Bem, caros leitores, neste momento, estão-se a abeirar de mim umas figuras sinistras, em tudo semelhantes às da fotografia do último postal, acompanhadas dum grande machado de executor e vários outros argumentos de peso. Como não tenho aqui à mão a minha Remington 870 Expresso (exactamente, aquela que podem consultar no meu Kit Balnear), deixo-vos com estas pessoas. Mas é só o tempo de ir buscá-la. Não demoro nada.
Zé do Grelo: Ora vivam, ciber-ouvintes! Cá está a vossa rádio preferida e também predilecta! Após uma longa ausência –forçada e prepotente, diga-se – por via desse farsola do Dragão que deu em armar ao careto e cagar d’alto na malta jovem, vimo-nos desapropriados da nossa antena e espaço musical. Mas esta noite vamos tirar a barriga de misérias! Babem-se, ó metaleiros, temos connosco o ídolo mais ignorado do momento, a mega anti-star a actualidade...ele mesmo, o único: Esquife Tale!! - Fundador e lider dos Caveira Maléfica, criadores do Morgue Metall, fundadores do TeleMetal e, ocasionalmente, líderes de Surf-Metal!!! Mas vamos à entrevista...
Boa noite, Esquife! Bons olhos te vejam (se bem que só de ver-te um gajo até se assusta, experimenta calafrios e quase se borra todo...) Poisa aí o machado; e a clava podes estacioná-la ali naquela cadeira...
Esquife Tal (subentenda-se a voz cavernosíssima)- Péssima noite para ti, ó Zé. E para todos os Ciber-fãs.
Zé do Grelo - Vai ser de certeza, Esquife. Contigo, só pode. Mas deixemo-nos de salamaleques e passemos ao que interessa. E o que interessa a todos, para além de saberem quando é que vais arrasar na "Quinta das Celebridades", e agora que já todos sabemos quem é o novo-Papa, é... estás preparado ó Esquife?...
Esquife Tal - Dá-me só um segundo para acabar de snifar aqui o pó...
Zé do Grelo - Então...aí vai: o vosso novo album, Esquife... é verdade que foi gravado em Vénus?...
Esquife Tal (fungando) - Pá, Zé, é verdade mesmo. Quer-se dizer, parte verdade. De facto, começámos a gravar em Vénus e acabámos em Jupiter. Sabes que o nosso baterista converteu-se ao ismaelismo, àquela facção dos "hashashin", também conhecidos por Assassinos, e deu em juntar o inútil ao desagradável: fuma umas ganzas e mata pessoas, de preferência daquelas que usam gravata e carros do estado. De modo que convém nunca ficarmos muito tempo no mesmo sítio. Isto, também, marca uma nova abordagem ritual: antigamente nós aguardávamos por uma boa confluência astral, agora ensaiamo-la nós próprios. Uma ideia do nosso produtor...
Zé do Grelo - O vosso produtor que, constou-se-me, voltou a ser o Conde Drácula III...
Esquife Tal - Sim, o Conde, essa lenda, voltou a produzir-nos... mas apenas as três primeiras faixas, porque, depois, prostrou-o outra overdose e teve que ser novamente internado para desintoxicação.
Zé do Grelo - O Conde novamente internado?! Mas isso é pólvora, ó Esquife. Ninguém sabia. O Showbiz estava convencido que o Conde nunca mais voltara à auto-estrada...
Esquife Tal - Pois, pá, Zé...Os médicos proibiram-no determinantemente de se aproximar de automobilistas, especialmente em Portugal, onde o teor alcoólico ultrapassa todas as medidas (parece que os aparelhos em vez de medirem a taxa de álcool no sangue já medem é a taxa de sangue no álcool)...
Zé do Grelo - É a seca, Esquife: à falta de água, a malta tem que recorrer a fontes alternativas (risos).
Esquife Tal - Yá, mas o Conde, como eu ia dizendo, curado e traumatizado das auto-estradas, lembrou-se das escolas. Vai daí, toca de ir fazer perfurações no pescoço dos miúdos. Pura ilusão. Foi pior a emenda que o soneto: em menos de nada ficou agarrado à erva, ao ecstazy e às drogas duras! Já não falando numa mistura a que os chavalinhos chamam shots e emborcam à força toda. Nas noites de fim de semana, havias de ver, o estado deplorável em que ficava o Conde...
