Começo por dizer que não simpatizo minimamente com esbirros. As polícias são instituições modernas prometidas aos mais lúgubres experimentalismos e instrumentalizações. Isto não invalida o reconhecimento da função social destas coorporações. Se não existisse a polícia, provavelmente, o canibalismo já teria descido da economia aos restaurantes. Por enquanto só ainda vai nos mercados. Mas é manifesto: perdido o medo ao inferno e às respectivas penas resta o medo à polícia e aos tribunais. Aquele, aliás, veio, sistematicamente, sendo substituído por este. Se repararmos com atenção, os terroristas do nosso tempo, para efeitos concretos, fazem as vezes dos súcubos, íncubos, bruxas, judeus e demais hostes satânicas da Idade Média. E a Nova Igreja a que chamam Estado - o Ídolo Frio de que falava Nietzsche -, aposta num policiamento cada vez mais concentracionário e intrusivo das multidões, dos indivíduos e, por herança preciosa, das consciências. A pretexto, como é da praxe, duma luta contra a intrusão de entidades invariavelmente híbridas, misto de demoníaco e fantasmagórico.
Resumindo, o alienígeno tenebroso continua à solta, à espreita, e neste parque infantil onde nos apascentam, para efeitos de vigilância, o esbirro de Deus cedeu a vez ao esbirro do Estado. Quer dizer, para o que dantes desempenhava o pastor humano, agora basta o cão polícia. Não abona muito da saga mental cá da rapaziada, pois não. E para agravar a vergonha, calcula-se que em breve o cão será substituído por um robot. Chamamos progresso à desumanização. Certo é que a máquina sairá ainda mais barata que o animal. E o medo, suspeito bem, é o lubrificante dos ogres que por aqui se abastecem.
Posto isto, vamos à banalidade quotidiana que aqui nos traz.«O director nacional adjunto responsável pela Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupeacientes (DCITE) da Polícia Judiciária, o inspector coordenador José Brás apresentou a demissão, na sequência do escândalo dos desaparecimentos de dinheiro apreendido a traficantes de droga. »
Cá está mais um bom motivo de reflexão.
É só na mente das crianças e dos ingénuos compulsivos que os países se regem pelas leis escritas nos Códigos ou constituições. Como em tudo na vida, a tese e a prática não coincidem. O conceito e o preceito divergem todos os dias. As ilações são óbvias: o senhor inspector-coordenador e todos os seus subordinados deviam saber que neste país desviar dinheiro dos traficantes é um acto da maior gravidade e infâmia. Ao contrário do dinheiro dos contribuintes.
Ou visto doutro prisma: uma vez apreendido, o dinheiro dos traficantes transforma-se em dinheiro dos contribuintes, pelo que só pode ser desviado, delapidado, malbaratado ou refundido por agentes devidamente autorizados. Quer dizer, eleitos.
A cleptocracia tem regras. E hierarquias. Não - ou pseudo, se tanto - celestiais.
Os segredos que a lingua nos revela???
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?
v=C50P1wTKCB8
Alberto, a luta e... a mulher do outro.
http://www.youtube.com/watch?
v=OXyFVRhF7Oc
Esqueci-me :(
ResponderEliminarCarlos
Isso, assumindo que os "traficantes" são mesmo traficantes, e não "arguidos" - sabe, meu caro Dragão, as posses são confiscadas à entrada...
ResponderEliminarNão há por aí um site online de denúncia anónima de "traficantes", "políticos corruptos" e "coisas do género"? Fazíamos queixa do parlamento em peso! O dinheiro que não entrava para os cofres do Estado! A convergência europeia, a convergência europeia!!!!
ah..... (suspiro)