quinta-feira, junho 16, 2022

O Ocidente, ou Da Desesperança

 Partindo do postal anterior, em especial do conceito de "coacção", poderíamos talvez indagar o seguinte: o 25 de Abril de 1974 enformou a materialização dalgum tipo de coacção? E por quem?

Facto é que houve uma tentativa de "coacção política interna", por parte dos especialistas da coisa, em Abril de 1961. Ficou conhecido como a "Abrilada", e consistiu numa tentativa de golpe militar, pelo General CEMG Botelho Moniz mais os seus apaniguados, com o beneplácito americano.

O golpe falhou, não é fake news, nem teoria da conspiração, falhou mesmo, e Salazar, arrumando a casa e assumindo ele a pasta da Defesa, fez a célebre declaração "Para Angola e em força!"

O que estava em jogo e viria a estar sobremaneira nos anos seguintes, até 1974, não era se o regime era isto ou aquilo, censurava ou não censurava, regredia ou progredia: o busílis tinha outro nome: Ultramar Português. O resto era paisagem.

Em teoria, Portugal era aliado dos Estados Unidos. Estava até na NATO, membro fundador e tudo - a única "não democracia" do clube, pasme-se! -  (por via das Lages e do seu alto valor estratégico), mas isso, na prática, como ficou justamente exposto no postal anterior, não o isentava de ser coagido. Pelo que, gorada a "coacção política interna" de 61, os americórnios passaram a desfilar todos os outros estilos: coacção diplomática (circo da ONU, propostas de aquisição a pataco, semi-ultimatos via embaixador, etc), coacção psicológica (os mass-merdia aos gritos e às denúncias sonoras, por seca e Meca mais arredores), enfim: um fartar vilanagem. Só faltou mesmo desatarem aos tiros, abertamente - a tal coacção militar; se bem que o tenham exercido por proxy army, no caso a UPA, em Angola. Um caso, aliás, em tudo semelhante, ao presente circo da Ucrânia, ou ao anterior da Síria, e por aí arrecuante. A sensação de estar a combater zombis  não é, portanto, assim tão recente, embora nunca perca a actualidade. Só muda a embalagem: a mixórdia é sempre a  mesma. E o marteleiro também. Se é o imarcescível que procurais, aí o tendes.

Entretanto, alguns apontamentos sobre esta coacção americana, pós 1961, pelo testemunho do nosso ministro dos negócios estrangeiros da altura:

6 de Maio de 1965 -« Salazar ficou particularmente irritado com os americanos: com efeito, Williams (o dos sabonetes), disse a Garin que a nossa política em África estava a pôr em perigo a segurança dos Estados Unidos. Por outro lado, um americano de alto nível (Salazar não me disse quem) teria afirmado ser necessário modificar a situação interna portuguesa, na Metrópole.»

31 de Dezembro de 1965 - (Lamenta-se Salazar) «Tenho muitos receios para 1966. Vai ser um ano muito difícil. Talvez mais do que os anteriores. Isto da Rodésia vai ser uma crise grave, complexa, prolongada. quem sabe se, por acto do Ocidente, não estaremos a assistir ao princípio do fim do homem branco em África?! Talvez seja propósito dos Estados Unidos e da Inglaterra destruir toda a África, utilizando para o efeito a subversão e a autodeterminação e o comunismo, sabendo que depois de tudo destruído a África há-de voltar a apelar para a Europa e para o Ocidente - mas então só para os grandes. E assim se eliminaria Portugal da África. Sinto alguma revolta quando penso que já não existirei para denunciar isso.»

4 de Outubro de 1966 - «Prolongada entrevista depois com o embaixador dos Estados Unidos. pela primeira vez, uma pequena fricção: mas tudo acabou em sorrisos de parte a parte. Tese americana é sempre a mesma: eles defendem a liberdade do mundo, e portanto de nós todos, e fazem grandes sacrifícios para isso, e assim todos lhes devemos estar gratos; nós, portugueses, defendemos estreitos interesses de Portugal, o que é absolutamente secundários, e fazemo-lo de uma forma que é contrária aos ventos da história e dos interesses daquele mundo que os Estados Unidos defendem; estamos deste modo a prejudicar tudo, e até a nós próprios, devendo por isso estar reconhecidos àqueles, como os americanos, que sobre nós exercem pressões para que mudemos de política e entremos num caminho benéfico para a humanidade.»