Zé do Grelo -Calculo, ó Esquife, até me dá arrepios...Coitado do Conde. E vocês não tentaram ajudá-lo dalguma maneira?
Esquife Tal - Pá, a malta já lhe tinha dito que os chavalitos não eram de confiança, muito menos os pais...Por exclusão de partes, sugerimos-lhe os lares e asilos da terceira idade.
Zé do Grelo - E então, não melhorou?...
Esquife Tale - Qual quê! Ao fim de duas bombeadelas nos cotas, já estava agarrado a barbitúricos e analgésicos que eram umas contas na farmácia que Satã nos acuda. Os direitos de autor do último álbum, torrámo-lo em supositórios Ben-Huron e gotas Nasex. Mas o pior foi depois...
Zé do Grelo - 'Dasse, pior, Esquife? Ainda?...
Esquife Tale - Ya Zé, meia dúzia de extracções adiante e o gajo estava agarrado à televisão. Um perfeito vegetal, havias de ver!... Era a malta a querer gravar as vozes, de manhã, que é quando os fagotes estão mais apurados, e o gajo plantado diante do écran, todo compenetrado. Enquanto não gramasse a "Praça da Alegria", toda, (ao mesmo tempo que gravava para dose posterior suplementar, a "Fátima Lopes" e o panasca do Gouxa), ninguém o arrancava de lá.
Zé do Grelo - Nossa Senhora, Esquife!...
Esquife Tale - Nossa, o caraças! Vê lá com'é que falas! Só se for tua, vade retro!...
Zé do Grelo - Desculpa lá, ó Esquife: força de expressão. Diante dum horror desses, um gajo até pragueja. Chiça! Mas a "Praça da Alegria" toda?!! Valha-me Deus!...
Esquife Tale - E tu a dares-lhe! Bate já na boca e três vezes no metal!...
Zé do Grelo - Pronto, já bati. Mas é que isso, realmente...
Esquife Tale - Isso ainda não era nada. O mais grave estava para vir...
Zé do Grelo - Mais grave?!!! Dizes "mais grave", ó Esquife?! Brincas, não? Mais grave que isso é difícil de conceber.
Esquife Tale - Pois é melhor alargares os horizontes. Era a "praça da alegria", eram telejornais, telenovelas, reality-shows e tops não sei das quantas, tudo de enfiada, p'á veia e p'a cachimónia, que era vê-lo tripar que nem um cosmonauta intestinal!...
Zé do Grelo - Santíssimo sacramento de Jaasus!...Ops, desculpa lá, ó Esquife, mas é difícil um gajo conter-se!...
Esquife Tale - Quando sair daqui 'tou a ver que tenho que ir fazer uma "poluição espiritual"...
Zé do Grelo - Mas é que são horrores atrás de horrores...
Esquife Tale - E ainda falta contar-te o derradeiro...
Zé do Grelo - MAIS?!!!
Esquife Tale - Ya Zé, a páginas tantas, o Conde entrou num estado em que alternava a catalepsia babosa com uma ressaca fodida. Quer dizer, só já se aguentava de pé à força de doses reforçadas de TVI. Por incrível que pareça, só a bocarra da Moura Guedes o fazia sorrir, larvarmente, e sentir alguma coisa. Fora isso, bezerrava, vomitava, tinha alucinações, imaginava-se na catequese, no confessionário e até no conclave!...
Zé do Grelo - Por amor de Satã, ó Esquife, intervala aí que até já estou a sentir vertigens!...Isso é desumano! Estamos a receber chamadas de ciber-ouvintes em verdadeiro estado de choque...Há metaleiros que desfalecem e jovens vampiros à beira da anemia!...Um motard veterano, que ia a curtir nos headphones, já fodeu mais um rail!...E a garina que ia atrás entrou pelo parabrisas dum careto e manchou-lhe a gravata toda!...
