segunda-feira, julho 31, 2006

domingo, julho 30, 2006

Homero revisitado


É por isso, para evitar que os Hezzbollas introduzam "civis nas zonas de combate", que Israel não tem feito outra coisa senão introduzir as zonas de combate nos civis.

Curiosamente, os paraquedistas e unidades de elite israelitas não parecem concordar com esta retórica do "terrorista que se esconde atrás de criancinhas nos intervalos de lhes sugar as jugulares". No regresso daquilo que já chamam o "inferno de Bint Jbeil", depois de combaterem com a dignidade que Homero há muito estipulou, isto é, guerreiro contra guerreiro (e não indústria contra homem), transmitiram uma ideia abissalmente diferente:

Entretanto, de passagem, vale a pena visitar Bint Jbeil e passear os olhos pelo que outrora havia debaixo dos escombros.

A guerra é uma espécie de ordálio. Não sei se me engano muito se disser que é nela que o homem resgata a sua humanidade.

sábado, julho 29, 2006

Ficções

«Chevron atinge lucros record na sua história de 127 anos».
«It marks the largest three-month profit in Chevron's 127-year history, eclipsing earnings of $4.14 billion registered in last year's final quarter after energy prices spiked in the aftermath of hurricanes Katrina and Rita.»

«Exxon Mobil makes more than $10 billion.»

«BP profits hit record on high oil.»

As petrolíferas sempre tiveram lucros fabulosos. Segundo nos explicam certos entendidos nestas coisas esotéricas do mercado - entre eles, o professor Karamba, a médium Linda Reis e o mago Julião -, como os custos de produção e distribuição aumentam, têm implicitamente que aumentar os preços ao consumidor, de modo a que as petrolíferas mantenham os seus lucros sagrados.
A realidade, porém, é que as petrolíferas não mantêm os seus lucros fabulosos: multiplicam-nos. Galopam já à conquista da estratosfera. O leigo destas coisas, por mais que a sua lorpice congénita o atordoe, não consegue livrar-se da questão:
- Mas, na realidade, delírios à parte, porque é que os preços da gasolina sobem?

E, pior que a comichosa pergunta, instala-se-lhe no espírito uma séria suspeição: a treta do Mercado - mais as suas leis fatais e mãos invisíveis que tocam pívias inodoras- tresanda a ficção para embarrilar pacóvios.

Como sempre, aliás, a realidade esmera-se, olimpicamente, a defecar em cima da tese.

sexta-feira, julho 28, 2006

Uma questão de método

Em 21 de Julho, um posto de observação da ONU, em território Israelita, foi atingido durante combates entre as IDF e o Hezzbolla. O exército Israelita, como lhe competia, culpou o Hezzbolla. Um oficial da ONU atribuiu a responsabilidade do incidente à artilharia israelita. Apesar das instalações terem ficado destruídas, não se registaram baixas entre os militares Ganeses que lá se encontravam.

Em 25 de Julho, uma bomba israelita volatilizou um posto de Observação da ONU, no sul do Líbano. Resultou na morte de quatro observadores. O Secretário Geral da ONU considerou o ataque como tendo sido deliberado. O Conselho de Segurança não condenou Israel, apenas porque os Estados Unidos, como sempre fazem, vetaram a resolução.

A ONU viu-se compelida a compensar o criminoso, optando por retirar todos os observadores da região fronteiriça Israelo-Libanesa.

O Ministro da Justiça Israelita, Hamin Ramon, já proclamou que as IDF estão credenciadas para matar todos as pessoas que se encontrarem no Sul do Líbano pois "são todos terroristas que, de alguma forma, estão ligados ao Hezzbolla". Efectivamente, não é difícil de calcular que alguns sejam primos, outros, tios, outros ainda filhos, mulheres e até avós.
Mas o que o sr. Ramon, de facto, subentende - e a sucessão de eventos anuncia -, é que as IDF têm que ensaiar uma "solução final" no Sul do Líbano e a última coisa que lá precisam são testemunhas.

Uma República de Bananas ao serviço duma Oligarquia de Macacos



«Pensão de luxo para deputados».
«364 políticos com pensões vitalícias».
«Alegre com reforma milionária».

«Corrida às pensões»

Entretanto, em 2006, segundo o Correio da Manhã, só houve dois pedidos de "apoio vitalício":
Anacoreta Correia e José Pacheco Pereira.

Aproveito para comunicar que isto não só não me escandaliza minimamente como acho da mais elementar justiça. O marisco está caríssimo; um bom resort nas Maldivas custa os olhos da cara; já não se compra um Porsche por menos de, sei lá, 100.000 euros ?; duas ou três cortesãs high-tech não fazem uma orgia por menos de 5.000 USD, isso é garantido; o custo anual dum/a amante disparou para níveis astronómicos - só em joalharia, jantares, viagens, miminhos, vai-se uma fortuna; e um Picasso, alguém sabe ao preço a que está um Picasso?!!...

Otários de todo o mundo, colectai-vos!...

Além do mais, se, como agora é moda dizer-se, os países se orientam segundo os respectivos e estritos interesses, deveremos espantar-nos se os indivíduos que os dirigem se orientam também exclusivamente pelos seus?...

quinta-feira, julho 27, 2006

The cartoon strikes again?...



«Israel's ambassador to Norway has complained to press regulators about a cartoon showing Israeli PM Ehud Olmert as a Nazi concentration camp commander. »

Convenhamos,é mais grave que o ataque a um profeta: é um ataque a um semideus.

Aliás, eu já aqui expliquei pedagogicamente, por mais de uma vez, que o termo anti-semita, para definir uma qualquer crítica aos judeus, é incorrecto. Os árabes são tão semitas como os judeus, se bem que infinitamente menos valiosos, dignos e geniais.
Para evitar futuras confusões, sugeriria até que o termo "semi-ta" fosse deixado aos árabes, enquantos os judeus passavam a ser designados por "semi-deus".
Assim, qualquer pessoa que esboçasse sequer um pensamento de desaprovação a qualquer acto da autoria de qualquer judeu -ou mesmo judeu-novo, como o nosso Chico Viegas, o Hemingway do Pocinho -, seria de imediato vituperado (sempre em tom furioso e energuménico, nunca esquecer!)- como "anti-semideus".

Fora isto, temos o quê? Mais um debate acerca da "Liberdade de Expressão"?

quarta-feira, julho 26, 2006

A Guerra Prometida

Ontem podia ler-se no Correio da Manhã: "Olmert promete combater Hezzbolla".
Sim, não duvidemos; mas primeiro, como é evidente, tem que combater os civis Libaneses, de modo a que os Hezzbollas não tenham onde se esconder; depois, tem de punir os civis sírios que estão por detrás do governo Sírio que apoia o Hezzbolla; a seguir, tem que massacrar os civis iranianos que tiverem o desplante de se colocar à frente daquele Almadi-não-sei-quantos (candidato recorrente ao "Levanta-te e ri") que fornece armas aos Sírios e aos Hezzbollas; de caminho, tem ainda que causar umas mortandades exemplares e variadíssimos escombros fumegantes entre os chineses e russos –civis, preferencialmente -, que vendem armas ao Irão e à Síria, e, pior que tudo, incitam o Almadi-coiso-e-tal a teimar numa carreira na stand-up comedy (onde, como é público e notório, a concessão exclusiva hebraica, recebida directamente de Deus, é sagrada). Finalmente, com o auxílio sempre solícito dos americanos, através da NASA, tem de escaqueirar o terceiro planeta de Andrómeda – o terceiro, a contar da esquerda, bem entendido (ou sexto, se for da direita)-, que é donde provêm os alienígenas sarapintados e tremeluzentes que estão por detrás de toda esta imensa e nefanda conspiração anti-judaica mundial, digo, universal.
Então, quando o Hezzbolla estiver completamente isolado, desamparado e o petróleo a 200 dólares o barril, então sim, Olmert vai acabar duma vez por todas com o Hezzbolla..
Em privado, a fanáticos íntimos, Olmert - desde petiz, um admirador do bravo general Custer -, terá mesmo entreaberto o núcleo da sua engenhosa -se bem que voltivaga - estratégia: "Antes de exterminar os índios, primeiro há que evitar que eles se reproduzam. Temos que ir à fonte. Estancá-los na origem. Senão, somos nós a matá-los dum lado e as mulheres a fabricá-los em série do outro. Um trabalho de Sísifo, meus amigos!..."

terça-feira, julho 25, 2006

Curiosidades


- Base Naval de Coronado, San Diego, USA - vista aérea.
Uma clara ofensa à Comunidade judaica. Aqui deixo o alerta a quem de direito.

Rebenta-bunkers, uma operação humanitária

Paul Gigot, Editorial Page Director for the Wall Street Journal - o que traduzido para português arcaico dá qualquer coisa como "refinado filho da puta"; e para português actual é geralmente traduzido por "um brilhante pensador moderno" -, demonstra, através de argumentação cristalina e contundente, que o fornecimento urgente de sofisticadas armas americanas a Israel constitui uma genuína acção humanitária.
Segundo ele,

Darfur, agora, vai ter que esperar. O Humanitarismo ocidental tem outras prioridades. E que ninguém sequer sorrise (do verbo sorrisar - esboçar sorriso - se o Mia Couto pode, porque é que eu não posso?...): é que a fome de armas e munições pode ser bem mais dramática que a fome de pão (que a de putas e marisco não, chiça, não exageremos).