Podia continuar por algumas horas, mas julgo bastante para avaliarmos do requinte da coisa. Então esse último relato quase alcança a geopoesia das Caldas. E todavia reflecte fielmente a abordagem, melhor dizendo, o recheio com que ainda hoje embalam a pílula, o baton com que, invariavelmente, pintalgam as fuças à porca.

Vendiam-nos armas porque eramos parceiros na NATO... Mas não as podíamos usar em África. Candidamente, Salazar interrogava-os: então mas podemos usá-las para combater os soviéticos na Europa, mas não podemos usá-las para  combatê-los em África?... "Claro que não, Dr. Oliveira. Porque é do nosso exclusivo e soberano interesse que cace gambosinos apenas aqui na Europa. Em África, nem pensar nisso. Estaria a combater-nos também a nós, que estamos, de fino direito e recorte, na parceria, na joint-desventure internacional."

Não me parece incorrer em erro clamoroso se considerar que a perspectiva que Salazar tinha dos americanos não era exactamente dum aliado. «Os americanos, ou conseguem matar-me, ou eu morro. Caso contrário, terão de lutar anos para conseguirem deitar-me abaixo.» Não deitaram. Deitou-o a cadeira e a própria vida com as suas leis eternas e imutáveis. Permitam-me uma confidência de pouco valor: o meu falecido pai, que Deus tenha, conheceu pessoalmente o Dr. Oliveira Salazar e ara amigo pessoal de algumas pessoas dele próximas. Uma vez perguntei-lhe sobre isso da cadeira e ele respondeu-me: "Qual cadeira, qual carapuça! Foram eles..." O que quer que ele queria significar com o "eles" nunca mo disse. O "eles", suspeito bem, teria a ver com o mesmo "eles" do caso Delgado. Inside Job, como sói dizer-se. Mas aqui é mesmo a minha "teoria da conspiração". Pessoal e intransmissível. E não tem mais valor que esse. Até porque acaba por ser irrelevante, ou quase, para o que aqui vamos dilucidando.

Voltando atrás. A perspectiva, dizia eu. Um realista, o Dr. Salazar. Dos quatro costados. Com o qb de Maquiavel. Mas, sobretudo, uma visão muito clara e lúcida da "independência". Independência sem soberania é impotência geopolítica. Podemos assistir a esse espectáculo degradante na União Europeia dos nossos dias. Países não independentes, numa união não soberana, em vassalagem rasteira a um Império de Fancaria e Fantochada. Ora, sendo um realista consumado, não via os americanos nem como aliados, nem como inimigos: via-os como eles eram. E são. Curiosamente, uma das definições mais certeira que pude constatar nos últimos tempos sobre os tais, passo a transcrevê-la:

«O Oeste demonstrou que não tem aliados nem inimigos - tem apenas um inimigo: quem quer que se oponha aos seus interesses materiais. Comunismo, Islamismo, Nazismo, China, Rússia  ou qualquer outro não são inimigos do Oeste. Se obedecem aos interesses do Oeste, são amigos; se se opõem a esses interesses, são inimigos. Noutras palavras: não têm princípios nenhuns.»

Foi o Presidente Assad, da Síria, outro dos monstros fabricados e fantasiados pelo "Oxidente", que disse isto. Quem quer que o dissesse, mesmo o Tio Patinhas, o Mancha Negra ou a Fada dos Dentes, seria igualmente na mouche. Traduza-se apenas o "Oeste" pelos Estados Unidos. Poupemo-nos a coberturas e cortejos carnavalescos.

Uma palavrinha para definir toda aquela cegada prometida à catástrofe (esperemos apenas que não seja global): materialismo. Esse não ter princípios, como justamente apontado, condena também a não ter fins - por isso a guerra sem fim, a competição sem fim, o ódio sem fim, a mentira sem fim - a limite, o caos. E do caos percebo eu. É mesmo a minha especialidade académica, desde Hesíodo. Ora, onde não há princípios, nem fins, sobram os meios. Os meios como princípio e fim deles próprios; meios para outros meios, utensílios e instrumentos ad infinitum. Isto, se pensarmos na Grécia Antiga como berço da Civilização Ocidental, temos a anti-civilização, ou então chamar-lhe ocidental é já, na etimologia, taxá-la de crepúsculo, morte, local do homicídio - a morte do Homem, corolário fatal da morte de Deus. Mas mesmo nisso, nesse consumar duma tragédia milenar, estaríamos provavelmente a ser optimistas. A morte seria já, de si, um fim, o desfecho de algo que principiara algures, neste caso, na Grécia de Homero. Ora o materialismo e o seu Ocidente sem principio nem fim, é algo que não morre porque nem vive: é puro artificial, absoluto sintético.  E é também, mais ainda, na medida em que abdica de princípios e causas (cf. Aristóteles), algo impossível de definir, sequer de pensar, dizer ou lembrar. Um inominável paredes meias entre o nada e o caos. Os medievais, especialmente na Alta Idade Média (antes dela ter desabado) chamar-lhe-iam a negação da Obra de Deus. A corrosão da alma humana pela Des-Criação. Havia até um tutor para este tipo de fenómenos que eles tinham em mente e eu me dispenso de enunciar.

