Certos pensadores peregrinos, na blogosfera portuguesa, estão a proceder a uma revolução de conceitos. Graças a uma conjuntura favorável e a ventos, acreditam eles, de feição, lançam-se em remodelações espectaculares. O conceito de "direita", por exemplo...
Nada de complicações nem tradicionalismos. Agora, por via dos denodados esforços de gente iluminada, arrumadora, resume-se ao seguinte:
1. Acreditar, pia e bentamente, que os Estados Unidos são o farol único e exclusivo da civilização ocidental;
2. Crer, cega e histericamente, que a Administração Bush é a salvação da América e do Mundo;
3. Ter no Estado de Israel a sua segunda pátria (quase a par com a primeira: os Estados Unidos);
4. Tomar como acto santificado e transcendente qualquer daqueles que é praticado pela Administração Bush ou pelo Estado de Israel;
5. Banir do pensamento todas e quaisquer pensamentos sobre o passado ou futuro (cúmulo da heresia) e manter a mente fixa neste momento paradisíaco -que deve ser perenizado-, em que os Estados Unidos dominam o mundo, a Administração Bush domina os Estados Unidos e o Estado de Israel domina a Administração Bush;
6. Jurar fidelidade absoluta ao dinheiro, venerando-o como fonte única e absoluta de todo o Bem; bem como reconhecer na sua carência a origem de todo o Mal;
7. Todo aquele que duvide ou não partilhe entusiastica e alarvemente destes fundamentos, será injuriado e escarnecido na praça pública, olhado com rancor e desprezo, coberto de opróbrios como “comunista”, “nazi”, “esquerdalho”, “intelectual”, “civilizado”, “extremista”, “terrorista”, etc.
8. Qualquer recurso, por mínimo que seja, à coerência, à lógica ou à inteligência será de pronto alvo de chacota e galhofa imbecil;
9: Odiar com todas as forças tudo o que exceda um discurso semi-gutural, feito de repetições pacóvias e arrotos solenes, entremeado de rosnadelas sonsas e latidos rituais;
10. Rezar todos os dias, antes e a seguir às refeições, ao deitar e acordar, o seguinte credo:
Creio na Direita Pimba, na Direita Hooligan, na Direita Bruta
Toda poderosa, proprietária do Céu e da Terra!
Creio no Bush Pai, no Bush Filho e no divino Banco Espirito Santo!
Creio no dinheiro, na pilhagem e na lei do mais forte!
Creio no PP, no VPV e na CNN!
Creio no meu interesse, no meu conforto e na minha conveniência!
Creio no meu umbigo, no meu postigo, no meu casulo!
Creio na Benethon, na Chevignon e no Macdonnalds!
Creio na Santa Cunha, no Grande Tacho no apelido e nos amigalhaços!
Creio na babugem, na bandalheira e na mordomia!
Creio na pato-bravura, material e cultural, na casinha pinipon das ideias
Com leões de pedra e jarrões berrantes de guarda ao raciocínio!
Creio no penteado, na gravata, na manicure e no sorriso falso!
Creio no leasing, no marketing e no Big-bang-bang!
Creio no diploma, no curriculum, na carreira!
Creio no automóvel, no telemóvel e na classe VIP!
Creio na pornografia, na pornocracia e na microsoft!
Creio na pseudo-elite, no passe-vite e no puré mental!
Creio na dependência, na subserviência e na aleivosia!
E creio, acima de tudo, na amnésia e na engenharia
Com que me redimo da mãe bimba e sopeira
Da infância ranhosa na Parvalheira
E ascendo ao Olimpo nectarino da Economia!
Por último, é preciso reconhecer que estes novos-duros, da vociferação pronta e traulitada bendita, romperam nestes propósitos graças à coragem inerente a uma singela e exclusiva convicção:
- A de que têm as costas quentes.
Sobra-lhes, no entanto, em falsa valentia o que lhes falta em simples vergonha e bom-senso. E tão ufanos da peregrina bravura, fruto radiante das costas protegidas, nem reparam no bafo quente que lhes cobre a nuca, nem no corpo estranho que lhes invade o cu.
Mas a sintomatologia, aos olhos do observador frio, imparcial, é óbvia.
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