domingo, janeiro 25, 2015

Disfonia das Quatro Estações



Antes que me esqueça, há um rectificaçãozinho que, em termos históricos, compete fazer: Não há um Portugal antes do 25 de Abril e um Portugal depois do 25 de Abril. Em bom rigor, há dois, antes e depois. Ou seja, quatro. Situando: Um Portugal antes de 27 de Setembro de 1968; um Portugal entre esta data e o 25 de Abril de 1974; um Portugal após o 25 de Abril; e um Portugal pós 25 de Novembro de 1975. chamemos-lhes, respectivamente, Fase 1, fase 2, fase 3 e fase 4, para facilitar a exposição.
Na fase 2, tentou enterrar-se a fase 1 e plantar-se sobre ela uma quimera.
Na fase 3, tratou de  liquidar-se o império e escavacar a quimera.
Na fase 4, absorveu-se a fase 3, e recauchutou-se a quimera a expensas externas, o que, como era mais que óbvio, só podia redundar na dissollução do país.
Tudo isto traduzido em termos mais poéticos, ou meramnete pictóricos: À primavera Marcelista, seguiu-se o verão Comunista, donde amadureceu o outono capitalista e agora, com a fatalidade das estações, aguarda-nos o inverno...  ainda não se sabe bem de quê, mas, seguramente, será rigoroso. 
Bem avisaram os antigos que o tempo é circular. Estamos de volta a Salazar? Não, estamos de volta a 1580. Somos pequenotes, mas gostamos de viver à grande. Viver e, mais ainda, morrer, pois então. Um alcácer-quibir de larvas mercantis e consumistas, eu sei, não é bem a mesma coisa que um Alcácer-Quibir de guerreiros. Mas, dentro do microcosmos fétido, foi o que se pode arranjar... E ao menos o Ricardo Salgado não desapareceu nas areias do deserto, para nos vir assombrar durante os séculos vindouros. 


PS: Temos o monstrengo, é certo, mas esse também já não nos assusta: habituámo-nos a ele de tal modo, que até o elegemos para a presidência desta cegada. É, assim, uma espécie de monumento vivo ao nosso naufrágio colectivo. Simbolicamente, instalado no mesmo e preciso local donde, há quinhentos anos, partiram as caravelas - Belém. 

PS 2:: Quanto a nós, não, francamente não sei, quanto demora ainda até ficarmos exaustos... de ser a antítese de nós próprios.

3 comentários:

  1. hehehe.

    Escrita clara como a água.

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  2. Só uma ressalva:

    Capitalismo. O que significa esse termo para o Dragão?

    Considera que havia capitalismo antes do Liberalismo?

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  3. Cito uma definição que me parece a mais feliz e com a qual, em grande parte, concordo:
    «O capitalismo não é nem uma pessoa nem uma instituição. Não quer, nem escolhe. É uma lógica que age através dum modo de produção: lógica cega, obstinada, de acumulação.»

    O capitalismo, por isso mesmo, é a Idade Moderna por antonomásia. Um dos grandes pais do liberalismo (e, por inerência, mullah do capitalismo) é Locke. Que, na mesma penada, é quem prescreve, em larga medida, a receita que será aplicada na forma de Revolução Francesa.

    O conceito moderno de "liberdade" não nasce de Kant, mas de Locke.

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