(...)
Era presidente do conselho de administração da RTP João Duque, um nacionalista conservador, respeitado pela sua integridade e coerência. Com o advento de Marcello Caetano, Duque pusera o seu cargo à disposição do Governo. Entretanto, Marcello reiterava-lhe, pessoalmente, a sua confiança, insistindo para que ficasse. Mas, ao mesmo tempo, começavam a surgir para Duque, a nível superior e de serviços, certas dificuldades; e vinha a saber, que enquanto lhe diziam pra ficar, formulavam convites a outras personalidades para ocupar o lugar. O escolhido era Ramiro Valadão.(...)
É Valadão que Marcello, apesar das advertências e conselhos em contrário, vindos da sua própria entourage, vai chamar para dirigir o mais importante meio de informação do país e que regressa, triunfante. Valadão indicava, caso a caso, o tempo que teriam os ministros que eram bafejados, com mais ou menos filme. Vigiava-se escrupulosamente para que fossem cumpridas as suas instruções. O que nem sempre era fácil; havia, por exemplo, determinadas personalidades que não se mostravam nem mencionavam. Paulo Rodrigues, culpado do 'exílio' de Valadão [nos Estados Unidos], era uma delas. Adriano Moreiram, que se achava incompatibilizado com Marcello, era outro dos 'proibidos'. Como mais tarde Franco Nogueira e Kaúlza de Arriaga.
Ao mesmo tempo, o novo senhor do Lumiar ensaiava a 'liberalização' da sua casa, abrindo portas a intelectuais ditos de 'esquerda'. alguns dos quais tinham a dignidade de recusar. Outros, acediam gostosamente. Os reaccionários eram depurados sem aviso prévio, como sucedia a Eduardo Freitas da Costa.»
Isto serve apenas de pequena amostra. Poderia ficar aqui a debulhar páginas e páginas...
Não deixa assim de ser curioso que, quando no pós-25 de Abril se proscreve e interdita a "direita reaccionária" (tudo o que estivesse para lá do centro, era considerado fascista), apenas se estava, em certa medida, a confirmar e acentuar uma depuração que já vinha da primavera Marcelista. A única diferença é que o silêncio deu lugar ao léxico descabelado e o ostracismo político ao pelourinho ostensivo na comunicação social. E também não deixava de ser bizarro que aqueles que haveriam de "nacionalizar" a tordo e a direito, tivessem por premissa primordial a ilegalização dos nacionalistas e o descartamento a retalho da Nação.
Da mesma forma, muito do oportunismo, insectomorfismo e moral de gelatina a que assistiremos posteriormente nos grandes partidos ditos democráticos já se encontram aos molhos entre a camarilha que gravita em torno de Marcello, à pinga das simpatias e boas graças do mandarim. Este novo presidente do Conselho augura já, enquanto centro gravitatório, o secretário-geral/primeiro-ministro do futuro. De resto, muita desta fauna (se não em pessoa, seguramente por interposta descendência) transmigrará de armas e bagagens para o PSD, PS e CDS, onde, reencontra e reinstala mais que o tachismo de outrora, um devorismo à tripa forra, premiado com subsídio e bênção internacionais. Do melhor dos mundos pós-Salazar, e após uma breve contrariedade tumultuária, ascenderam, com fussanguice e diligência, ao oásis à beira-mal plantado. Só que doravante sem quaisquer peias, inibições ou escrúpulos com a pátria, o bem comum, ou quaisquer outros desses anacronismo que Salazar, mais pelo seu próprio exemplo e rédea curta do que propriamente por alguma espécie de mentalidade nacional profundamente arreigada, obrigava e rebocava, cada vez mais a contra-gosto.
