sexta-feira, maio 21, 2004

PORTUGAL PUTATIVO


«Depressa se percebeu que o orador não partilhava das ideias do movimento 'Portugal Positivo' que partiu de uma outra iniciativa, a Missão Portugal (apoiante de Barroso).»

Agora, quando eu julgava que, finalmente, Portugal ia ser reanimado, insuflado duma nova seiva revigorante e redentora, eis senão quando leio que essa comissão salvífica da auto-estima nacional deu -como se costuma dizer-, com os burros na água.
Está visto que estes gajos não têm muito jeito para levantar a moral às tropas. Deviam ter-se mantido lá pelas artes que dominam, (precisamente nos antípodas destas) - a derrubar o moral às ditas, a falar de países de tanga e assalariados mancomunados contra o bendito Mercado, Criador do Céu e da Terra. Isso, nos intervalos das crónicas de viagens, do roteiro de jantares e do mapa de empregos prá filharada e consortes. Mas não. Um fervor missionário avassalou-os. Quiseram virar-se do avesso; quiseram, como S.Francisco, atirar a mobília e os bibelôs pela janela, rasgar os paramentos e as rendas, e embarcar abruptamente pela santidade, desembestando pela paróquia em exórdios ao arrependimento. E como se este prodígio já não bastasse, tomaram-se de brios, treparam nas euforias e imaginaram-se capazes de milagres maiores que os de Jesus. A conversão do Demónio, porque não?!...
Meu dito, meu feito: ei-los que convidam o Vasco Pulido Valente para romper as hostilidades e abrir as dissertações sobre o "Portugal Positivo" que urge resgatar ao desânimo e à denegrura. Há que convir: convidar o Vasco para tecer louvores à auto-estima da pátria, é o mesmo que trazer um piromaníaco para bordar panegírios às virtudes da floresta.
Repito: deviam ter-se ficado pelo milagre inicial, aquele que os bafejou e que, por artes só ao alcance do Todo Poderoso, os metamorfoseou - de Dráculas - em Dadores de Sangue e Vitaminas. O segundo já era areia demasiada para a camionete deles.
Quem se fartou de gozar, tenho a certeza, foi o Vasco. Juntou o útil ao agradável: descascou naquilo que mais gosta; e deixou os fariseus de cara à banda.
À falta de originalidade, louve-se-lhe a coerência.

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