sábado, junho 18, 2005

Ossos do Ofício ou Amanhã é Sabath (aliás, hoje)



Lá vou presidir a mais um festival rock. Ou heavy-metal, segundo os patrocinadores, esses eruditos. Para mim, é igual. A seca do costume: berros, uivos, batuques, quadrupedescências, relâmpagos, danças macabras, possessões, frenesins...Já deito isto pelos olhos. Pelos ouvidos, então, nem se fala: uma espécie de napalm sonoro...ou desfolhante laranja, melhor dizendo. Aliás, se uma esquadrilha benemérita largasse bombas no arraial, um tapete delas, bem apontadas, formando lindos cogumelos, acho que ninguém dava por nada. Ao contrário, ainda festejavam e desatavam em comentários deslumbrados do estilo:
"Eh pá, efeitos especiais bué d’a loucos!..."
"Yá, man, olha-me só aqueles bacanos a arder!..."
Pesam-me os séculos. E estes humanos vão de mal a pior. Enchem a boca de palavras solenes como, por exemplo, "progresso" – que é um progresso para aqui, que é um progresso para ali, que é, enfim, um progresso que nunca mais acaba -, e eu, sinceramente, o que me dá é vontade de emigrar para outra galáxia, de ir montar tenda noutra freguesia. Progresso?
Pois sim. Continuam tão hirsutos, bestiais, esguedelhados, escaganifobéticos, fedorentos e obscenos quanto há cem, há duzentos, há trezentos, há quinhentos anos. Não evoluem, patinam. Na bosta que vão amontoando e apurando, fanaticamente. Uma lástima! E o pior é que, mesmo nos equipamentos básicos, no desembaraço técnico, regridem: agora chegam-me numa deplorável romaria pedestre, que nem almas penadas, arrastando botifarras desconformes, indignas, de verdadeiros sonâmbulos errantes, lúgubres quasímodos, pelo pó das estradas e caminhos. Porra, ao menos antigamente, sempre chegavam pelos ares, montados em vassouras!...

4 comentários:

  1. Ainda bem que o encontrei! Este blog é que merecia um livro ou vice versa; enfim, eu acho que todos merecíamos um livro escrito por si...
    Em frente, man, c'a festa 'tá redonda!....

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  2. Dragão

    Hás-de acabar irremedivelmente numa livraria (para gáudio da tua algibeira). Penso eu aliás de que és o único caso da blogosfera que merecia ter esse fim.

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  3. ehhee, já anda tudo em bicha para a lombada ":O)))

    pois eu cá o que mais desejo é que o Dragão seja feliz com as suas dragonazinhas caseiras e tudo o resto
    A malta já tem o privilégio de ler à borliux.

    Fiquei foi intrigada com o hapening sabático...

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  4. A música rock, vive da sonoridade estridente de uns poucos acordes e de umas batucadas bem ritmadas.

    Ouça-se Summertime BLues de Eddie Cochran ou as primeiras batidas da 5ª de Beethoven e vem-nos à memória uma frase batida: nada se perde e nada se cria- tudo se transforma!

    O heavy metal começou algures no final dos sessenta e os seus geradores foram os passageiros do dirigível Zeppelin. Guitarras Les Paul ou Fender, incandescentes nos efeitos ilusórios da transformação dos sinais eléctricos, tornavam audíveis os sons distorcidos do fuzz e do larsen.
    Devido à sonoridade dessas oitavas e de alguns acordes em tom menor, com a incidência circunstancial de um certo acorde do diabo, alguns acharam por bem invocar o nome do maldito.
    Primeiro, começaram por cantar a Simpatia pelo dito, mas em Altamont perceberam o perigo da invocação inconsequente e pararam de brincar com o fogo dos deuses.
    Outros, paradoriaram e encenaram a sonoridade metálica, fazendo e refazendo a banda sonora de um hipotético filme sobre o maligno.
    Os Black Sabbath são um desses grupos parodiantes cuja lógica pantomineira os levou directamente a uma...sitcom americana, na hora de maior audiência!
    Está tudo dito- se o for este o sentido do postal...

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