sexta-feira, abril 21, 2006

Punhetódromos sibilinos


Eu só não percebo uma coisa: quando vosselências se põem com esses salamaleques todos, com essas manicures do conceito, mais esses peelings da ideia, enfim, com essas pívias descafeínadas do pensamento "ultralight", porque diabo cismam de meter o Dragão a servir de rodapé?!... Mas que raio faço eu nessas procissões ad-hoc, em punhetódromos tão solenes? Sirvo porventura de mefistófeles padroeiro na abertura da Santa caça-ao-pintelho?
Temos agora voyeurismo de caixas de comentários. Há tipos que, afinal, andam pelos blogues para espreitarem as retretes. Os postais são irrelevantes, servem apenas de pretexto para mirar quem alça a perna no postal. No fundo, são os graffitis nos azulejos, na porta da sanita, na tampa do autoclismo que lhes interessa. Só que não contentes, exigem explicações, clamam ao dono da casa que vire faxineiro e apague certas obscenidades contrárias aos mandamentos da verdadeira doutrina. Não apenas literatura, exigem religião, ou melhor, moral e religião. Embicam de dar opiniões sobre as opiniões, de vasculhar as excreções em busca de indícios, de censurar na seara alheia, de tonsurar as cabeleiras púbicas e vacinar os chatos comensais. No melhor dos casos, pelos vistos, vêm à casa dos outros, não para visitar os outros, mas para espiolhar quem lá vai, quem lá defeca, se o faz bem ou mal vestido, se é gente fina, selecta, crente; se lava as mãos depois do acto, se sacode não mais de três vezes; se, horror dos horrores, regando de pé, em vez de acocorado como manda o pulhiticamente correcto, salpica a alvura mosaica. E depois, com o sentido de humor de septuagenárias virgens e rebarbadas, de buço e verruga, vão a correr ratar e crocitar na praça, na sacristia, no confessionário do Big-Brother sobre as cusquices recolhidas.
Ficar ao nível de tais galinhices requeriria duas operações básicas: lobotomia e castração. Como é óbvio, dispenso tão distintos colóquios. Mais, dito em bom português: quero mesmo é que se fodam! Que brinquem com a pilinha deles, urdam tricôs e bordados no penico da moralidadezinha sonsa, mas deixem em paz a privada dos outros.

Quanto às caixas de comentários, não espremam mais a moleirinha a tentar decifrar o mistério: vão reabrir já de seguida. Com um uppgrade, ou seja: confiando ao vidente Lutz as funções, tão desejadas, de porteiro do mictório (agora convertido em discoteca); e ao sacristão Timshel o magistério de barman, servindo hóstias-pop e shots de água benta. Santa Helena, essa, velará do pedestal, com a graça do espírito santo na orelha e o detector de "pintelhices heréticas" em riste.

Passem bem e bloguem longe.

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