Eu, que me pélo por um bom naco de humor negro (logo a seguir a um bom naco de mulher está no top + das minhas preferências), fiquei esclarecido e encantado.
De tal ordem, que até estou mesmo a pensar em mudar o nome deste blogue para "Rebenta-Bunkers".


PS: A da foto é a rebenta-bunkers, não é exactamente aquilo que eu considero "um bom naco de mulher". Na verdade, é mais um excessivo conglomerado de banha.

segunda-feira, julho 24, 2006

Queiram desculpar-me a maçada

Para quem quiser uma "Súmula patalógica" de toda a hilariante cartilha dos nossos israelatras efervescentes, aconselho vivamente uma visita a MASADA 2000. É que se os zelotas clones em enxundioso e estereotipado chinfrim, mais que atenção, reclamam urgente camisa-de-forças, pelo contrário, este site, dum sionismo inviolável e gongórico, justifica a maior das atenções. É, diria mesmo, além de extremamente divertido, superlativamente pedagógico. Em primeiro lugar, porque toda a bateria energumentativa já nossa conhecida (sobretudo através de arremedos rústicos e mal atamancados, mais próprios de bufarinheiros, almocreves e azemeis sem a mínima preparação que de arautos devidamente credenciados) além de brotar cristalina na fonte, mana devidamente organizada, documentada e rebicada a verdadeiras pérolas de versúcia. Asseguro-vos: versúcia desta até dá gosto.
Em segundo lugar, porque nos demonstra como Israel, além duma democracia prendadíssima, constitui também um conglomerado de gente tolerante, equilibrada e absolutamente alérgica a fundamentalismos, Deus seja louvado!...
E em terceiro -e aqui não percam, pela vossa rica saúde -, porque nos disponibiliza on-line, abençoada tecnologia que nos alumia, um autêntico Index - eles chamam-lhe Shit-List - de (imaginem!) "Judeus de merda" ou "merdosos". Daí, aliás, a sigla "SHIT", quer dizer "Self-Hating and/or Israel-Threatning . Portanto, segundo estes oráculos inexpugnáveis, um "judeu merdoso" é um "judeu que se odeia a si próprio e/ou ameaça Israel".
A lista desde abomináveis seres está organizada por ordem alfabética e comporta para cima de milhar. Os nossos israelatras fervorosos e demais zelotas em patrulha vão, pois, ter um choque: afinal nem todos os judeus são puros, santos, génios e credores da humanidade para os própximos dois milénios, pelo menos. Não, afinal há judeus impuros. Pior: há "judeus de merda". São os próprios judeus puros e santos, comprovadamente perfeitos, quem o certifica.
Nada como ler a lista, com todos os seus comentários didácticos e ilustrativos sobre os traidores miseráveis. Que elevação! Que donaire! Todavia, para ir adiantando serviço e aguçando o apetite, sempre vos deixo aqui algumas das figuras mais conhecidas em exposição pelourinhesca:
* Woody Allen
*Yal Dayan (filha de Moshe Dayan)
* Richard Dreyfuss
* Norman Finkelstein
*Bobby Fischer (Um dos maiores xadrezistas de sempre - para mim, o maior)
*Richard Gere
*Henry Kissinger
*Edgar Morin (quem o mandou perder o paradigma?)
*George Steiner
*Aliza Olmert (esposa do actual Primeiro ministro - por ser de esquerda)
*Dana Olmert ( filha do actual primeiro ministro - por ser lésbica anti-guerra)
*Shimon Peres
*Harold Pinder (o último prémio nobel da Literatura)
* George Soros (o especulador internacional)
Nota Importante: O actual primeiro-ministro israelita, até há uma semana atrás, também era considerado um "judeu de merda"- por se deixar influenciar pela mulher, o que fazia dele um frouxo. Mas, ultimamente, parece que se resgatou. Sorte a dele.

Quanto aos delitos que podem transportar a este anátema, o mais frequente -e, presumo, "ameaçador para Israel"-, é o delito de opinião: expressar qualquer desacordo com a política mais radical sionista ou, como foi o caso de Rabin e outros, tentar morigerá-la. Rabin já não está na lista, porque, entretanto, se bem se lembram, foi abatido a tiro. Por um israelita casto.
No que respeita às acusações que pendem sobre os "maus judeus", por bizarro que pareça, abundam as de "anti-semita"e "nazi" (George Steiner, por exemplo, é nazi). Para além duma constante depreciação de outras minorias "vítimas" como os gays ou as feministas; ou outros credos, como "cristão". Para quem é suposto estar nos antípodas do Irão...
Mas não acreditem no que eu digo: confirmem exaustivamente, sff.

Para concluir: é isto o baluarte da vossa civilização? Há um bando de avestruzes a jurar que sim.
Então, se assim é, só me ocorre recomendar-vos uma máxima da infantaria:
"Deus nos proteja da nossa artilharia, que da do inimigo protegemo-nos nós!"

domingo, julho 23, 2006

Tortura defensiva

Será que os militares israelitas, maravilhados com a espantosa eficácia e os êxitos retumbantes dos americanos no Iraque, decidiram imitar-lhes entusiasticamente os passos?
Depois duma primeira fase de verdadeiro "Shock and Awe" ( a velha Blitzkrieg com outro nome), não é que se preparam já para, com todo o afã, erigir o seu Abu-Ghraib...


Curiosamente, parece que este hábito remonta a outras peregrinações. Pelo menos é o que afirma a Human Rights Watch:
«Israel Responsible for Abuses in Khiam Prison».
E especifica: "Since the facility opened in 1985, hundreds of Lebanese have been arbitrarily detained in Khiam without charge for indefinite periods of time. Many of the detainees, including women, have been tortured during interrogation and subjected to abysmal conditions of confinement."
Naturalmente, as democracias, quando em guerra, vêem-se constrangidas a torturar pessoas para detectar quais delas são infames terroristas. Bem como a instaurar Censura na informação, de modo a contrariar os espiões subversivos. Nada disto nos deve espantar. Fascinante mesmo, na notícia, é aquela parte em que o Exército, a pretexto da urgência da infraestrutura, teve que pedir uma autorização especial ao -registem bem - Chief Military Rabbinate (para que este, dizem eles, permitisse o trabalho ao sábado).
Chief Military Rabbinate? Mas que raio vem a ser isto? Então o exército tem que pedir autorização ao Capelão-Mor?! Mas que diabo de Forças Armadas são aquelas? Então o Capelão tem poderes de Ayatolla?... Já não percebo nada.
E outra dúvida estapafúrdia, mas que doravante não me larga: será que eles para bombardearem e metralharem, ao sábado, também têm que ter uma autorização especial do tal Rabbinate?
Ou matar e estropiar não é considerado trabalho?...

sábado, julho 22, 2006

A Masturbaratona, ou Onan, os Bárbies




«Maratona de masturbação colectiva».

Não, mesmo antes de lerem, posso desde já adiantar: não se trata da assembleia evangélica dos nossos telebelicosos quéques, fremendo e arrolhando diante de bombardeamentos filantrópicos e altamente civilizados em contínuo auto-replay num ecrã gigante. É verdade que podia ser, mas não é.
De facto, é apenas mais uma daquelas manifestações espectaculares de superioridade e excelência do "Modo de vida deles". O "Deles" que aldrabam ser também o "Nosso". O mesmo que os terroristas malvados,vejam lá bem, querem destruir.
Aqueloutro que, em nome da capoeira de aves loucas, declamou emocionado pela supremacia consagrada -e paradigmática - de putas e panascas, esqueceu-se, afinal, do ritual mais emblemático da seita: a punheta colectiva.

A American Way e a SMSS



«U.S. Speeds Up Bomb Delivery for the Israelis»

A maneira americana, a fast-way, a Hamburguer-war, em suma, a maneira mais estúpida: matar moscas à martelada. Ter os americanos à solta a combater o "terrorismo" é o mesmo que ter um pirómano a combater um incêndio. Não fodem, não saem de cima e dizer que até os colhões lhes estorvam peca por suave: como andam armados até aos dentes, gastam os dias a acertar neles. O que vale é que são descartáveis.
Pois, se ao menos os "terroristas" se espavorissem com os gritinhos histéricos e as algazarras excitadas que fazem os nossos metrossexuais on line, Portugal ainda teria uma palavra a dizer. Que bom que seria. Quem sabe não recuperávamos até os faustos de outras épocas. Enviava-se para lá, para o Médio Oriente, todo este contingente de totózinhos belicosos que marcham para baixo e para cima na blogosfera, estas Cripto-SAs (Sturm-Amélias) aos molhos, que os Hezzbollas nem sabiam de que terra eram. Iam Hezzbollas, iam Hammas, iam Al-Caedas, iam todos a eito!
Bem, agora que penso nisto, acho que não se perdia nada em tentar. Quem sabe não resultava e resgatava-se, duma vez por todas, a civilização. O pior é que, suspeito bem, mal recebessem a convocatória para a épica cruzada - a Segunda Cruzada das Criancinhas, podia já crismar-se -, ficavam -aposto 100 contra 1 - subitamente afónicos. Febris, disentéricos, lacrimejantes, vertiginados, menstruados até alguns, requeriam dispensa da Campanha ao Santo Sepulcro por deploravelmente os incapacitar, repentina, paralisante e consumptiva, uma SMSS - a Síndrome do Mais Sepulcral Silêncio.
-"E não podemos antes bombardeá-los com SMSs?..." - Ainda perguntavam, com o último resquício de coragem.
Guerreiros de caca, de fralda, com as suas paint-ball minds. Carregadas a smarties.

quinta-feira, julho 20, 2006

O Exército da Salvação



«Third of Lebanon casualties are children, says UN.»