Esquife Tale - Enfim, coitado do conde. Teve que ser metido num colete de forças e lá foi prá desintoxicação. A esta hora está no desmame...Dizem que é horripilante...Dão-lhe porrada e duches frios. Obrigam-no a frequentar exposições e saraus de poesia. A última vez que lhe telefonei, andava a ler Joyce, Witgenstein e Roland Barthes...Isso e filmes de Bergman e Fassbinder. A seguir, lamentou-se ele, parece que lhe vão dar Manuel de Oliveira e Woody Allen da fase senil, a tocar pífaro.
Zé do Grelo - Bem, e como é que os Caveira Maléfica ultrapassaram esse terrível contratempo, de ficarem sem produtor em plena gravação?
Esquife Tale - Pá, tivemos uma reunião com a editora. ‘Távamos num impasse. Até que o Rasputine, o baixista, teve aquela ideia genial de convidar o Professor Karamba e o Pastor Tadeu...
Zé do Grelo - O Professor Karamba e o Pastor Tadeu?!! Não me vais dizer que foram eles que produziram o resto do vosso album?!...
Esquife Tale - Ya, meu. E também o mullah Omar e o grande Rabi.
Zé do Grelo - Mas isso é bombástico,Esquife!!...Caros ciber-ouvintes, aqui, na vossa rádio predilecta, em primeira mão, a notícia do ano: os Caveira Maléfica produzidos pelo Conde Drácula III, o Professor Karamba, o Pastor Tadeu e ainda o Mullah Omar e o Grande Rabi... Mas vocês vão rebentar com as tabelas, vão estoirar com as "charts"!...
Esquife Tale - Bem, o Mullah Omar acha que era preferível que rebentássemos com a Estátua da Liberdade, ou com o porta-aviões Enterprise, mas a malta ainda não se decidiu...
Zé do Grelo - Mas, ó Esquife, isso é do outro-mundo! Com uma equipe dessas, vais acabar aonde, na Casa Branca? O Telemetal vai finalmente ter o seu Sgt Pepers Lonely?...
Esquife Tale - Afirmativo quanto ao concept album, mas negativo quanto ao Tele-metal. Por quesitos de mercado e oportunidade de negócio (e ultimato da editora) deixámos o Tele-Metal.
Zé do Grelo - Queres dizer que voltaram ao Metal que vos celebrizou na Transilvânia e entre os estudantes de Medicina Legal de todo o mundo: o Morgue Metal?...
Esquife Tale - Negativo, Zé. Os estrategas de vendas descobriram um nicho único...é todo um novo conceito avassalador: o Church Metal.
Zé do Grelo - CHurch Metal, Esquife?!!! Mas tu hoje queres matar-nos do coração? Mas isso é incrível!
Esquife Tale - Ya, parece que é o que 'tá a dar. É o que as massas desejam, o que o público quer: Church. Church e mais church. Isso, numa primeira fase. Depois, já está planeado, evoluímos para o Red Church Metal, ou Sacro-metalúrgico. O Tele, o Rave, o Jungle, o Hip, o House, o Disco, o Morgue já eram. A cena agora é sinos, fumo e mais sinos e mais fumo, alguns samples de camaradas em velório e também uma trompetas apocalípticas a toda a hora, para dar ambiente.
Zé do Grelo - Trompetas apocalípticas?!...
Esquife Tale - Ya, Zé...jornalistas! Coros deles, tunas, orfeões!... O heavy-rock vai dar lugar ao "rock ecuménico"... Aliás, a produção deste album já é todo um passo nesse sentido: o Professor Karamba, o Pastor Tadeu, o Mullah Omar e os Grande Rabi fartaram-se de dialogar. E também de andar à trolha, bem entendido. Mas o mais divertido foi quando cismaram que cada qual tinha que exorcizar os outros, que estariam possessos e abotelados por legiões maléficas...
Zé do Grelo- Ultra, Esquife! Alta inspiração, não?
Esquife Tale – ‘Atão não! O Mullah era o mais exaltado e não parava de bramar "O grande Satã! O Grande Satã!"
Zé do Grelo – E vocês?