Entretanto, esta corrosão e liquefacção interna era acompanha de uma pressão externa, permanente, incidiosa e asfixiante. Americanos, Russos e o próprio Vaticano remoçado patrocinavam a mudança e o advento dum novo tempo, telecomandando para o efeito uma panóplia de títeres, que iam desde o partido comunista e seus satélites aos católicos progressistas a papa milupa do jaez dum Alçada Baptista e outros bivalves que tais. Menos exuberantes, mas mais generosos e cirúrgicos, os américas iam adquirindo assets, no próprio aparelho de estado, desde os militares à própria polícia política. Por outro lado, dois outros grandes fenómenos iam contribuindo para o agravar do "estado de sítio": a guerra do ultramar e os movimentos migratórios/emigratórios. Aquela merece e exige um capítulo só para si; estes enxamearam, por um lado, a capital de massas alentejanas/ribatejanas para as indústrias (da metalurgia à construção), que facilitariam o recrutamento comunista e as acções de rua e controle da capital no pós-Abril; por outro, o princípio da deserção do interior no norte/centro do país e a inerente expatriação e estrangeiramento daquele que constituía o principal símbolo e baluarte moral do Estado Novo: o "bom povo rural". Os Bidonvilles de Paris e os bairros de lata de Lisboa atestam destes fenómenos paralelos que, por seu turno, indiciam falhas evidentes e, quiçá, fatais, na política interna dos fins do Estado Novo. Falhas de que o próprio Salazar suspeitava e se ia apercebendo, à medida que ia verificando a incompetência e ineficácia grosseiras de alguns daqueles que o rodeavam no próprio governo. Encontramos inúmeras referências disto no Diário de Franco Nogueira ( refiro apenas este exemplo fascinante: "Lisboa, 3 de Maio de 1966 - Conselho de Ministros. Carlos ribeiro, Arantes e Oliveira e Neto de carvalho foram violentos, rudes e mesmo cruéis nas suas críticas às estruturas administrativas portuguesas, às faltas, às misérias, às injustiças. Salazar ouvia tudo sem pestenejar. Depois do Conselho, em privado, o chefe do governo, a sorrir, confia-se-me assim: 'Deu-me vontade de lhes dizer: mas eu não proibi V. Excas de governarem bem e de tomarem as iniciativas apropriadas para evitar ou corrigir as faltas apontadas.' Sarcasmo sangrento - e delicioso."), como na correspondência de Pedro Teutónio Pereira. O certo é que o "bom povo rural", pelo contacto e contágio de urbes e úberes mais abastados, devem propaganda viva quer a uma "europeização", quer a "uma sovietização" (no caso do viveiro lisboeta). Havia também aqueles que migravam para África, mas esses não voltavam. Voltavam apenas os soldados, deslumbrados com Luandas e Lourenços Marques, mais desenvolvidos, liberais e trepidantes do que a própria capital do Império. E populações negras para com quem o Estado Português manifestava mais desvelo e preocupação do que para com o seu próprio interior metropolitano.
Assim, duma parte os relatos das maravilhas europeias onde portugueses famélicos encontravam a salvação, de outra as reportagens de delícias tropicais sustentadas pelo sangue dos filhos do povo (a burguesia regimental e outra tratavam de pôr os filhos a salvo na Paris Rive-gauche; e a academia militar atingia percentagens ínfimas de candidatos), foi inoculando os espíritos gerais (populares e não só) de um crescente ressentimento em relação ao sorvedouro ultramarino.
A ideia de que o Ultramar, jóia sobretodas preciosa para Salazar, bem vistas as coisas, não passava duma carga insuportável (e imoral) para a Metrópole, foi-se instalando muito antes do 25 de Abril. De tal modo que quando este eclodiu, todas as miras apontavam num único e congregante alvo: Descolonização. E era, exclusivamente, disso que se tratava. O resto era paisagem.
O trajecto do Estado Novo foi a todos os títulos notável e, direi mesmo, paradigmático em matéria de política externa. O mesmo não posso dizer no que respeita à política interna. E a prova que apresento, sobretodas, é que enquanto se combatia competentemente a subversão e respectivo húmus nutriente no Ultramar, permitia-se que ambos germinassem e proliferassem na metrópole. Falta de recursos ou falta de visão? Ou uma nação orgulhosamente só dirigida por um homem quase sozinho?