Et voilá! Se mais provas precisas fossem, isto atesta duma vez por todas da bondade exemplar das acções da "defesa" Israelita sobre o Líbano. O cálculo é simples: dado que um terço da população Libanesa, mais coisa menos coisa, são crianças, fica assim inequivocamente demonstrado como, ao contrário dos velhacos e capciosos terroristas, a intenção dos Israelitas não é atingir especialmente as crianças, mas, ao invés, alvejar indiscriminadamente - sim, com a maior das isenções! - toda a população. Se isto não é rectidão e filantropia, um raio me parta já aqui!...
Em vez de IDF, proponho até que passe a chamar-se Exército da Salvação.
É que se não fosse ele, já há quem diga, e quem sou eu para recalcitrar, estaríamos todos perdidos.

Explicação dos Possessos



«Evangelical Christians plead for Israel.»

O pastor John Hagee, um visionário poderoso, proclama ao cosmos e arredores as seguintes profecias moralizadoras e candidatas, pelo menos, ao óscar dos Melhores Efeitos Especiais (já nossas conhecidas, aliás):
«Que exércitos Russos e Árabes invadirão Israel e serão destruídos por Deus;
Que esse incidente desencadeará a confrontrontação por Israel entre a China e o Ocidente -este liderado pelo anti-Cristo, desempenhado, imagine-se (e persignemo-nos), pelo cabecilha em chefe da União Europeia (força Durão Barroso!);
Que esta crudelíssima e derradeira batalha entre o Leste e o Oeste - em Armageddon, um sítio na actual Israel -, precipitará a Segunda vinda de Cristo.»

Aleluia!

Como validação inexorável da sua exuberante e benemérita escatologia, o pastor Hagee, Deus o proteja, assevera ainda que quarenta milhões de crentes, todos eles excitados e rechinantes, apoiam estas suas alucinações particularmente atrozes e sanguinorreicas. Serei a última pessoa a pô-lo em causa. Só em Portugal - de olhos raiados, a espumar da boca, vociferantes e a espojarem-se em blogues, pasquins e telejornais-, já contabilizei para cima de centena.

Into the Abyss...

Uma entrevista bastante elucidativa de Ferry Biedermann ao Prof. Martin van Creveld, em Jerusalém. Janeiro de 2003.

Interviewer: Your specialty is war. Is what's going on here war at all?

Creveld: Certainly, although the Palestinians have no government, no army, and no [nationality]. Everything is in chaos. That's why we won't win the war, either. If we could identify and eliminate every terrorist, we'd win this struggle within forty-eight hours. The Palestinian administration has the same difficulties. Even in Arafat decided to comply with our conditions and surrender tomorrow, it's virtually certain that the Intifada would continue.

Interviewer: Are there any similarities on the Israeli side?

Creveld: If the dispute lasts much longer, the Israeli government will lose control of its people. For people will say: "If government can't protect us, what on earth can they do for us? If the government can't guarantee that we'll be alive tomorrow, what good are they? We'll defend ourselves."

Interviewer: So Israel is beaten in advance?

Creveld: On that I'll quote Henry Kissinger: "In campaigns like this the antiterror forces lose, because they don't win, and the rebels win by not losing." That certainly applies here. I regard a total Israeli defeat as unavoidable. That will mean the collapse of the Israeli state and society. We'll destroy ourselves.

Interviewer: Is there any point to the recent Israeli military offensive?

Creveld: This offensive is totally useless; it's only further enraging the Palestinians. Perhaps there will be a short-lived calm, but in the end there will even more suicide attackers.

Interviewer: Is there any hope?

Creveld: If I were Arafat, I wouldn't stop either. I'd only cease in exchange for a very far-reaching political accord. And it seems as if we have a government [under Sharon-tr.] that won't make Arafat such an offer. If elections were held today, the Left would be thoroughly beaten.

Interviewer: Some maintain that it is Israel's foreign enemies that keep the country unified.

Creveld: That's right. I only wish that there were foreign enemies, but that isn't the case. We've fought our external enemies for so many years. Each time there was a war, we took a mighty hammer to our foes, and after being defeated a few times, they left us alone. The problem with the Palestinian revolt is that it doesn't come from without, but rather from within. Therefore we can't avail ourselves of the hammer.

Interviewer: Is the solution, then, to keep the Palestinians outside the borders?

Creveld: Exactly, and right now there's nearly unanimous agreement on that. We ought to build a wall "so high, that not even a bird can fly over it." The only problem is: where to put the border? Since we can't decide whether the territories conquered in 1967 should be included, for the time being we improvise a little. We're building a series of little walls, which are much more difficult to defend. From a military standpoint this is very stupid. Every supermarket has gradually acquired its own living wall of security guards. Half the Israeli population is guarding the other half-unbelievable. Aside from the fantastic waste, it's almost totally useless.

Interviewer: Does that mean that the Palestinians stay within the borders?

Creveld: No, it means that they all get deported. The people who strive for this are waiting only for the right man and the right time. Two years ago only 7 or 8 percent of Israelis were of the opinion that this would be the best solution, two months ago it was 33 percent and now, according to a Gallup poll, the figure is 44 percent.

Interviewer: Will that ever be possible?

Creveld: Sure, since desperate times give rise to desperate measures. Today there's a fifty-fifty split on where the border should run. Two years ago 90 percent wanted the wall built along the old border. That has completely changed now, and if things continue, if the terror doesn't stop, in another two years perhaps 90 percent will want to build the wall along the Jordan. The Palestinians talk of "summutt," meaning hang tough, cling to the ground and the soil. I have enormous respect for the Palestinians. They fight heroically. But if we in fact want to strike across the Jordan, we would need only a few brigades. If the Syrians or the Egyptians were to try to stop us, we'd wipe them out. Ariel Sharon is leader. He never improvises: he always has a plan.

Interviewer: A plan to deport the Palestinians?

Creveld: I think it's quite possible that he wants to do that. He wants to escalate the conflict. He knows that nothing else we do will succeed.

Interviewer: Do you think that the world will allow that kind of ethnic cleansing?

Creveld: That depends on who does it and how quickly it happens. We possess several hundred atomic warheads and rockets and can launch them at targets in all directions, perhaps even at Rome. Most European capitals are targets for our air force.

Interviewer: Wouldn't Israel then become a rogue state?

Creveld: Let me quote General Moshe Dayan: "Israel must be like a mad dog, too dangerous to bother." I consider it all hopeless at this point. We shall have to try to prevent things from coming to that, if at all possible. Our armed forces, however, are not the thirtieth strongest in the world, but rather the second or third. We have the capability to take the world down with us. And I can assure you that that will happen, before Israel goes under.

Interviewer
: This isn't your own position, is it?

Creveld: Of course not. You asked me what might happen and I've laid it out. The only question is whether it is already too late for the other solution, which I support, and whether Israeli public opinion can still be convinced. I think it's too late. With each passing day the expulsion of the Palestinians grows more probable. The alternative would be the total annihilation and disintegration of Israel. What do you expect from us?

Entrevista traduzida daqui por intermédio deste.

quarta-feira, julho 19, 2006

Ciganice é só ciganice - ainda não tem bónus.

Vª Excª terá lido com a ”tenção”, não contesto, mas pela qualidade da dispepsia mental decorrente, eu, com toda a honestidade, recomendar-lhe-ia que, para a próxima, além da “tenção”, usasse um bom par de óculos. Porque, das duas uma, ou Vª.Excª está a precisar urgentemente de um vigoroso oftalmologista ou de um explicador intrépido e perseverante.
Quanto ao resto, a ciganice abunda mas não compensa. Os ciganos, é certo, também padeceram no holocausto, mas ainda não têm direito a indemnização. Concordo que é uma injustiça, mas, olhe, tenha paciência e desforre-se nas feiras. Aliás, se tiver por aí umas Levy’s das baratas, mande-mas à cobrança. Terei o maior gosto em prestar esse singelo -mas sincero - tributo pessoal à memória da sua martirizada tribo.

Cordiais saudações ao seu rei e respeitosos cumprimentos à priminha. De Vª Excª, não de Sua Majestade, naturalmente.

D'ragão e Tal

And justice for all...

«Turkey Signals It's Prepared to Enter Iraq.»

Naturalmente, segundo a lógica fulgurante do momento, a Turquia também tem todo o direito a defender-se, ou não?
15 soldados e polícias turcos mortos pelos terroristas curdos é de fazer perder a paciência a um santo. Menos que isso fez Israel desvairar-se e Israel é, como todos sabemos, super-santa.
E o que é pior é que os Turcos podem acusar os Estados Unidos de estarem por trás dos curdos. O que, numa qualquer reunião importante, pode levar o presidente Bush, interpelado pelo seu fiel escudeiro, ao seguinte desabafo:
-"Alguém devia dizer à CIA para parar com aquela merda!..."

