quarta-feira, outubro 31, 2012

Sísifo revisitado



Qual é a saída alternativa num beco sem saída? Qual é o descaminho alternativo a este descaminho? Qual é o remédio alternativo ao arsénico? Tudo formas perversas de colocar uma pseudo-questão. Na realidade, não existe caminho alternativo a uma ausência de caminho, não existe direcção alternativa a uma ausência de direcção, como não existe sentido alternativo no reino absurdo, que é como quem diz, no reino do sentido nenhum.
Ora, o domínio  da pseudo-democracia (e toda a democracia realizada até hoje manifesta esse pseudonismo, dado que a república angélica que pressupõe não corresponde, nem de perto nem de longe, àquela que opera na realidade) coincide invariavelmente com esse império do absurdo. A ausência de sentido, todavia, não impede a existência de mandantes. Cada mandante, no prazo que logra e entretece, instaura o pseudo-sentido que muito bem entende - o pseudo-caminho, a pseudo-direcção, o pseudo-remédio. E, em simultâneo, por hábito e perversão intrínseca, proclama não apenas a excelência fatal desse des-vio (por onde trans-viaja),mas,sobretudo, a sua unicidade incontestável. Precisamente porque,  ao contrário da natureza, da realidade e até da lógica racional comezinha, no absurdo não ocorrem alternativas: cada caminho é único. A escolha é impensável - o absoluto e o instante entresgotam-se e absorvem-se. Tal qual Sísifo exemplifica pela eternidade.
A nós compete-nos ir rebolando o pedregulho da crise e do défice.

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