Esquife Tale – Nós andavamos à bica do gajo, todos excitados e a bradar: "Aonde? Aonde?" Tá visto, se o Grande Mestre estava ali, a malta queria uns autógrafos, um estigma, umas tatuagens; enfim: um bafo tenebroso, no mínimo.
Zé do Grelo – Pois, ó Esquife, consta que o hálito infernal dá uma grande pedra!...
Esquife Tale – Sim, mas o cabrão do Mullah Omar era melhor que fosse mesmo atirar-se ao mar, e com um calhau bem grande amarrado ao pescoço!, porque o gajo o que ‘tava era c’uma bruta pedra e desatou a imaginar coisas. Ainda por cima o Príncipe!...
Zé do Grelo – Mas num instante era o Grande Mestre e no outro já era o Prince, que malaico!
Esquife Tale – ‘Dasse, Zé, tu também estás charrado?!...Qual Prince, qual carapuça: o Príncipe, o das Trevas, o Maligno Supremo!...
Zé do Grelo – Bem, ó Esquife, por falar em Maligno Supremo, não é o Dragão que vem ali com uma shotgun toda reluzente?...
Esquife Tale – ‘Dasse, é o farsola mesmo. ‘Bora mas é bazar.
Zé do Grelo – Bem, Ciber-ouvintes, foi mais uma emissão da vossa rádio predilecta. Zombies, vampiros, almas penadas, não desesperem! Ou melhor, desesperem mesmo, porque havemos de voltar uma noite destas. Mal aquele trombalazana foleiro que vos azucrina o juízo e nos obstaculiza a nós se distraia. Então, inté!...
(Ouvem-se tiros...)
Zé do Grelo (ao longe) – Foda-se, Dragão, atina!...Essa merda mata.
(Mais tiros...)
Zé do Grelo (ainda mais longe, quase a desaparecer) - Oh pá, ao menos respeita os convidados, caralho!...O Caguinchas é que tem razão: 'tás a ficar um nazi! Até te afixaram no índex ou portal Nacionalista, ou lá o que é!...
(Tiros...)
Silêncio.
.
Zé do Grelo: Ora vivam, ciber-ouvintes! Cá está a vossa rádio preferida e também predilecta! Após uma longa ausência –forçada e prepotente, diga-se – por via desse farsola do Dragão que deu em armar ao careto e cagar d’alto na malta jovem, vimo-nos desapropriados da nossa antena e espaço musical. Mas esta noite vamos tirar a barriga de misérias! Babem-se, ó metaleiros, temos connosco o ídolo mais ignorado do momento, a mega anti-star a actualidade...ele mesmo, o único: Esquife Tale!! - Fundador e lider dos Caveira Maléfica, criadores do Morgue Metall, fundadores do TeleMetal e, ocasionalmente, líderes de Surf-Metal!!! Mas vamos à entrevista...
Boa noite, Esquife! Bons olhos te vejam (se bem que só de ver-te um gajo até se assusta, experimenta calafrios e quase se borra todo...) Poisa aí o machado; e a clava podes estacioná-la ali naquela cadeira...
Esquife Tal (subentenda-se a voz cavernosíssima)- Péssima noite para ti, ó Zé. E para todos os Ciber-fãs.
Zé do Grelo - Vai ser de certeza, Esquife. Contigo, só pode. Mas deixemo-nos de salamaleques e passemos ao que interessa. E o que interessa a todos, para além de saberem quando é que vais arrasar na "Quinta das Celebridades", e agora que já todos sabemos quem é o novo-Papa, é... estás preparado ó Esquife?...
Esquife Tal - Dá-me só um segundo para acabar de snifar aqui o pó...
Zé do Grelo - Então...aí vai: o vosso novo album, Esquife... é verdade que foi gravado em Vénus?...