Bem, mas neste caso, tudo o indica, os terroristas afinal são guerrilheiros. E mesmo que a Turquia, por justo e soberano "direito à defesa", quisesse escavacar o Iraque, depararia com uma gritante falta de infraestruturas . Operação mais frustrante seria difícil de conceber.

terça-feira, julho 18, 2006

Leviatã e o Paraíso

O que Israel está a fazer no Líbano é terrorismo. Terrorismo de Estado, mas terrorismo. Em forma de contra-terrorismo, mas terrorismo. Não é o fim do mundo nem é uma originalidade especial. O que os americanos e os ingleses estão a fazer no Iraque e no Afeganistão é terrorismo da mesma qualidade, só que a uma escala consideravelmente superior, de espaço e tempo. E, consequentemente, de hipocrisia, de infâmia, de carnificina.
Mas não se pense que esta maravilha do "terrorismo de Estado" é uma exclusividade deste cluster imperial hodierno. Os Assírios, se não me falha a memória, foram os primeiros peritos em "terrorismo de Estado": Não só conquistavam as cidades, como, por doutrina de vida, faziam empalar prisioneiros, chacinar mulheres, crianças e animais domésticos. Um serviço completo, pois claro. Porque idolatravam deuses cruéis e sanguinários? Porque eram uns selvagens idólatras e impiedosos? Leiam o Livro de Josué (logo a seguir ao Deuterónimo, na Biblia Sagrada) e constatareis que os Hebreus fizeram exactamente o mesmo, em nome de Ihavé (futuro Deus-Pai), aquando da primeira constituição de Israel.
O "terrorismo de Estado" conheceu posteriormente dias gloriosos sob as flâmulas e estandartes do Império Romano. De tal ordem que este viria a tornar-se uma espécie de paradigma para todos os exercícios ulteriores - de ambos: império e terror. O Império Britânico, cujo gestação começa na república puritana de Cromwell, usou e abusou do Terror de Estado. Desde a Irlanda à Guerra do Ópio, passando pelas quatro bandas do planeta, nunca se poupou a esforços nem expedientes. O Império Americano nada mais pretende ser que um seu digno sucessor. Basta recordar a forma como, ainda bebézinho, esbulhou, brutalizou e exterminou os autóctones da América do Norte, para orçarmos a que ponto estava vocacionado para os mais altos voos. Pelo caminho, a República Francesa, as duas tentativas de Império Alemão, sobretudo a segunda, a patética tentativa de Império Italiano (por Mussolini), o Império Russo, dos Czares e dos Sovietes, o Império Japonês, o Império Espanhol, só para citar os mais emblemáticos, nalguns casos com a gana própria dos novo-ricos, entregaram-se a sangrias e hecatombes deveras notáveis e apenas um pouco menos engenhosas tão somente por força duma menor durabilidade.
Todos eles se sentiram animados das mais inadiáveis lógicas, creditados das mais humanas (e transcendentes) procurações, armados dos mais angélicos arsenais. Resistir-lhes, a tais portentos de luz e progresso, francamente, só por pura e acintosa maldade. Os demónios, todos sabemos, opõem-se ao progresso e expiam invariavelmente a derrota. Já a vitória santifica e consagra, peremptoriamente, os deuses. Glorifica as suas panóplias e devastações.
O Imperialismo Alemão do III Reich foi julgado por inúmeros crimes de guerra em Nuremberga, apenas por via da derrota militar dos seus mentores. Caso tivessem vencido, os virtuosos seriam eles e os criminosos demoníacos seriam os outros. A propaganda cantá-lo-ia em hinos celestiais, os historiadores alfaiatariam os factos à medida das conveniências e a bem da carreirinha, os castrados e eunucos mentais de todas as épocas, masturbadores activos das "glórias do momento a ferver", peregrinariam e venerariam sem descanso a sua memória.
Portanto, o que Israel está a fazer, à sua pequenina escala, infelizmente, não nos exibe nada de novo, nem, tão pouco, de subitamente ignóbil. Bem pode Israel abrir a gabardine à vontade, que não nos escandaliza. Não é menos desculpável, mas também não é especialmente condenável, por causa disso. De facto, em toda esta sua peripécia mais recente outro não faz que participar em toda uma tradição que reflecte uma lei muito antiga - uma que já as fábulas comemoravam: a lei do mais forte. Que ao longo dos tempos, de resto, e a começar em Caim, se confunde com a "lei do mais bem armado". Nesta perspectiva atávica - fria e tecnocêntrica mas sinistramente eficaz e, raios a partam, real -, o mal e o bem, o melhor e o pior derivam predominantemente da qualidade do sistema bélico, da capacidade agressiva e predadora de cada agremiação excursionista galvanizada de projectos imperiais ou meramente campeoníssimos (pode ir desde os benfiquistas aos americanos, passando por evangelistas, muçulmanos, comunistas, sionistas, arianistas, globalistas ou o diabo que os carregue!). O "pior" acaba por redundar sempre no que tem as piores armas, entenda-se: aquelas que falham clamorosamente em certificar no terreno a superioridade das suas ideias, a justeza dos seus desígnios, manias, ideiais, caprichos ou fulgurantes apetites. Ao contrário da água apaziguadora das mitologias, as auto-proclamadas civilizações baptizam a ferro e fogo e têm na arma o fundamento e o garante do seu "sistema de valores". Quando não os próprios pilares ontológicos.
Assim, no cumprimento de tão insigne tradição, é na sua superioridade bélica que Israel fundamenta e sustenta o seu direito inalienável, tanto quanto a sua sobranceria moral; e é ela, essa mesma superioridade bélica (de arsenal próprio e de apoio) que a transforma num Estado dotado de prerrogativas unilaterais, bem como credor das maiores compreensões e beneplácitos internacionais. Não é por ser especialmente maléfica que brutaliza exemplarmente, embrulhado em papel de punição, as populações do Líbano. Aí estamos apenas ao nível da propaganda e contra-propaganda. Israel apenas mata mais que os seus inimigos porque dispõe de meios que o permitem e potenciam. Em termos estritos de vontade e maldade, provavelmente, os lados equivalem-se: os Hezzbollahs e Hammas seguramente desejariam matar mais e os Israelitas, obsidiados, encantados e seduzidos pela sua formidável panóplia sempre crescente, quase de cetrteza que não resistirão a dar-lhe excitante uso e, necessariamente, fatalmente, tenderão a ocasionar, de futuro, superiores morticínios. Desçamos pois à realidade: mais que moral, a questão é técnológica. Não são apenas os fins que justificam os meios; são previamente os meios que determinam e insuflam os fins. Desde há uns tempos a esta parte (posso escrever-vos um tratado sobre isto), mais que o homem utilizar a arma, dir-se-ia que é a arma que arrasta o homem. Eu, pelo menos, estou capaz de dizê-lo, alto e bom som. Por conseguinte, Israel faz o que faz não por singular perfídia, mas, principalmente, repito, porque tem armamento para o efeito. Quer dizer, tem ferramentas para a tarefa, meios para a empresa. Ou, pelo menos, acredita que os tem. Além de oportunidade, pretexto, cobertura e, em larga medida, impunidade, bem entendido. Os riscos de comparecer num tribunal Internacional, ao estilo de Nuremberga, são, convenhamos, no panorama actual, praticamente negligenciáveis. Antes deles, sentar-se-iam os americanos e os ingleses, em catadupa.
Entretanto, há quem diga que os métodos em curso em nada se distinguem dos utilizados pelos alemães -nem sequer da Wermacht, mas das SS -, sobre as diversas resistências dos países ocupados durante a 2ª Guerra Mundial. Recordo: por cada soldado alemão morto, ou acto terrorista de sabotagem (os Nazis também consideravam terroristas os resistentes e socorriam-se da lei internacional para o efeito), fuzilavam (torturavam, etc) um determinado número de civis avulsos. Em nome da acção psicológica, funcionava como punição que se pretendia operasse como dissuasão para futuros actos hostis. Pois bem, tecnicamente, a acção dos Israelitas em nada está a distinguir-se deste modelo pouco edificante. Como aliás não se distingue dos bombardeamentos estratégicos aliados, nessa mesma guerra, perdoem se vos relembro mas metódica e preferencialmente sobre alvos e infraestruturas civis; ou do terror stalinista sobre classes e grupos étnicos considerados reaccionários ou colaboracionistas; ou da repressão turca sobre os Arménios; ou da repressão dos terroristas Sioux, Cheyennes ou Apaches pela brava e heróica - toda ela investida e mandatada pela Civilização Ocidental - cavalaria americana; ou da razia dos romanos, no reinado de Tito, sobre os zelotas judeus; ou, só para terminar com dois casos gémeos mais recentes, os bombardeamentos da Sérvia e do Iraque (este reforçado com toda uma democratização a tiro que ainda prossegue). Portanto, tanto se pode chamar nazi à proeza israelita do momento, como democrata liberal, só para citar a dicotomia mais popular dos nossos arraiais e opinadouros. Além da algazarra típica da claque, como é bom de ver, tal gargarejo acaba por não definir nada.
Abreviando. Que quero então eu significar com tudo isto? Uma coisa muito óbvia e elementar, pelo menos para pessoas de boa fé e cultura média: a brutalidade, a desumanização (própria -para semi-deus- e alheia -para insecto), a carnificina desarvorada não têm sido património exclusivo de nenhuma época, povo, império, política, ideologia, religião, etc. É uma pena, mas é assim. Os episódios divergem no folclore da indumentária, mas repetem a rotina catastrófica do drama. A civilização, vista em profundidade, mais não tem sido que o verniz com que a barbárie pinta as unhas, o perfume delicodoce com que disfarça o suor da matança e o hálito asqueroso do festim necrófago. O império - o único que tem prevalecido e animado, em forma de instinto visceral, todos os outros - é o império da bestialidade, da treva, da ganância e da vaidade balofa, histriónica e psicopata do macaco de Deus.
Há um determinismo do mal? Estamos condenados a uma pocilga eterna, ao açougue perpétuo a boiar no espaço?
Que sei eu? Não ando também para aqui a tropeçar nas tripas, nos sonhos e nos testículos, perseguido por medos, fantasmas e preconceitos? Do que sei, ou julgo saber, é que, entre outras, há uma força da gravidade que nos puxa para réptil, que nos prende ao chão e um pensamento que nos empurra para cima, nos convoca ao céu. O problema é que, quase sempre em nome de fazer do homem um anjo - o tal progresso canonizador de todas as matanças e latrocínios, mais não têm obrado que enxertar asas no réptil. Ainda não voa, é certo, mas consegue cuspir o veneno cada vez mais longe.
Disso, ao menos, eu sei e posso quase falar de cátedra. Ainda reconheço falsos dragões quando os vejo.

