segunda-feira, maio 03, 2004

COISAS DE ORÁCULOS

Numa das suas últimas vidências, Luís Delgado, o Oráculo da Parvalheira, instruia-nos sobre a essência e existência dessa estrela maior da constelação a que pertence: Warren Buffett, o Oráculo de Omaha.
Segundo Delgado, essa luminária: «Buffett é o segundo homem mais rico do mundo, mas mais sólido do que Gates, e uma palavra sua pode arruinar uma companhia ou atingir gravemente um mercado».
Era bom, pois, que o Homem-Aranha ou o Super-Homem existissem e viessem em nosso socorro. Não se sabe do que este Buffett será capaz num assomo de cólera. Se uma palavra sua pode arruinar uma empresa ou ferir de morte um mercado, imagine-se uma frase completa ou uma alocução em larga escala...Estamos, claro está, nos antípodas dos discursos anódinos e ultrapasteurizados do nosso Gorge Sampaio, que a única coisa que arruínam é o estado de vigília do ouvinte mais estóico e insone.
Mas, como se este cenário apocalíptico já não bastasse, Delgado parece disposto a tirar-nos o sono por uma década, concluindo sibilinamente:
«Buffett, pouco mediático, o invés de Gates, é a personalidade mais enigmática e poderosa dos EUA.»
Tanto assim, que terá sido ele, segundo o Delgado, quem, por mero capricho, terá feito eleger o Exterminador Arnaldo para Governador da Califórnia.
Ora, este detalhe crucial, no complexo sistema unicelular que é a mioleira do Delgado, terá feito germinar uma lógica implacável; a saber: o Buffett, esse semideus, detentor de contactos privilegiados com o Além, mais poderoso e mais sólido que Gates, se elege governadores também elege presidentes. E se elegeu um governador republicano, então, dedução fulgurante, também elege um presidente republicano. Por conseguinte, mais um megatrunfo para o querido Bush.
E, na verdade, sendo os Estados Unidos, a mais bela plutocracia mascarada de democracia ao cimo do planeta, ninguém já duvidava da fatalidade inexorável desta análise.
Mas eis senão quando, para choque e quase colapso cardíaco do Delgado, (e embasbacamento colectivo da Humanidade) o tal Buffett, mais sólido que o Gates, sai-se com esta (e logo em desabafo à BBC):
«Ele (Bush) tem uma filosofia política diferente da minha».»
Quer dizer, o todo poderoso Buffett, afinal - pasmem, ó singelos seres humanos -, apoia o John Kerry.
Toda a gente a pensar que ele era uma pessoa de bem e afinal dá nisto.
E acrescenta mesmo: «No que se refere aos impostos, as políticas têm sido favoráveis aos ricos e penso que deveriam ter-se inclinado mais para a classe media e para as pessoas em situação económica débil».
Em suma: Atreve-se a dizer que a política da Administração Bush não é imaculada e perfeita. Pior: insinua que os ricos não devem ser ajudados. Mas será que ele não lê os blogues da "Direita hooligan" portuguesa? Será que não acompanha as crónicas iluminadas do Delgado? Nem escuta os Te Deum reconhecidos do Pacheco e do Rato?
Onde é que este mundo vai parar? E o Delgado, depois dum choque destes?...Ensaiará ele o abandono do barco?...
Ó Luís, onde é que tinhas a cabeça? É o que dá trazê-la no sítio dos pés...Quando não acertes nestes, acertas naquela. Deve ser doloroso. Pelo menos, se fosses um animal de sangue quente, era. Assim...Valha-te o sangue e o cérebro - Reptilianos.

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