«Do Estado nada podemos esperar também, mas, aqui, por uma outra razão. O Estado não é português, o Estado não é decente, o Estado está, desde 1820, na posse de homens cuja obra é a essência da traição e da falência. Procurar o auxílio do Estado é tão absurdo como procurar influenciar os homens que o possuem. Não há neles uma centelha de boa vontade patriótica, nem de lucidez portuguesa. Vivem daquilo e nem vivem elegantemente. O esforço revolucionário para os deitar abaixo é um gasto espúrio de energia. Quem é que se lhes vai seguir? Não há em Portugal nenhum grupo ou partido, nenhuma reunião de homens duradoura ou ocasional capaz de gerir o país. O que há é péssimo, mas é o que há. Sidónio Pais era Sidónio Pais, e a sua regência foi célebre pela imoralidade, pela profusão de apadrinhamentos, pela prolixa desvergonha dos negócios escuros e nos crimes políticos. Quando esse homem, que tinha as qualidades místicas do chefe de nação, que tinha as qualidades de astúcia precisas para manejar os homens, e as energias para os compelir, não pôde, honesto como era, romper com a cercadura de ladrões que tinha, não pôde, leal como era, evitar estar cercado por traidores e bandidos, não pôde, nobre na coragem como era, evitar ser rodeado de assassinos e trauliteiros - que espécie de homem esperamos nós que virá, que faça a obra da regeneração?
(...)
Que ideias gerais temos? As que vamos buscar ao estrangeiro. Nem as vamos buscar aos movimentos filosóficos profundos do estrangeiro; vamos buscá-las à superfície, ao jornalismo de ideias.»
- Fernando Pessoa, "Sobre Portugal"
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Que ideias gerais temos? As que vamos buscar ao estrangeiro. Nem as vamos buscar aos movimentos filosóficos profundos do estrangeiro; vamos buscá-las à superfície, ao jornalismo de ideias.»
- Fernando Pessoa, "Sobre Portugal"
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