«É impossível alcançar através da razão natural o conhecimento da trindade e das pessoas divinas. De facto, temos demonstrado (conferir c.12) que o homem não pode chegar ao conhecimento de Deus pela razão natural a não ser por intermédio das criaturas, e estas conduzem ao conhecimento de Deus como os efeitos permitem remontar-nos às suas causas. A razão só pode, pois conhecer a respeito de Deus o que necessariamente lhe compete - que é o princípio de todos os seres e sobre este fundamento repousa tudo o que sobre Deus temos dito.»
- S.Tomás de Aquino, "Suma teológica" (c.32 a..1)
Mais helenista e menos judaico do que isto não é possível. A natureza é uma linguagem de Deus, só temos que deixar de ser analfabetos no mais importante e sublime de todos os textos: o verdadeiro Biblos é o Cosmos. Oposto (e mais grave: sobreposto) a isto existe algo que, quando não celebra e convive, cobre , distorce e oculta a linguagem de Deus - aquilo que Aristóteles chamou a Techné, isto é, o Artificial. Ao conjunto do artificial e dos artificialismo, por oposição ao Cosmos, chamamos mundo. O Homem é palco dum combate entre estas duas pulsões antagónicas: o Cósmico que o convoca para Deus e o mundano que o afasta Dele. A alma humana é esse palco.
O príncipe do mundano não é Deus. Foi isso que Jesus veio mostrar: que esse mundo cospe, injuria e tortura Deus, na pessoa das Suas crias e crianças. E a forma superior como se expressou não foi através de vociferações escalvantes nem totemismos tribais: foi através duma tragédia. A tragédia humana. A nossa.
A vida humana nunca foi tão artificial como agora.
ResponderEliminarE a pouco e pouco Deus vai assim se ausentando das cidades para estar cada vez mais presente na natureza onde a vida humana é escassa.
Ah pois é maltinha! Isto de se encontrar Deus não é como andar atrás dos pokemons, tem que lhe se diga.
Luz no meio das trevas.
ResponderEliminarNão me parece nada que nessa citação do Tomás de Aquino se encontre muito helenismo e pouco judaísmo (ou cristianismo), como afirma o dragão, mas sim uma mistura das duas coisas, o que já seria de esperar, pois o São Tomás é aquele filósofo/teólogo que ficou conhecido por ter cristianizado o aristotelismo.
ResponderEliminarTomás começa por dizer que a razão não consegue alcançar ou conceber Deus, quando esta é uma ideia fundamental do judaísmo (que por isso mesmo proíbe qualquer representação do divino), como a afirmaçao/revelação de que Deus é "Aquele que é" mostra, e a que o próprio Tomás recorre para expressar a sua teoria de que a essência de Deus é a sua existência.
Depois, quando ele diz que só se chega ao conhecimento de Deus através dos Seus efeitos está a adoptar a posição gnosiológica de Aristóteles, mas está a subvertê-la para a adaptar ao criacionismo cristão e/ou judaico. Isto porque para Aristóteles Deus é a causa de todo o movimento/devir (e é, por isso, o motor imóvel), mas não é a causa da existência das criaturas ou das substâncias, pois não é nenhum deus criador (e nem sequer conhecedor) da realidade . Para Aristóteles Deus é a causa final do Cosmos, mas não é causa primeira ou criadora deste mesmo Cosmos, como defende Tomás de Aquino e o judaísmo/cristianismo.
"Com efeito, o princípio e o primeiro dos seres é imóvel tanto em si mesmo quanto acidentalmente, mas produz o movimento primeiro eterno e único. E, posto que todo movido é, necessariamente, movido por algo, o primeiro motor é necessariamente imóvel em si, e o movimento eterno tem de ser produzido por algo eterno, e o movimento único por algo uno." ARISTÓTELES
ResponderEliminaro motor de Aristóteles não será antropomórfico e tal , mas é o princípio e produz o movimento primeiro eterno e único :) na essência : fez-se luz !