Na liberdade, não acredito. Porque não a vejo em parte nenhuma - e a de pensamento ainda mais irrisória e maltratada que a física. Como pode ser livre quem está condenado ao trabalho diário e incerto - e cada vez mais incerto, ó Deus meu! -para sobreviver? Como pode ser livre quem marcha pela existência às ordens das engrenagens despóticas dum relógio? E que diferença ser escravo da necessidade ou da ganância?
Quanto à liberdade de pensamento, pior um pouco. Quando o pensamento anda com a cabeça a prémio, perseguido por posses de xerifes e bandos de linchadores anónimos, que liberdade é que pode ter? A liberdade do acossado, se tanto. Do fora da lei. Na maior parte do tempo, para efeitos de pura maquilhagem, apregoa-se liberdade de pensamento onde nem sequer existe pensamento. Mas apenas ordem unida: de conceitos, de lógicas, de xaropadas, de supositâncias, de engodos. Quer dizer, primeiro esteriliza-se o terreno; depois concede-se liberdade de germinar à vontade. Disponibiliza-se a estrada toda a quem previamente se amputa das pernas próprias para andar.
A liberdade não passa dum negócio. Dos bufarinheiros de próteses.
A liberdade não passa dum negócio. Dos bufarinheiros de próteses.
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