quarta-feira, novembro 30, 2005

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«A morte berrada do Grande Pirata a cantar
Até meter pavor plas espinhas dos seus homens abaixo.
Lá da ré a morrer, e a berrar, a cantar:

Fifteen men on the Dead Man's Chest.
Yo-ho-ho and a bottle of rum!

E depois a gritar, numa voz já irreal, a estoirar no ar:

Darby M'Graw-aw-aw-aw-aw!
Darby M'Graw-aw-aw-aw-aw-aw-aw-aw!
Fetch a-a-aft the ru-u-u-u-u-u-u-um, Darby!

Eia que vida essa! essa era a vida, eia!
(...)

Ah! a selvajaria desta selvajaria! Merda
Pra toda a vida como a nossa, que não é nada disto!
Eu pr'áqui engenheiro, prático à força, sensível a tudo,
Pr'áqui parado, em relação a vós, mesmo quando ando;
mesmo quando ajo, inerte; mesmo quando me imponho, débil;
Estático, quebrado, dissidente cobarde da vossa Glória,
Da vossa grande dinâmica estridente, quente e sangrenta!

Arre! por não poder agir d'acordo com o meu delírio!
Arre! por andar sempre agarrado às saias da civilização!
Por andar com a douceur des moeurs às costas, como um fardo de rendas!
Moços de esquina -todos nós o somos - do humanitarismo moderno!
Estupores de tísicos, de neurasténicos, de linfáticos,
Sem coragem para ser gente com violência e audácia,
Com alma como uma galinha presa por uma perna!»

- Álvaro de Campos, "Ode Marítima"

2 comentários:

  1. (...) 'às vezes quando é preciso também sei chorar assim'...(...)
    Um abraço.

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  2. O mais moderno, o mais inconformado, o mais lúcido, a loucura frenética e o delírio, o mais triste, o mais atento, o mais forte, o mais fraco, o mais terno, o próprio e os outros... tudo no mesmo poema, na mesma Ode.

    Lembro perfeitamente o: Fifteen men on the dead man's chest, yo, yo, yo and a bottle of rum, pelase (mais ou menso isto!!).

    O que mais me fica nesta ode é uma coisa terrível: uma comovente ternura(?)

    TR

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