sexta-feira, maio 16, 2008

Já não há Big-Bang (rep)



É uma coisa que se sabe desde 2004, mas que, pelos vistos, como quase todas, escapou à lobotomia pinçante dos nossos talibus cienticoisos:

«Astronómos recriam «o choro do nascimento do universo»
Astrónomos norte-americanos recriaram os sons do início do Universo, demonstrando que este não nasceu em resultado de uma explosão, mas na sequência de um tranquilo sussurro, que se transformou num longo rugido.»

Hollywood está em pânico. Já tinham argumento, produtores, película, o filme ia avançar, e afinal não há explosão. Em vez do Big-bang, parece que houve um Litle-ssshhh. Com a explosão era fácil: enxertava-se a perseguição automóvel, os tiros de rajada, colisões em série à mistura com catástrofes naturais, uma conspiração externa, buracos negros demoníacos, anti-matéria terrorista, era um sucesso de bilheteira garantido. Do Big-Bang ao Bang-bang era um instante. A América estava em perigo logo à partida, no seu momento originário, prototípico. No fim Schwarzeneger vencia, tocava o hino. Assim, quem é que está interessado em vagidos? Está bem que depois sempre vem o rugido, e um rugido já é qualquer coisa, sugere algum tipo de bestialidade assustadora, podem introduzir-se uns monstros alienígenas, efeitos especiais, demónios ou fantasmagorias do Outro-Mundo, mas a grande explosão, o grande efeito inicial, a América Primordial já se perdeu. As perseguições entre cometas e fragmentos astrais a alta velocidade, as emboscadas da anti-matéria nos grand-canyons cósmicos, os raides de gases tóxicos, os cercos ululantes às caravanas de aminoácidos já não se conseguem. Perde-se a verosimilhança, o suspense, a surpresa. É fraca compensação. O mercado americano não vai nisso: adora, acima de tudo, ver explodir coisas. Contemplar cacos a voarem em todas as direcções.
Todavia, Mark Whittle, o astrónomo peregrino, deixa uma réstia de esperança. Diz ele: «Ao ouvir estes sons, posso dizer que o Universo é como um instrumento musical de má qualidade».
Portanto, ou eu me engano muito, ou vem aí mais um musicóle!...

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