E se insistirem num fecho moral para tão vil fábula, sempre ouso adiantar o seguinte, em jeito de enigma (algo anedótico, reconheço, mas é o que se pode arranjar):
As ferramentas, depois de se tornarem senhoras, ameaçam tornar-se tiranas. A caminho de escravos, nós já pouco mais somos que meros utensílios - armas ao serviço de mãos invisíveis. E, consequentemente, somos todos alvos.
Ninguém anda a massacrar civis, acreditem. Nem hoje, nem nunca. O que não se cansam de massacrar, desde os princípios dos tempos, é qualquer hipótese de verdadeira civilização. Sendo que o pior massacre de quantos existem decorre dentro da nossa própria alma e todos oficiamos nele.
Não duvido que o inferno esteja atulhado de boas intenções. Sobretudo quando, numa vida inteira, vou descobrindo que neste mundo reinam as piores. Por imperativo lógico, vejo-me assim forçado a dar razão a todos os filhos da puta desta terra: vivemos certamente no Paraíso. E quanto piores forem, as intenções, melhor ele fica.

segunda-feira, julho 17, 2006

Armagedão ou Rilhafoles?



Pergunta: Quem é NORIO HAYAKAWA

Resposta: Consultem o Google. Posso adiantar que é capaz de ser divertido.

Em Fevereiro de 2005, o Norio (não confundir com o Noddy) concedeu uma série de depoimentos solenes intitulados "MY THOUGHTS ON "UFOs" AND MY PERSONAL RELIGIOUS BELIEF", onde, a determinada altura confidencia (em resposta à inefável pergunta: Do you believe in the coming Rapture and in the coming Millenial Reign of Christ?) :

- "Yes, I believe in the coming Rapture, although the word itself is not in the Bible. I believe that born-again believers will be translated instantaneously (i.e.,"taken up", or "transferred" from one side to the other side, i.e., from the earthly plane to the heavenly dimension) and will meet the Lord in mid-air. In other words, in the "twinkling of an eye", our physical bodies will go through a mysterious, sudden transmogrification (a favorite word used by John A. Keel) and will be lifted up and will meet the Lord in mid-air. Our entire physical bodies, the tissues, the cells will go through a sudden, inexplicable atomic fission-like transformation. It almost sounds like a science fiction, but that is my personal belief as well as the personal beliefs of millions of believers on this planet. Thus I believe that we will be "evacuated" en masse to escape the Tribulation Period on earth. This obviously has not happened yet in history, but I believe that this incident could be the next main event in God's prophetic calendar or timeline. When we (the bride) meet the Lord (the Groom) in mid-air, there will be a 7-day "wedding celebrations" (equivalent of 7 earthly years), immediately after which the believers, with the host of heaven led by Christ, will descend on Israel at the Battle of Armaggedon, immediately after which there will be a 1000 year reign of Christ from Israel."


Por amor de Deus, não subestimem a lógica científica, religiosa, poética, ou o quer que seja, dum tal arrazoado. Não caiam de asneira de pensar que estamos diante dum simples maluquinho. Muito provavelmente, o actual presidente da maior potência militar ao cimo do planeta, um tal de George W. Bush, tem convicções e fantasias em tudo convergentes com este senhor.
Mas, além de peregrino do Armagedão, Norio, no cumprimento de louvável coerência, é igualmente um "surfer do Apocalipse". Do alto da sua prancha bendita, após leituras e augúrios decifrados nos puzzles celestes, expõe a diplomacia americana para o próximo quadriénio:
E logo de seguida, não é de modas:


Estes anseios são naturais em alguém que se imagina predestinado à salvação e à recompensa eterna, garantida e peremptória por via duma catástrofe planetária. Não podemos levar-lhe a mal, nem ser muito severos com ele. Uma tal esquizofrenia também pouco mais é que inócua ao nível dos israelatras alucinados cá da paróquia. Eventualmente, nos intervalos da vigília compenetrada dos meteoros, padecerão de idênticas visões elitistas e redentoras.
Para ser sincero, acho que apenas nos devemos preocupar um bocadinho no caso de sida mental desta, além destes pobres diabos, também já infectar a manada ao nível do cockpit. Aí, confesso: com todos aqueles arsenais e malucos associados à mistura, ainda é de temer alguma desgraceira das grandes. E se pensarmos que nos últimos anos outra coisa não têm feito que semear, cultivar e catalisar doidos semelhantes do lado oposto, alguns a soldo, outros nem tanto, é caso para repetir a frase mais recorrente aos sábios desde a noite dos tempos:
Pobre humanidade! Pobre planeta!...


Afinal, no jogo do ódio e da violência são essenciais duas partes. Ambas em furiosa competição para ver qual delas é mais estúpida, fundamentalista e obcecada. Por outras palavras: mais desvairada e perversa diante do espelho.

domingo, julho 16, 2006

Aforismo do dia

«O barulho não prova nada: muitas vezes, uma galinha que simplesmente pôs um ovo cacareja como se tivesse posto um asteróide.»

- Mark Twain

sábado, julho 15, 2006

Tragédias colaterais

«On October 6, 1973, Egypt and Syria invaded Israel, igniting what became known as the Yom Kippur War. Contrary to popular impression, the 'yom Kippur' War was not the simple result of miscalculation, blunder or an Arab decition to launch a military strike against the state of Israel. The entire constellation of events surrounding the outbreak of the October War was secretly orchestrated by Washington and London, using the powerful secret diplomatic channels developed by Nixon's national security adviser, henry Kissinger. Kissinger effectively controlled the Israeli policy response through his intimate relation with Israel's Washington ambassador, Sincha Dinitz. In addition, Kissinger cultivated channels to the Egyptian and Syrian side. His method was simply to misrepresent to each party the critical elements of the other, ensuring the war and the subsequent Arab oil embargo.
US Intelligence reports, including intercepted communications from Arab officials confirming the buildup for war, were firmly supressed by Kissinger, who was by then Nixon's intelligence 'czar'. The war and its aftermath, Kissinger infamous "shutle diplomacy", were scripted in Washington along the precise lines of the Bilderberg deliberations in Saltsjöbaden the previous May, come six months before the outbreak of the war. Arab oil-producing nations were to be the scape-goats for the coming rage of the world, while the Anglo-American interests responsible stood quietly in the background.
(...) One enormous consequence of the ensuing 400 per cent rise in OPEC oil prices was that investments of hundreds of millions of dollars by British Petroleum, Royal Dutch Shell and other Anglo-American petroleum concerns in the risky North Sea could produce oil at a profit. It is a curious fact of the time that the profitability of these new North Sea oilfields was not at all secure until after the OPEC price rises. Of course, this might only have been a fortuitous coincidence.
By October 16, the Organization of Petroleum Exporting Countries, following a meeting on oil prices in Vienna, had raised their price by a staggering 70 per cent, $3.01 to $5.11 per barrel. (...)
Significantly, the oil crisis hit full force in late 1973, just as the president of the United States was becoming personally embroled in what come to be called the "watergate affair", leaving Henry Kissinger as de facto president, running U.S. policy during the crisis.(...)
The U.S. Treasury, under Jack Bennett, the man who had helped steer Nixon's fateful August 1971 dollar policy, had established a secret accord with the Saudi Arabian Monetary Agency, SAMA, finalized in a February 1975 memo from U.S. Assistant Treasury Secretary Jack F. Bennett to Secretary os State Kissinger. Under the terms of the agreement, a sizeable part of the huge new Saudi oil revenue windfall was to be invested in financing the U.S. Government deficits. A young Wall Street investment banker with the leading London-based Eurobond firm of White Weld & Co., David Mulford, was sent to Saudi Arabia to become the principal "investment adviser" to SAMA; he was to guide the Saudi petrodollar investments to the correct banks, naturally in London and New York. The Bilderberg scheme was operating just as planned.
Kissinger, as Nixon all-powerful national security adviser already firmly on control of all U.S. intelligence estimates, secured control of U.S. foreign policy as well, persuading Nixon to name him Secretary of State in the weeks just prior to the outbreak of the October Yom Kippur War. Indicative of his central role in events, Kissinger retained both titles, as head of the White House National Security Council and as Secretary of State, something no other individual has ever done, before or since. No other single person during the last months of the Nixon Presidency wielded as much power as did henry Kissinger. To add insult to injury, Kissinger was given the 1973 Nobel Peace Prize.
Following a meeting in Teheran on january 1, 1974, a second price of more than 100 per cent brought OPEC benchmark oil prices to §11.65. This was done on the surprising demand of the Shah of Iran, who had been secretly put up to it by Henry Kissinger. Only months earlier, the Shah had opposed the OPEC increase to $3.01 for fear that this would force Western exporters to charge more for the industrial equiupment the Shah sought to import for Irabn's ambitious industrialization.
From 1949 until the end of 1970, Midle East crude oil prices had averaged aproximately $1.90 per barrel. They had risen top $3.01 in early 1973, at the time of the fateful Saltsjöbaden meeting of the Bilderberg group, whitch discussed an imminent 400 per cent future rise in OPOC's price. By January 1974, that 400 per cent increase was a fait accompli.
(...)
The socialimpact of the oil embargo on the United States in late 1973 coul be described as panic. (...)
In Wester Europe, the shock of the oil price rise and the embargo of suplies was equally dramatic. From Britain to the Continent, country after country felt the effects of the worst economic crisis since the 1930's. Bankruptcies and unemployment across Europe rose to alarming levels.(...)
But for the less developed economies of the world, the impact of an overnight price increase of 400 per cent in their primary energy source was staggering. The vast majority of the world's less developed economies, without significant domestic oil resources, were suddenly confronted with an unexpected and unpayable 400 per cent increase in the cost of energy imports, to say nothing of the cost of chemicals and fertilizers derived from petroleum. (...)
India in 1973 had a positive balance of trade, a healthy situation for a developing economy. But by 1974, India had total foreign exchange reserves of $629 milions with which to pay -in dollars - an annual oil import bill of almost double that, or $1.241 million. (...)
But while Kissinger 1973 oil shock had a devastating impact on world industrial growth, it had an enormous benefit for certain established interests - the major new York and London banks, and the Seven Sisters oil multinationals of the United States and Britain. By 1974, Exxon had overtaken General Motors as the larges American corporation in gross revenues. Her sisters, including Mobil, Texaco, Chevron and Gulf, were not far behind.