Por outro lado, a própria raiz da palavra já parece incliná-la ao precipício. É do latim occidere que o Ocidente traz o estigma. A morte do dia, a matança da luz, o abater-se do sol, etc. Curiosamente, se fosse do grego, e não da Roma obscura (o latim é uma língua cujas origens se desconhecem), não diríamos Ocidental: diríamos  da Esperança (do grego esperos). A esperança de Ulisses ( de regressar a casa), a esperança de Jesus (de regressar à vida), a esperança do sol que há-de levantar-se na manhã seguinte. Em suma: um haver um sentido, para a vida, para a morte e para a viagem. E não apenas um absurdo, uma babilónia, um caos. E a carnificina a escorrer de tudo isso, que é nada. Porém, não há acasos nos ocasos. Ai de nós!...

Quando é que Salazar perdeu a esperança? Poder-se-ia perguntar. E há muitas declarações suas, especialmente nos anos 60, ou seja, no seu crepúsculo, que revelam um certo desalento com o que lhe havia de suceder, a ele e ao país - uma certa premonição que consigo ruirá o Estado Novo. O Estado Novo que, recorde-se, era suposto ter corporizado uma revolução nacional, uma transformação plena da nação. Mas também se poderá colocar a pergunta noutros termos: quando é que nós trocámos a Esperança pelo Ocidente?

Mas afinal o que significa a "Esperança"? É, mais ainda que fé, saber intimamente, que para lá da treva que se abate, chamada noite, outro dia virá. Que o negrume não é o fim do tempo nem da História. Precisamente nos antípodas desse acreditar dogmático e fanático, porque absolutamente cego e amorfo, que o Ocidente é o meio absoluto, isto é, ausência total e totalitária de princípio e fim arvorada a universo.

Qual era então a interrogação inaugural, que já me evadi?... Ah, sim, o 25 de Abril de 1974 enformou a materialização de algum tipo de coacção? 

Bem, conspiração houve. Os militares conspiraram, uns contra os outros e depois contra o governo. Contra a honra, também. Em barda. Os principais estrategas, ou assim eles julgavam, galopavam um paradoxo: tinham esperança no ocidente.  Mas era uma contradição viva, uma quimera a digladiar-se consigo mesma, que não augurava fulgurantes desenlaces. Tal qual se viu.

O Ocidente tratou-lhes da esperança. Esperar a próxima crise ou a próxima bancarrota também é uma "espécie" de esperança. A mais indigente a antitética de todas elas, mas, enfim, no mundo às avessas, até passa por luxo. Senão mesmo desígnio nacional. Nos intervalos, vão ser a Florida da Europa. Que por sua vez, vai ser o Novo Alasca dos Estados Unidos.

Quanto à coacção, e para terminar que isto vai longo, mas deu-me gozo, aquilo chega a um ponto que já passa por automatismo. E mais não escrevo.




18 comentários:

  1. Os seus textos preenchem um vazio, é um vazio importante.
    Aceite os meus cpmts.

    JSP

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  2. Pois. Já estava tudo mais que coagido. Aparte Salazar e os outros, relativamente poucos, firmes, os menos coagidos de todos ainda haviam de ser os próprios pretos, ironicamente.

    Ainda há tempos fiz a mesma observação que, contando pelas referências nas biografias e relatos, os americanos eram uma dor de cabeça bem maior que os soviéticos...

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  3. Bolas !
    Errata : ..., e (não "é" ) um vazio importante.
    Mea culpa.

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  4. Em 1961, na Abrilada, e em 74, na Abrilice, há um nome em comum - Costa Gomes. Na segunda vez, praticamente no cargo de Botelho Moniz (é demitido pouco tempo antes, mas isso só reforça a embalagem). Uma vez asset, sempre um asset?
    E como ele manobrou tudo até ao 25 de Novembro, ou seja, até o Ultramar estar devidamente liquidado...

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  5. Pois há.

