Estimado António,
Convidei-o a vir na minha direcção, mas já vi que teima e porfia em dirigir-se, por via rectilínea, à Austrália. Os meus cumprimentos aos cangurus e aos frágeis coalas que por lá surpreenda!
Apenas vislumbro um contratempo: à velocidade a que escava, debruçar-me já não basta; falar-lhe já não o alcança. Terei então que socorrer-me de outros mecanismos e equipamentos, eventualmente de emergência. Rogo-lhe que não desespere, mantenha a calma e aguarde confiante. Estou neste momento bastante ocupado com afazeres dos quais depende a côdea da mulher e filhos, mas, assim que possa, voltarei com o megafone e a cana de pesca - daquelas de alto mar, com carrilhão reforçado, linha de aço e anzol espaçoso. Fique tranquilo: enquanto me restarem forças, mão desistirei de pescá-lo daí!
Entretanto, pareceu-me ouvir gritar-lhe qualquer coisa bizarra como:
-"Vá Deus, fica aí fora, sossegadinho, enquanto nós nos entretemos aqui a brincar à roleta russa!..."
Mas deve ser má audição minha. Não obstante, fico angustiado. E se não for? Então, nesse caso, vocês quem? Quantos são, afinal? Então não está aí sozinho? Foi atrás de quem ou levou quem atrás de si? Homem, veja se comunica, nem que seja por tan-tans telúricos, ou morse cavernícola. É que se assim for, uma cana não chega. Tenho que trazer um guincho de traineira. Um guincho e uma rede.
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