The bulk of the OPEC dollar revenues, Kissinger's "recycled petrodollars", was deposited with the leading bank of London and New York, the banks which dealt in dollars as well as international oil trade.»

- William Engdahl, "A Century of War"


Em Abril de 1974, catalisado pelo choque petrolífero em epígrafe (que eu próprio testemunhei, não estou a falar de cor), Portugal engrenou numa estranha negociata: para comprar uma rifa da democracia de pacotilha, penhorou, senão entregou mesmo numa bandeja, a independência nacional.
E o resto é conversa para boi dormir. Agarrado à chucha da ideologia (e não estou apenas a falar da garotada de esquerda).

Entretanto, nos gloriosos tempos que correm, contabilizem o preço do petróleo em 2002, antes da invasão do Iraque e o preço em que ele flana agora, após a "invasão do Líbano" e o que mais virá. Quanto às fantasias, florilégios e hooliganismos psicopolíticos, poupem-me. Já sei que a vossa matilha é a melhor do mundo e a vossa claque a campeã vitalícia.

sexta-feira, julho 14, 2006

A cabeçada

A cabeçada de Zidane foi um gesto inqualificável. Dissesse o outro calhorda mafioso o que dissesse, não se admite. Não tem desculpa. Que péssimo exemplo para as crianças! Especialmente aquelas que, por esse mundo fora, ainda não têm play-station ou TV cabo.
É preciso não esquecer que Zidane é de estirpe argelina, ou seja, um derivado muçulmano altamente suspeito, um portador sabe-se lá de que ínvio determinismo. Portanto, tem mais é que penitenciar-se, ser humilde, compreensivo, tolerante e bebedor compulsivo de coca-cola.
Se fosse de parentesco hebraico, se participasse dessa herança excepcional, desse pedigree inefável, ah bom, aí seria não só completamente diferente como plenamente razoável, angeliníssimo, pulquérrimo. Não uma cabeçada - que seria uma retaliação indigna, escassa, exígua para tamanhos pergaminhos -, mas um tiro, uma granada de mão, uma saraivada de facadas, no mínimo. E nunca negligenciando, claro está, toda aquela vingançazinha suplementar - mas indispensável, protocolar -, sobre a família, a raça e a nação do ofensor: demolição da domicílio da mãezinha com buldózeres justiceiros; assassínio selectivo e aleatório de vários compatrícios, pela Mossad bendita; e bombardeamento do aeroporto de Palermo, uma hidroelétrica, duas praias e várias pontes, com mísseis e bombas geniais (inteligentes são os americanos e os ingleses; os israelitas, como é público e notório, são todos, sem excepção, geniais – o que se transmite, por pregnância mística, às suas próprias ferramentas e utensílios).
E nem era preciso, notem bem, que o safardana lhe depreciasse a mãe, a irmã ou a esposa. Sequer que insinuasse coisas ramificadas sobre o pai, o avô ou os primos da província. Nada disso; bastava que lhe rosnasse, por exemplo, e ainda que entredentes,“pencudo!”.
E que espectáculo edificante não seria, então, para todas as crianças do mundo!...

quinta-feira, julho 13, 2006

Por um Sorteio Universal (rep.)

(Como ninguém me pediu, eu, que sou acima de tudo um espírito de contradição, tenho o maior gosto em repor este postal de Janeiro. ).

