domingo, maio 20, 2012

Subsídios para uma criteriosa História da Filosofia


«Mas existe uma outra espécie de assassinios, que muito se manifestou nos princípios de século XVII, e que, na verdade, me surpreende: quero referir-me à eliminação física de filósofos. Porque meus senhores, é verdade que muitos eminentes pensadores dos dois últimos séculos foram mortos, ou, pelo menos, estiveram muito perto disso; de tal modo que, se um indivíduo se inculca como filósofo e jamais sofreu um atentado contra a sua vida, pode ficar certo de que de pensador nada tem; e contra a filosofia de de Locke, em particular, penso ser uma objecção responsável (se alguma fosse necessária) que, haja ele embora passeado a garganta por este mundo, durante setenta e dois anos, não tenha aparecido um homem que condescendesse em lha cortar.
(...)

Hobbes, nunca consegui perceber porquê, não foi assassinado,o que foi um erro capital, cometido no século XVII, pelos profissionais da nossa arte, pois que se trata, sob todos os pontos de vista, de um excelente alvo para homicídio, excepto, é verdade, por ser só pele e osso; posso provar que tinha dinheiro, e (o que tem muita graça) não tinha direito a opor a menor resistência, pois, de acordo com as suas próprias afirmações, existe um poder irresistível que cria as mais altas espécies de direito, de modo que constitui crime de rebelião recusar-se um indivíduo a ser morto quando uma força idónea surgir para o liquidar.»

- Thomas de Quincey, "Do Assassínio como uma das Belas Artes"



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