domingo, novembro 22, 2009

Questões...Tantas questões, tão pouco tempo (rep)


«Uma em cada cinco mulheres é agredida pelo marido».

Estes estudos (já com quatro anos, mas devem permanecer actualizados), hão-de desculpar-me os leitores mais sensíveis, parecem-me um bocado tendenciosos. Deviam ser mais abrangentes. Deviam esclarecer-nos, por exemplo, acerca das seguintes questões, também elas deveras interessantes:

Primeira questão: Um em quantos maridos é agredido pela respectiva? A tortura, especialmente psicológica, também conta?
Nota de rodapé (NR): Com a cambada de coninhas e totós que por aí prolifera não me admirava nada que os números atinjam cifras astronómicas. Acrescento que tão extravagante fenómeno não me suscita qualquer sentimento de pena ou revolta; em boa verdade, só se perdem as que caem no chão. Que outra coisa pode mesmo merecer um cabrão desses, senão cornos e um varapau por eles abaixo?... Anima-me, tão somente, uma certa curiosidade científica.
Por outro lado, dado o comportamento cada vez mais doméstico e sopeiro de grande parte dos produtos depilados da confeitaria urbana, é natural que, cada vez mais, façam as vezes da esposa no lar e, além da pré-lavagem dos pratos e pilotagem dos fogões, enfardem também pela medida grande. Donde se me afigura que o estudo é realmente preconceituoso: fala em "mulheres agredidas pelos maridos" e esquece-se dos gajos agredidos pelos maridos. Já não falando nos mariconços abertamente gays, ou as lésbicas-esposas, que também, eventualmente, levam porrada dos ditos cujos. São, quer-me cá parecer, esquecimentos grosseiros, atentatórios dos costumes, vesgos à modernidade, que em nada abonam da seriedade do estudo e, ainda menos, da cientificidade da investigadora.

Segunda questão: Um em quantos casais é agredido pelos mimosos filhos?
NR: Também não me escandaliza. Acho justíssimo. Quem semeia merece colher. Dado o nível de educação e empenho na mesma praticado por estes papás modernaços urbanos, nenhuma bizarria nos deverá apanhar de surpresa. Quando um tipo cabeludo, vestido de carrasco medieval, a invocar Satã, irrompe aos urros cabalísticos, de machado inexorável em riste, pelo quarto dos pais e consuma um massacre rápido, podemos ficar seguros que teve uma esmerada educação, nutrida pelos melhores perceptores que o mercado disponibiliza: a televisão, o cinema americano e o heavy-metal. Se for um pouco mais demorado no acto, acompanhado de arabescos e precedido de drogas entorpecentes nas vítimas, podemos presumir e adicionar algumas leituras esoistéricas. O Harry Potter, provavelmente.

Terceira questão: Um em quantos professores é agredido pelos jovens alunos?
NR: Outro caso de retribuição lógica. Verdadeiro restauro do método de Talião, é olho por olho, dente por dente. Tu cegas-me a mim e eu chego-te a roupa ao pêlo a ti. Mesmo assim, a vantagem pende ainda, claramente, para o lado do professor. É deplorável, mas é o nosso atraso congénito. Ainda estamos longe das performances trepidantes de países super-desenlvolvidos, verdadeiros paraísos terreais, como os Estados Unidos, onde o aluno, de M16 ou Kalachnicov em patilha de rajada, rega indiscriminadamente colegas, professores e funcionários. É, claro está, a apoteose do indivíduo em todo o seu esplendor. No fundo mais não cumpre que os quesitos instilados e desejáveis da competitividade campeã: trata de demover, o quanto antes, a concorrência, quer desbastando a actual, quer atrasando e rarefazendo a futura.
(Quanto ao número de alunos que é agredido por um sistema de educação absolutamente lobotomizante dispensa-se a pergunta: é um em cada um. Todos os que para lá entram. Na máquina dos chouriços.)

Quarta questão: Um em quantos contribuintes é agredido pela chusma de burrocratas que se banqueteiam com o erário público?
NR: Aí, para variar, temos um método cristalizado há séculos: "Paga e não bufa". Quer dizer, só bufa para lixar algum espertalhão que pretenda eximir-se ao pagamento. Fora isso, eis-nos em terreno absolutamente minado: ninguém sabe exactamente quantos contribuintes existem, quanto dinheiro pagam e, muito menos, que destino é dado a esse dinheiro. Top secret. Superiores razões e interesses de Estado. Além de que decorre, nestes últimos decénios, um singular concurso: entre o Estado que rouba os contribuintes e os contribuintes que roubam o Estado - ou melhor dizendo: os contribuintes que roubam os outros contribuintes através do Estado.

Quinta questão: Um em quantos eleitores é agredido pelos políticos eleitos?
NR: Espero bem que todos. Também aqui, estou com os políticos. Se um masoquista, em donaires voluptuosos, lhes entrega um cavalo-marinho para as mãos, é lógico que o gratifiquem pela oferta. Quanto mais não seja, por cortesia . O eleitor, de resto, é em tudo idêntico ao mariconço lava-loiças: elege uma puta para depósito dos seus idílios tansos de fidelidade. O diagnóstico, fatalmente, é o mesmo: merece cornos e cacetada por eles abaixo. Excepto nos casos em que os desenvolva retrácteis, como certos moluscos gastrópodes providos de concha, vulgo caracóis. Também acontece. E dificulta a pontaria.

Haveria muitas mais questões, mas eu ando sem tempo, sem grande paciência, e as eventuais respostas não ofereceriam qualquer mistério.
Por exemplo, "quantas mulheres, maridos, avós e crianças são agredidos e violentados pela televisão, que não faz senão debitar merda esterilizante 24 horas ao dia, por múltiplos canais e cloacas?..."

Dir-me-ão os liberais que há quem goste de comer merda, que é o mercado a funcionar. Pois, pá, só que não é por gosto: é mesmo por vício. Toxicodependência da mais saloia. Larguem a droga, pá! Essa merda mata.

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