Salazar honrou o passado e cuidou do presente, mas não acautelou devidamente o futuro. Talvez porque este lhe causasse uma profunda antipatia, dados os parâmetros vilmente materialistas em que se anunciava e por toda a parte desfilava, fátuo e basofiante. Talvez porque, por un fatalismo intrinsecamente português, adivinhava que, fisesse o que fizesse, jamais poderia suceder a si próprio. Ou talvez ainda porque o presente nunca lhe tenha deixado grande margem de manobra para acautelar o futuro condignamente... Como a política externa sempre o distraíu soberanamente da política interna e da sua corte inexpiável e imarcescível de homúnculos, intrigas e grandes vaidades balofas. Embora, em contra-corrente com a generalidade dos portugueses, o estrangeiro sempre lhe tenha interessado mais para combater do que para copiar. E nisso compreendo-o bem: na santa guerra ao alógeno, um tipo até se esquece do almoço.
Entretanto, esta corrosão e liquefacção interna era acompanha de uma pressão externa, permanente, incidiosa e asfixiante. Americanos, Russos e o próprio Vaticano remoçado patrocinavam a mudança e o advento dum novo tempo, telecomandando para o efeito uma panóplia de títeres, que iam desde o partido comunista e seus satélites aos católicos progressistas a papa milupa do jaez dum Alçada Baptista e outros bivalves que tais. Menos exuberantes, mas mais generosos e cirúrgicos, os américas iam adquirindo assets, no próprio aparelho de estado, desde os militares à própria polícia política. Por outro lado, dois outros grandes fenómenos iam contribuindo para o agravar do "estado de sítio": a guerra do ultramar e os movimentos migratórios/emigratórios. Aquela merece e exige um capítulo só para si; estes enxamearam, por um lado, a capital de massas alentejanas/ribatejanas para as indústrias (da metalurgia à construção), que facilitariam o recrutamento comunista e as acções de rua e controle da capital no pós-Abril; por outro, o princípio da deserção do interior no norte/centro do país e a inerente expatriação e estrangeiramento daquele que constituía o principal símbolo e baluarte moral do Estado Novo: o "bom povo rural". Os Bidonvilles de Paris e os bairros de lata de Lisboa atestam destes fenómenos paralelos que, por seu turno, indiciam falhas evidentes e, quiçá, fatais, na política interna dos fins do Estado Novo. Falhas de que o próprio Salazar suspeitava e se ia apercebendo, à medida que ia verificando a incompetência e ineficácia grosseiras de alguns daqueles que o rodeavam no próprio governo. Encontramos inúmeras referências disto no Diário de Franco Nogueira ( refiro apenas este exemplo fascinante: "Lisboa, 3 de Maio de 1966 - Conselho de Ministros. Carlos ribeiro, Arantes e Oliveira e Neto de carvalho foram violentos, rudes e mesmo cruéis nas suas críticas às estruturas administrativas portuguesas, às faltas, às misérias, às injustiças. Salazar ouvia tudo sem pestenejar. Depois do Conselho, em privado, o chefe do governo, a sorrir, confia-se-me assim: 'Deu-me vontade de lhes dizer: mas eu não proibi V. Excas de governarem bem e de tomarem as iniciativas apropriadas para evitar ou corrigir as faltas apontadas.' Sarcasmo sangrento - e delicioso."), como na correspondência de Pedro Teutónio Pereira. O certo é que o "bom povo rural", pelo contacto e contágio de urbes e úberes mais abastados, devem propaganda viva quer a uma "europeização", quer a "uma sovietização" (no caso do viveiro lisboeta). Havia também aqueles que migravam para África, mas esses não voltavam. Voltavam apenas os soldados, deslumbrados com Luandas e Lourenços Marques, mais desenvolvidos, liberais e trepidantes do que a própria capital do Império. E populações negras para com quem o Estado Português manifestava mais desvelo e preocupação do que para com o seu próprio interior metropolitano.
Assim, duma parte os relatos das maravilhas europeias onde portugueses famélicos encontravam a salvação, de outra as reportagens de delícias tropicais sustentadas pelo sangue dos filhos do povo (a burguesia regimental e outra tratavam de pôr os filhos a salvo na Paris Rive-gauche; e a academia militar atingia percentagens ínfimas de candidatos), foi inoculando os espíritos gerais (populares e não só) de um crescente ressentimento em relação ao sorvedouro ultramarino.