    Já não me lembro se discutimos isto antes, mas eu também fiquei convencido que ele foi o cabecilha. Sobretudo pela conduta depois até à liquidação, claro.

    Um asset... mas de quem ou o quê? Daquele que o lá há-de ter agora, foi e continua a ser... Mas de outros meros mortais, quem?

    CIA e KGB entretiam-se com espiolhagens, catando-se mutuamente as incontinências. Demasiado vago e fácil como explicação, para mim. Espiolhar é uma coisa, teleguiar a carraça há-de ser outra bem diferente... E, se feito por triangulação, onde estavam ou quem eram os outros vértices?


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  6. Se o Caro Draco ainda não o tiver lido, recomendo o Stalin´s War, do Sean McMeekin.
    A segunda parte do livro é um pouco maçuda, mas a primeira descreve bem o que era a administração Roosevelt. Não se tratava de estar minada por espiões: os próprios responsáveis políticos eram esmagadoramente simpatizantes do regime soviético. E note-se, a actual constituição política e ideológica americana é a que resulta da revolução rooseveltiana.
    As humilhações aos ingleses durante anos e ao próprio Churchill durante a conferência de Teerão são de pasmar... Os russos, por seu lado, eram tratados nas palminhas.
    Portanto, quando se chega aos anos 60, junta-se a fome à vontade de comer.
    De onde vem o Holden Roberto e de onde vem o Mondlane?
    Quando se constata a podridão dos anos 60, lembro-me do que li há uns dias sobre a França pré-revolucionária. Dizia o de Maistre que em meados do sec. XVIII século, décadas antes da revolução de 1789, já a Constituição (a verdadeira) da Europa estava minada até aos alicerces...

    Miguel D

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  7. Muja,

    Coloquei o "asset" com ponto de interrogação. Não tenho uma certeza sobre esse assunto. O personagem era de tal modo escorregadio que nunca alinhava com os dois pés em nada. Era sempre com um dentro e outro fora. Era mais manipulador do que manipulável, daí que até seja possível que nunca tenha sido, em pleno, um "asset".

    Miguel,

    Darei uma vista de olhos, assim que possível. Mas apenas por atenção à consideração que lhe tenho, a si.
    Depois do que tenho visto ultimamente, tenho um problema absoluto e completo com "historiadores", "jornalistas", "pensadores", enfim, "propagandistas" anglo-saxónicos. Já tinha, mas agora já não é uma suspeita: é uma certeza comprovada na realidade. Portanto, tudo o que tenha a ver com Hitler, Stalin, Mussolini, Drácula, Putin, o Mancha Negra, ou qualquer monstro criado por eles, decididamente, não compro.

    Em todo o caso, pense no que a administração do Roosevelt e a do Stalin tinham em comum, até certa altura. Até à purga... :O)

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  8. O mais curioso é que ele chegou, fez e "foice". E nunca mais deu nas vistas... Ou é impressão minha?

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  9. Foi uma espécie de gestor do granel. Lixou primeiro os spinolistas e derivados (os tais que tinham "esperança no ocidente"), e depois empandeirou os revolucionários, acomodando placidamente o PC ao parlamento. Se virmos bem, a coisa faz pleno sentido: os primeiros estorvavam a entrega rápida, os segundos aceleraram-na, aos saltos, pelo que uma vez feita, puderam ser descartados. Terminada a missão, o "rolha" retirou-se. Passou a pasta ao Eanes e, realmente, desapareceu da cena política (pelo menos pública).

    Mas é uma figura complexa. Tinha, por exemplo, excelentes relações com a DGS em Angola. Talvez tenha evitado a guerra civil, argumentam alguns. Da minha parte, não cheguei ainda a um veredicto. E a guerra civil é desnecessária quando já se tem implantada a zaragata civil, que dá menos nas vistas e tem pilhas muito mais duráveis... Faz parte do kit da tal "coacção automatizada"... e por controlo remoto.