Esquife Tal (fungando) - Pá, Zé, é verdade mesmo. Quer-se dizer, parte verdade. De facto, começámos a gravar em Vénus e acabámos em Jupiter. Sabes que o nosso baterista converteu-se ao ismaelismo, àquela facção dos "hashashin", também conhecidos por Assassinos, e deu em juntar o inútil ao desagradável: fuma umas ganzas e mata pessoas, de preferência daquelas que usam gravata e carros do estado. De modo que convém nunca ficarmos muito tempo no mesmo sítio. Isto, também, marca uma nova abordagem ritual: antigamente nós aguardávamos por uma boa confluência astral, agora ensaiamo-la nós próprios. Uma ideia do nosso produtor...
Zé do Grelo - O vosso produtor que, constou-se-me, voltou a ser o Conde Drácula III...
Esquife Tal - Sim, o Conde, essa lenda, voltou a produzir-nos... mas apenas as três primeiras faixas, porque, depois, prostrou-o outra overdose e teve que ser novamente internado para desintoxicação.
Zé do Grelo - O Conde novamente internado?! Mas isso é pólvora, ó Esquife. Ninguém sabia. O Showbiz estava convencido que o Conde nunca mais voltara à auto-estrada...
Esquife Tal - Pois, pá, Zé...Os médicos proibiram-no determinantemente de se aproximar de automobilistas, especialmente em Portugal, onde o teor alcoólico ultrapassa todas as medidas (parece que os aparelhos em vez de medirem a taxa de álcool no sangue já medem é a taxa de sangue no álcool)...
Zé do Grelo - É a seca, Esquife: à falta de água, a malta tem que recorrer a fontes alternativas (risos).
Esquife Tal - Yá, mas o Conde, como eu ia dizendo, curado e traumatizado das auto-estradas, lembrou-se das escolas. Vai daí, toca de ir fazer perfurações no pescoço dos miúdos. Pura ilusão. Foi pior a emenda que o soneto: em menos de nada ficou agarrado à erva, ao ecstazy e às drogas duras! Já não falando numa mistura a que os chavalinhos chamam shots e emborcam à força toda. Nas noites de fim de semana, havias de ver, o estado deplorável em que ficava o Conde...
Zé do Grelo -Calculo, ó Esquife, até me dá arrepios...Coitado do Conde. E vocês não tentaram ajudá-lo dalguma maneira?
Esquife Tal - Pá, a malta já lhe tinha dito que os chavalitos não eram de confiança, muito menos os pais...Por exclusão de partes, sugerimos-lhe os lares e asilos da terceira idade.
Zé do Grelo - E então, não melhorou?...
Esquife Tale - Qual quê! Ao fim de duas bombeadelas nos cotas, já estava agarrado a barbitúricos e analgésicos que eram umas contas na farmácia que Satã nos acuda. Os direitos de autor do último álbum, torrámo-lo em supositórios Ben-Huron e gotas Nasex. Mas o pior foi depois...
Zé do Grelo - 'Dasse, pior, Esquife? Ainda?...
Esquife Tale - Ya Zé, meia dúzia de extracções adiante e o gajo estava agarrado à televisão. Um perfeito vegetal, havias de ver!... Era a malta a querer gravar as vozes, de manhã, que é quando os fagotes estão mais apurados, e o gajo plantado diante do écran, todo compenetrado. Enquanto não gramasse a "Praça da Alegria", toda, (ao mesmo tempo que gravava para dose posterior suplementar, a "Fátima Lopes" e o panasca do Gouxa), ninguém o arrancava de lá.
Zé do Grelo - Nossa Senhora, Esquife!...
Esquife Tale - Nossa, o caraças! Vê lá com'é que falas! Só se for tua, vade retro!...
Zé do Grelo - Desculpa lá, ó Esquife: força de expressão. Diante dum horror desses, um gajo até pragueja. Chiça! Mas a "Praça da Alegria" toda?!! Valha-me Deus!...
Esquife Tale - E tu a dares-lhe! Bate já na boca e três vezes no metal!...
Zé do Grelo - Pronto, já bati. Mas é que isso, realmente...
Esquife Tale - Isso ainda não era nada. O mais grave estava para vir...
Zé do Grelo - Mais grave?!!! Dizes "mais grave", ó Esquife?! Brincas, não? Mais grave que isso é difícil de conceber.
