terça-feira, novembro 15, 2022

Das Quimeras

 



A Quimera não era apenas o monstro  mitológico descrito na mitologia grega. A quimera existe. Sobretudo, entre nós, portugueses, por alturas do verão. Quem é que acham que, todos os anos, deita fogo às matas. e florestas deste país? Isto quanto ao monstro lendário. Porque quanto a outros tipos de quimeras, também as há. Umas de ordem vegetal, como em tempo aqui dilucidei e transcrevo de novo, porque permanece duma actualidade inoxidável:

Tal qual o Homem tem muito a aprender com as plantas, e não propriamente com hortaliças do género nabo e abóbora que dessas já há seguidores em demasia, também a História tem com que se instruir na Botânica.
Na taxonomia, por exemplo. Cito um breve mas elucidativo caso: ao designar-se vulgarmente a Robinia, usa nomear-se essa singular espécie como Pseudo-acácia ou acácia-bastarda. Parece uma acácia, mas na verdade não é. O mesmo poderia fazer-se em relação ao Portugal pós-Dinastia de Avis. Também devia designar-se vulgarmente Pseudo-Portugal ou Portugal Bastardo.
Da mesma forma os seus habitantes seriam vulgarmente designados como pseudo-portugueses ou portugueses-bastardos.
Não digo isto com intuito desprimorante para os tais, país e habitantes (onde obviamente me incluo). Trata-se apenas de constatar, lucidamente, uma realidade. Parecem, mas não são. O país parece um país, mas não é um país; os habitantes parecem pertencer ao país, mas, de facto, pertencem de alma e coração a outros países - em seu esperto entender- mais modernos e gratificantes. Também, estruturalmente, os verdadeiros portugueses eram de cerviz altiva e braço vigoroso. Estes não, e não nos alonguemos nos detalhes por piedade. Fossem árvores e seria o mesmo que comparar a árvore de copa bem erecta e altaneira ao arbusto retorcido e rasteiro. Ou mesmo ao capim forrageiro, segundo alguns eruditos.
Poderia ainda citar outro caso sugestivo da botânica: refiro-me à enxertia.
Neste caso, talvez fosse possível entender-se o Pseudo-Portugal como um enxerto bizarro executado sobre a raiz e tronco decapitado do verdadeiro. O lastimável é que tudo indica (e daí a bizarria) que a operação equivaleu a enxertar uma silva sobre uma roseira (e não o contrário, como recomenda a arte). Prova disso são até as "rosas" actuais que não é preciso matutar muito para perceber que são, na verdade, pseudo-rosas, ou efectivamente, silvas. E quem diz as rosas, diz as laranjas e outros frutos ou flores claramente falsos ou imaginados.
Finalmente, num terceiro caso, só a título de curiosidade e ainda no campo da enxertia, lembro a chamada "quimera". Esta ocorre quando sobre um mesmo cavalo (a planta que serve de base radicular ao conjunto) se enxertam várias outras espécies e não apenas uma. Resulta daí que a mesma árvore ramifica na forma de diversas folhagens e cria frutos de diversas qualidades: poderei mostrar-vos, até num pomar aqui bem perto, laranjeiras que dão laranjas doces, laranjas amargas, limões, tangerinas, limas e goiabas. O Pseudo-Portugal seria, portanto, segundo este paradigma, uma Quimera. Com efeito, ao longo destes últimos séculos, objecto de todo o tipo de enxerto, cada qual mais extravagante e peregrino que o anterior, poderia a sua desafortunada história ser contemplada como uma sucessão de ensaios mais ou menos alucinados de pô-lo a dar franceses, ingleses (na verdade, pseudo-franceses ou pseudo-ingleses), ou o que parecesse melhor e mais rentável ao fruticultor da época. Até russos tentaram. Ultimamente, parece que se tenta uma variedade híbrida de espanhol-americano. Aguardemos os frutos. Até hoje, apesar dos denodados esforços, das mais diversas podas e adubações, o mais que tem dado é bananas. É um facto que são cada vez maiores. Estas, a fazer fé no percurso e no crescimento -já por esta altura - desmesurado, devem vir a ser gigantes. Quase abóboras.
Nisto tudo, talvez haja (oxalá!) um grande exagero e lapidar crueldade da minha parte. Mas que dá que pensar, lá isso dá.

E, finalmente, uma outra quimera, quase tão antiga como a mitológica, mas bem mais daninha, pelo alcance e difusão. Há um grande autor russo que  disseca a alimária. Mas não está traduzido, nem vai estar, e mesmo que estivesse era cancelado. Gumilev, chamava-se o cavalheiro. Os soviéticos não gostavam dele e mataram-lhe a família. Os neo-soviéticos, esses, detestam-no. Como abominam Soljenitsyne ou Dostoievski. Os três elaboraram acerca da tal quimera. Deve ser por isso.

Um artigo introdutório ao assunto pode ser lido aqui.

Notem bem, mesmo em relação à amálgama mítica, toda a simbologia: o leão pervertido por uma cabeça de bode retrovisora e uma cauda de serpente que faz cauda de todo o restante conjunto. E cospe fogo. De artifício.




5 comentários:

  1. "Comentários de Agostinho Costa na CNN às 22h30:

    Um general que planeia um ataque, uma operação de ataque à Polónia não ataca um tractor senão é um incompetente. A primeira coisa que atacaria seria o sistema anti-míssil polaco. Isto não é um ataque à Polónia. Ponto! Agora, entramos no âmbito da fantasia e do delírio!!!
    (…) O ser um míssil russo que se desviou do seu percursos, porque uma das alhetas terá sido danificada é possível. Provável, talvez, não. Estamos a falar dum míssil com precisão tão elevada, e que, pelo ouvimos, foram todos destruídos. O país [Ucrânia] está às escuras, mas isso são gestões de comunicação e imagem.
    A probabilidade de ser a Rússia… ou um míssil ucraniano, eventualmente, pertencente ao Regimento 540º, localizado em Lviv, é provável até porque as imagens que estão disponíveis, a serem credíveis, apresenta um míssil S-300 da série 5B55 e o motor é um 40D6.
    O míssil, o sistema S-300, é um míssil anti-aéreo de longo alcance, é o melhor sistema que a Ucrânia tem, neste momento."

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  2. Já tinha lido , e é a primeira explicação coerente da história dos Khazars que vi.

    O Guyenot tem bom trabalho, nomeadamente no que toca à quimera e ao que a quimera toca.

    Mas depois deixa-se levar, parece-me, por outras cenisses a roçar o esotérico, como a história da cronologia alternativa, ou comprimida ou lá o que lhe chamam. E a história da Lua também é fraca, tendo visto o documentário que ele considera definitivo.

    O Lev Gumilev parece muito interessante, mas sem saber russo só temos direito ao que nos derem aqui na terra da libardade

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  3. muito bom. acabei de descobrir porque a maioria dos meus amigos é filho de "retornado" e viveu em África.

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  4. Grande postal!



    Miguel D

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  5. Excelente! O Sr Dragão serve-nos sempre pratos requintados em finíssima porcelana.

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