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  10. Sobre o Rolha, corria a história que sofreu chantagens de um filho, supostamente muito alinhado com a Central…não sei se será verdade
    https://amp.expresso.pt/alertasexpresso/pcp-fez-chantagem-sobre-costa-gomes-atraves-do-seu-filho=f278916



    Miguel D

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  11. Seja como for, a hipótese da chantagem explica pouco e em 1961 nem tem relevância.
    Grande parte dos militares que faziam os cursos da Nato regressava com a cabeça feita num oito. É pensar no que os grandes democratas coca-cola diziam nos anos 30 e no que se tornaram. Verdadeiros transexuais políticos, ahaha

    Miguel D

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  12. Conheço essa história do filho. Em 75 não é descabida.
    Mas não eram apenas os cursos da NATO. Iam ser adidos militares no estrangeiro, pior ainda se fosse nos states, e aquilo subia-lhes à cabeça. É preciso ter bem em conta o quão pacóvia e pato-brava é a classe militar. Muitos deles vinham das berças e tornavam-se deslumbrados instantâneos e efervescentes. Outros vinham da cidade e era a mesma merda, senão pior. Aliás, há uma sucessão de deslumbramentos típicos de saloios que até aos dias de hoje sempre me deram volta ao estômago (assistir em direito e repetido a este espectáculo não é fácil): deslumbradinhos com o colégio; deslumbradinhos com a academia; e depois, caso flanassem no exterior, então, Deus nos acuda, era um deslumbradouro e uma soberba de pingarelho ao assalto da galáxia. E quantos mais galões abichassem nas ombralhas, pior. Uma vez estrelados, então, nem falo. E as vaidades... O Saviana Rebelo, que arranjou aquele sarilho todo, tinha a alcunha do "Meia Nau". Porque só tinha proa. Ao contrário, o Spínola era um bom general, em termo operacionais. Mas como político, um desastre - Por causa da puta da vaidade descomunal. Que aliás acabou por lhe arruinar o bom trabalho que vinha fazendo na Guiné. Começou a aparecer nas capas internacionais e zás, subiu-lhe à cabeça. O "Rolha" também foi um bom operacional, com uma vantagem: não era vaidoso nem deslumbrado. Nisso façamos-lhe justiça. Por isso, comeu o outro com batatinhas. O outro e quase todos - Otelos e Cª, o camarada Vasco, etc, etc.
    Pensando bem nisso, o "Rolha" não tinha grupo e, de certa forma, por se manter sempre uma certa "entidade parda", nunca perdeu uma certa autoridade atávica entre os "capitães" e majores da cegada. Um siciliano em Portugal, quiçá... :O)) Embora nascido em Trás-os-Montes (mas dos gajos de Chaves não percebo nada; a minha tribo é do outro lado do Marão.) Mas isto sou só eu para aqui a delirar.

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  13. Pois é isso mesmo que é estranho: a circunspecção atípica no meio daquele circo todo de vaidades, desvarios e desgraças que superintendeu eficientemente como comandara em África.

    Digo estranho porque parece implicar uma motivação firme, circunscrita, sem andar ao sabor dos acontecimentos...

    Ideológica? Mas qual? Anti-racismo feique de gringo? Não combina com a circunspecção. Determinação comuna combina, mas não com o ter-lhes passado a perna depois.

    Coisa pessoal? Rancores ou agravos? Contra a Pátria? Contra os pretos? Contra Salazar por via da sua obra?

    Coisa psicológica? Um pirómano discreto a quem ofereceram as chaves da refinaria?

    Um enigma. Qualquer dia compro as biografias, pode ser que venha lá alguma coisa de jeito.

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  14. Consumar 61 em 74?

    Mas mesmo em 61 não se pode garantir que a ideia fosse uma debandada (embora qualquer ideia peregrina, ainda mais patrocinada pelos américas acabasse por redundar quase fatalmente nisso)...

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  15. Muja,

    Não se lembra da história do embaixador da URSS no final dos anos 70? Quando lhe perguntaram pelo Rolha e pelo Cunhal respondeu que o primeiro era um amigo estimado, o segundo era um funcionário.
    Às vezes pergunto-me se não haverá ali ventosidades do Medio-Oriente…

    Miguel D

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  16. “O Saviana Rebelo, que arranjou aquele sarilho todo, tinha a alcunha do "Meia Nau". Porque só tinha proa”

    Maravilhoso. É por estas e por outras que mantenho a esperança de um dia destes sair de uma livraria com um livro assinado pelo Dragão.

    Miguel D

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  17. Na verdade, era Sá Viana... Sá Viana Rebelo. :O) Abreviei de propósito.

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  18. Mais um texto de antologia à La Dragão.

    Os EUA não tem amigos apenas interesses e a Alemanha e a Europa vão em breve sentir no pelo esta realidade.

    Quanto a Salazar, esclarecido, multi-polar (curioso para um provinciano), acabou enredado num jogo de círculo fechado e lá aguentou o seu ultramar que só caiu depois da sua morte melhor que os americonços no Vietname.

    Hoje África é um continente falhado mas Salazar será sempre um Condestável de Portugal. Viva Salazar!

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