«O problema das origens da Maçonaria, e sobretudo do Grau de mestre, que é o seu fulcro, é confuso e obscuro ao último ponto: ninguém, fora ou dentro da Ordem, se pode orgulhar de ter achado para ele uma solução, simples ou composta, que satisfaça senão a quem a deu. Uma coisa, porém, se pode afirmar: a Maçonaria não é uma ordem judaica, e o conteúdo dos graus fundamentais, que vulgarmente chamam simbólicos, não é judaico em espírito, mas só em figura. Se se quizer dar um nome de origem à Maçonaria, o mais que poderá dizer-se é que ela é, quanto à composição dos graus simbólicos, plausivelmente um produto do protestantismo liberal, e, quanto à redacção deles, certamente um produto do século dezoito inglês, em toda a sua chateza e banalidade. O quadro judaico dos três graus e o cenário judaico do drama do terceiro podem ser considerados naturais em uma terra e um tempo protestantes. O protestantismo foi, precisamente, a emergência, adentro da religião cristã, dos elementos judaicos, em desproveito dos greco-romanos; por isso se serviu ele sempre abundantemente de citações, tipos e figuras extraídos do Velho Testamento. Ninguém crê, porém, ou diz que a reforma, pense-se dela o que se pensar, fosse um movimento judaico.(...)
Quanto ao idealismo social - isto é, aqueles princípios de radicalismo social que habitualmente se manifestam pelo lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" do místico cristão Saint-Martin -, ele não é só judaico, nem, nas suas origens europeias, precisou do judaísmo para nascer. O radicalismo social europeu nasceu, como doutrina, de remotas especulações gregas, transmitidas e reforçadas pelas especulações (tão frequentemente anti-monárquicas) dos escolásticos; nasceu, como facto, da normal reacção humana contra as várias tiranias da Europa, auxiliada espiritualmente pelos princípios sociais cristãos, tais como os Evangelhos os revelam. As doutrinas do Cristo, se as não interpretarmos mística ou simbolicamente, são plenamente anarquistas. Assim, o radicalismo social só pode dizer-se judeu no sentido em que o cristianismo é judeu.
Existe, contudo, um radicalismo social puramente judaico, e, coincidindo ele com o radicalismo social de origem europeia, é evidente que um ao outro se auxiliaram e auxiliam, se estimularam e estimulam. O radicalismo social judaico tem, porém, uma origem diferente da do radicalismo social de Europa.
O idealismo social dos judeus é, cumulativamente, uma saudade e um ódio, ou, mais propriamente, um saudosismo e uma defesa. A ânsia da pátria perdida assume necessariamente a forma da ânsia pela presumível forma original, patriarcal e simples, dessa mesma pátria; e o contraste, tanto entre a suposta liberdade dessa vida primitiva e a sujeição constante do povo judeu pelos povos cristãos, como entre o suposto judaísmo típico dessa vida e o suposto cristianismo típico da presente, faz com que, de dois modos, o idealismo judaico assuma um carácter igualitário, e esse igualitarismo um carácter místico, pois procede de um sentimento e não de uma ideia. De aí a sua intensidade íntima e o seu formidável poder emissor.
O que mais claramente prova isto é que esse igualitarismo místico se vê entre aqueles judeus que mais sofrem a opressão quotidiana, social ou política, da civilização estranha em que existem. São por isso os judeus orientais, e maximamente os judeus russos, que albergam, nutrem e espalham o igualitarismo como doutrina. Fazem-no sobretudo, como é natural, onde encontram para isso ambiente, e esse ambiente é fácil entre povos meio selvagens como o russo, ou entre as camadas meio selvagens como são, pela barbárie da semi-ignorância, os operários de todo o mundo. O comunismo de hoje - que, como ideia, só os idiotas sabem o que é - é o produto híbrido, e por isso estéril, do misticismo judaico e da estupidez europeia. Não esqueçamos: e da estupidez europeia.»