A ideia de que o Ultramar, jóia sobretodas preciosa para Salazar, bem vistas as coisas, não passava duma carga insuportável (e imoral) para a Metrópole, foi-se instalando muito antes do 25 de Abril. De tal modo que quando este eclodiu, todas as miras apontavam num único e congregante alvo: Descolonização. E era, exclusivamente, disso que se tratava. O resto era paisagem.
O trajecto do Estado Novo foi a todos os títulos notável e, direi mesmo, paradigmático em matéria de política externa. O mesmo não posso dizer no que respeita à política interna. E a prova que apresento, sobretodas, é que enquanto se combatia competentemente a subversão e respectivo húmus nutriente no Ultramar, permitia-se que ambos germinassem e proliferassem na metrópole. Falta de recursos ou falta de visão? Ou uma nação orgulhosamente só dirigida por um homem quase sozinho?
Salazar honrou o passado e cuidou do presente, mas não acautelou devidamente o futuro. Talvez porque este lhe causasse uma profunda antipatia, dados os parâmetros vilmente materialistas em que se anunciava e por toda a parte desfilava, fátuo e basofiante. Talvez porque, por un fatalismo intrinsecamente português, adivinhava que, fisesse o que fizesse, jamais poderia suceder a si próprio. Ou talvez ainda porque o presente nunca lhe tenha deixado grande margem de manobra para acautelar o futuro condignamente... Como a política externa sempre o distraíu soberanamente da política interna e da sua corte inexpiável e imarcescível de homúnculos, intrigas e grandes vaidades balofas. Embora, em contra-corrente com a generalidade dos portugueses, o estrangeiro sempre lhe tenha interessado mais para combater do que para copiar. E nisso compreendo-o bem: na santa guerra ao alógeno, um tipo até se esquece do almoço.
Isto é delicioso, pá! Por uma razão: com estes argumentos penso que tenho mais razão. E vou explicar porquê, no local próprio.
ResponderEliminarAcho que esta análise que é ultra-conservadora peca por um defeito: não leva em conta o tempo que passa. E passa. Não é possível congelar uma época e tentar perpetuar o tempo com todos os ingredientes que dela fizeram parte.
ResponderEliminarE esqueces uma coisa importantíssima, apesar de falares no Vaticano II: a Igreja evoluiu para além do Varticano II. Muito para além do que pensava que poderia evoluir, mas ainda assim durante a década de setenta permaneceu inalterável nos costumes do povo português que conheço.
Foi depois, nos anos oitenta e noventa que o efeito deletério de certas novidades culturais se fizeram sentir e hoje a Igreja não tem a autorictas de outrora. E isso não é imputável aos herdeiros bastardos de Salazar mas ao tempo que passou nesse tempo e que ninguém controlava porque as coisas são mesmo assim.
O tempo de Salazar só foi possível porque havia outra época em que a Igreja também tinha poder espiritual e conferia ânimo às gentes.
ResponderEliminarIsso foi desaparecendo e a culpa não é da falta de ânimo.
Estou a gostar disto e do ping pong
ResponderEliminarJosé,
ResponderEliminareu faço sempre contas no fim.
De qualquer modo, não sei se o tempo passa ou nós é que passamos no tempo; nem sei se algo tem de mudar para que tudo fique na mesma. O que sei é que tu, especialmente tu, exactamente tu, não podes socorrer-te dessa figura de estilo porque precisamente ainda aqui há dias aqui proclamaste, com ar solene e altíssono, que a História tinha acabado.
Portanto se o fim da história é ao gosto do freguês, cada qual avia-se no seu balcão.
Aliás, se consegues proclamar o fim da história, mais facilmente podes arvorar a propriedade da razão em regime de monopólio, latifúndio ou até império celeste.
A História só acaba quando isto estourar e todos ficarmos em pó. E mesmo assim, há mitos e nreligiões que dizem que ainda não será assim.
ResponderEliminarA História que acabou foi a do modo de produzir bens e serviços.
