segunda-feira, fevereiro 09, 2015

A (sempiterna) Procissão dos Flagelantes





O postal que vou republicar de seguida, foi por mim escrito e aqui exposto em 01 de Novembro de 2012 (uma data curiosa, dia dos defuntos; bem apropriada, diga-se...) Vou republicá-lo porque é preciso dizê-lo, repeti-lo e tripeti-lo se necessário for até à exaustão. E se o lerem ou relerem com atenção vão perceber logo porquê. Além disso, eu podia reescrevê-lo doutra forma, mas duvido que o dissesse tão bem. Por conseguinte, aí vai...



Há marasmos mentais que eu, de todo, dispenso. Certas palhas de rebanho, em espécie de psico-ração de comveniência, essas, então, repugnam-se. Por exemplo, aquela muito fresca e repetida: a saber, que foi o socialismo que nos trouxe até aqui, a esta bela bancarrota nova e reluzente. Suponho que se referem ao "socialismo prático", do estilo União Soviética,  (e não ao socialismo angélico que, como todos sabemos, paira, sublime e diáfono, incólume a chacinas e genocídios, à espera da encarnação perfeita num qualquer amanhã chilreante). Este socialismo angélico, de resto (e não esqueçam o que eu ia dizer), é irmão gémeo daquele liberalismo inefável que também flana e flui, em subtil destilaria celestial, aguardando o dia da perfeita e não menos chilreante aurora. Para os seus adeptos e catecúmenos, o liberalismo puro nunca existiu na prática ( e por isso ele é eternamente puro): o que tem pululado e tripudiado pelo mundo é perversões, natural e fatalmente socialistas, daquela imaculada e pulcra essência. Certos espíritos menos benevolentes até já se interrogam se não derivará tudo duma má relação de ambos com a realidade: enquanto o liberalismo não vislumbra quaisquer orifícios nesta, o socialismo  aproveita e viola-a de todas as maneiras possíveis e imaginárias.  Voltando agora onde eu ía, terá sido mesmo através duma dessas maneiras, nitidamente imaginária, que acordámos, um belo dia, nesta esplêndida bancarrota. 
Ora, foi público e notório que o país, nos últimos decénios, se entregou a desregramentos mais que típicos dos antigos paíse socialistas, como, por exemplo (e só para citar os mais emblemáticos): orgias gerais de crédito bancário; consumo desenfreado de gadjets, bugigangas e artigos de luxo; importação desaustinada de tudo e mais alguma coisa; abolição eufórica de fronteiras;  cornucópia de televisões, revistas e jornais em torrencial dilúvio de toda a casta de incitamentos publicitários à ganãncia e luxúria épicas e salvíficas; liberdade de expressão em barda; subsídio generoso a toda a espécie de minoria da moda internacional,; imigração selvagem; destruição metódica e excternamente patrocinada de todo o aparelho produtivo; desindustrialização ufana; multipartidarismo infestante; parlamentarismo incontinente; turismo obsessivo;, agrofobia histérica; financeirização transcendental; etc, etc. Em suma e síntese: como podemos constatar, a exacta réplica de todos os vícios e taras soviéticas (ou de quaisquer dos seus satélites de leste), não é? Ou mesmo de Cuba, da Albânia, da Coreia do Norte, da China Maoista, senão mesmo do Camboja de Phol Pot!... Ressalta à vista e entra pelos olhos a dentro. Especialmente, untado a vaselina, pelo mais cego de todos!... Porque, repito e trepito, como todos estamos cansados de saber, à data do colapso do paraíso terreal socialista, toda aquela gente, um pouco à semelhança do Império Romano lá das antiguidades, chafurdava em toda a variedade de orgias, sobretudo consumistas, opinorreicas e plutofaccientes. Até metia nojo!
Bonito; e segundo os entendidos, qual o principal factor para esta nossa queda ininterrupta no pecado socialista em larga escala?  É que temos uma constituição socialista, proclamam eles, esgazeados e com a coifa ao desalinho; assedia-nos um tabu legal e atávico  que nos inibe de abraçarmos os redentores hábitos capitalistas e nos constrange, tirânico, ao caminho da perdição. De guarda a este hediondo santuário do mal, patrulham demónios e ogres retintamente socialistas, desde o patriarca Soares até ao último guincho Sócrates, ou seja, desde o proto-socialismo até ao metro-socialismo. O mesmo Soares que, nas suas próprias palavras, guardou o "socialismo na gaveta" e tirou a democracia liberal e palramentarista do armário, onde ela estava escondida desde o 25 de Abril, cheia de medo dos comunistas e à espera que a descolonização passasse; e o mesmo Sócrates cujo paradigma inspirador era um marxista-leninista empedernido chamado Tony Blair, imagine-se. Conseguem imaginar? E já agora, imaginem também a mesma choldra mascarada de povo, entre eleiçados e eleiçores (representação, babam eles), que se entregou a todos os desregramentos, que converteu todas as leis e códigos legais numa nova espécie de papel higiénico regimental, que se marimbou para quaisquer regras milenares do civismo, vá lá, só mais um pequenino esforço, e tentem imaginar toda essa ciganagem cheia de inibições com a Constituição. A cultivar traumas e stresses...fobias angustiantes... O Código Penal não os inibe; as próprias leis da natureza não os inibem, o Diário da República funciona por conta, balcão, recreio e encomenda. Mas a Constituição inibe-os, coitadinhos. Revista e descafeinada, podada e recauchutada, ainda os inibe. Demove-os. Causa-lhes aquela disfunção eréctil mental em que vivem diante da realidade. Com a inteligenciazinha mirrada, a moral descartável e a coluna vertebral gasosa, assistindo, frustes e gelatinados, às contínuas violentações socialistas. A constituição é que não os deixa, é que os impede, é que os obriga a ficar assim, hirtos, meros portadores dum acessório inútil, triste, pendente.. Todavia, uma gaitita mágica, fadada misteriosamente, intimamente agregada ao futuro da nacinha.  Este só se endireitará quando eles endireitarem aquela. Mas primeiro, detalhe crucial, condição sine qua qua, há que lhes tirar a Constituição da frente. Porque então, então sim, livres dessa maldicinha, a realidade vai ver e, sobretudo, eles vão conseguir ver e encarar a realidade.Sem complexos. E a economia vai trepar nos gráficos à medida e ao ritmo com que a sapiência protuberante for capaz de lhes trepar na barriga, à conquista do umbigo. E ninguém duvide: no mínimo, será vertiginoso!...
Só que até lá vamos penar. Vamos pagar. Vamos expurgar-nos e penitenciar-nos nesta procissão de flagelantes. Temos que mostrar ao mundo, aos mercados, às feiras, às praças e até aos lugares de hortaliça que estamos arrependidos, compungidos, sinceramente pesarosos de todos este tempo estéril em que nos entregámos, de corpo e alma, ao deboche socialista. Na esperança paciente e godótica do dia radioso e deslumbrante em que a inteligência solene dos nossos formidáveis gestores ganhe vigor vertical e deixe de apontar, murcha  e engelhada, ao olho do cu. Da Europa tanto quanto da tribo.

