sexta-feira, agosto 26, 2022

Iluminismos & Apoteoses

                                                                                                              Finis  coronat opus


Li o trecho adiante, algures, num artigo onde se tecia uma vasto conjunto de evidências (e que serve aqui apenas como exemplo de múltiplos outros no mesmo registo. Só que este, como vim a averiguar, é escrito por um tipo da esquerda clássica, pura e dura, o que torna a coisa ainda mais interessante).  Assim, a parágrafos tantos, expostos os efeitos deploráveis, todos eles factuais e verificáveis, eis que irrompe, segundo o signatário, a causa principal (a mesma, repito, que vejo apontada, em coro, por um vasto espectro, que vai da esquerda aos paleodemocratas e light conservadores): a morte do Iluminismo. Quer dizer, depois da "morte de Deus", teríamos  agora, no meio deste descalabro de proporções quase bíblicas, qualquer coisa como a "morte do Seu assassino". Transcrevendo:

« The prime cause of the war in Ukraine, the war against Russia is the decline of the combined West, economically, spiritually, culturally, a decline that is accelerating for all to see. The West I once knew, or thought I knew is dead, the west of the Enlightenment, of Reason, of Morality, a decline others have spoken about since the late 19th century, as observers of society and philosophers told us over and over what was happening to the lives of ordinary people which became dominated by the immorality of elites who care nothing for them, who control the state, and see their citizens only as a means to make money for themselves.»

Ora, estou em crer, é quase, senão praticamente, o contrário. Eu explico. O Combinado Oeste (isto  faz lembrar certos pratos nas antigas cervejarias) poderá até estar em avançado declínio económico, espiritual e cultural. Nos dois últimos será mesmo mais que declínio: é esquizofrenia e gangrena generalizada. Já quanto à vertente económica parece-me mais discutível: afinal, imprimem o dinheiro que lhes apetece, roubam impunemente, desde os próprios cidadãos aos estados e pseudo-estados alheios, e não parece que isso vá acabar tão cedo. Provavelmente, até vai agravar-se nos próximos tempos, como, de resto, tem vindo a agudizar-se nestes últimos anos. Sobretudo, essa rapacidade feroz, sobre os otários internos. Agora, isto, este entulho amoral que o articulista deplora, longe de manifestar o óbito da coisa, é, bem pela inversa, o corolário lógico e o estágio avançado do tal Iluminismo, racionalista e fariseu até à medula. São os valores da Revolução Francesa em todo o seu esplendor desabrochado. Esse Combinado Oeste luminoso - não chorem os nostálgicos! -, longe de moribundo, está aí com todo o viço, e vício! Para quem goste do prato, o pitéu está mesmo de lamber a beiça, estalar a língua e arrotar por mais. Quantas estrelas michelin houver, quantas ele rapa. Um verdadeiro triunfo da haute-cuisine, por um congresso de chefes de elite. Canibais? Bem, não se pode ter tudo.

E a alegação das elites não colhe. As elites, a serem elites, são, necessariamente, elites de qualquer coisa, neste caso, um povo ou comunidade. Elites de coisa nenhuma não são elites. Já a matemática ensina: nada vezes nada é nada (0x0=0). A pseudo-elite mais não exprime que a reverberação da massa, a mera nata da ETAR (estação de tratamento de águas residuais). É só a espuma mais superficial,  visível e vaidosa  do paul fétido. Sendo que, na maior parte dos casos, nem isso: resume-se ao mero excremento à tona, emergindo com vaidade e pesporrência, e emitindo, exalando e, acima de tudo, detalhe fulcral, cobrando como se de um sol se tratasse. Não excede o gang, o gang-bang, o bang-bang, enfim, a seita evangélica de doutrina efervescente e carregar pela boca. E são gang para efeito de competição; são gang-bang para efeito de representação (sobre os otários/vassalos) e são, por fim, bang-bang, para efeito de exportação. Pensem por exemplo no modelo de ponta, hodierno, de tudo isto: os Estados Un(g)idos... E digam lá que não é na mouche!...

De resto, desenganem-se. E chorem. Não se trata da morte do assassino de Deus: trata-se,  outrossim, da sua apoteose. 




5 comentários:

  1. Caro Draco,
    Quando o Outro falou na morte de Deus (a passagem é toda ela magnífica, até no remorso e apreensão que reflecte "Como nos consolamos, os assassinos dentre todos os assassinos"), sublinhou um aspecto: Deus morreu, mas a Sua sombra manter-se-á ainda por muito tempo sobre o mundo.
    Estávamos na segunda metade do sec. XIX e já choveu muito entretanto. Será que a sombra Dele, que durante décadas ainda conservou réstias dos mais básicos hábitos de convivência, começa a desaparecer da memória dos primatas e o que vemos é sinal desse fenómeno?
    Iremos descobrir em breve.

    Miguel D

    Miguel D

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  2. caro Miguel,

    É uma bela e candente questão. Inquietante, também.

    Vou meditar sobre isso e até sou capaz de escrever qualquer coisa.

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  3. A UE tem 705 deputados e todos têm email na página da UE,quantos no mundo escreveram a esses 705 merdas criticando o seu geral comportamento podre decadente xuxalista?Resposta:1. Eu! Seria de grande utilidade os insatisfeitos e verdadeiros defensores da liberdade irem ao site da EU e começar a malhar forte e feio naqueles merdas todos porque isto de blogs até alivia os tomates mas nunca vai comover os chatos! De que estão á espera? Se ninguêm o fizer tudo vai continuar na mesma. Não vai matar o xuxalismo mas moi!
    Hoje irei malhar muitos daqueles merdas! Tambêm,fui o unico no mundo a enxovalhar a ONU,UNESCO etc...
    É fodido ser um unico gajo no mundo a ter coragem para tal...
    Continuem a usar a mascara dentro dos carros com as janelas fechadas e sem mais ninguêm lá dentro e claro não comam bacalhau á Brás!
    Basilio el Xuxalhote

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  4. Figueiredo7:44 da tarde

    Penso que Deus não morreu mas antes ressuscitou pela mão da Rússia que hoje é o bastião do Cristianismo e dos seus valores na Europa.

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  5. "Enlightenment, of Reason, of Morality,"

    Merda, cagar, rosas.

    Cherchez l'erreur...

    Pardon my french...

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