quinta-feira, maio 20, 2004

PARA OS NIHILISTAS (AUTO-DENOMINADOS LIBERTÁRIOS)



«É verdade que ninguém, como já disse atrás, deseja um século de personalidades amadurecidas e perfeitas, de personalidades harmoniosamente desenvolvidas, mas apenas uma época de trabalho colectivo tão rentável quanto possível. Isso significa simplesmente que os homens se devem treinar para satisfazer as necessides deste tempo, para porem o mais rapidamente possível mãos à obra. São obrigados a trabalhar na fábrica da utilidade pública antes mesmo de estarem maduros, ou para que nunca cheguem a amadurecer, porque isso seria um luxo que afastaria do "mercado de trabalho" uma grande massa de forças. Cegam-se aves para cantarem melhor; não creio que actualmente os homens cantem melhor que os seus antepassados, mas sei que os cegam mais cedo; mas o meio, o meio infame de que se servem para os cegar, é o uso de uma luz demasiado crua, excessivamente repentina e instável. O jovem é perseguido a chicote através dos milénios; jovens que ignoram por completo o que é uma guerra, um acto diplomático, uma política comercial, são considerados aptos para estudar história política; o jovem percorre a toda a pressa o campo da história universal, como nós percorremos a correr os museus e assistimos aos concertos.
(...)ninguém se admirará que a nação morra por tanta miserável mesquinhez, por tanta ossificação e egoísmo, e que comece a desagregar-se como nação. Em vez de uma nação hão-de surgir talvez, sobre o palco do futuro, associações de egoísmos individuais, fraternidades com o fim de explorarem pelo banditismo todos aqueles que não fazem parte delas, e outras criações do utilitarismo vulgar.
(...) o homem só é virtuoso quando se revolta contra a força cega dos factos, contra a tirania do real e quando se sujeita a leis que não são as que regem situações históricas dadas. Nada sempre contra a corrente da história, quer lutando contra as suas paixões, que são para ele a realidade mais próxima e estúpida, quer submetendo-se à honestidade, no momento em que a mentira tece à volta dele as suas teias cintilantes


- Friedrich Nietzsche, "Considerações intempestivas"

O mais cru profeta deste nosso miserável tempo. E de todos os tempos.

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