Não me surpreende. Suspeito que tem a ver com "políticas estratégicas". Em Espanha - baldio ancestral que devíamos invadir e explorar, não me canso de dizer -, por incrível que pareça, existe uma estratégia de "criação de emprego". Em Portugal, pelo contrário, impera uma multiplicidade estridente de esquemas, engenharias estatísticas, teses e expedientes, quase todos peregrinos, de combate ao desemprego. Quer dizer, enquanto em Espanha a preocupação fulcral é criar emprego, em Portugal o desígnio capitoso é dar cabo do desemprego.
O resto deriva por analogia. Senão, reparem: assim como a direita barbie confunde "criar riqueza" com "criar ricos", também a esquerda barbie (passe o pleonasmo), sempre a reboque das suas ideias efervescentes e ultra-pasteurizadas, baralha "dar cabo do desemprego" com "dar cabo - literalmente - dos desempregados". Para este digníssimo efeito, e num afã onde os imperativos da agenda absorvem os da realidade, tem vindo a concentrar-se em dois tipos de medidas campeãs, qualquer delas a pingar de exuberante: extermínio e deportação. Nem mais. No primeiro caso, evitando que os desempregados se reproduzam - o que diligencia através, entre outras, duma campanha particularmente buliçosa, subsidiada e festiva de incitamento ao embriocídio sumário, por parte das desempregadas, esposas, noivas ou namoradas de desempregados e mal vestidos (ou relacionados) em geral. No segundo, através da promoção metódica, sistemática e categórica à emigração forçada dos Sem emprego. Nomeadamente para Espanha. Onde, como é bem de ver, os vuestros hermanos, encantados da vida, matam dois coelhos duma cajadada só: com o nosso desemprego desenvolvem novos empregos; através dos novos-empregados criam novos ricos - tudo isto a um ritmo e razão proporcionais ao nosso êxodo.
Sim, eu sei, seria o melhor dos mundos, não fora um problemazinho recalcitrante - deste governo, como dos anteriores: é que produzem novos-desempregados a uma velocidade e quantidade superiores à daquelas com que exterminam, esterilizam e expulsam os antigos. Se a ideia, depois de vender o país, é vender ou alugar os seus habitantes, ao menos tratem de controlar a produção e não exportar à maluca, o que só barateia o produto e nos coloca, fatalmente, ao preço da uva mijona.
Das três, uma: ou é da pulhice, ou do absurdo, ou da incompetência. Mas que é uma tirania, é.
PS: A minha ideia era que os invadíssemos para fazermos deles nossos escravos. Mas debalde prego. Porque, em nome do progresso, da modernidade e da mercearia mental, a ideia que prevalece é a de os invadirmos para sermos escravos deles. E, assim, dessa forma indigente, em vez de tomarmos posse do baldio, tornamo-nos, isso sim, baldios dele.
Definição de serviço e administração pública em Portugal - Orda de gente especializada em fazer tudo para não fazer nada.
ResponderEliminarEssa é um pouco como a própria definição de "especialista" (segundo a ciência moderna): "um tipo que sabe quase tudo sobre quase nada".
ResponderEliminarUm texto genial.
ResponderEliminarObrigado pela existência.
Blógicas saudações