Digo isto com toda a sinceridade: não entendo porque é que em Portugal, para efeito de eleição do presidente da República (e até de deputados ou autarcas) não se adopta, duma vez por todas, um sistema de lotaria. Andava à roda. Tiravam-se rifas. Em vez de urnas, centenas delas e respectivas guarnições, bastava uma única tômbola gigante. Então não era muito mais consentâneo com o nível recorrente dos candidatos e respectivos eleitores? Verdadeira democracia era assim: Todos os cidadãos que cumprissem determinados requisitos (maiores de 35 anos, sem problemas com a justiça, alfabetizados, de nacionalidade portuguesa, etc,) recebiam um número. Depois, a Santa Casa, que já está habituada a estas quermesses, sorteava o presidente, os deputados, ou os autarcas.
Aforrava-se um bom dinheiro, poupavam-se as peixeiradas do costume, evitavam-se palanfrórios e zaragatas, não se perdia tempo com gambosinices, falsas promessas e contos do vigário, e o resultado, com um bocado de sorte, até era melhor. Pior, pelo menos, seria quase impossível. Sejamos lúcidos: depois de um Gorge Sampaio ser presidente da república, não tenho qualquer dúvida que um qualquer taxista anódino, cabeleireira avulsa ou vendedor ambulante, no mínimo, não só estariam habilitados para a função, como, de certeza, alcançariam bem mais pitorescos desempenhos. E que dizer dum Santana Lopes primeiro-ministro? Ou até dum Durão Barroso, dum Guterres, dum Soares, etc? E os deputados? E os autarcas? Já repararam bem?Face à monotonia confrangedora das performances destes esplêndidos e sufragados “dirigentes”, cada português tira as suas ilações. A mais usual –e lógica- é reconhecer-se, o luso-aborígene, plenamente capacitado, vocacionado e predestinado, desde a barriga da mãe, para os mais elevados cargos do Estado e da Governação. Isto se, como entretanto -e cada vez com maior frequência - acontece, não descobrir a resfolegar dentro de si um ditador clarividente e pronto para, às três pancadas mas com carácter de urgência, assumir a mundícia e a redenção da pátria. Nem mais. E quase tudo nos indica, e taxativamente garante, que pior figura que os actuais –que, de resto, são também os recentes e anteriores, pois são os mesmos vai para mais de trinta anos -, não faria. Limpinho; e até mesmo se optasse por uma letargia absoluta, ou se se mantivesse oculto e ausente durante todo o mandato, ninguém notaria grande diferença.
Não raras vezes, dou comigo a viajar de táxi só para escutar os projectos mirabolantes do respectivo piloto. Mesmo os ultra-descabelados, inçados de medidas radicais e purgas enérgicas, conseguem ser mais interessantes que o chorrilho de idiotices e baboseiras dos presentes candidatos oficiais a qualquer coisa, mas sobretudo à poltrona de bibelot-mor da república. Ao menos, caso fosse sorteado, o furioso taxista conduziria o país como se fosse um táxi, desflorando vielas e peregrinando atalhos, o que, havemos de convir, sempre conferiria alguma emoção ao percurso. E sempre era preferível que vê-lo, diaria e convulsivamente, a ser conduzi-lo feito casa de alterne, que como sabemos não prima pela aerodinâmica, para além de lhe faltarem motorização e rodas adequadas.
Provavelmente, é excentricidade minha, mas desgosta-me que o país se confunda com uma casa de alterne, que os políticos não se distingam das alternadeiras, que os administradores da Coisa Pública se assemelhem a banais alcaiotes. A sério, deprime-me. Confesso que desde pequenino, talvez cativado por devaneios e romances absurdos, acalentava outras esperanças.
Todavia, se assim é, se assim está condenado a ser pela eternidade, se não se distinguem os eméritos candidatos dos mais básicos e vulgares eleitores, então, ao menos, que todos os eleitores usufruam do pleno direito a ser candidatos. Era assim na Grécia Antiga, quando inventaram a democracia. Todos os cidadãos de pleno direito eram efectivamente iguais, sem castas. Hoje critica-se e menoscaba-se muito esse regime primordial porque só permitia que uma minoria votasse (nem mulheres, nem escravos, nem estrangeiros participavam); e no entanto, nesta hora que passa, não se vislumbra grande evolução, a não ser talvez para pior: a percentagem dos eleitores aumentou, todos votam, mas apenas uma invariável e hermética minoria pode candidatar-se aos cargos superiores públicos. Uma elite? Não, uma mera chusma dissimulada, oligárquica e feudal. Tipos que à viva imagem de qualquer fulano avulso não fazem a menor destrinça entre o próprio interesse e o interesse geral; pior: que não reconhecem sequer a existência de qualquer interesse para lá das fronteiras do seu próprio interesse, diga-se, já agora, pela única e exclusiva razão de que o seu interesse próprio não tem limites e só conhece rival na sua ganância. Mas, repito, se é assim, se quem exerce o poder não se distingue de qualquer um, então que um qualquer possa ser qualquer coisa, sobretudo qualquer “Coisa Pública”. Vale mais confiar na Sorte que na Insídia, no Conluio, no Sofisma. Já fede esta fantochada retórica do “povo escolhe”, “o povo elege”, o “povo é soberano”. Balelas!, o povo não escolhe coisa nenhuma, muito menos “Coisas públicas”, e soberana só será certamente a sua impotência, bem como lendária a sua estupidez. A escolha é prévia, a confecção é sempre anterior e decorre na penumbra dos bastidores, até os mongolóides mais toscos já desconfiam disso. O povo apenas ratifica, homologa, assina de cruz. Prefere a embalagem da papa, a marca e o brinde; mas, na substância, não tem direito nem opção a outro prato que não aquela mistela liofilizada e rançosa que lhe deitam na manjedoura. De quatro em quatro anos, perguntam-lhe, quando muito, se quer mudar de marca ou de cozinheiro. Fodido com a papa, enjoado com o mingau, o cabrãozito muda, quer dizer, por instantes ilude-se que muda, que melhora, que rompe. Apenas para descobrir que o sabor é o mesmo e igualzinha a disenteria resultante.
Porém, garantem-lhe, se não é assim, é o caos, o Fim-do-Mundo.
Pois eu acho que, para ser assim, então vale mais a lotaria, o totoloto, o Luso-milhões! Puta que pariu o sufrágio universal, fraude ignóbil, e viva o Sorteio Universal! Ao menos, sempre ocasiona alguma expectativa acerca do resultado da extracção; por um inescrutável capricho da sorte até pode calhar alguém com nível, com inteligência – coisa que no sufrágio actual é impossível: já todos sabemos –já estamos mesmo calejados de saber - que, saia o que sair, não sai da cepa torta. Não altera nem contende com a substância.
Actualmente, o povo vai –aquele que vai, cada vez menos -, para o sufrágio com a resignação e o ricto próprios dum funeral: desconfia mesmo que não é por acaso que chamam urna ao vasadouro da sua murcha e irrisória soberania. Dir-se-ia que em vez de ir rezar missa pela ressurreição dos seus sonhos, vai antes depor na sepultura mais um quadriénio de esperanças. Suspeita que tão irrelevante e inócuo como o seu voto só há uma coisa: o resultado dele. Ora, adoptasse-se a modalidade de Sorteio e era ver a alegria, a animação e o entusiasmo que não precederiam a extracção!... Uma festa generalizada, meus amigos! Quais sondagens, contagens, lavagens, fraudes e todas esses mistifórios inerentes a processos eleitorais; em coisa de minutos resolvia-se o assunto e com uma isenção e limpeza imaculados. Já não falando nas probabilidades, à partida, rigorosamente iguais para todos os concorrentes, sem batotas nem falcatruas - no caso do Primeiro magistrado da nação, mesmo sem matilhas, bandos, récuas nem nenhumas dessas revoadas tão aviltantes do acto.
Agora, imaginando que na rifa saía um traste, um grandessíssimo traste. Obstar-me-ão: Não será isso, dada a elevada percentagem dos ditos cujos na população, um risco demasiado alto que, bem vistas as coisas, desaconselha o método?
É um facto que, em termos de densidade de filhos da puta por metro quadrado, o nosso país compete com as grandes potências do sector. Nessa contingência, a lei das probabilidades não perdoa e aponta, naturalmente, em caso de sorteio puro, para uma maior possibilidade de ocorrência dessas prendas.
Não obstante, um risco, por mais elevado que seja, nunca é tão mau e desolador quanto uma certeza absoluta, uma rotina que já bebe das leis inexoráveis da mecânica celeste. Através do sorteio, ainda haveriam algumas hipóteses, se bem que remotas, de nos sair na rifa alguém de jeito. Enquanto, por intermédio de sufrágio, como a experimentação exaustiva já nos ensinou, não restam nenhumas.
Sempre é preferível uma escolha aleatória, que uma escolha alienada. E, francamente, antes apostar na extracção da lotaria, que em políticos de baixa extracção.

quarta-feira, julho 12, 2006

Da Neo-Pornografia, ou a Neo-Gina para neoconinhas e outros atlanticonas cá do burgo



Um tanque israelita supervisiona, atentamente, a travessia da rua por uma perigosa (e sabe-se lá capaz de que actos tresloucados de terrorismo, genocídio bárbaro e voodu islamofassista) velhinha palestiniana. É assim mesmo, rapazes: há que trazê-las sempre debaixo de olho! Quer dizer, de mira.

Big-noose is watching us! And her, by the way.

E não se vê, o que é pena, mas atrás dela segue já o buldózer para lhe vasculhar o domicílio.

Não foi em vão que «Lamec disse às suas mulheres: "Ada e Cila, escutai a minha voz; mulheres de Lamec, ouvi a minha palavra: Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou. Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete."» (Genesis 4, 23-24)

Imaginem agora os mirianetos do Lamec!...
É uma gente violenta, mega-rancorosa, desapiedada, esta, a dos descendentes de Caim.

domingo, julho 09, 2006

Apologia e difamação - Breve anatomia comparativa

Vivemos numa Nave de Loucos, num "Mundo às Avessas". E a blogosfera não escapa à regra. Se bem que muito nenufarmente, também participa da atmosfera. Pois bem, de modo a obviar a certos mal entendidos sempre desaconselháveis aos nossos leitores, bem como outros berbicachos contraproducentes, aqui fica um esclarecimento totalmente gratuito:

Isto, caros senhores, é difamação (difamação com todas as letras!):
« Dragoscópio é pura e simplesmente o melhor blogue português.»
«O Dragão é genial!»
«Quando disse que o Dragoscópio era o melhor blogue português não o fiz por questão de "amizade virtual".»
«O dragão é (a par do desfazedor de rebanhos) o melhor blogue português».


E isto é apologia (apologia da mais purinha!):
«Para o Vasco Graça Moura ainda há memória, mas para si Dragão, nunca haverá. Aquilo que escreve é tão mau, tão redutor, tão imbecil e vulgar, que acho espantoso como é tem espaço GLQL. Com a Eremitocracia, você pratica a Estúpidocracia, com ares de Grande Educador de não sei o quê. Já esperimentou lavar a cara? Um bom banho ajuda muito.»
«A Zazie á uns tempos atrás recomendou-me a leitura de um post do Dragão, no "Dragoscópio", e eu com fui ver o blog, ler o post e óbviamente avaliar o blogger. Fiquei horrorizado.»
«Para terminar e como é óbvio,respeito a 100% a sua opinião, mas francamente e para além de tudo o que escrevi sobre o Dragão, ele até na componente estética é um desastre absoluto.»


Agora, o leitor - algo confuso, admitamos-, perguntar-mo-á: "Gaita, Dragão, mas como é que sabemos, de ciência certa, num mundo tão destrambelhado como este, que se trata de apologia ou de difamação?

E eu, sempre prestável, como é meu timbre e apanágio da minha família desde Vlad, o Empalador, responderei:
- É simples, caro leitor amigo (ou inimigo, tanto faz): o que define a coisa, já diagnosticava Aristóteles, é, entre outros mistérios que seria agora fastidioso elencar (e aumentaria consideravelmente o número de saloios hostis), a origem da mesma. Transposto para o vertente caso, resulta no seguinte: quando pessoas inteligentes, racionais, minimamente lidas e viajadas, se bem que dadas à fantasia, aos cogumelos alucinogéneos e à auto-mistificação, como são a minha cara Zazie e o estimado Timshel, desatam nestas categorizações, não tenhamos dúvidas - é de todo evidente o intuito menoscabante, depreciador, liliputosfórico. Afirmar que eu sou o "melhor blogue português" -ou mesmo, por absurdo, jurar a pés juntos que eu sou o "melhor blogue do planeta" - quando sabem perfeitamente, os sacanas, que eu sou "o melhor blogue da galáxia e arredores", é, no mínimo, achincalhante. De resto (e eles sabem-no bem) por uma questão de princípio, tradição e coerência, o facto de ser, de facto e sem espinhas, "o melhor blogue do Universo" obriga necessariamente a que seja o "pior blogue de Portugal". Por conseguinte, estou a pensar seriamente em processá-los e argui-los por danos irreparáveis -e contumazes! - à minha péssima reputação (apesar de, em absoluto, e passada a fronteira e as camadas mais baixas da estratosfera, ela ser sublime).
Já quando um auto-denominado Sniper -a quem, por caridade e gratidão, poupo adjectivos, mas que presumo tratar-se dum frango-atirador furtivo-, desembesta a ungir-me de injúrias, pedradas virtuais e outras ventosidades estrepitosas, cada qual mais perfunctória que a anterior, isso só pode ser, com toda a certeza, o maior panegírico, o mais gratificante encómio e o mais glorioso lustro de que há memória, pelo menos no último mês (o que, convenhamos, para um roedor de notícias, blogues e jornais destes, deve equivaler a uma verdadeira eternidade).
Dispenso-me de explicar aqui, com superabundância e consequente desperdício de detalhes, porque é que se trata, ao contrário do que parece, de magniloquente apologia. Mas decerto os estimados leitores -pessoas argutas, quando não verdadeiros poços de sapiência e cultura - já perceberam.
Concluo, de resto, com uma parábola: se um ceguinho vem vilipendiar a pintura, decerto não estais à espera que eu bata no ceguinho.
Por princípio e voto de cavalaria, aliás, não bato nem em mulheres, nem em aleijadinhos. Ora, o ceguinho é só uma espécie de aleijadinho oftálmico. Se bem que neste caso, e para me inibir ainda mais, acumule com uma visível corcunda mental.
Mas, porra, ao menos para efeitos cosmopolitas, sempre se podiam disfarçar um pouco melhor, estes fulanos!...