9 comentários:

  1. eehhe

    Este foi visionário

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu ando há mais de um decénio a bater na mesma tecla. Porém, embora a porcaria permaneça e apodreça cada vez mais, o facto é que os zombies de serviço vão mudando. A extrema esquerda serviu a seguir ao 25 de Abril. Finda a colonização, grande parte dessa gente migrou para os partidos do arco do poder; uma segunda fracção passou a trabalhar nas "causas fracturantes" (um frete internacional, mas de alcance limitado; e uma desmoralização mais social que nacional). Para o ataque final à nacionalidade, à independência e a qualquer hipótese de recuperação era necessária uma nova tropa de choque, completamente apátrida, associal, amoral e assimilada pelo cratos globalizante. Aqui na blogosfera, podes testemunhá-los em acção no Blasfémias, no Insurgente e noutras suiniculturas do mesmo jaez. Aí, não por acaso, encontras chusmas de micro-grunhos frenéticosa e ruidosos devidamente enquadrados por transfugas da extrema-esquerda abrileira (a restante fracção). A serpente, para garantia de êxito, distribui a postura por vários ninhos. Mas os verdadeiros extremistas da actualidade, os mais perigosos (até porque estão no governo) são os últimos. Ainda para mais porque substituem a extrema-esquerda tradicional, bramando aparentemente contra ela
    Continuar a mascar a treta do direito-esquerdo que pura e simplesmente já não tem qualquer consistência com a realidade, é um perfeito absurdo. Bem vinda ao século XXI.

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  4. ":O)

    Quando foi daquelas anormalidades dos hoolighans à Guy Fawkes tu bem mandaste a boca que era melhor ter respeitinho porque podiam vir a ser os idiotas úteis e líderes de amanhã.

    Quanto ao resto vou mais pelo ponto de vista do José porque existe essa coisa de "povo" e esse não está no governo.

    Também não faço ideia se ainda existe.



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  5. onde se lê "colonização" deve ler-se obviamente "Descolonização"...

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  6. O panorama político Nacional e mesmo Europeu anda nas ruas das amarguras.

    A verdade anda longe da política o que nos leva à desgraça moral, económica e financeira.

    Vale a pena destacar a coragem desta senhora que parece querer remar contra a maré...

    Le Pen says Washington attempting to start ‘war in Europe’

    http://rt.com/news/230503-le-pen-us-lackey/

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  7. A mim não me faz diferença que os 'globalization-lovers' fiquem na sua... bom, desde que... respeitem os Direitos dos outros, e vice-versa!...


    Há e tal, para não dizerem que sou o cassetecarvalhas, não vou acrescentar mais nada.

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  8. Vivendi,

    para os américas é simples: ou explodem com os outros ou implodem. O petrodólar já viu melhores dias, a Dívida deles está à beira da insanidade e a bolha gigante está por um fio. Eu diria que eles têm até Outubro para atearem o fogo.

    Pvnam,

    vossência esteja à vontade. É o nosso franciscano de estimação. Embora impraticável, essa sua solução não é destituída de moral: o tubarão branco pode nadar na piscina desde que não morda ninguém. Já só nos falta arranjar um modo adequado de convencê-lo disso.

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