Esta mania bizarra dos actuais turra-turras abandonarem os documentos nos locais do crime (ou imediações próximas) pode afigurar-se, ao transeunte incauto, como tara recente ou excentricidade típica destes novos facínoras globais. Coisa de árabes doidos ou islamongos varridos, enfim. Serei o último dos seres vivos a menosprezar a maluqueira fogosa destas cavalgaduras. Mas factos são factos. E, interpretações à parte, o facto é que não apenas este peregrino chacinador de Berlim, ou aqueloutro do Charlie Hebdo deixaram os tais documentos em local menos próprio. Também uns quantos dos doidivanas alados do 11 de Setembro conseguiram, mesmo após a sua auto-pulverização épica (senão mesmo vagamente BD), materializar os seus respectivos BIs/passaportes em perfeito estado de conservação junto ao formidável e fumegante monte de entulho. Do pré-socrático Empédocles, que se atirou no Etna por vertigem gnoseológica, cuspiu o vulcão, como indigesta, a sandália. Destes Ali Babacas alcagoitados, por emulação moderna, terá escarrado o holocausto apenas a documentação pessoal.
Só que o fenómeno alastra a zonas mais antigas e insuspeitas. Pasme-se: o assassino de Martin Luther King e o atentador de John F. Kennedy, ainda nos anos sessenta, almejaram idêntica proeza. A carteira de Lee Harvey Oswald, o kit completo de canalizador de James Earl Ray, com efeito, também apareceram, providencial e amavelmente, deixados em nota de rodapé - ou rodapum, se quisermos entrar em rigores.
Por conseguinte, não se trata de bizarria nenhuma. Nem islamossincrasia de arribação, tão pouco. Mais parece um método, mais parece sistemático. Chato à brava, no mínimo. Um tipo vai para ler`, à maneira da boa tradição policial do ocidente, sempre à espera de algum suspense ou mistério (que o arguto do Connan Doyle ou a Gata Christie, tão bem nos habituaram), e pimba, é o anti-climax, a pífia engrenagem: o assassinato sinistro cedeu passo ao exibicionismo pachola. Quais assassinos!, emplastros em série!... A esbirraria, coitada, estúpida em qualquer parte do mundo, por natureza e função, ainda tenta, em desespero, meter os pés pelas mãos e fazer de conta que não vê toda aquela prova denunciante a céu aberto, com fotografia e tudo... Atrapalha-se e alucina-se quanto pode. Lança-se avidamente sobre as mais descabeladas pistas. Mas debalde. Envelhecem no tédio, os últimos e imaculados mordomos deste ex-mundo. Actualizando bem a propósito Shakespeare, no Rei Lear, já não são apenas cegos que guiam loucos: são jornalixas que conduzem magistrópodes. Pela arreata. À manjedoura.
O caso vem devidamente exposto aqui, com bonequinhos.
Há muitos anos um cómico de TV americana, Dana Carver, repetia para sublinhar o absurdo da graçola a frase "How convenient!"
ResponderEliminarDe facto, de facto.
"...ainda tenta, em desespero, meter os pés pelas mãos e fazer de conta que não vê toda aquela prova denunciante a céu aberto, com fotografia e tudo... Atrapalha-se e alucina-se quanto pode. Lança-se avidamente sobre as mais descabeladas pistas."
ResponderEliminarlol lol lol
Para todos um santo Natal, em especial para o labaredas :):):)
Muito bom texto. Bem haja. Desejo-lhe um santo Natal em um próspero ano novo.
ResponderEliminarNão sei se seria demasiado imprudente esperar um Novo Ano com menos violência, menos bombardeamentos, menos carnificinas em prol dos direitos humanos.
ResponderEliminarJá o fiz mas volto a desejar ao magnífico Dragão e aos ilustres comentadores o melhor Natal de sempre e um Bom Novo Ano e que este venha a satisfazer os desejos de todos vós.
ResponderEliminarVou roubar!
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