Dizia-me o Dinossauro, um dia destes:
-"Pois é, Dragão, meu velho, isto das gerações deve obedecer a ciclos, ora de avanços ou bebedeiras, ora de retrocessos ou ressacas! Agora estamos na ressaca, (no fim dela, espero bem) e o que não falta pr'aí são os Neocons, de que esse José Manuel Fernandes parece ser porta-voz proeminente!..."
Era um comentário inocente, mescla de dialéctica freudo-marxista à moda de Marcuse com aguardente velha em fase terminal de Alzheimer. Com aquilo dos Neocons ele referia-se aos "Neo-conservadores", invertebrados rastejantes, de provavel origem alienígena que, ultimamente, se têm tornado infestantes. Ao mesmo tempo, que ele exercia este seu desabafo, desfilava nos écrans o tal J.M.Fernandes, com a sua fronha característica (situada algures entre o monhé e o cigano), emitindo opiniões características sobre uma qualquer enormidade que ele achava muito justa.
Falava-se mais para passar o tempo, enquanto se iam rilhando uns tremoços e emborcando uns canecos, e a coisa teria morrido por ali. Teria, de facto. Se o Caguinchas, para variar, nesse dia, não estivesse com as antenas sintonizadas e a morder, todo manhoso e de cenho franzido, o desenrolar da conversa. É certo e sabido que qualquer vocábulo novo que oiça, ainda pra mais com imagem associada, lhe fica por muito e vasto tempo a ricochetear na moleirinha.
A prova disso, se necessária fosse, aconteceu ontem à noite.
Estava a tasca -aliás ciber-tasca-, a rir-se com mais um telejornal, quando surge o tal José Manuel Fernandes, a convite do pivot de serviço, para contar já não sei que piada. Num salto, excitado, o Caguinchas adoptou uma pose indicadora de perdigueiro alarmado e bradou:
-"Olhem, lá está ele: o Neoconas!!..."
Ninguém se atreveu a corrigi-lo. Com a cara de conas que o tal neocoiso tem, seria muito difícil desconvencê-lo.
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