É sempre edificante recordar...
«As taxas de criminalidade Americanas sempre foram mais elevadas do que a maioria dos países europeus. O que é novidade é o recurso nos Estados Unidos a uma política de encarceramento maciço, em substituição dos controlos comunitários enfranquecidos pelas forças do mercado desregulado. Ao mesmo tempo, os americanos ricos estão, em número crescente, a afastar-se da co-habitação com os seus concidadãos, recolhendo-se a propriedades comunitárias muradas. Cerca de 28 milhões de americanos -mais de 10% da população - vivem hoje em prédios ou condomínios com guardas privados.
Nos fins de 1994, mais de 5 milhões de americanos viviam sob uma forma ou outra de restrições legais. De acordo com os números do Ministério da Justiça (Department of Justice), cerca de 1,5 milhões estavam encarcerados - em prisões estaduais, federais ou municipais. Isto significa que 1 em cada 193 adultos americanos está preso, o que corresponde a 373 em cada 100.000 americanos. Este número era de 103 em 100.000 quando Ronal Reagan foi eleito presidente. 3,5 milhões de americanos estavam em liberdade condicional.
A taxa de encarceramento dos Estados Unidos no fim de 1994 era quadrúpla da do Canadá, quíntupla da da Grã-Bretanha e catorze vezes superior à do Japão. Apenas a Rússia pós-comunista tem uma percentagem maior dos seus cidadãos atrás das grades. Na Califórnia, cerca de 150.000 pessoas estão presas. A população da Califórnia na cadeia é agora oito vezes superior à de 1970. Excede a da Grã-Bretanha e a da Alemanha juntas.(...)
A confluência de divisões e antagonismos étnicos e económicos nos Estados Unidos não tem equivalente em nenhum outro país desenvolvido. O mercado livre produziu uma mutação no capitalismo americano, em consequência da qual ele se assemelha mais aos regimes oligárquicos de alguns países latino-americanos do que à civilização capitalista liberal da Europa ou dos próprios Estados Unidos em fases mais recuadas da sua história.(...)
Os níveis de todos os crimes de violência, excepto homicídio, são consideravelmente mais elevados na América do que na Rússia pós-comunista. Em 1993 houve 264 roubos por 100.000 habitantes (contra 124 na Rússia), 442 assaltos (comparados com 27 na Rússia) e 43 violações (9,7 na Rússia). (...)
O assassínio de crianças é particularmente comum nos Estados Unidos. Cerca de três quartos dos assassínios de crianças no mundo industrializado ocorrem nos Estados Unidos. Entre os 26 países mais ricos do mundo,os Estados Unidos têm de longe as maiores taxas de suicídio infantil e de homicídios e outras mortes relacionadas com armas de fogo.(...)
Em 1987, a mortalidade infantil no Harlem oriental e em Washington DC era praticamente a mesma que na Malásia, na Jugoslávia e na antiga União Soviética. Um bebé nascido em Xangai em 1995 tinha menos probabilidade de morrer no primeiro ano de vida, maior probabilidade de aprender a ler e uma esperança de vida dois anos mais longa (até aos 76 anos) do que um bebé nascido em Nova Iorque.
As elevadas taxas de encarceração e de crime nos Estados Unidos estão acompanhadas por números igualmente excepcionais de litígios e de advogados. A América tem pelo menos um terço de todos os advogados do mundo.(...) Os condóminos privados, murados, fechados e vigiados electronicamente que protegem os habitantes dos perigos da sociedade que abandonaram são a imagem das prisões americanas. Erguem-se como símbolos do esvaziamento de outras instituições sociais - a família, a vizinhança e mesmo o emprego - que no passado suportavam o funcionamento da sociedade. A combinação de prisões de alta tecnologia e empresas virtuais pode tornar-se o emblema da América dos inícios do século XXI.
Na América do fim do século XX, o mercado livre tornou-se o motor de uma modernidade perversa. O profeta da América de hoje não é Jefferson ou Madison. E ainda menos Burke. É Jeremy Bentham, o pensador iluminista britânico do século XIX, que sonhava com uma sociedade hipermoderna reconstruída segundo o modelo de prisão ideal.»
- John Gray, "False Dawn"
Os outros tinham a Sibéria para onde enviar o refugo da Revolução. Estes não precisam: a revolução consiste no encarceramento generalizado. Com duas modalidades prodominantes: o encarceramento forçado e o auto-encarceramento (para defesa daqueles em trânsito para o encarceramento forçado). Entre uns e outros, os encarcerados forçado e os auto-encarcerados, vagueia o restante da população em regime de liberdade condicional, angustiado com o risco de resvalar ao encarceramento forçado e seduzido pela ganância de ascender ao auto-encarceramento. Moral da história: os ventos desta, afinal, são fruto de aerofagia crónica.
Interessante. E em Portugal, a moda não está a pegar? Nos arredores das povoações algarvias, vive-se em estado de guerra, de acordo com uns amigos suecos. As escolas estão rodeadas por altos gradeamentos, ora quando estudei no ensino primário havia apenas um muro baixo onde estão estão agora uma grades altíssimas. Quando era criança andava pelas quintas, pelo campo, com os outros miúdos, agora isso é impossível! Está tudo vedado e com arame farpado. A paranóia das vedações, dos gradeamentos, do arame farpado é cada vez maior. E também já chegou a moda dos condomínios privados. O primeiro impacto veio quando alguém veio de longe, um retornado, e começou a demolir as casas típicas, belos edifícios com boas volumetrias, para fazer mamarrachos de 5 andares. Antigamente vivia-se em casas, hoje vive-se dentro de um apartamento. Ainda por cima, são edifícios aberrantes, sem qualquer qualidade estética. E também já há quem viva no condomínio privado.
ResponderEliminarExcesso de liberdade em áreas onde deve ser limitada. A liberdade não pode ser o valor mais elevado.
ResponderEliminar.
-O acesso a armas por qualquer melro.
-Prisões privadas q maximizam o número de presos ( vendas).
-Sistema indeminizatorio judicial sobre-eficaz. Perseguir pequenas falhas exaurindo os faltosos com penas monstruosas.
.
Rb
Excesso de liberdade em áreas onde deve ser limitada. A liberdade não pode ser o valor mais elevado.
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-O acesso a armas por qualquer melro.
-Prisões privadas q maximizam o número de presos ( vendas).
-Sistema indeminizatorio judicial sobre-eficaz. Perseguir pequenas falhas exaurindo os faltosos com penas monstruosas.
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Rb
condomínios, não condóminos
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