Essa acabou porque não se inventou outra diferente e melhor do que a que temos.
Capital, modo de produção, meio de produção, mercado.
A História acaba aqui.
O tempo que passa ou o que nos vê passar é mesmo assim: modifica-se com o ar do momento.
ResponderEliminarE o ar do momento presente é puído e com vários resíduos artificiais.
É preciso ir ao tempo passado respirar ar fresco mas adaptá-lo ao presente.
O ânimo do passado é o mesmo de agora. Há é menos gente com isso.
Não, pá, isso não funciona assim. O futuro a Deus pertence. E a economia, embora mais do foro cornúpeto, ainda não tem essa autonomia tão peremptória.
ResponderEliminarQuanto ao ânimo, como parece não teres entendido a tese, transmite-se de cima para baixo. É necessário sempre alguém que se eleve acima da massa, da multidão. De baixo para cima, o que geralmente se transmite é a peste, a riqueza, o fumo... e também o medo. Sendo este o mais problemático e resulta, só aparentemente, de cima para baixo porque na verdade, quando assim parece, o mais baixo está por cima.
O ânimo não se transmite assim. Se fosse isso, não tinha havido revoluções para mudar de ânimo...
ResponderEliminarEmbora seja verdade que alguém disse que um rei fraco faz fraca a gente forte, isso é um dito de vate e do tempo dos reis e da ignorância generalizada e submissa.
Em 1968 Portugal já não tinha "rei" porque o tempo mudou. "E ela não voltou", ela, a incubadora de ânimo.
Num país em via de modernidade não deve haver "rei" forte mas sim ideias fortes, arreigadas a um tempo e a um modo.
Para mim esse tempo e esse modo, deve ir beber ao tempo de antanho, precisamente o de Salazar e Caetano.
Mas com nuances porque não é possível transmigrar desse tempo para o de agora, como se ainda lá se pudesse estar.
Poe isso é que digo que o tempo passou e agora é um novo tempo.
O português muda de ideias como muda de fato.
ResponderEliminarEscolhe o governo como escolhe o restaurante - onde houver mais gente amontoada é onde se come melhor.
Mais moderno que isso é impossível.
E ideias fortes não faltam. Instantâneas até. Peregrinas, quase sempre. Só que inversamente proporcional à sua intensidade, só mesmo a sua duração. Uma espécie de ideias-iogurte, com prazo de validade e tudo. Para espíritos ultra-pasteurizados.
Estes escritos do Dragão são verdadeiramente espectaculares e de complexa desmontagem pela relevância do conteúdo de cada parágrafo.
ResponderEliminarO português no tempo de Salazar e o português no tempo de Abril mudou como da água para o vinho. O Domingo no tempo de Salazar era um dia destinado à igreja, nos dias de hoje o domingo tem como destino o Shopping.
O português no tempo de Salazar poderia ser simplório mas era um povo que estava mais próximo com a sua alma e tradição. Actualmente uma grande maioria dos portugueses até parecem umas alminhas penadas que por aí andam e são uns dos povos mais depressivos do mundo.
"Escolhe o governo como escolhe o restaurante "
ResponderEliminarTirando os alemães e ingleses não vejo diferenças entre este "nosso povo" de agora e o desses países.
Provavelmente porque são educados do mesmo modo, ou seja, deseducados, particularmente pelas t
tv´s
ResponderEliminaro "desses países" refere-se naturalmente aos demais que têm uma "democracia" idêntica.
ResponderEliminarAliás, quem é que escolhe governos em Portugal, actualmente?
Que percentagem de povo é que vota?
É a maltosa escolhe o restaurante com muitos carros à porta, o clube que costuma ganhar o campeonato e os políticos que a propaganda diz que está a ganhar nas sondagens...
ResponderEliminarEm suma a malta gosta de estar com os vitoriosos
ResponderEliminarParece que sim. Na Regeneração quem ganhava as eleições era sempre o governo. E em 6 de Outubro de 1910 os todos os adesivos eram republicanos com pergaminhos. Com a abrilice os purgaminhos fizeram-se do melhor coiro.
ResponderEliminarPortugal acabou.