Esquife Tale - Pois é melhor alargares os horizontes. Era a "praça da alegria", eram telejornais, telenovelas, reality-shows e tops não sei das quantas, tudo de enfiada, p'á veia e p'a cachimónia, que era vê-lo tripar que nem um cosmonauta intestinal!...
Zé do Grelo - Santíssimo sacramento de Jaasus!...Ops, desculpa lá, ó Esquife, mas é difícil um gajo conter-se!...
Esquife Tale - Quando sair daqui 'tou a ver que tenho que ir fazer uma "poluição espiritual"...
Zé do Grelo - Mas é que são horrores atrás de horrores...
Esquife Tale - E ainda falta contar-te o derradeiro...
Zé do Grelo - MAIS?!!!
Esquife Tale - Ya Zé, a páginas tantas, o Conde entrou num estado em que alternava a catalepsia babosa com uma ressaca fodida. Quer dizer, só já se aguentava de pé à força de doses reforçadas de TVI. Por incrível que pareça, só a bocarra da Moura Guedes o fazia sorrir, larvarmente, e sentir alguma coisa. Fora isso, bezerrava, vomitava, tinha alucinações, imaginava-se na catequese, no confessionário e até no conclave!...
Zé do Grelo - Por amor de Satã, ó Esquife, intervala aí que até já estou a sentir vertigens!...Isso é desumano! Estamos a receber chamadas de ciber-ouvintes em verdadeiro estado de choque...Há metaleiros que desfalecem e jovens vampiros à beira da anemia!...Um motard veterano, que ia a curtir nos headphones, já fodeu mais um rail!...E a garina que ia atrás entrou pelo parabrisas dum careto e manchou-lhe a gravata toda!...
Esquife Tale - Enfim, coitado do conde. Teve que ser metido num colete de forças e lá foi prá desintoxicação. A esta hora está no desmame...Dizem que é horripilante...Dão-lhe porrada e duches frios. Obrigam-no a frequentar exposições e saraus de poesia. A última vez que lhe telefonei, andava a ler Joyce, Witgenstein e Roland Barthes...Isso e filmes de Bergman e Fassbinder. A seguir, lamentou-se ele, parece que lhe vão dar Manuel de Oliveira e Woody Allen da fase senil, a tocar pífaro.
Zé do Grelo - Bem, e como é que os Caveira Maléfica ultrapassaram esse terrível contratempo, de ficarem sem produtor em plena gravação?
Esquife Tale - Pá, tivemos uma reunião com a editora. ‘Távamos num impasse. Até que o Rasputine, o baixista, teve aquela ideia genial de convidar o Professor Karamba e o Pastor Tadeu...
Zé do Grelo - O Professor Karamba e o Pastor Tadeu?!! Não me vais dizer que foram eles que produziram o resto do vosso album?!...
Esquife Tale - Ya, meu. E também o mullah Omar e o grande Rabi.
Zé do Grelo - Mas isso é bombástico,Esquife!!...Caros ciber-ouvintes, aqui, na vossa rádio predilecta, em primeira mão, a notícia do ano: os Caveira Maléfica produzidos pelo Conde Drácula III, o Professor Karamba, o Pastor Tadeu e ainda o Mullah Omar e o Grande Rabi... Mas vocês vão rebentar com as tabelas, vão estoirar com as "charts"!...
Esquife Tale - Bem, o Mullah Omar acha que era preferível que rebentássemos com a Estátua da Liberdade, ou com o porta-aviões Enterprise, mas a malta ainda não se decidiu...
Zé do Grelo - Mas, ó Esquife, isso é do outro-mundo! Com uma equipe dessas, vais acabar aonde, na Casa Branca? O Telemetal vai finalmente ter o seu Sgt Pepers Lonely?...
Esquife Tale - Afirmativo quanto ao concept album, mas negativo quanto ao Tele-metal. Por quesitos de mercado e oportunidade de negócio (e ultimato da editora) deixámos o Tele-Metal.
Zé do Grelo - Queres dizer que voltaram ao Metal que vos celebrizou na Transilvânia e entre os estudantes de Medicina Legal de todo o mundo: o Morgue Metal?...
