quinta-feira, janeiro 12, 2017

De fenêtre ou não-fenêtre, eis a questão

Estávamos ontem a rilhar uns tremoços, de mão dada com uns finos, e diz-me ele, o Jorra-Lumes:
« - Ildefonso, meu velho, não sou de desejar a morte de ninguém, nem mesmo dos políticos abrilabundos! e até por muito abrilabundos que estejam, regista e nota bem! ( E sabes como isso pode feder a léguas, de assarapantar rebanhos!). Até porque seria estúpido: desejar-lhes uma coisa que eles têm garantida. Aliás, por império absoluto da única entidade genuinamente democrática deste mundo, pois a todos nos irmana e despacha com idêntica presteza e fatalidade. Também, que o país celebre os seus enterros e faça uma festa de arromba em volta das suas urnas, só me enche de regozijo: para ser perfeito só falta fazerem como os Bakongos, que transportam a urna em braços, à maneira de concerto rock por alturas de stage-diving (ou crowd surf, como se diz agora), por entre granda fanfarra e festim, num verdadeiro comício final, que termina - em apoteose - no cemitério, escavacando a urna à machadada, antes de descer à cova, para acautelar roubos futuros dos pilha-sepulturas em busca de madeira fácil. Isso é que era! E até constituiria, no vertente e recente caso, um tributo condigno à bela e exemplar descolonização que ajudou a burilar. Sim, agora que medito nisso, até os olhos se me humedecem com a justeza do avanço (que puggesso, Deus meu!): em vez de transportado, em turné pela urbe, por bestas quadrúpedes e irracionais, levado e sacudido em braços por semi-racionais bípedes e cantarolantes! Com pífaros e tambores, em troante algazarra, abrindo o cortejo, pois então e que maravilha!...
Não, Caguinhas, aos nossos abrilabundos, sejam eles de fedor esquerdista ou de pivete contra-esquerdista, mas todos igualmente traidores e estrangeiralhados até às profundezas da cloaca que neles faz as vezes de alma, eu, uma vez falecidos, não dedico nem desperdiço qualquer vitupério, praga ou ruído vocal menos digno dum homem (fará dum dragão adulto e esclarecido). Estão mortos, já pertencem a outro juízo que não o das modas, chusmas e opinorreias humanas. Já prestam contas a Quem de direito verdadeiro. Perfilo-me e nada mais. Em respeito não tanto ao morto como Àquele que o espera e àquela que o empandeira. Porque ambos também me esperam a mim. Faço uso daquilo que espero seja também dispensado para comigo: misericórdia. Ontem, a enterrar, foi um desgraçado. Tão nu e desvalido como nós todos. É preciso estar vivo para saber respeitar a Morte. Toda ela, até porque a dos outros é também a nossa. Já a vi passar demasiadas vezes - para amigos e inimigos na guerra -, para amigos, inimigos e familiares ao longo da vida. Já fui demasiadas vezes ao cemitério para saber que com ela não se brinca. Sobretudo aos julgamentos. Debalde tentar explicar isto a zombies.
Juro-te, pois, meu caro amigo, por tudo quanto é sagrado: aos púlhitos da nossa triste terra é em vida, de saúde, arroto e pesporra, que eu arremeço  votos, combates ou confrontos. E se algum desses votos sinceros reponta sobre todos os restantes, que ainda são uns quantos, é que viajem... Que viajem mais! Que viajem muito!...  Mas não de aeronave, ferrovia ou viatura rodoviária, que isso não preenche adequadamente o seu porfiado e compenetrado mérito. Uma viajem verdadeiramente ao nível deles, acredita, não é de barco nem de avião (ou sequer de tartaruga ou elefante): é de fenêtre

Bem, leitores, disse-me ele isto e eu fiquei a matutar:
"Mas que raio será uma fenêtre? Este gajo debita cada palavrão mais cabeludo!..."

6 comentários:

  1. Ironia que baste, o energúmeno nem isso merecia. Ainda assim brilhante. Após a vida nada de mal se deseja aos que já partiram, não é digno de um cristão. E não serei eu que o farei. Mas sim e pelo contrário, na idade adequada e quando ainda bem vivinho da costa é que este vendilhão de pátrias, como grande traidor que foi, devia ter tido o destino que teve o traidor Miguel de Vasconcelos. Pondo num dos pratos da balança os crimes gravíssimos que o primeiro praticou e no outro prato o mal pelo último praticado, não pode haver comparação possível.

    Esse teria sido o destino apropriado para um pulha da pior espécie que destruiu uma Nação de quase mil anos, enriqueceu obscenamente à custa do roubo de biliões aos portugueses e desgraçou irremediàvelmente um povo ingénuo e bom que acreditou na mais hipócrita e cínica personagem de que há memória na nossa História. Por muito menos os nossos valentes predecessores vingaram na devida altura e adequadamente os traidores à Pátria. Portugal não merecia o triste destino que esta desnaturada criatura lhe reservou.

    Não se deve amaldiçoar quem já deixou este mundo e não sou eu quem o faça, já não vale a pena, não é agora que ele poderia prestar contas à Justiça pelos crimes praticados em vida, a partir d'agora só Deus lhe pode perdoar os seus múltiplos pecados. Pelo contrário, são os graves crimes por ele praticados em vida - e já que não o faram então - que devem ser a partir d'agora exaustivamente escrutinados e todos postos a nu. Caso o não façamos e temos o inalienável direito de o fazer, a História encarregar-se-á indubitàvelmente desse dever. Que disto não haja dúvidas.

    Todas as acções criminosas que possam ser assacadas a este traidor à Pátria durante o maldito tempo que lhe foi dado viver, qual víbora a expelir veneno por todos os poros, serão sempre em razão da verdade dos factos. É bom lembrar que depois dele se insinuar ardilosamente junto do patriota e legítimo governante de então, Marcello Caetano, aproveitou-se da generosa e sincera confiança nele depositada para, espetando-lhe facadas nas costas uma e outra vez, usurpar-lhe cobarde e miseràvelmente o poder para numa ansia diabólica dar cabo do País, pretensão esta que lhe consunia os dias e as noites até tê-la por fim concretizada.

    Perante tão maquiavélica criatura, todos os piores defeitos que possam descrever cabalmente o seu desprezível carácter, só pecarão por defeito.

    ResponderEliminar
  2. eu já estava capaz dos mandar a todos da janela abaixo , estava pois : um político bom é um político morto , fora isso não há. defenestrá-los é muito boa ideia :)

    ResponderEliminar
  3. Boa Marina, assim é que se fala. Ou melhor, escreve.

    ResponderEliminar
  4. Nao " de fenetre ", but rather THROUGH the window !

    ResponderEliminar
  5. Não se deve amaldiçoar quem já deixou este mundo ""

    Isso tambem vale para o Judas Iscariotes?

    Alguem uma vez disse : "Mais valia não ter nascido"

    Sobre a peça (MS) Q apodreça no inferno fdp!

    ResponderEliminar
  6. Na crise do D.João Regente e depois D.João I houve muito situacionista defenestrado ou atirado lá do alto.O ISIS ainda usa esses métodos...

    ResponderEliminar

Tire senha e aguarde. Os comentários estarão abertos em horário aleatório.