sábado, novembro 07, 2009

Resfolegar




Mandei lavar o convés, remover as teias do tombadilho e desenferrujar os canhões. Com um bocado de sorte, ventania a preceito e vaga de feição, isto ainda navega!...

Entretanto, alguns leitores, por email, reincidiram numa questão que ciclicamente sobrevem: onde podem comprar o "Tratado da Besta"?
Bem, leitores, a resposta é simples: não podem. Não está à venda. Lê-se aqui de vez em quando, quando a telha mo consente ou as teias do acaso o permitem. Há privilégios (desprazeres, ou calafrios), risquem onde não interessar, absolutamente exclusivos aos leitores desta anacrónica página.

Quanto ao autor do referido tratado, anda a escrevê-lo há coisa de dez anos, mais dia menos dia, a pensá-lo há trinta e a vivê-lo há bastantes mais . Não sou exactamente eu, mas é quase como se fosse. Participa da minha inteligência mas vive arredado, a léguas, da minha liberdade. Eu chamo-lhe o "rapaz do andar de baixo". Entre nós existe um contrato vitalício: ele fornece-me o tempo, eu forneço-lhe a luz. Sem tempo não há luz; sem luz, a eternidade inteira não chegaria.

Sete fôlegos, dizem, tem o gato. E não voa.

PS: Fala-se muito em direitos de autor. É como tudo: devia falar-se, sobretudo, em deveres de autor. O de não se vender feito puta seria o principal de todos eles. Ocorreu-me esta bela ideia, anteontem, ao entrar no "Continente" e deparar logo de entrada com uma esquina onde competiam, em maquilhagens de lupanar, a última do Saramago e a última do Dan Brown. Se a alfabetização foi para isto, então, em verdade vos digo: abençoados os analfabetos!

Deixo-vos com esta verdadezinha final, para meditarem nas horas livres: quanto mais baixo desce o homem, mais inclinado e autorizado se sente a julgar e corrigir Deus.



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