Diploma é uma palavra grega. Significa papel dobrado em duas faces. Traduz em boa medida o carácter da "diplomacia" (que deriva, como é bom de ver, do "diploma"): essa capacidade da ambiguidade, do jogo com alternativas, da negociação de duas partes. Ora, a diplomacia é o cerne da política. Impossível imaginar uma sem a outra. Tanto na política interna, como, ainda mais, na política externa. Dou um exemplo caseiro: a diplomacia portuguesa, durante os anos 60 do século prévio, constitui um monumento digno de estudo e contemplação. Portugal fez política a sério: defendeu, abnegada e diligentemente, os seus interesses, enquanto estado soberano, com uma história e cultura próprias. Contra os Estados Unidos, sem hostilizar os Estados Unidos; contra o Reino Unido, sem hostilizar o Reino Unido; contra a União Soviética, sem entrar em guerra aberta com a União Soviética. E Portugal já fazia parte da Nato nessa época, sendo até seu membro fundador.
Todavia, estar inserido num bloco não significa estar diluído nesse mesmo conglomerado. Aliado não significa suserano; ou vassalo. Pelo menos, em teoria. Porque na prática é o que se vê. E o que se vê é a retórica da democracia - com a santa separação de poderes - não passar, em simultâneo, dum embuste, duma superstição e duma comédia bufa. Atentando ao momento presente, os países europeus nem sequer têm poder porque nem sequer apresentam ou manifestam qualquer espécie de soberania. O poder executivo da Alemanha (nem me dou ao trabalho de descer à sub-sub-cave do ex-portugal) está separado do poder judicial da Alemanha, mas ambos não obedecem à vontade do povo alemão, porque se sujeitam, cegamente, ao ditame da "coisa esquisita" americana. Ou seja, não há separação de poderes na Alemanha porque, na verdade, não há Poder para ser cortado às fatias. A dita União Europeia em nada ultrapassa o consórcio de impotências, em regime de parque infantil, sob vigilância e patrulha dum psicopata clínico, que viola e abusa a seu bel-prazer. Como chegámos até aqui?
O problema é que, na verdade, não chegámos: fomos levados; conduzidos e educados, como gado abúlico, passivo, devotado ao matadouro. E ao mercado de talho e salsicharia subsequente. Tudo isto, em larga medida, não decorre apenas do resultado da última Grande Guerra: encontra-se já, pulsante, nas próprias dinâmicas intrínsecas da mesma. Que interesse tinha a Alemanha em ir suicidar-se às estepes Russas? Que interesse tinham os Britânicos em atirarem ao charco o seu Império? Que necessidade tinha a Itália dum esplendor africano de pechisbeque? Ainda e sempre, apesar de atormentados pela peste do século, foram os russos que mantiveram a chama acesa. Quer dizer, mal ou bem, lá continuaram independentes.
Por outro lado, que vem a ser isso da "vontade popular"? Sendo que "popular", fora o dias de eleiçoamento, se tornou uma palavra maldita, falar em "vontade popular", como diria Cioran, desqualifica logo à partida quem a balbucia. O "povo" -convertido, desde os primórdios do século passado, a massa - bombardeado e sulfatado, em regime ininterrupto, por toda a espécie de lavagem mental de conveniência, não distingue opinião pública de opinião publicada, e desenvolve tanta opinião quanto o infinito alberga, desde que todas elas, na essência e eficácia, inócuas, efervescentes e a crédito. O "povo" degenerou a uma abstração tão vazia e falsificada como o "Estado". O neo-feudalismo não assenta já sobre três ordens: implanta-se, transplanta-se e locupleta-se da pura e reiterada desordem. O seu horizonte, tanto quanto a sua meta derradeira, é ordem nenhuma... Um nome para isto? Civilização Nenhuma - a metamorfose final da pseudo-civilização ocidental, que é como quem diz, a extinção acabada da Civilização Mediterrânea (ou Helénica).
Aquilo que eu denomino como "Oxidente" é esse Nihilismo travestido de progresso, esse Nada Anti-civilizacional, culturofrénico, antropofóbico. Já lhe chamaram Império das Mentiras; Império da Morte ficava-lhe melhor: morte da política e morte da diplomacia. Dois dos pilares de qualquer civilização.
Tudo o que resta é o papel do tratado, celebrado entre tratantes e a entidade global única, tirânica, panóptica: um pacto fáustico. Onde se assina a sangue e se penhora a alma. Num planeta amorfo e amnésico, convertido em ergástulo.
Civilização Nenhuma imposta ao Mundo:
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=Rr8ljRgcJNM
O diário do Franco Nogueira sobre o seu consulado no MNE é como viajar para outro planeta.
ResponderEliminarImagine o assombro: não só temos devidamente definidos os nossos interesses como... os prosseguimos com os meios (materiais, políticos, morais) ao nosso alcance! Alguém nascido após 1974 duvida que algo assim possa sequer ser concebível.
Outra coisa deliciosa sobre os encontros diplomáticos era as duas caras da política dos nossos amigos (e mesmo de alguns estados africanos!):
Publicamente execrava-se o óbvio fasssismo do Estado Português, em privado pede-se desculpa e assegura-se solidariedade com Portugal.
Há uns episódios engraçados com a Zâmbia e a Tanzânia, com interesses dependentes da boa vontade Portuguesa, que nos bastidores só faltava pedirem desculpas pelas bocas descolonizadoras.
Miguel D
Que saudades que eu tinha destas escritas, destas labaredas turbulentas :)
ResponderEliminarCarlos
PS
Só me chateia uma coisa, não é lá grande coisa, uma coisita insignificante...
TER DE ABRIR O DICIONÁRIO
lol lol lol
Caro Laconte
ResponderEliminarNão sei se conhece, mas esta médica mais o marido têm divulgado muita coisa.
https://odysee.com/@drsambailey:c?view=content
Carlos
E já vai com sorte se eu não largar a inventar novos termos!... :O)
ResponderEliminarhttps://o-tradicionalista.blogspot.com/2023/03/como-e-uma-cidade-de-15-m.html
ResponderEliminarComo é uma cidade de 15m no Oxidente" no Nihilismo travestido de progresso.
Sr. Carlos, obrigado.
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