quinta-feira, julho 06, 2006

Os Avatares do Escritor

Vasco Graça Moura, o escritor - não confundir com o político (são e não são -neste caso, não - a mesma pessoa)-, escreve um certo número de verdades eloquentes no DN de ontem. São evidências mais que óbvias, que resplandecem, que bradam aos céus, que se têm vindo paulatinamente a acumular e a fermentar numa espécie de monturo regimental, mas que, todavia, não parecem perturbar seriamente ninguém. Mesmo o escritor Graça Moura, do alto da sua condolência retórica, é só às quartas-feiras que padece destas inquietações. No remanescente calendário, sobretudo quando o partido de que é luminária excelentíssima pasta no erário público, o escritor Graça Moura cede diligentemente o púlpito ao deputado Graça Moura, ao Comendador Graça Moura, ao Comissário Político Graça Moura, em suma: a toda uma vasta catrefa de avatares vorazes, todos eles demasiado catrafilados aos úberes do Orçamento para terem tempo a esbanjar com tão improfícuas lana-caprinices. Na verdade, mal a maré muda, o vate pio desce exausto do púlpito e adeja a refocilar, com volúpia, no bordel. Ora, a maré, abençoadinha, Deus lha guarde por muitos e bons anos, tem mudado sistematicamente, com regularidade providencial e cadência de alterne. Não espanta pois que, em perfeita sincronia, logo que a ressaca cede lugar à cornucópia, o campeão das virtudes se outorgue indulgências sabáticas e corra a retemperar-se, jubiloso, entre as rameiras.
Mas como agora estamos num daqueles interstícios severos por onde o fariseu, ocasionalmente, espreita e salmodia, não duvidemos: é o escritor. Quiçá mortificado ou descompensado por alguma síndrome de privação, dá gosto vê-lo a verberar contra o petisco, a denegrir no refogado, a escarnecer do pitéu. Quando não está ocupada com a mama, foge-lhe a boca para a verdade. Não obstante, nos trinta anos em que andaram a confeccioná-la, à monumental mixórdia, a maior parte do tempo, ele, o mija-versos, o besunta-formas, passou-o nas cozinhas. Desde o PREC que lá anda: ora de roda do Chef, a acolitar ao forno, ora de faxina ao lava-loiça, a resmungar e a branquear os tachos.
De secretário de Estado no lendário Gonçalvismo do IV Governo Provisório a Comissário Político no não menos épico Cavaquistão, foi vê-lo sempre a aviar-se, numa azáfama de videirinho a reboque duma pança insaciável de comensal.
Responsabilidades? Vão pedi-las ao Camões!... Porque neste país, responsabilidade, vergonha, memória, tal qual como o reconhecimento, são geralmente a título póstumo.

domingo, julho 02, 2006

Favores, Factores e Feudalismos (part. II)

Gostaria de escrever mais amiúde neste blogue, mas a gleba não mo tem permitido. Aproveitando uma nesga na labuta, retorno à vaca fria, no ponto exacto onde a deixei, e que, por falar nisso, já não me lembro muito bem qual era.
Bem, que se lixe! Imaginem, então, Vosselências, que vivíamos numa monarquia. Cruzes, credo, compadres! Por uma vez, sem exemplo, abençoada seja a república. Mesmo de bananas, louve-se! Não fosse ela, e em vez de “adjunta do Ministro”, tínhamos que tratar a lambisgóia “despachada” por “princesa” – a princesa Vera Ritta.
Assim, ao menos, na sua mordomodiceia acidentada, de “filha do presidente” já resvalou para “adjunta do Ministro da presidência”. Com um bocado de sorte, a este ritmo apesar de tudo animador, daqui a oito ou nove gerações, pode ser que a medonha descendência já participe em concursos públicos, nem que seja por mera fachada.
Quanto ao critério inefável do Ministro Silva Pereira, permitam-me alguns alvitres - apesar de, à primeira vista, um só se avantajar bastante: pediu uma lista de candidatos sorteados aleatoriamente nas páginas amarelas e ao ver uma Ritta com dois “tês” – portanto uma Rita TT ou T2, ainda por cima recheada de um “de”*, não hesitou, requisitou tão cintilante inteligência para adjuntar à sua.
Ou então reparou argutamente que, além de TT, era BdS, ou seja, Branco de Sampaio e, como é típico dos crânios sofisticados, com desembaraço fulminante, vislumbrou uma série de potencialidades e mais valias que –a nós, vulgares mortais e servos - nem nos passam pela cabeça.
Claro que nisto, como em tudo, há sempre a questão da raça, do pedigree, da eugenia, enfim, da fidalguia. O ministro com certeza que, em precisando dum cão, não vai resgatar um rafeiro ao canil municipal, por mais habilidoso e diplomado em artes circenses ou marciais que lho apregoem ou ajuramentem. Da mesma forma, se precisar dum automóvel, dum telemóvel ou duma amante – e decerto precisa, como de pão para a boca -, não vai apetrechar-se dum chaço em segunda mão, duma raquete que nem fotografias tira, ou, Deus o livre e guarde, duma Katia qualquer alternadeira cuja mãe vendia peixe na praça e cujo pai permanece incógnito, quando não se sorteia, pelas más línguas do bairro, entre um proxeneta, um polícia, um taxista e um limpa-chaminés marrequinho. Ninguém lhe perdoaria, sabemo-lo bem. A começar nos eleitores das classes mais baixas, devoradoras de telenovela e revistas cor-de-rosa, que, nestas tranquibérnias, são de um snobismo feroz e prefeririam mil vezes partir uma perna em vários sítios a ver os pergaminhos alheios ao nível das próprias patas – excepção feita e ressalvada a uma Katia com dois “tês” (uma T2, portanto) cujo progenitor, após grandes peripécias e dramas, se viesse a revelar, nem mais nem menos, como sendo o Conde do Cadaval, o padre Melícias ou o primo legítimo do Pacheco Pereira. Ora, se para escolher cão, veículo ou concubina já é este sarilho todo, todas estas burocracias e protocolos, fará agora uma “adjunta de gabinete”.
Naturalmente, há que respeitar padrões, que burilar paradigmas. Um Ministro, como acabo de demonstrar, não vai decerto adjuntar-se com uma qualquer. É um representante do povo e o povo, se puder, também deita a fateixa e despeja a espermatália numa baronesa, numa viscondessa ou, superlativo enlevo, numa princesa boiarda. Maior gulodice não se lhe reconhece. Vai daí, em nada nos pode surpreender que o “ministro” se tenha adjuntado com a “filha de um ex-presidente da República”. Não é grande coisa, todos sabemos, (principalmente se levarmos em conta o ex-presidente em questão) mas sempre é melhor que nada. Aliás, pela ordem actual das coisas, segundo a hierarquia de importâncias, acreditamos que tenha tentado a “filha de um ex-presidente da Federação Nacional de Futebol”, mas, pelos vistos, não havia nenhuma disponível. Já se se tratasse do primeiro Ministro, o mínimo aceitável – aquele que o protocolo reclamaria - seria a “filha de um ex-presidente de um clube de futebol” (dos três grandes, logicamente). E no caso do próprio presidente da República sentir vontade duma “adjunta”, não vejo outro nível adequado senão a “filha de um presidente do Benfica”. Afinal, sempre estamos a falar do mais alto magistério da nação.

*Nota : Eu, sem querer estar a gabar-me (até porque cago nisso de mui elevado altor), também tenho um “De”. No meu caso sou um “de Aragão e Tal”. Mas como verdadeiro e antigo aristocrata, que já o meu enesimavô cavalgava com D.Afonso Henriques, não sou dado a peneiras nem Pacheco-pereirices. Por conseguinte, e por facilidade de trato, a malta –capitaneada pelo Caguinchas, esse amotinado profissional - começou a tratar-me por D’aragão e, finalmente, por força da elisão do “a” (que claramente lhes ofendia o palato e complicava com as dentuças), resultou no D’ragão por que todos me tratam e, a maior parte das vezes, destratam, a pretexto do meu anti-benfiquismo vociferante.
Dissipado este inefável mistério, desejo-vos um bom resto de fim-de semana (luxo a que não tenho direito, por via desta gleba que, vitalícia e ininterruptamente, me reclama e atormenta).