sexta-feira, junho 25, 2004

A DANÇA DO SOL



Hoje, eu, Dragão Louco, executo a "Dança do Sol" e comemoro em memória desses bravos que, há 128 anos, em Litle Big Horn, lutaram pela sua liberdade.
Foi o canto de cisne duma América Livre, prestes a ficar submersa sob um manto de Trevas.
Mas hoje eu saúdo o sol, saúdo a vida, saúdo os meus irmãos Sioux e saúdo todos os espíritos livres e homens de boa vontade, estejam eles onde estiverem, neste mundo de espectros e aparências, como eu, ou lá, nas Grandes Pradarias do Grande Espírito, onde cavalgam e riem, para sempre, livres.
E agora, com licença, mas vou ali abraçar as árvores, beijar a terra e contemplar Deus em tudo o que me transcende, a mim, homenzinho ridículo, e do qual, apesar de tudo, faço parte.
Hoje quero amar o cosmos. E não apenas violá-lo, pilhá-lo, destrui-lo.
Hoje sou índio, pele-vermelha. E estou em paz com a vida. E estou em paz comigo e com os meus antepassados.
É por isso que os cow-boys me odeiam e me fazem guerra. O cão sempre há-de detestar o lobo. A criação do Homem sempre moverá batalha à criação de Deus.

5 comentários:

  1. Bonita elegia. Mas é preciso não esquecer que os índios passaram a viver em reservas e o TOuro Sentado fez digressões com Buffalo Bill ( um caçador trapeiro...)a mostrarem-se em circos e ganhar a vida já integrados no old american way of life. E não consta que tenham sido mais infelizes do que outros. O Touro Sentado, na meia idade, até educou filhos em escolas cristãs ...
    Quanto ao William Cody-Buffalo Bill:

    "Cody’s own theatrical genius revealed itself in 1883, when he organized Buffalo Bill’s Wild West, an outdoor extravaganza that dramatized some of the most picturesque elements of frontier life: a buffalo hunt with real buffalos, an Indian attack on the Deadwood stage with real Indians, a Pony Express ride, and at the climax, a tableau presentation of Custer’s Last Stand in which some Lakota who had actually fought in the battle played a part. Half circus and half history lesson, mixing sentimentality with sensationalism, the show proved an enormous success, touring the country for three decades and playing to enthusiastic crowds across Europe.

    In later years Buffalo Bill’s Wild West would star the sharpshooter Annie Oakley, the first "King of the Cowboys," Buck Taylor, and for one season, "the slayer of General Custer," Chief Sitting Bull. Cody even added an international flavor by assembling a "Congress of Rough Riders of the World" that included cossacks, lancers and other Old World cavalrymen along with the vaqueros, cowboys and Indians of the American West."

    Este assunto coloca-nos uma questão séria:

    Até que ponto conhecemos nós a história se a não vivermos?! Que adianta lermos versões de outros que serão sempre relatos subjectivos e muitas veses palimpsestos, reescritas sobre reescritas de mitos e lendas?!
    A espiritualidade dos Sioux merece todo o respeito. Mas...e a restante espiritualidade? A dos cristãos? A dos hindus? A dos Aztecas?
    Este problema de saber concatenar esta ideia permanente do Homem em se dirigir para algo que não conhece merece séria reflexão e é o que me alimenta na Fé.
    No fundo, o que aproxima os índios da espiritualidade não é diferente do que eu sinto quando acredito em Deus.

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  2. Exactamente, ó Zé.
    O meu postal é precisamente sobre o índio que há em nós. Ou boa vontade, ou fraternidade, se preferires.
    E é por isso que eu não esqueço "os meus irmãos Sioux".
    Nem "o meu irmão Jesus".
    S.Francisco de Assis também foi índio.

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  3. Pois é...mas então, toma lá esta perplexidade:

    O Bush também acredita no Além e até se diz que ouve vozes e que as decisões que toma, são precedidas de consultas à "consciência". No entanto, emparelha com outos cristãos-novos que defendem cruzadas, tal como S. Luís defendeu in illo tempore.

    A espiritualidade dos islâmicos também é a do Deus único e também eles querem converter infiéis e fazer investidas cruzadísticas em reverso.

    É evidente que há algures por aqui uma loucura.
    Neste momento, tendo para ver no Bush um doido à solta, tal como um BIn Laden o será(ia).

    Prefiro um Clinton com defeitos humanos e a tentar defender-se de quem o ataca, sem o espírito de cruzada.
    Prefiro quem pensa em tolerância, sem medo de não tolerar quem assim não pensa. É uma contradição que se resolve na hora, porque não se pode pensar muito nela.

    Há alturas em que a tolerância não conta: quando nos atacam para nos eliminarem. E é preciso pensar nisso antes. Para belllum...

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  4. ora boa questão. Da história pode-se saber com mais ou menos precisão o que foram os factos. Mas o que se transmite dela são os mitos. E é deles que nos alimentamos. Por exemplo, dos índios ficou o espírito ecológico. Até se dá na escola. Quanto à espiritualidade de acordo com o José. A tolerância e um tanto e o tempero com o realismo e materialismo não faz mal a ninguém. Pode até ser uma das raras maneiras de se combater o espírito de cruzada. O que nos fascina na espiritualidade, seja ela qual for, é o "bigger than life". O problema é que esse está sempre no fio da navalha. Um passo é arte, outro é fanatismo.
    Estou com o Nietzsche que dizia que só acreditaria num deus que soubesse dançar. A espiritualidade que venha mas para o lado da arte.
    Quanto à comemoração, junto-me a ela e um tanto revista: assim pelo menos não precisamos de a fazer com sinais de fumo ";O)))

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