«Compreendo mal a sua ambição de fazer nome numa época em que o epígono é de preceito. Impõe-se aqui uma comparação. Napoleão teve, no plano filosófico e literário, rivais que o igualaram: Hegel pela desmesura do seu sistema, Byron pela sua irregularidade, Goethe por uma mediocridade sem precedentes. Nos nossos dias, seria em vão que partiríamos à procura dos equivalentes literários dos aventureiros, dos tiranos deste século. Se, politicamente, demos provas de uma demência antes de nós desconhecida, no domínio do espírito revolvem-se apenas pequenos destinos; nenhum conquistador da pena; nada para além de abortos, de histéricos, casos sem mais nada. Não temos e não teremos nunca, segundo receio, a obra da nossa decadência, um Dom Quixote no Inferno. Quanto mais os tempos se dilatam, mais delgada se torna a literatura. E é como pigmeus que nos precipitamos no Inaudito. (...)»
-E.M. Cioran, "A Tentação de Existir"
Parece-me uma perífrase para uma simples sentença: no século vinte, a realidade, tanto quanto irrisar a ficção, evadiu-se dela.
E o Vinte e Um promete enredos geopolíticos ainda mais delirantes. O que, quase aposto, resultará, por arrasto, em que os literatos, mais que jóqueis da frioleira, devirão objecto de entomólogos. O que, sem sombra de dúvida, até terá a sua beleza... O Saramago ou o Antunes, por exemplo, depositados no Panteão fatalmente, mas não num túmulo: num frasquinho de álcool.
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