Confiar, mesmo, só em Deus. No Estado de Direito, no Estado Social, na Democracia Virtuosa, desculpem lá, não apenas não confio, como não acredito. Mas tal qual não admito que me imponham mistelas e dietas, também não faço questão de impor nada aos outros. Se todas essas balelas vos seduzem e encantam, força!
Não me venham é depois com ciganices lacrimijantes do estilo "Ai que nos violam a Constituição!", "ai que a Constituição nos bloqueia!", "ai que nos estão a ir ao Estado Social", "Ai que o estado social nos vai ao bolso!", "ai que que nos prostituem o Estado de Direito!", ou "Ai que o Estado de Direito não está a render o que devia!", "ai que nos congelam a democracia", "Ai que a democracia está sem fundos, nem fundilhos!", etc, etc.
Parecem posições opostas, antagónicas, mas são a mesmíssima posição. É a mesmíssima gente. Quem conseguir distinguir a merda do cagalhão, faça favor, tenha a bondade. Junte-se ao Luís de Matos, e também ao Júlio, e montem um espectáculo de ilusionismo para bonapartes na reforma.
Dito isto, julgo que estarei plenamente creditado (ou seja, devidamente encartado na mais olímpica das imparcialidades) para explanar o que se segue.
A principal razão para a minha descrença nos Estados (de Direito e Social), tanto quanto na Democracia (paralamentar ou para-rir-e-chorar), é a realidade da sua exstência entre nós (lá fora, no presente e no passado, também abundam maus exemplos, mas com esses posso eu bem). E essa realidade manifesta a mais desoladora e repugnante perversão dos mesmos. Quer dizer, aqueles que diariamente passam e repassam atestados da mais inoxidável das virtudes a essa sagrada tríade, outra coisa não fazem, refazem e trifazem na prática senão pervertê-la, prostituí-la e enxertá-la de vícios, taras e quimeras canibais. Temos assim, graças em grande parte, aos seus putativos paladinos (na verdade, seus proxenetas) um Estado de Direito, um Estado Social e uma Democracia completamente pervertidos. Em teoria, seraim semi-angélicos; na prática, estão completamente decaídos e adulterados.
Entretanto, a crise actual de rendimentos levou a seita proxeneta a um cisma aparatoso. Uns continuam a jurar pela virgindade da querida, apesar dos claros sinais de falência senil e dotes atractivos em vias de extinção; outros, adeptos duma gestão mais desembaraçada, conclamam ao abandono rápido do destroço improdutivo e à engenhosa imposição armada dum esquema urgente de entre-sodomia geral da clientlela. Entre-sodomia geral até à morte, bem entendido; que é como a coisa será mais rentável. Isto, numa primeira fase; porque, numa segunda, ainda mais audaz e racional, a exploração prolongar-se-á mesmo para lá dela, através da reciclagem necrófila dos cadáveres. Acrescido de que a conta no banco, além de moeda ou valores, poderá ser também em órgãos. A conta dos proxenetas, claro está.
Ora, a sensatez poderá estar banida, desterrada e até queimada em efígie. Mas continua viva, embora em parte incerta. E, em sonhos, até por força da necessidade, começa a aparecer, com certa frequência, a alguns cidadãos deste país. Um dia destes, ainda algum, daqueles que se fazem ouvir, se lembra de dizer: "Bem, não é possível termos um Estado angélico, nem uma democracia celestial, portanto é estúpido desejá-lo (e ainda mais, proclamá-lo); Mas também não queremos um estado e uma democracia completamente pervertidos, seja porque nos sodomiza arbitrariamente, seja porque nos obriga a sodomizar-nos uns aos outros. A questão não é a falsa questão. E a questão é que o nosso problema não são as funções do Estado: são as disfunções do Estado. O problema é que o dinheiro que chegaria perfeitamente para as funções do Estado, foi desviado e malbaratado com uma miríade de disfunções do estado, que outra servidão não teve, nem tem, que a sustentação arrogante e opípara duma multidão de disfuncionários do estado. O problema não é o actual governo, ou o governo anterior: o problema é a sucessão de desgovernos, que o actual apenas protagoniza e acentua. O problema é que não houve eleições: houve golpadas legitimadas através dum esquema manhoso nas urnas. A democracia serviu do cobertura a uma cleptocracia legalizada na forma dum aristocracia invertida e burocrática. O povo nada de útil ou concreto decidiu: intoxicou-se. Fumou latrocínio atrás de latrocínio; tripou com miragens, de panaceias, créditos e migalhas; e acordou um belo dia como qualquer junkie acorda: arruinado, infectado, toxicodependente e sem-abrigo."
Não reivindicamos o paraíso; mas também não queremos nem aceitamos o inferno na terra. Para começar, contentamo-nos com um estado que funcione, uma democracia que tome banho e um país que ande no mundo (que é a rua dos países) de cabeça erguida e não de pata estendida, seja a pedir esmola, seja a pedir colo.
Pois, um dia destes ainda alguém diz isto. E, mais grave ainda: ainda alguém escuta. Alguém que não apenas o boneco e as paredes.
Bem dito, contudo politicos, vulgo dirigentes, pobres como o Salazar já não existem e se existissem seriam vilipendiados.
ResponderEliminarBem dito, contudo politicos, vulgo dirigentes, pobres como o Salazar já não existem e se existissem seriam vilipendiados.
ResponderEliminarNem mais. As minhas desculpas pelos vernáculos, mas os labregos (povo votante)ainda não sabem quem são as putas (deputados) nem os cabrões (politicos).
ResponderEliminarSe este povo de imbecis, que se vende por dez réis, tivesse um caminho, não estariamos onde estamos.
Bem-haja pelos textos.
Hoje foi dia de hiper-inspiração, grande Dragão!
ResponderEliminarUma democracia que tome banho! Eheheh
ResponderEliminarEspero que ninguém beba dessa água...
Embora às putas e aos proxenetas fosse bem feito lavar bem lavadinha a democracia e enfiar-lhes o efluente pela goela abaixo.
ResponderEliminar« Confiar, mesmo, só em Deus.»
ResponderEliminarAssim é. "Não haja no mundo confianças", já dizia o nosso Camões.
Quanto ao mais, é sempre de menos: o pouco de "Estado de Direito" que tínhamos terminou entre nós no dia 11 de Fevereiro de 2007; o "Estado social" é um eufemismo para Estado socialista. Quanto à "Democracia virtuosa"... era no tempo dos velhos gregos. (Et quand même...)