«Man reportedly kills himself after artificial intelligence chatbot “encouraged” him to sacrifice himself to stop global warming»
Como se já não bastassem os chatos, agora também temos Chato-botes à descrição.
Mas quero aqui deixar bem expresso o seguinte: é preciso uma época ser muito estúpida para o artificial (ainda por cima chato-bote) se arvorar a inteligência. Isto é, a normalização da próprio oxímoro "inteligência artificial" constitui o maior atestado da imbecilidade metida a oráculo. É preciso que todos nos prostremos em modo rastejante e vermicular para que, subitamente, um anão marreco possa ser considerado - e. não tarda, idolatrado - como um gigante. Poderíamos falar em lógica artificial, cálculo artificial, ou até, de modo genérico, em pensamento artificial (afinal, o pensamento engloba todas as faculdades e operações, desde as mais básicas às mais elaboradas). Agora inteligência, nem nas próximas cem encarnações!...
O que houve, de facto, e tudo isto atesta num estágio avançado, foi uma terraplenagem mental, massiva e massificada (pelos frita-miolos de serviço) dos "consumidores", "contribuintes", "eleitores" e otários em geral. Para um semi-lobotomizado ou auto-mutilado, qualquer imbecil parece um génio.
No fim do século XIX, um dos profetas visionários do nosso tempo, na literatura, foi um cavalheiro chamado Alfred Jarry. Devemos-lhe o termo "ubesco" (termo que se viria a tornar muito actual durante o século XX e ganha contornos ainda mais inquietantes neste alucinado século XXI). Esse adjectivo decorre do título da sua obra mais conhecida. "Ubu Roi". Há algo de McBeth grotesco e truão no Ubu de Jarry. A figurinha da actualidade que melhor lhe assenta, até enquanto casal (afinal, o senhor Ubu é todo um tandem/parceria com a senhora Ubu), é o anão Zellensky mais a anoa Zellenka. E ainda por cima toda a acção (na irrealidade quotidiana) decorre praticamente na mesma região da peça de teatro: a Polónia (onde podemos integrar, historica e etnicamente, a ucrânia ocidental).
Muito sugestivamente, a certa altura do texto, cintilava a "Canção da Desmiolação":
Fui marceneiro -e dos bons! -
Por muitos anos e bons.
A minha esposa exercia
de modista a profissão
e a vida sempre corria
sem qualquer aflição.
Se não chovia, aos domingos,
com os fatos mais janotas
Nós íamos passear,
e era um regalo, um consolo,
ir ver andar a engenhoca
para extracção do miolo.
(Refrão:)
Olha a máquina a girar
olha o miolo a saltar
olha os ricos a chorar
(Coro:) Hurrah! Cornotutu! Viva Mestre Ubu!
Nossos filhos lambusados
de bolos e rebuçados,
a brandir em sobressalto
bonecos de papelão,
trepavam connosco ao alto
do carro, e tudo seguia,
em ruidosa alegria,
para o local da função.
Lugar à cotovelada
nosso grupo disputava,
mas à cautela eu trepava,
sorrateiro como um gato,
a um monte de tijolos,
para não sujar o fato
com o sangue dos miolos.
(Refrão e coro...)
Mal começa a brincadeira,
a mulher e eu ficamos
salpicados, todos brancos
de pasta de mioleira
que os pimpolhos vão comendo,
e pulamos, todos, vendo
a agitação do parolo
De vinóculo na mão
A observar o miolo,
E pulamos, já sem tino,
Com as f'ridas atraentes
E o espectáculo do pino.
Mas que topo, de repente,
Mesmo ao pé da engenhoca?
Parece a fronha dum bode
que guardo na retentiva.
Meu velho -digo- ora viva!
Não esqueci o teu bigode.
Foste tu que me roubaste:
Não vou ter pena dum traste!
(Refrão e coro...)
De repente, a qu'rida esposa,
A puxar-me p'lo casaco,
Diz, raivosa: -ó gordo, vá,
Rápido, agora, entra já,
faz-lhe engolir, que ele gosta,
uma mancheia de bosta!
Aproveita, que o parolo
Está de costas para ti
A ver saltar o miolo!
Ao ouvir este conselho
genial, eu logo faço
muita força da fraqueza,
e atiro sobre o ricaço
um grande bolo de mérdia,
que acerta, mas no nariz
do parolo, ó infeliz!...
(Caprichos tem a matéria...)
(Refrão e coro...)
E logo p'la multidão
sou pisado e despejado
por cima da vedação.
Num desesperado mergulho,
pró porão escancarado
donde ninguém há voltado
p'ra mostrar o seu orgulho.
Acontece cada uma
quando se vai ao domingo
Acompanhado ou sozinho!
Vai-se arejar a pluma,
dar um ou outro tirinho
por interesse ou desenfado,
Sai-se escorreito, vivinho,
E volta-se defundado!
-Alfred Jarry, "Ubu-Roi" (Versão e adaptação de Alexandre O'Neill)
Por muitos anos e bons.
A minha esposa exercia
de modista a profissão
e a vida sempre corria
sem qualquer aflição.
Se não chovia, aos domingos,
com os fatos mais janotas
Nós íamos passear,
e era um regalo, um consolo,
ir ver andar a engenhoca
para extracção do miolo.
