Desta croniqueta , dum tal Manuel António Pina, retenho e sublinho estas duas passagens:
a) «Escritores e artistas raramente são exemplos morais recomendáveis.»b) «A História está cheia de obras sensíveis e generosas, às vezes de grande riqueza moral, realizadas por gente feia, porca, má ou nem por isso.»
Não conhecendo eu tão preclaro opinadeiro, googlei em busca de mais informações. Informa-me a wikicoisa tratar-se dum (sic) "jornalista e escritor português", além de advogado goro, especializado em "poesia e literatura juvenil". É premiado, laureado e mencionado, com traduções lá fora. Não será um Saramago, mas não se pode ter tudo.
Ora bem, é no afã de nos tentar moralizar contra as touradas, essa barbárie nacional que cumpre erradicar duma vez por todas, quanto mais não seja a bem do estômago hiper-sensível das pessoas generosas como ele (presumo), que o sensível e generoso Pina nos proporciona tão suculentas e trepidantes considerações.
O problema é que das duas uma: ou o seu apelo, opinião ou exemplo não são recomendáveis, pelo que se dispensam liminarmente; ou pura e simplesmente se expulsa da categoria de escritor ou artista. Nesse caso perora-nos em que condição - advogado? Jornalista? Bem, se os escritores e artistas não são recomendáveis, que dizer então de advogados e jornalistas? Entre aqueles e estes, no bordel da imoralidade, poucos duvidarão que abisma a diferença que separa frequentadores de profissionais. Se pensarmos que o advogado, ainda por cima, cumula com o jornalista , então será para dizer que o plumitivo não conclama para que o oiçam, mas apenas para que o corram a tomates e hortaliças. Em resumo, o Pina auto-desqualifica-se. Começa por mutilar-se, ao mesmo tempo que alardeia ir bater o record do mundo da progenitura. E, não obstante, pagam-lhe. À palavra? À linha? Ao caractér? Assombroso!
Quanto ao segundo trecho, convém que não fiquemos pelas meias-tintas e passemos, duma penada, à tela completa. Assim, tanto quanto atestada "de obras sensíveis e generosas, às vezes de grande riqueza moral, realizadas por gente feia, porca e má," a História também está infestada de obras feias, porcas e más, quase sempre de enorme indigência mental, produzidas por gente sensível e generosa. Felizmente que você não é feio, nem porco, nem mau, ó Pina (como Céline, por exemplo): São só as suas obras. São só os seus exercícios de fornicoques e gramaticoques que, a fazer fé na presente amostra, metem nojo às suiniculturas e beiram a vileza mais aleijona. Porque você, benza-o Deus, em contrapartida, é uma excelente pessoa, do mais sensível e generoso que imaginar se pode. Um campeão da filantropia (da filotauria, melhor dizendo) e delicadeza. Sorte a sua. Azar o nosso.
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