domingo, outubro 07, 2012

Bem a propósito... Peritos e Depressões (r)




No JN, informavam-nos aqui há anos que a "maioria das depressões não é tratada por peritos". É claro que não, até porque, em Portugal, praticamente, não existem peritos para tratar de depressões. O que existe, em barda, em catadupa, em viveiro permanente, são peritos em criar depressões: economistas, políticos, jornalistas, politólogos, comentaristas pantófagos e humoristas, entre outros. E fora os meteorologistas.
Quando apontam os psiquiatras como peritos estão claramente a mangar connosco. Os psiquiatras não são peritos, são especialistas. Não no tratamento, mas no desenvolvimento e rentabilização das depressões. Compete-lhes zelar para que cresçam saudáveis e viçosas. Supervisionam a sua nutrição e cultivo.
Resulta disto que os deprimidos mais lúcidos mas menos abonados recorram, geralmente, à auto-medicação, tentando, entre outras panaceias, a taberna mais próxima. Já os mais abonados recolhem-se, por costume, a uma casa de alterne que não exija sufrágio universal, nem filiação partidária.
Alternativa vantajosa ao psiquiatra, para o jet-set, é a bruxa. É igualmente charlatã, mas imensamente mais pitoresca. E o paciente não paga para ainda ter que ser ele a contar a história. Com a nigromante, arrota, mas, ao menos, escuta um monte de histórias. Cada fita mais fabulosa que a anterior. E não é só ele que arrota: ela também. Arrota, ronca, gargafunga. Imita vozes cavernosas. Cavaqueia com os espíritos e convoca congressos de defuntos. Em suma: uma one-woman show. "Belo circo!", congratula-se o paciente à saída. "Dei-lhe mais vinte euros e ainda me ordenhou", gabou-se o Engenheiro Ildefonso, um dia destes, no rescaldo satisfeito duma dessas visitas. -"Mãozinhas milagreiras!"
Terapia obscena? Mas, estou em crer, plenamente eficaz. Ele não me pareceu nada deprimido. É certo que também não estava antes, mas podia muito bem tê-lo ficado depois. Como, aliás, e amiúde, acontece. Basta imaginarmos um desbraçado qualquer diante daquela fronha olheirabunda do Dr. Daniel Sampaio... Até o Conde Drácula, quase garanto, seria mais animador. Pelo menos de papo cheio não teria aquele aspecto macilento dum onanista zombi. Meia hora nas imediações dum psica-veterinário de tal envergadura e fica o assunto arrumado. Ou seja, um gajo entra deprimido e, à falta de eutanásia portátil ou duma janela aberta, sai directo à ponte ou passagem de nível mais próxima. Macacos me mordam se o figurão não tem uma avença choruda com a Servilusa.
Bem, mas perguntar-me-ão, "agora a sério, ó Dragão, então não existem mesmo genuínos peritos no tratamento de depressões em Portugal?". Existem, claro que existem. Mas são cada vez mais raros. E caríssimos! Balurdiosos! Um bom ponta-de-lança, por estes dias, custa uma fortuna. E nunca se sabe se não vai estranhar o clima. Ou a alimentação.

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