Perdoem-me a longa citação, mas vem muito a propósito:
«Portanto, há um populismo que é bom, sofisticado, ultra-pasteurizado (um popelitismo, chamemos-lhe assim), e um populismo que é péssimo, imundo e odioso (odioso, porque atestado de ódios, sobretudo aquele que os "populistas" benignos e beneméritos com o dinheiro alheio -chamem-se eles socialistas, sociais-democratas ou democratas não sei quê, no que concerne, por exemplo, às questões da agenda globandalhista - lhe devotam e desferem a todas as horas e oportunidades). Quanto às diferenças, manifestas e comprovadas, entre ambos parece que se resumem a uma (todavia, capital): os populistas benignos, ou popelitistas, só exercem a demagogia em período eleitoral, como forma de sedução (uma vez eleitos, nada do que prometeram cumprem); os populistas maus exercem a demagogia em período eleitoral e mesmo antes ou depois (segundo os seus detractores) e, uma vez eleitos, executam (ou são suspeitos de virem a executar) grande parte do prometido. Ou seja, em bom rigor, os populistas maus são aqueles que, na verdade, não são populistas nem demagogos profissionais. A limite, e no pior dos casos, é o velho desprezo da indústria pelo artesanato, ou do amor ao lucro pelo amor à arte.»
Ora, a moral, sobretudo o seu simulacro geo-político, tem muito que ver com esta dicotomia indústria/artesanato. Assim, o terrorismo é imoral, ou seja, artesanal, da mesma que o super-terrorismo (ou supraterrorismo, dito com mais propriedade) é supramoral, ou seja, industrial. O primeiro é destituído de moral, da mesma forma que o segundo está acima dela. Um atentado ou mesmo uma chacina quando executada pelos terroristas - no presente caso do Hamas, por exemplo - é imoral porque não ultrapassa o nível do artesanato, nem, fenomenologicamente, a dimensão da física - é estrito efeito num processo causal... Os terroristas matam por causa de. Em contrapartida, o genocídio ou o massacre industrial, promovidos pelos Estados Unidos, pela Nato - ou, na vertente cegada e acima de todos - por Israel não se insere numa fenomenologia e transcende as próprias regras da física. É, por essência e vocação, metafísico, transcendente, sobrenatural. Não exterminam por uma causa, mas, pura e simplesmente, por um poder, um aleive, ou vício atávico. Exercem nunca "por causa de", mas "em representação de". Da Razão, da Democracia, de Deus, ou do quer que faças as vezes do "sagrado" na ocasião. A distância que medeia, assim, entre o artesanato e a indústria é exactamente a mesma que vai da natureza à mecânica. No caso dos neo-israelitas, importa dizê-lo, já ultrapassou mesmo a tendência ou o vício: já deveio tique. Um bestial automatismo.
A mecânica da natureza não deixa qualquer dúvida.
ResponderEliminarPor exemplo. Erdogan encara no Hamas a representação de indústria supramoral, já no PKK um artesanato!
O tique de uns é a repulsa de outros. De outros ainda, um classificativo num desdém brotado da exiguidade ou da inveja.
Se mundanizado tivesse crescido no espírito quanto cresceu no saber/conhecimento, talvez “uma imagem divina” como a de William Blake fosse um despropósito:
“A Crueldade tem Humano Coração,
E tem a Intolerância Humano Rosto;
O Terror a Divina Humana Forma,
O Secretismo Humano Traje posto.
O Humano Traje é Ferro forjado,
A Humana Forma, Forja incendiada,
O Humano Rosto, Fornalha bem selada,
Humano Coração, Abismo seu Esfaimado.”
Para o caso de gosto pela pintura, pelo mesmo:
https://www.wikiart.org/pt/william-blake/the-marriage-of-heaven-hell-1793
Anónimo da poesia