-Fernando Pessoa, "Prefácio a Alma Errante (de Eliezer Kamenezky)" , Lisboa, 1932
o fernandinho, quando se cansava das masturbações provocadas pela costureirinha, virava o seu platonismo para outro lado mas o resultado acabava sempre o mesmo
ResponderEliminarUm comentário dessa categoria transporta-me a um entusiamo avassalador. Vou propor uma daquelas microcausas (neste caso, macro-micro) na blogostérica:
ResponderEliminarDesinstale-se o Fernando Pessoa dos Jerónimos e instale-se lá o Timshel. Ao som dos Pet Shop Boys. Como no Congressso dos Rosas-crises. Go Vest. Isto é, vai-te vestir, pá. Andas nu.
Apesar de todo o meu profundo apreço por Fernando Pessoa, nunca li o texto cujos excertos o Dragão aqui colocou. E ou porque me ultrapassa o que o F. Pessoa nele afirma, ou porque a sua leitura na integra é indispensável, ou ainda porque definitivamente temos visões diferentes, vejo-me discordar das afirmações que faz em vários pontos. Em termos simbólicos, chamar judaico ao quadro dos três graus parece-me um pouco abusivo, apesar de talvez ser no judaísmo que culturalmente a simbólica maçónica terá encontrado a referência mais próxima (convem, porém, não esquecer o ambiente em que se desenvolveu e escreveu Shelomon ibn Gabirol e a influência indelével da sua obra no misticismo judaico). Depois, quanto ao lema maçónico, creio que só foi adoptado em meados do séc. XIX. No entanto, se por acaso Saint-Martin já o utilizasse no século anterior, considerando o seu perfil místico (talvez mais crístico do que cristão) não creio que tivesse muito a ver com radicalismos sociais. Finalmente, parece-me que a questão não está correctamente formulada à partida, no aspecto em que o sentimento de errância, exílio, anseio pela pátria perdida, com todos as metáforas, analogias e mitos a que deu origem ao longo dos séculos, e que estão arquetipicamente na origem da ‘nostalgia’ e da ‘saudade’ (ai que regalo ler H. Corbin e F. Schuon, por um lado, e Teixeira de Pascoaes, por outro!...), sendo um denominador comum a uma humanidade desperta para a sua espiritualidade, só de forma muito redutora poderá, creio eu, ser considerado como ‘causa’ de um ideal de igualitarismo de carácter místico, por muito interessante que seja como argumento explicativo de um radicalismo de igualitarismo social.
ResponderEliminarQuanto ao título que deu a este seu post de hoje... brilhante, mais uma vez! Saudações blogosáuricas.
A vastidão do Pessoa permite-nos concordar e discordar com ele em muitas coisas.
ResponderEliminarMas é sempre estimulante.
O texto é demasiado longo para caber num postal. Encontra-se no volume da "Sociologia Política", da Ática. E merece de facto uma leitura completa.
Postei este trecho porque tem dois ou três pontos a partir dos quais, possivelmente, virei a elucubrar qualquer coisa.
Saudações labarédicas
Muito obrigado Dragão pela indicação! E claro que fico à espera de o ler! :)
ResponderEliminaró dragao não brinques comigo
ResponderEliminarmas tu consegues ver na merda deste texto alguma coisa?
o homem anda à roda, como sempre andou, pescadinha de rabo na boca
com bacoquices deste género: e o igualitarismo é judeu e o radicalismo para aqui e o idelaismo para acolá e o misticismo e a maçonaria para santa cona do assobio
foda-se que diabos me levem se não parece o Pedro Arroja
e se reparares bem que conteúdo há nesta besuntice que acabas de postar e que faria o livro aberto ir a correr entrevistá-lo: nada, rigorosamente nada
vai soprando conceitos e misturando-os e relacionando-os como se estivesse no circo
consegue escrever dezenas de linhas e penduricalhar uma data de coisas que soam a fino sem dizer nada
A blasfemar assim,qualquer dia convidam-te para escreveres no "A Blasfémia".
ResponderEliminarMas não estás aprecisar de explicações. Estás a precisar é de um bom exorcista.
Também consegues levitar?...
:O)