Esquife Tale - Negativo, Zé. Os estrategas de vendas descobriram um nicho único...é todo um novo conceito avassalador: o Church Metal.
Zé do Grelo - CHurch Metal, Esquife?!!! Mas tu hoje queres matar-nos do coração? Mas isso é incrível!
Esquife Tale - Ya, parece que é o que 'tá a dar. É o que as massas desejam, o que o público quer: Church. Church e mais church. Isso, numa primeira fase. Depois, já está planeado, evoluímos para o Red Church Metal, ou Sacro-metalúrgico. O Tele, o Rave, o Jungle, o Hip, o House, o Disco, o Morgue já eram. A cena agora é sinos, fumo e mais sinos e mais fumo, alguns samples de camaradas em velório e também uma trompetas apocalípticas a toda a hora, para dar ambiente.
Zé do Grelo - Trompetas apocalípticas?!...
Esquife Tale - Ya, Zé...jornalistas! Coros deles, tunas, orfeões!... O heavy-rock vai dar lugar ao "rock ecuménico"... Aliás, a produção deste album já é todo um passo nesse sentido: o Professor Karamba, o Pastor Tadeu, o Mullah Omar e os Grande Rabi fartaram-se de dialogar. E também de andar à trolha, bem entendido. Mas o mais divertido foi quando cismaram que cada qual tinha que exorcizar os outros, que estariam possessos e abotelados por legiões maléficas...
Zé do Grelo- Ultra, Esquife! Alta inspiração, não?
Esquife Tale – ‘Atão não! O Mullah era o mais exaltado e não parava de bramar "O grande Satã! O Grande Satã!"
Zé do Grelo – E vocês?
Esquife Tale – Nós andavamos à bica do gajo, todos excitados e a bradar: "Aonde? Aonde?" Tá visto, se o Grande Mestre estava ali, a malta queria uns autógrafos, um estigma, umas tatuagens; enfim: um bafo tenebroso, no mínimo.
Zé do Grelo – Pois, ó Esquife, consta que o hálito infernal dá uma grande pedra!...
Esquife Tale – Sim, mas o cabrão do Mullah Omar era melhor que fosse mesmo atirar-se ao mar, e com um calhau bem grande amarrado ao pescoço!, porque o gajo o que ‘tava era c’uma bruta pedra e desatou a imaginar coisas. Ainda por cima o Príncipe!...
Zé do Grelo – Mas num instante era o Grande Mestre e no outro já era o Prince, que malaico!
Esquife Tale – ‘Dasse, Zé, tu também estás charrado?!...Qual Prince, qual carapuça: o Príncipe, o das Trevas, o Maligno Supremo!...
Zé do Grelo – Bem, ó Esquife, por falar em Maligno Supremo, não é o Dragão que vem ali com uma shotgun toda reluzente?...
Esquife Tale – ‘Dasse, é o farsola mesmo. ‘Bora mas é bazar.
Zé do Grelo – Bem, Ciber-ouvintes, foi mais uma emissão da vossa rádio predilecta. Zombies, vampiros, almas penadas, não desesperem! Ou melhor, desesperem mesmo, porque havemos de voltar uma noite destas. Mal aquele trombalazana foleiro que vos azucrina o juízo e nos obstaculiza a nós se distraia. Então, inté!...
(Ouvem-se tiros...)
Zé do Grelo (ao longe) – Foda-se, Dragão, atina!...Essa merda mata.
(Mais tiros...)
Zé do Grelo (ainda mais longe, quase a desaparecer) - Oh pá, ao menos respeita os convidados, caralho!...O Caguinchas é que tem razão: 'tás a ficar um nazi! Até te afixaram no índex ou portal Nacionalista, ou lá o que é!...
(Tiros...)
Silêncio.
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Isto é overdose, dragão!
ResponderEliminarAssim, não vale. Dava para três fascículos e os tipos do Inimigo Público( os únicos dos jornais que ainda me concedem a graça de um esgar bem disposto) não fazem melhor.
é mesmo overdose! e para guardar ":O)
ResponderEliminarDo melhor :)
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