(Refrão:)
Olha a máquina a girar
olha o miolo a saltar
olha os ricos a chorar
(Coro:) Hurrah! Cornotutu! Viva Mestre Ubu!
Nossos filhos lambusados
de bolos e rebuçados,
a brandir em sobressalto
bonecos de papelão,
trepavam connosco ao alto
do carro, e tudo seguia,
em ruidosa alegria,
para o local da função.
Lugar à cotovelada
nosso grupo disputava,
mas à cautela eu trepava,
sorrateiro como um gato,
a um monte de tijolos,
para não sujar o fato
com o sangue dos miolos.
(Refrão e coro...)
Mal começa a brincadeira,
a mulher e eu ficamos
salpicados, todos brancos
de pasta de mioleira
que os pimpolhos vão comendo,
e pulamos, todos, vendo
a agitação do parolo
De vinóculo na mão
A observar o miolo,
E pulamos, já sem tino,
Com as f'ridas atraentes
E o espectáculo do pino.
Mas que topo, de repente,
Mesmo ao pé da engenhoca?
Parece a fronha dum bode
que guardo na retentiva.
Meu velho -digo- ora viva!
Não esqueci o teu bigode.
Foste tu que me roubaste:
Não vou ter pena dum traste!
(Refrão e coro...)
De repente, a qu'rida esposa,
A puxar-me p'lo casaco,
Diz, raivosa: -ó gordo, vá,
Rápido, agora, entra já,
faz-lhe engolir, que ele gosta,
uma mancheia de bosta!
Aproveita, que o parolo
Está de costas para ti
A ver saltar o miolo!
Ao ouvir este conselho
genial, eu logo faço
muita força da fraqueza,
e atiro sobre o ricaço
um grande bolo de mérdia,
que acerta, mas no nariz
do parolo, ó infeliz!...
(Caprichos tem a matéria...)
(Refrão e coro...)
E logo p'la multidão
sou pisado e despejado
por cima da vedação.
Num desesperado mergulho,
pró porão escancarado
donde ninguém há voltado
p'ra mostrar o seu orgulho.
Acontece cada uma
quando se vai ao domingo
Acompanhado ou sozinho!
Vai-se arejar a pluma,
dar um ou outro tirinho
por interesse ou desenfado,
Sai-se escorreito, vivinho,
E volta-se defundado!
-Alfred Jarry, "Ubu-Roi" (Versão e adaptação de Alexandre O'Neill)
A estupidificação geral e festiva tem consequências.
PS: Mas, no fundo, Deus escreve direito por linhas tortas: se o Chato Bote persuadir estes wokes e anormais todos ao suicídio, já se ganhou qualquer coisa. Abençoadinho seja! Vamos curar a Estupidez cultural com a estupidez artificial.
É com enorme satisfação que encontrei outra pessoa - para além de mim - que conhece Alfred Jarry.
ResponderEliminarTenho um exemplar do «Supermacho», em Português do Brasil.
É por estas e por outras que compensa visitar com regularidade o blogue Dragoscópio.
Existe uma tradução portuguesa do "Supermacho", pela Luiza Neto Jorge, nas edições Afrodite. Com ilustrações do Nuno Amorim. Fevereiro de 1975.
ResponderEliminarEscusado será dizer que é a que eu tenho. :O)
Existe também o Ubu completo, pela Campo de Letras. trad. de Luísa Costa Gomes.
Sim, na época comprei o exemplar mal o vi, e como o Português do Brasil é simplesmente Português, inventado por Portugueses, e a mais bela e doce variante da nossa Língua, nem pensei duas vezes.
ResponderEliminarVeja isto:
- Alfred Jarry | Superfreak (1987)
https://www.youtube.com/watch?v=tIx6QawBVns
> a Polónia (onde podemos integrar, historica e etnicamente, a ucrânia ocidental)
ResponderEliminarSe calhar os polacos também gostavam de fazer isso, a começar por ter Lvov de volta.
A Rússia devia-lhes fazer uma proposta.
Não pode ser sempre só a Polónia a desaparecer do mapa, com o território partilhado entre a Alemanha e a Rússia ...
A Ucrânia também entrou em modo de suicídio assistido:
ResponderEliminarUCRÂNIA SOB A ARMA: LANÇAMENTO OFENSIVO OU OU OU OUTRO?
Por Mark Wauck no Meaning In History em 02 de maio de 2015
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Há inúmeros relatos de que os militares ucranianos estão cada vez mais relutantes em lançar a sua ofensiva da Primavera muito magoada, usando o mixtum gatherum de equipamento de despenteado da NATO que foi enviado para a Ucrânia. Diz-se agora que o chefe militar da Ucrânia, o general Zaluzhny, está a tentar adiar a data de lançamento até ao final de Junho, altura em que alguns especulam que um novo atraso será instalado. A razão é simples: os militares profissionais da Ucrânia sabem que a ofensiva seria suicida. As perdas de mão-de-obra ucranianas continuam a ser extremamente pesadas - a Rússia afirma que a Ucrânia perdeu 15.000 homens em abril. As perdas de equipamentos estão a atingir níveis catastróficos também, já que os ataques russos têm visado fortemente áreas de montagem para munições e equipamentos.
No entanto, por razões políticas, o American Deep State, liderado por Hillary gofers Sullivan e Blinken, está a enviar a mensagem de más notícias para a Ucrânia: Lance a ofensiva ou perca o nosso apoio.